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O trabalho elaborado focou-se essencialmente na compreensão da vivência da primiparidade tardia e no contributo da intervenção do EEESMOG, durante a gravidez. Apresentados e refletidos os resultados da abordagem qualitativa que integrou o desenvolvimento desta investigação, considera-se que foram atingidos os objetivos propostos, na medida em que com os resultados deste estudo foram adquiridos conhecimentos que possibilitam compreender as razões subjacentes à vivência de uma primiparidade tardia, compreender os sentimentos vivenciados na primiparidade tardia, conhecer o tipo e função da rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia e analisar o contributo da intervenção do EEESMOG na vivência da primiparidade tardia. Apresenta-se, em seguida, uma breve síntese das principais conclusões, de acordo com os objetivos definidos para esta investigação, procurando responder ao problema definido.

No que respeita às razões subjacentes à vivência de uma primiparidade tardia, através dos resultados obtidos compreende-se que estas podem estar relacionadas com aspetos fisiológicos, estabilidade conjugal, estabilidade profissional e realização pessoal. Dos aspetos fisiológicos releva-se a idade, da qual podem depender dificuldades para engravidar, e problemas de fertilidade, que podem impedir a gravidez em idades anteriores. A estabilidade conjugal foi referida por todas as primíparas entrevistadas como fundamental para a decisão de engravidar. A establidade profissional, a que se junta a económica, estão relacionadas com a necessidade de sustentabilidade financeira, de investimento na formação e educação, que podem conduzir a maior progresso e estabilidade da mulher no mercado de trabalho. Por último, no que concerne à realização pessoal, o processo de transição para a maternidade surge como forma de realização de um projeto de vida pessoal.

Considera-se que nas consultas de planeamento familiar, as questões relacionadas com a primiparidade tardia, devem de ser gradualmente abordadas, nomeadamente no que concerne aos riscos, complicações e implicações de uma gravidez tardia, ao risco de diminuição da fertilidade, às questões psicoemocionais que uma gravidez em idade tardia engloba, ao impacto na vida familiar e pessoal de cada mulher. Contudo, não está em causa veicular uma opinião e decisão, mas sobretudo o objetivo de informar, para promover uma tomada de

decisão mais fundamentada, respeitando o que são as opções, o estilo de vida de cada mulher e o projeto de família do casal.

Relativamente aos sentimentos vivenciados pela mulher na primiparidade tardia, compreendeu-se a existência de uma ambivalência de sentimentos, característica de períodos de transição, manifestada por sentimentos positivos e sentimentos negativos. Os sentimentos positivos descritos foram a alegria, euforia, felicidade, bem-estar, calma, confiança, segurança, serenidade, tranquilidade e contentamento. Culmina na maravilha de vivenciar aquela gravidez, extravasando para uma dimensão transcendente, considerada como um milagre. Os sentimentos positivos estão sobretudo relacionados com a possibilidade de concretização de um objetivo de vida, com a vivência de uma gravidez saudável, com o controlo sobre a própria vida. Por outro lado, são também vivenciados sentimentos negativos como medo, insegurança, nervosismo, arrependimento e preocupação, que se relacionam com o parto, com o acompanhamento da vida adulta dos filhos, com a possibilidade de conciliar a vida profissional e familiar e com a saúde e bem-estar do filho, durante a gravidez e parto.

Sendo a vivência da primiparidade tardia pautada por sentimentos ambivalentes, considera-se relevante a promoção de encontros, em cursos de preparação para o parto e parentalidade, workshops ou mesmo outro tipo de eventos informais, entre grávidas a vivenciarem a primiparidade tardia e mães que passaram pela mesma experiência. Desta forma, poderiam ser partilhados acontecimentos, vivências, emoções e sentimentos, experiências vividas, esclarecidas dúvidas, atenuados receios, na interação com quem vivenciou o mesmo processo de transição.

No que concerne à rede de suporte social, ficou a conhecer-se o tipo e função da rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia. Relativamente à rede de suporte social informal, é constituída sobretudo pelo companheiro, mãe, familiares próximos como pais, sogros, irmãos e cunhados e também por amigos e vizinhas. Ao tipo de rede de suporte social formal estão associados sobretudo os cursos de preparação para o parto e parentalidade, as consultas médicas e de enfermagem e workshop. No que respeita à função da rede de suporte social da mulher na primiparidade tardia, predomina o apoio emocional, providenciado sobretudo pelo marido/companheiro e família, mas também o apoio material e instrumental, que poderá ser disponibilizado por familiares e vizinhos, e o apoio informativo/educativo promovido essencialmente por profissionais de saúde, familiares e workshop.

Considera-se relevante que a primípara tardia seja capaz de reconhecer a importância do suporte social durante a gravidez, assim como na transição para a parentalidade, que pode incluir o apoio do companheiro, familiares, amigos, vizinhos e contacto com outras primíparas tardias. Assim sendo, o EEESMOG pode ajudar a primípara tardia a identificar a sua própria rede de suporte social e promover estratégias de mobilização dessa rede. Para isso pode contribuir a participação do companheiro ou pessoa significativa nas consultas e nos cursos de preparação para o parto e parentalidade e no acompanhamento do trabalho de parto e parto, a troca de experiências entre pares com vivências semelhantes, a divisão de tarefas pelos familiares que se mostrem disponíveis para colaborar, respeitando sempre a liberdade da grávida. O próprio EEESMOG constitui uma fonte de apoio social para a primípara tardia, por isso deve aproveitar todas as oportunidades para promover a interação com a futura mãe, prestando apoio emocional e informativo/educativo, através das consultas de enfermagem, dos cursos de preparação para o parto e parentalidade, e mesmo após o parto, através da visitação domiciliária à puérpera e ao recém-nascido, e da implementação de projetos de boas práticas, no âmbito da recuperação pós-parto, promoção do aleitamento materno e massagem do bebé.

No que respeita ao contributo da intervenção do EEESMOG na vivência da primiparidade tardia, conclui-se que as participantes deste estudo valorizam a natureza técnica e científica assim como a relacional. No que concerne à natureza técnica e científica, as primíparas tardias atribuíram importância à qualidade e pertinência da informação disponibilizada, esperando encontrar no momento do parto uma equipa capaz de as ajudar a ultrapassar os medos, dificuldades, transmitindo calma e demonstrando competência e capacidade para as orientarem. A qualidade e quantidade de informação dispensada pelos profissionais de saúde é fundamental, assim como o momento e o contexto em que é fornecida. O EEESMOG deve assegurar que a informação seja dirigida às reais necessidades da mulher, sem constrangimentos ou juízos de valor. As grávidas devem ser devidamente informadas para que o processo de tomada de decisão seja verdadeiramente livre e esclarecido.

Relativamente ao contributo da intervenção do EEESMOG de natureza relacional, as primíparas tardias entrevistadas valorizaram a disponibilidade, a familiaridade com os profissionais do bloco de partos, a capacidade de transmissão de confiança, valorizando a dimensão humana da relação profissional. Para isso, o EEESMOG deverá providenciar apoio informativo/educativo e emocional livre de ideias pré-concebidas, sem condicionar a

quantidade e qualidade de informação fornecida àquilo que espera serem os comportamentos de saúde adotados pela grávida. Da mesma forma, deverá manter elevados níveis de conhecimento técnico e científico que fundamentem a tomada de decisão, através de formação contínua, trabalhos de investigação, promovendo a reflexão sobre a prestação de cuidados em ESMOG, contribuindo, assim, para a melhoria dos cuidados e para a construção e implementação de programas e projetos que visem a garantia da qualidade do contributo da intervenção do EEESMOG.