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3. R ESULTADOS E D ISCUSSÃO

3.5. Contributo da intervenção do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde

primiparidade tardia

A primiparidade tardia tem associadas questões e preocupações aos quais o EEESMOG deve estar atento, para perceber quais as necessidades de informação e de cuidados das primíparas tardias (Lampinen et al., 2009), pois a sua intervenção poderá condicionar a vivência da gravidez.

Neste sentido, no que concerne ao contributo da intervenção do EEESMOG na vivência da primiparidade tardia, ressaltam duas subcategorias dos discursos das primíparas entrevistadas, patentes na Tabela 4.

Tabela 4.

Contributo da intervenção do EEESMOG na vivência da primiparidade tardia

Categoria Subcategorias

Contributo da intervenção do EEESMOG na vivência da primiparidade tardia

Natureza técnica e científica Natureza relacional

Relativamente ao contributo da intervenção do EEEESMOG na vivência da primiparidade tardia, em relação às intervenções de natureza técnica e científica do EEESMOG, emerge dos discursos das entrevistadas a importância atribuída à informação, nomeadamente à sua qualidade e pertinência:

“…vai ajudar muito (…) já aprendi algumas coisas que eu não sabia. Acho (…) que me vai ajudar muito, mesmo para o parto...”. (EB)

“… a enfermeira (…) esclarece muito bem as dúvidas…”. (EC)

“…gostei da maneira da enfermeira explicar [EEESMOG do curso de preparação para o parto e parentalidade]”. (ED)

No que respeita à informação transmitida pelo EEESMOG, nota-se a satisfação das mulheres entrevistadas com a informação recebida, tal como no estudo de Carolan (2008), em que as mulheres entrevistadas referiram que a linguagem utilizada pelas enfermeiras era mais percetível e que estas explicavam através de exemplos práticos o que as grávidas não conseguiam perceber, inclusive dúvidas provenientes da consulta do especialista, sendo que, de acordo com O’Connor e cols. (2014), são as parteiras quem mais discute as probabilidades de ocorrência de uma determinada complicação com as mães. No entanto, importa ressaltar que as informações transmitidas pelo EEESMOG devem ser livres de preconceitos e dirigidas às necessidades das primíparas tardias, de forma a facilitar a tomada de decisão da grávida ou do casal. O que ocorre é que, no sentido de proteger a grávida de algum dano, as parteiras são demasiado protetoras ou tentam influenciar a mulher a adotar determinados comportamentos, o que leva a que às vezes as mulheres sintam que as suas opiniões são ignoradas (O’Connor et al., 2014), o que não se verificou nos discursos das primíparas tardias entrevistadas.

Para além da informação, as grávidas entrevistadas desejam encontrar uma boa equipa no momento do parto, que as ajude a ultrapassar os medos e dificuldades daquele momento, transmitindo calma, como se pode verificar pelos excertos dos seguintes discursos:

“…só espero encontrar lá uma equipa boa e (…) não sofrer muito porque estou com muito medo ao parto (…) espero que corra tudo bem…”. (EB)

“Olhe que me ajude (risos) (…) na hora da aflição que me ajude (…) As coisas a correr não funcionam (…) a parteira tem de me transmitir calma para eu também poder estar calma e saber que é uma pessoa com experiência acalma-nos (…) toda a gente diz „só tens que seguir aquilo que ela diz‟ (…) vou tentar, espero que a enfermeira me consiga tranquilizar…”. (ED)

Através dos discursos percebe-se que as mulheres esperam que o EEEMOG esteja presente para as ajudar, transmitindo as informações necessárias, de uma forma calma e tranquila, que promova junto da mãe sentimentos de tranquilidade. Segundo Carolan (2008), existe a noção de que a parteira deve estar para ajudar e transmitir confiança à mulher.

Uma das primíparas tardias refere explicitamente que o contributo do EEESMOG decorre da sua competência científica para a orientar e ajudar no momento do parto, “ sejam competentes, eficientes, que façam o melhor que souberem na altura, é só aquilo que eu peço (…) não posso pedir impossíveis, ninguém sabe como é que vai correr e espero que eles façam o melhor que puderem eu também vou fazer a minha parte, e confio que tudo correrá bem (…) eles estão lá para ajudar…” (EE).

