• Nenhum resultado encontrado

Segundo Ranzani (2011), para que as organizações sejam competitivas e aumentem as chances de sobrevivência no mercado, é necessária a integração entre os sistemas de gestão existentes, fazendo um uso mais eficiente de recursos (RANZANI, 2011). Nesse sentido, Martins e Sacomano (1994) afirmam que para que um sistema de manufatura possa satisfazer às necessidades de seus clientes e enfrentar a concorrência, é necessário fundamentar suas atividades na busca da excelência da qualidade, nas dimensões e preço que o consumidor deseja, ter flexibilidade em seus vários tipos para responder às fontes de variabilidades tanto internas como externas e estar integrado para responder rapidamente e de forma econômica aos novos impulsos. Especificamente em relação à integração do PCP com o sistema de gestão da qualidade em empresas construtoras, Sukster (2005) propôs um conjunto de diretrizes para melhoria de ambos, apresentadas a seguir:

a) realização de reuniões periódicas para integração dos dois sistemas;

b) utilização conjunta de procedimentos do sistema de gestão da qualidade nas planilhas dos planos de médio e curto prazo;

c) inclusão do planejamento e controle da produção dentro do sistema de gestão da qualidade;

d) a utilização de indicadores para avaliar aspectos de ambos os sistemas;

e) a criação de mecanismos para aumentar a participação da equipe no planejamento e controle dos serviços.

A participação dos funcionários da obra, tanto no planejamento, quanto no controle dos processos é fundamental para que a busca por melhorias seja uma meta de todos (SUKSTER, 2005). O referido autor também ressalta que, dessa forma, aumenta a possibilidade de que os serviços executados na obra sejam planejados e executados conforme as especificações previstas e que a aplicação conjunta do sistema de gestão da qualidade e do planejamento e controle da produção tragam os benefícios e as melhorias esperadas pelas empresas construtoras.

Sukster (2005) ainda propõe dois indicadores para avaliar ambos os sistemas, produção e qualidade, que são:

a) Porcentagem de Pacotes Concluídos com Qualidade (PPCQ): esse indicador é calculado dividindo-se o número de pacotes completados integralmente com qualidade na semana pelo número de pacotes concluídos integralmente na semana. O objetivo é verificar o percentual de pacotes concluídos com qualidade em relação ao total de pacotes concluídos na programação semanal e;

b) Porcentagem de Pacotes Concluídos Real (PPCR): esse indicador é calculado dividindo-se o número de pacotes completados integralmente com qualidade na semana pelo número de pacotes totais planejados para a semana. O objetivo é verificar o percentual de pacotes concluídos com qualidade em relação ao total de pacotes planejados para a semana.

A literatura aponta como principais dificuldades na integração entre produção e qualidade a resistência dos funcionários a mudança organizacional necessária à integração (RANZANI, 2011; SUKSTER, 2005), o estabelecimento de um padrão único de definição dos pacotes de trabalho para utilização por ambos os sistemas, ou seja, o lote de produção deve ser definido em função do tamanho do lote de verificação da qualidade (LEÃO, 2014; RIGHI; ISATTO, 2011; SUKSTER, 2005), a realização de verificação da qualidade somente depois que a atividade for dada por concluída pelo PCP, e imediatamente antes do início da atividade subsequente que dela depende, ao invés da inspeção logo que a produção der o pacote de trabalho como concluído (FIREMAN, 2012; RIGHI; ISATTO, 2011), e o tempo excessivo dispendido na verificação da qualidade, em função da quantidade de dados a serem processados em um único momento e da complexidade do instrumento de coleta (LEÃO, 2014; RIGHI; ISATTO, 2011).

Nesse sentido, Fireman (2012) propôs um método de controle integrado entre produção e qualidade, com o objetivo de reduzir as perdas por making-do na produção e retrabalhos. O trabalho de Fireman (2012) salientou a importância da integração do controle da qualidade ao PCP, uma vez que permitiu identificar que a falta de qualidade da tarefa antecedente era um dos principais problemas pela não conclusão com qualidade dos pacotes semanais. O mesmo autor aponta, ainda, que esses defeitos são, em muitos dos casos, a causa raiz das perdas por

making-do.

