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3. R ESULTADOS E D ISCUSSÃO

3.4. Rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia

A rede de suporte social pode revelar-se fundamental na gravidez, na medida em que proporciona apoio, permitindo que as grávidas encarem as dificuldades, enfrentem os medos e angústias, obtendo mais carinho e apoio (Meira et al., 2013). Durante a gravidez, a rede de suporte social pode influenciar positivamente o comportamento e emoções da nova mãe, num momento de ansiedade e insegurança provocadas pelas várias alterações características da gestação (Meira et al., 2013; Rapoport & Piccinini, 2004). Os fatores e dinâmicas de ordem

social desempenham um papel importante para que as mães tenham a sensação de bem-estar (Emmanuel et al., 2012).

Relativamente à rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia, importa conhecer qual o tipo de rede existente e quais as funções que desempenha. Neste sentido, emergem dos discursos das primíparas tardias as categorias e subcategorias expressas na Tabela 3.

Tabela 3.

Tipo e função da rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia

Categoria Subcategorias

Tipo de rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia

Informal Formal

Função da rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia

Apoio emocional

Apoio material e instrumental Apoio informativo/educativo

No que diz respeito ao tipo de rede, o suporte social informal tem por objetivo fornecer apoio nas atividades do dia a dia, como resposta a acontecimentos de vida considerados regulares ou não regulares, sendo que nos discursos de quatro participantes predominam os elementos da família com maior envolvimento afetivo, nomeadamente o marido/companheiro:

“…do meu marido acho que vou ter (…) da família, há sempre apoio, só que mais dele porque ele é que está sempre comigo…”. (EA)

“Ele [marido] vai-me ajudar muito (…) porque eu não tenho ninguém, só o tenho a ele e à minha mãe. A minha mãe é uma pessoa de idade (…) tem tido muitos problemas e ele tem sido o meu braço direito, se me ajuda com a minha mãe imagine com um filho…”. (EB) “… em termos de relação acho que vão tentar também ser as pessoas corretas [família]. O meu marido também parece muito calmo (…) vai ser a parte calma da educação...”. (EC) “O meu marido, o meu pai, a minha irmã… eu tenho uma família grande do lado do meu pai, muito grande, que nos damos muito bem…”. (ED)

“ Sem dúvida… é o da minha mãe (…) e da família em geral, os meus sogros, os meu pais, o meu irmão…”. (EE)

Os autores são unânimes ao considerarem a importância da participação ativa do companheiro na vivência positiva da gravidez tardia (Parada & Tonete, 2009), constituindo para muitas mulheres a principal fonte de suporte social (Manning, 2008), contribuindo para a diminuição da ocorrência de sintomas de depressão materna durante a gravidez, com benefícios no desenvolvimento do feto (Emmanuel et al., 2012; Nylen, O’Hara & Engeldinger, 2013), e no bem-estar emocional da grávida (Byrd-Craven & Massey, 2013; Haga, Lynne, Slinning & Kraft, 2011).

Duas das primíparas tardias consideraram, também, como rede de suporte social informal a família mais próxima, incluindo sogros, cunhados e irmãos. O apoio dos avós e o seu envolvimento pode depender de diversos fatores como o desejo de se envolverem, a proximidade e as expectativas em relação ao papel de avós. A perceção do apoio fornecido pelos avós é influenciada pela forma como os avós entendem e aceitam as práticas atuais (Manning, 2008). É relevante referir que também os avós atravessam um período de transição, tendo que se adaptar ao novo papel de avós enquanto enfrentam também alterações nos seus papéis sociais e laborais (Manning, 2008).

Importa ainda realçar que apenas uma das grávidas destacou a mãe como importante fonte de apoio, ao contrário do que acontece em outros estudos, em que o apoio providenciado pela mãe é um dos mais referidos pelas entrevistadas (Edmonds, Paul & Sibley, 2011; Meira et al., 2013). Isto pode ser explicado pelo avanço da idade dos progenitores e pela dependência que têm em relação às grávidas, como foi referido por duas das primíparas tardias entrevistadas, sendo esta situação corroborada por Perry (2008a), que se refere a uma “geração sanduíche” (p.24), na qual os indivíduos de uma família nuclear têm que cuidar dos filhos e dos próprios pais, como consequência de uma gravidez tardia.

Uma das participantes revelou que espera ter apoio dos amigos e outra afirmou a disponibilidade das vizinhas, o que está de acordo com o estudo de Meira e cols. (2013), no qual os amigos surgiam como um dos principais constituintes da rede de apoio.

Segundo Simionato (2006), cit. por Meira e cols. (2013), a rede de suporte social “…é composta por quatro quadrantes: a família, a amizade, as relações de trabalho ou de estudo e as relações comunitárias ou de credo” (p.7029). A rede de suporte social das primíparas tardias entrevistadas neste estudo é composta pela família, na qual se destaca o marido, pelos

amigos e vizinhos, não existindo referência a colegas de trabalho ou relações de credo, como foi referido em outros estudos.