Segundo Mabuchi e Fustinoni (2008), as mulheres esperam receber informações ao longo do trabalho de parto e parto para se sentirem seguras e confiantes, sendo fundamental que os procedimentos, técnicas e informações sobre o bem-estar fetal sejam explicados de forma calma. De acordo com o estudo de O’Connor e cols. (2014), as mulheres sentiram que tinham recebido informação insuficiente e inadequada durante a gravidez, por parte do EEESMOG, que as suas preocupações foram ignoradas e que a falta de profissionais conduziu à prestação de cuidados inadequados.

A gravidez tardia reveste-se de características próprias, neste sentido o EEESMOG deve estar atento e apto a identificar sinais e sintomas de complicações, pois só desta forma “… a gestação poderá ser acompanhada com maior segurança, diminuindo a possibilidade de complicações gravídicas e resultados perinatais desfavoráveis” (Gravena et al., 2012, p.20).

No que respeita ao contributo da intervenção do EEESMOG de natureza relacional, as participantes do estudo valorizaram a disponibilidade, a familiaridade com as pessoas que vão

encontrar no bloco de partos, a vertente humana e a confiança que o EEESMOG seja capaz de transmitir:

“…elas dizem que vão estar sempre disponíveis e quando precisar é só ligar”. (EA)

“Adoro-a, adoro-a, gosto muito dela (…) Eu acho que vai ser uma relação que vai ficar para a vida (…) a enfermagem acho que lá é toda boa e as colegas também (…) uma pessoa quando vai para um sítio e veja caras conhecidas que nos apoiem as coisas correm melhor do que cair num sítio desconhecido”. (EB)

Segundo Silva (2010), o relacionamento entre o EEESMOG e a grávida “… deve ser baseado no acolhimento, na disponibilidade e na empatia, sendo um dos objectivos finais a prestação de cuidados especializados, humanizados e holísticos à grávida/casal/família” (p.162).

Duas das primíparas revelaram que tentavam confiar nos enfermeiros, esperando que o EEESMOG lhes transmitisse e fosse merecedor de confiança no bloco de partos, como se verifica nos excertos dos seguintes discursos:

“A confiança que possa transmitir, porque se uma pessoa sente que do outro lado não nos transmitem confiança nós ficamos muito inseguras, se for uma pessoa que transmita confiança e que mostre que sabe o que está a fazer (…) por isso temos que confiar e espero que seja uma boa relação...”. (EC)

“…tento por norma confiar no trabalho deles e (…) naquela situação eu vou ter mesmo que confiar e acho eles estão lá para ajudar e não (…) para atrapalhar, claro que erros todos cometemos, ninguém é perfeito, mas à partida (…) se uma pessoa confiar…”. (EE) Segundo Bayrampour e cols. (2012), as grávidas com idade materna avançada valorizavam muito a opinião e a avaliação dos profissionais de saúde, o que promovia a sua confiança no desenvolvimento da gravidez. No entanto, as reações dos profissionais de saúde e a sua linguagem não verbal podem transmitir sinais de desconfiança às grávidas aumentando a sua vulnerabilidade (Bayrampour et al., 2012). Neste sentido, é muito importante a forma como o EEESMOG transmite a informação às primíparas tardias, sendo fundamental uma abordagem holística na prestação de cuidados, tendo em consideração as dimensões biológica, fisiológica, social, cultural, emocional e psicológica (Silva, 2010; Suplee, Dawley & Bloch, 2007).

A interação e a forma como o EEESMOG se relaciona com a mulher é uma preocupação de uma das primíparas tardias entrevistadas, ao referir que a dimensão humana é fundamental para o estabelecimento de uma relação profissional:

“…espero encontrar (…) um lado humano…eu quando imagino uma mulher ser mãe (…) precisava de todos os cuidados, dado que é bastante doloroso e pode ser complicado, e nós logo a seguir temos que estar boas para tratar do bebé (…) tenho um bocado de receio de ficar incomodada com a frieza do dia a dia do hospital”. (EC)

O estudo de O’Connor e cols. (2014) revelou que algumas mulheres não sentiam confiança nos profissionais de saúde que as atendiam. De facto, o papel dos profissionais de saúde, em especial do EEESMOG, é muito relevante para um adequado desenvolvimento da gravidez, assim como do trabalho de parto e parto, a insensibilidade dos profissionais pode dificultar o processo de transição (Graça et al., 2011). Neste sentido, o EEESMOG deve ser capaz de integrar os aspetos individuais, familiares e socioculturais da primípara tardia de quem cuida (Parada & Tonete, 2009), de forma a estabelecer uma relação terapêutica que favoreça comportamentos adaptados a cada situação, para isso o EEESMOG deve ser “…congruente e empático, contribuindo para o desenvolvimento de um clima caloroso e de segurança, que facilite a autonomia da mulher” (Silva, 2010, p.163).