Como uma continuação ao trabalho anterior, Leão (2014) propôs um modelo de controle integrado da produção e da qualidade, vinculado ao LPS, com o objetivo de monitorar as perdas na construção civil causadas pela falta de terminalidade das tarefas e pela execução de

pacotes informais. Esse modelo apresenta a utilização do conceito de “pacotes de trabalho genéricos”, que são os pacotes de trabalho que ocorrem de forma repetitiva no canteiro de obras e, por isso, tem sua nomenclatura para o planejamento padronizada. Esses pacotes genéricos possuem critérios de qualidade vinculados a eles, permitindo, assim, a integração entre o controle da produção e da qualidade.

O modelo proposto por Leão (2014) permite o monitoramento de pacotes de trabalho em execução, identificação de perdas por making-do, assim como de perdas por falta de terminalidade e a verificação da qualidade de pacotes de trabalho concluídos. Para a utilização do modelo, Leão (2014) estruturou um banco de dados e um módulo de campo. Para elaboração do banco de dados foi desenvolvida uma modelagem de dados que permitia que as informações coletadas fossem inseridas, armazenadas e processadas, relacionando os dados existentes e gerando informações automaticamente, como o cálculo de alguns indicadores. Leão (2014) explica que o módulo de campo continha uma interface simplificada, facilitando a execução da coleta por profissionais menos experientes, assim como tornando o arquivo utilizado mais leve, outro benefício, visto que a coleta era realizada com o auxílio de tablets. A transferência de informações entre o módulo de campo e o banco de dados é feita de forma manual, assim, após a inserção dos pacotes planejados para a semana serem inseridos no banco de dados e terem suas relações verificadas pelo sistema, esses dados são copiados para o módulo de campo e, após a coleta de informações no canteiro, os dados são copiados novamente para o banco de dados.

Após a definição dos pacotes genéricos, dos critérios de qualidade associados a eles e dos lotes que serão utilizados no empreendimento a ser controlado, assim como a inserção de todos as informações utilizadas na modelagem dos dados e suas relações, é possível iniciar a utilização do modelo proposto por Leão (2014) no canteiro de obras. A coleta de dados inicia com a verificação dos pacotes de trabalho que estão em execução no canteiro através do uso do módulo de campo, conforme Figura 5. Após a identificação do pacote, é necessário verificar se ele consta ou não na programação semanal. Se o pacote estiver na programação, ele possui sua data de início registrada, se não estiver, deve ser cadastrado como uma atividade do tipo informal e, também, ter sua data de início registrada. Os pacotes informais podem ser classificados de duas formas no modelo de Leão (2014), como pacotes do tipo “novo”, que são pacotes de trabalho que ainda não haviam sido iniciados, e do tipo “retrabalho”, que são pacotes de trabalho que já haviam sido iniciados ou concluídos anteriormente e precisaram ser executados novamente.

Nesse sentido, Leão propõe em seu trabalho a utilização dos indicadores Percentual de Pacotes Informais (PPI), que é calculado pela razão entre a quantidade de pacotes de trabalho informais e a quantidade total de pacotes de trabalho executados, e Percentual de Pacotes Informais Novos (PIN) e Percentual de Pacotes Informais de Falta de Terminalidade (PIFT), que são calculados pela razão entre a quantidade de pacotes de trabalho informais de cada uma das categorias e quantidade total de pacotes informais executados.

Após o início do pacote de trabalho deve-se observar se sua execução é realizada em conformidade ao procedimento da empresa ou se há alguma ocorrência de making-do. Quando for verificado que há making-do na execução do pacote de trabalho, é preciso fazer o seu registro, inserindo uma descrição da ocorrência de making-do e classificá-lo quanto à sua natureza e categoria, conforme método proposto por Sommer (2010). O uso do módulo de campo para essa função é mostrado na Figura 6. Também é recomendado por Leão (2014) que seja feito um registro fotográfico da ocorrência de making-do para que essa imagem possa ser registrada no banco de dados juntamente com as demais informações.

Figura 6 - Módulo de campo para registro de perdas por making-do.

