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Com a elaboração deste capítulo pretende-se refletir sobre as opções metodológicas adotadas, com vista à compreensão do percurso deste estudo e à melhoria de trabalhos futuros.

No que respeita à opção pela metodologia qualitativa, numa perspetiva fenomenológica, considera-se adequada, pertinente e em concordância com a problemática do estudo, uma vez que se pretendeu compreender as vivências da primípara tardia durante a gravidez e o contributo da intervenção do EEESMOG. Neste sentido, para a compreensão do objeto de estudo considera-se a conceção de Carpenter (2013a), ao referir que a investigação fenomenológica é um método vantajoso para o estudo de fenómenos relevantes para a prática, formação e administração em enfermagem, sendo a experiência humana o princípio central, utilizando para isso uma perspetiva holística característica dos cuidados de enfermagem. Considera-se que este tipo de metodologia se adequa à compreensão das vivências da primípara tardia e do contributo da intervenção do EEESMOG, durante a gravidez, pois só através dos relatos das experiências das participantes se podem conhecer as suas vivências.

No que concerne à formulação do problema, considera-se que e a sua clareza, precisão e objetividade facilitou a consecução dos objetivos e tornou passível o seu estudo.

Relativamente ao método de amostragem não probabilística, mais especificamente a amostra acidental, crê-se que os critérios definidos se revelaram pertinentes para a constituição desta amostra e que permitiu alcançar os objetivos delineados. No entanto, uma das limitações do estudo poderá estar relacionada com a homogeneidade de algumas respostas, o que conduz à necessidade de constituição de uma amostra de maior dimensão que permitiria o enriquecimento deste estudo pela diversidade de experiências das participantes.

As primíparas tardias entrevistadas assinaram um consentimento informado para participarem nesta investigação, para isso foram devidamente informadas e esclarecidas sobre os objetivos da investigação, o tipo de perguntas que seriam realizadas durante a entrevista, e que esta seria gravada através de gravador de voz, sendo eliminada no final do estudo. O consentimento informado em investigação qualitativa tem uma abordagem diferente, na medida em que é necessária uma constante reavaliação do consentimento, pois à medida que a investigação avança podem surgir problemas que não eram esperados (Carpenter, 2013b). A

situação descrita não se verificou durante este trabalho, mas de qualquer forma estava salvaguardada, uma vez que foi relembrado às entrevistadas que poderiam desistir a qualquer momento, sem qualquer prejuízo, como é defendido por Carpenter (2013b) e Nunes (2013). Ainda relativamente à tomada de decisão, considera-se que os três contactos, nomeadamente no primeiro contacto no hospital, nos contactos telefónicos prévios e antes da participação na entrevista foram suficientes para garantir a liberdade de escolha e a informação adequada.

Neste sentido, considera-se que, relativamente à participação nesta investigação, foram cumpridos os princípios éticos defendidos por Carpenter (2013b) e Nunes (2013), nomeadamente o princípio da beneficência, uma vez que as primíparas demonstraram satisfação em falar da sua gravidez, não ocorrendo problemas ao longo das entrevistas ou dos vários contactos, foi também tida em consideração a disponibilidade das grávidas, sendo as entrevistas realizadas no local e no período de tempo mais conveniente para a primípara, com o objetivo de causar o menor transtorno possível, cumprindo desta forma o princípio da não maleficência, que visa não causar dano no participante (Nunes, 2013). Segundo Streubert (2013a), entrevistar os participantes de um estudo num lugar e momento que lhes sejam mais conveniente e confortável constitui uma boa prática, pois desta forma é maior a probabilidade de partilha de informação importante. Para além disso, respeitou-se o princípio da autonomia através do consentimento informado verdadeiramente livre e esclarecido.