Enquanto algumas mães tardias sentem que são cuidadas por um EEESMOG que as apoia, outras sentem falta de confiança, o que origina ansiedade durante a gravidez (O’Connor et al., 2014). O EEESMOG deve ser capaz de prestar cuidados holísticos, com uma filosofia de humanização na prestação de cuidados, tratando as primíparas tardias com “…respeito, dignidade e acolhimento, cuidar com sabedoria e dedicação” (Silva, 2010, p.163), pois a insensibilidade demonstrada por alguns profissionais pode dificultar o processo de transição para a maternidade (Graça et al., 2011).

As primíparas tardias entrevistadas valorizam as dimensões técnicas e científicas no EEESMOG, assim como as características da natureza relacional do ato de cuidar, o que significa que este enfermeiro especialista deve possuir competências técnicas e científicas que inspirem confiança, mas também deve ser sensível às necessidades e especificidades culturais da mulher e da família, proporcionando práticas que promovam o desenvolvimento de comportamentos e competências que possibilitem o bem-estar fetal, materno, parental, conjugal e social (International Confederation of Midwives, 2002).

De acordo com os dados obtidos com esta investigação, considera-se relevante a sugestão de alguns estudos que fossem capazes de dar resposta a outro tipo de questões relacionadas com a problemática abordada e com as diferentes categorias que emergiram ao longo deste trabalho.

A primeira sugestão relaciona-se com as razões subjacentes à vivência de uma primiparidade tardia, crê-se como interessante conhecer a diferença na prevalência da primiparidade tardia em Portugal entre mulheres casadas ou em união de facto e mulheres solteiras que não vivem com o companheiro, no sentido de enquadrar a primiparidade tardia na complexidade e diversidade que caracterizam as transformações familiares e sociais.

No que respeita aos sentimentos vivenciados, apesar de as primíparas tardias entrevistadas não terem referido diretamente sentir elevados níveis de ansiedade, da nossa experiência profissional perceciona-se a necessidade de estudos sobre a incidência e fatores de risco, para aprofundamento desta dimensão e definição de intervenções que permitam reduzir os níveis de ansiedade e assim prevenir complicações na saúde da mãe e do feto. A primiparidade tardia é uma realidade cada vez mais presente na sociedade portuguesa e aparece frequentemente associada a um maior risco de complicações, com implicações para a mãe e para o feto (Balasch & Gratacós, 2011; Bayrampour et al., 2012; Caetano et al., 2011; Carvalho & Araújo, 2010; Gonçalves & Monteiro, 2012; Parada & Tonete, 2009), o que pode aumentar os níveis de ansiedade nas grávidas (Bayrampour et al., 2012), não existindo, contudo, consenso na definição de idade materna tardia. Neste sentido, sugere-se a realização de estudos que permitam uma definição mais clara de idade materna tardia e das suas reais implicações, para que as primíparas tardias não vivenciem sentimentos negativos, associados ao risco dessas implicações, que poderão não ter impacto negativo na gravidez.

Relativamente à rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia, considera-se importante a realização de estudos sobre o impacto da rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia, identificando os principais intervenientes e o impacto da intervenção de cada um na vivência da mulher da primiparidade tardia.

O EEESMOG constitui também a rede de suporte social da primípara tardia, sendo que a sua intervenção terá impacto na transição para a maternidade, na forma como a mulher vivencia a primiparidade tardia. A intervenção do EEESMOG revela-se muito importante no apoio prestado às primíparas tardias que vivenciam sentimentos negativos, devendo permitir a

partilha destes sentimentos, relacionados com as suas experiências, procurando não danificar a sua autoestima (Darvill et al., 2010). Pode fazê-lo através da promoção de encontros entre primíparas a vivenciar ou que vivenciaram recentemente a gravidez tardia, para que possam partilhar dúvidas, receios, angústias e também estratégias para diminuição de sentimentos negativos. Deste modo, considera-se relevante o investimento em estudos que avaliem o impacto destas estratégias na gestão dos sentimentos vivenciados, permitindo uma melhor adaptação à vivência da gravidez e à transição para a parentalidade.