Leão (2014) explica que após esse monitoramento de ocorrências de making-do nos pacotes de trabalho em execução, é feito o controle da conclusão desses pacotes. Quando os pacotes de trabalho forem finalizados, é registrada uma data de fim e há a possibilidade de realização da inspeção de qualidade. Quando os pacotes não forem concluídos até o final da semana, é preciso associar a eles um motivo de não conclusão, que é definido pelo engenheiro responsável. Esses pacotes devem ser planejados novamente para a semana seguinte a fim de serem finalizados e não gerarem pacotes de trabalho informais. Ainda, Leão (2014) propôs que sejam controlados os pacotes de trabalho com falta de terminalidade, ou seja, aqueles pacotes dados como concluídos pela engenharia, mas que ao verificar-se a qualidade é percebido que não foram concluídos integralmente. Assim, quando esse tipo de situação ocorre, é preenchido um campo de falta de terminalidade, que deve servir como apoio para que o pacote volte a ser programado para a semana seguinte, com o objetivo de ser efetivamente concluído e não gere pacotes de trabalho informais.

Quando for realizada a inspeção da qualidade, após a conclusão do pacote de trabalho, uma nova planilha do módulo de campo é acessada, em que os critérios de qualidade estão disponíveis, e cada um deles deve ser preenchido com uma das opções de verificação: S (aprovado), N (reprovado), AR (aprovado com restrição) ou NA (não se aplica). Se todos os critérios forem aprovados, conclui-se o ciclo de controle. Se não forem aprovados integralmente, o reponsável pelo controle deve atribuir um motivo da não conclusão com qualidade para que um novo pacote de retrabalho seja programado para a semana seguinte,

evitando a ocorrência de pacotes de trabalho informais. Também pode ser realizado um registro fotográfico para auxiliar no entendimento do problema de qualidade. A Figura 7 apresenta um fluxograma que representa o processo de coleta de dados proposto por Leão (2014).

O modelo proposto por Leão (2014) ainda permite que a verificação de qualidade não seja realizada imediatamente após a conclusão dos pacotes de trabalho, deixando a inspeção para outro momento e inserindo essa tarefa em uma lista de verificações pendentes.

Os trabalhos anteriores realizados para integrar o controle da produção e da qualidade, com o objetivo aumentar a confiabilidade do sistema de produção e eliminar perdas na construção, enfrentaram algumas limitações que foram, de uma maneira gradual, foram sendo suprimidas pelas pesquisas posteriores. Enquanto o trabalho de Sukster (2005) explorou a integração entre os sistemas de PCP e de qualidade, propondo diretrizes para a integração entre eles, não foi possível propor um método de controle integrado. Nesse sentido, a pesquisa desenvolvida por Fireman (2012) contribuiu com a proposição de um método de controle integrado entre produção e qualidade, que também considerou a identificação de perdas por making-do e a ocorrência de pacotes de trabalho informais, com o objetivo de reduzir problemas de qualidade. A referida pesquisa teve limitações quanto à quantidade de processos existentes na aplicação do modelo, assim como quanto ao uso de TI para auxiliar na coleta e no processamento dos dados. Assim, o trabalho de Leão (2014) refinou o método de Fireman (2012), propondo um novo modelo de controle integrado e investigando com mais profundidade o conceito de falta de terminalidade. A pesquisa de Leão (2014) ainda fez uso de TI para desenvolver um sistema de informações para dar suporte à implementação do modelo de controle integrado. As limitações enfrentadas nessa mesma pesquisa dizem respeito aplicação do modelo proposto em apenas uma tipologia construtiva e ao uso de TI limitado, baseado apenas no uso de planilhas eletrônicas.

3 SISTEMAS INFORMATIZADOS PARA CONTROLE DA

PRODUÇÃO E QUALIDADE

Este capítulo apresenta uma revisão bibliográfica sobre o uso de dispositivos móveis na gestão da produção em canteiros de obras, com destaque para o controle de prazo e da qualidade. Ainda, são apresentadas algumas ferramentas que utilizam dispositivos móveis no controle de prazo e da qualidade, propostas em pesquisas acadêmicas ou disponíveis no mercado.