No que respeita ao instrumento de recolha de dados, confirmou-se que a entrevista foi uma excelente fonte de dados em fenomenologia (Carpenter, 2013a), pois permitiu a comunicação entre a investigadora e as grávidas, sendo estabelecido um clima de empatia e confiança, que favoreceu a expressão e resposta das primíparas tardias, de acordo com o defendido por Sampieri e cols. (2013) e cumprindo desta forma o princípio da fidelidade, defendido por Nunes (2013). Segundo Carpenter (2013a), o entrevistador deve ser capaz de comunicar bem e de ajudar os participantes a sentirem-se à vontade, pois segundo a autora, num estudo fenomenológico o investigador é o instrumento de recolha de dados. Com o objetivo de melhorar as capacidades de comunicação e de realização da entrevista, foi realizada uma entrevista como treino e também se tiveram em consideração as indicações das orientadoras, e que será aprofundada em futuros estudos. A opção pela entrevista semiestruturada revelou-se adequada, pois através da flexibilidade que a caracteriza, mantém-se a oportunidade de se conhecerem os fenómenos vivenciados pelos participantes (Streubert, 2013a).

Na recolha de dados não foi considerado o alcance de saturação, estando a saturação relacionada com a procura de repetição e confirmação de dados recolhidos. No entanto, a saturação é considerada um mito por Morse (1989), cit. por Carpenter (2013a), uma vez que segundo a autora, se forem questionados grupos de participantes diferentes serão sempre obtidas respostas diferentes, na medida em que na fenomenologia são descritas as experiências vividas por cada participante. Contudo, reforça-se a pertinência de, em estudos posteriores, se considerar uma amostra de maior dimensão.

Ainda relativamente à recolha de dados, os procedimentos adotados visaram proteger a identidade das participantes e a confidencialidade das fontes, de acordo com o sugerido por Nunes (2013), pelo que as entrevistas foram codificadas com letras do alfabeto de A a E, não sendo anexadas a este documento pois continham conteúdos que podiam permitir a identificação das primíparas tardias. No mesmo sentido, na análise e tratamento dos dados, durante as transcrições dos excertos dos discursos das entrevistadas, existiu o cuidado em garantir o anonimato da fonte. De acordo com o apresentado, considera-se que foram cumpridos os princípios éticos da justiça, de acordo com o qual todas as entrevistadas tiveram os mesmos direitos e em todas as situações se assegurou o anonimato e o princípio da confidencialidade, mantendo os dados obtidos sob sigilo, revelando apenas o conteúdo necessário para a discussão dos resultados, de acordo com o descrito por Nunes (2013). As gravações áudio foram guardadas em segurança para posterior destruição, de acordo com o recomendado por Carpenter (2013b).

Durante o tratamento dos dados, as entrevistas gravadas em áudio foram transcritas, e posteriormente foram analisadas as descrições em simultâneo com a audição das gravações, o que segundo Carpenter (2013a) aumenta o rigor. De acordo com a autora referida, a análise dos dados inicia-se em simultâneo com a recolha de dados, uma vez que a análise se inicia enquanto o investigador ouve a descrição dos fenómenos.

Durante a análise dos dados emergiram as unidades de significado que permitiram a definição de categorias e subcategorias, sendo que a análise dos resultados foi realizada com rigor, através da atenção dispensada durante todos os procedimentos, com a intenção de representar rigorosamente as experiências das primíparas tardias entrevistadas, tal como sugerido por Streubert (2013a). No que respeita à credibilidade do estudo, “…uma das melhores formas de a estabelecer é através do contacto prolongado com o assunto em estudo“ (Streubert, 2013a, p.49), o que foi realizado através de pesquisa, leituras, contactos com EEESMOG, diálogo

com orientadoras. Colaizzi (1978), cit. por Carpenter (2013a), refere que a confiança numa investigação será tanto maior quanto mais separadas estiverem as experiências dos participantes do conhecimento teórico, pelo que durante as entrevistas se procurou ouvir os relatos das participantes sem interferências e durante a análise dos dados foi feita a tentativa de colocar de parte o conhecimento prévio sobre os assuntos abordados no estudo, dentro das limitações que tal ação acarreta, de forma a assegurar uma análise pura dos factos, como defende Carpenter (2013a). Contudo, segundo Häggman-Laitila (1999), na investigação fenomenológica, o investigador não consegue separar-se do seu ponto de vista.

Outra forma de garantir a confiança é fornecer aos participantes as descrições finais para que estes possam validar a interpretação da entrevista e acrescentar mais dados se assim o entenderem. No presente estudo não foi realizada a validação pelas primíparas tardias uma vez que a primeira entrevistada estava com 37 semanas de gestação e optou-se por não causar transtorno ou mais alterações no quotidiano desta grávida que estava no final da gestação, de acordo com o defendido por Richards e Swartz (2002), segundo os quais a validação pelos participantes pode ter limitações, na medida em que contacto repetido com os participantes pode ser pouco prático e consistir uma sobrecarga para os mesmos. Na realização deste estudo optou-se pela verificação da validade através do apoio das orientadoras na revisão dos dados e verificação das categorias, de acordo com o descrito por Carpenter (2013b).

Ainda na análise dos dados procurou-se confrontar os dados que emergiram das entrevistas com estudos presentes na literatura, tendo-se privilegiado trabalhos de qualidade, a maioria recentes e de periódicos indexados a bases internacionais. Procurou-se manter os princípios de verdade e honestidade intelectual, através de cumprimento das regras de citação, salvaguardando os direitos de autor, de acordo com o defendido por Nunes (2013).

Segundo Streubert (2013a), “os enfermeiros investigadores, devido à sua formação e treino debatem-se, por vezes, com o dilema de quando ser investigador e quando ser enfermeiro” (p.39). Este dilema não surgiu durante as entrevistas, durante as quais as primíparas tardias manifestaram grande satisfação com a gravidez, e apesar de terem revelado alguns sentimentos negativos, como já foi referido anteriormente, não foi evidenciada nenhuma situação que comprometesse o bem-estar ou o desenvolvimento desejável da gravidez. Por outro lado, depois de desligado o gravador de voz, as grávidas solicitavam algumas informações, sobretudo sobre aleitamento materno, curso de preparação para o parto e parentalidade e modo de funcionamento do serviço de bloco de partos. As informações

solicitadas foram fornecidas, sendo também referida a importância do EEESMOG, como o profissional que melhor poderia responder às necessidades de informação e acompanhamento da gravidez.

Nesta investigação foi tida em consideração a questão do primado do ser humano, pelo que o interesse e o bem-estar das primíparas tardias entrevistadas prevaleceu sobre o interesse da ciência, de acordo com o artigo 2.º da Resolução da Assembleia da República n.º 1/2001, de 03 de janeiro, relativa à convenção para a proteção dos direitos do homem e da dignidade do ser humano face às aplicações da biologia e da medicina: convenção sobre os direitos do homem e a biomedicina.

A investigação em enfermagem deve ser promovida em áreas que tenham implicações práticas e que permitam a melhoria da qualidade das intervenções de enfermagem (ICN, 2007). A premissa referida enquadra-se neste trabalho, na medida em que compreender as vivências da primiparidade tardia e o contributo da intervenção do EEESMOG, durante a gravidez, permitiu o delineamento de sugestões e estratégias que podem promover a melhoria da prestação de cuidados em ESMOG, pelo que se considera relevante o estudo realizado. Apesar de existirem vários trabalhos que estudam as mulheres com idade materna avançada, poucos são realizados no período gravídico, justificando-se assim a pertinência do tema deste trabalho. Também se sugere a realização de outros estudos que tenham em consideração as dimensões físicas, psicológicas, emocionais, sociais e culturais da primípara tardia, para que melhor se conheçam as suas vivências, para assim o EEESMOG poder planear, implementar e avaliar intervenções de ESMOG que permitam uma transição para a maternidade saudável e satisfatória, contribuindo desta forma para uma parentalidade positiva. Segundo Silva (2010), através da sua intervenção, o EEESMOG pode contribuir para uma vivência positiva da parentalidade, o que “…exige proximidade e acessibilidade do enfermeiro e conhecimentos profundos e especializados sobre a saúde e desenvolvimento infantil e sobre metodologias que permitam um relacionamento positivo e interactivo com os pais” (Lopes et al., 2010, p.118).