Relativamente à rede de suporte social formal, constituída por instituições, equipamentos ou serviços, esta visa responder às necessidades dos indivíduos (Meira et al., 2013). Para as participantes neste estudo, as instituições de saúde e a alusão aos cursos de preparação para o parto e parentalidade e às consultas de enfermagem e médicas surgem associadas à rede formal, acrescentando uma das primíparas ter frequentado um workshop patrocinado por uma empresa de produtos de puericultura, como se pode verificar através dos seguintes excertos dos discursos:

“…as aulas de preparação para o parto têm sido bem benéficas e estou a saber aproveitar (…) são um bem essencial…”. (EA)

“…A minha médica de família (…) tudo o que eu quiser saber ela explica, preocupa-se, basta eu queixar-me de alguma coisa e ela fica preocupada (…) acho que estou a ser bem acompanhada …”. (EC)

“Eu tenho ido às aulas de preparação do parto com a Enfermeira (…) que é excelente, gosto muito dela. Tenho ido também a umas sessões de esclarecimento, tem sido importante (…) porque por mais que a minha irmã diga (…) é diferente a gente assistir a estas coisas…”. (ED)

“…tenho tido dos médicos e dos enfermeiros, quando vou ao Centro de Saúde…”. (EE) Os cursos de preparação para o parto e parentalidade realizados pelo EEESMOG possibilitam que a grávida e o companheiro “… desenvolvam competências que lhes permitam vivenciar a gravidez, o trabalho de parto e o parto como um processo fisiológico natural, que passa pela confiança na sua capacidade de gerar vida, como protagonistas deste mesmo evento” (Silva, 2010, p.163). De facto, os cursos de preparação para o parto e parentalidade foram considerados como um bem essencial por uma das primíparas tardias, o que está de acordo com o estudo realizado por Barbieri, Soares, Ferrari, Denitto e Tacla (2013), ao revelar que as mulheres que frequentaram grupos de preparação para o nascimento se sentiam mais seguras e tranquilas, dado que propiciam a construção e partilha de conhecimentos, esclarecimento de dúvidas, tabus e crenças que podem influenciar a prestação de cuidados ao recém-nascido. No estudo mencionado, as grávidas referiram que a participação nestes grupos contribuiu de forma positiva para a vivência da maternidade. De acordo com o apresentado pode constatar-

se que os cursos de preparação para o parto e parentalidade constituem a rede de suporte social da grávida, e também das primíparas, como refere o estudo de Graça e cols. (2011).

As primíparas tardias entrevistadas referiram os profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, como fontes de suporte importantes, na medida em que lhes transmitiam apoio emocional e informativo. No entanto, no estudo de Meira e cols. (2013), os profissionais de saúde eram considerados como fontes de apoio por poucas mulheres, recomendando os autores que a proximidade com as grávidas e o envolvimento na gravidez é muito importante para o reconhecimento dos profissionais de saúde como constituintes da rede de suporte social. Tornar-se mãe é uma transição de grande importância e requer uma adaptação de ordem física, emocional e social. A interação entre a mãe e o filho tem impacto na saúde da criança, sendo que o suporte social providenciado pelos profissionais de saúde pode facilitar a transição para a maternidade (Wiklund et al., 2009).

No que diz respeito à função da rede de suporte social, emergem como subcategorias o apoio emocional, o apoio material e instrumental e o apoio informativo/educativo.

Relativamente ao apoio emocional, os discursos das primíparas tardias revelam que este é providenciado principalmente pelo marido e família. Segundo Parada e Tonete (2009), o apoio do companheiro em todas as fazes da gravidez é fundamental para um desenvolvimento saudável da gestação, permitindo uma maior aproximação entre o casal, com manifestação de afetos que contribuem para que a gravidez seja encarada de uma forma positiva.

“…toda a família apoia, mas não é a mesma coisa. As pessoas que estão mais próximas são as que mais nos ajudam e apesar de ainda não ter nascido eu já sinto a gravidez de maneira diferente que o meu marido, mas assim que nasça (…) ele vai ser um pai muito presente”. (EC)

“… [a filha] não deixa de ser um elo de ligação também com os outros familiares (…) a minha família nesse aspeto preocupa-se muito (…) na minha opinião a família, e não digo só o casal, também a família em redor (…) é muito importante, não só para a criança mas para nós. Eu valorizo muito a família”. (ED)

“…da família em geral, os meus sogros, os meu pais, o meu irmão, porque de certo modo todos eles sofreram comigo estes anos todos e cada derrota (…) para mim sempre foi muito importante ter a família unida e junto de mim, o facto de (…) ter de me afastar de

todos eles custou-me imenso mas sempre fomos muito unidos e neste momento mais do que nunca…”. (EE)

Pelos discursos das grávidas verifica-se que a presença e a preocupação da família são encaradas de uma forma positiva, transmitindo às participantes o interesse que a família tem pela sua saúde e pela do feto, mostrando disponibilidade, fomentando desta forma sentimentos de bem-estar, como defende Barrón (1996), cit. por Meira e cols. (2013). Assim sendo, a gravidez pode ser encarada como um fator de aproximação da família (Parada & Tonete, 2009), mesmo quando existem preocupações associadas ao desenvolvimento da gravidez. As mesmas autoras referem que a gravidez tardia promove a relação com o companheiro e restante família, contribuindo para a vivência de sentimentos de satisfação, de realização pessoal e profissional.

No que respeita ao apoio material e instrumental, apenas duas das primíparas tardias reconhecem a importância deste apoio, como se constata, “…eu tenho uma família grande do lado do meu pai (…) tenho aqui as minhas vizinhas que me estão sempre a dizer „precisas de alguma coisa diz-me‟” (ED) e “…em termos de dia a dia não vou ter muitas ajudas porque vou estar fora…” (EC).

No estudo realizado por Edmonds e cols. (2011), as grávidas consideraram o apoio material e instrumental, nomeadamente a ajuda na realização das tarefas diárias, como sendo o mais importante, o que não se verificou no presente estudo. Talvez a diferença esteja relacionada com as características biológicas, emocionais e socioculturais de cada grávida. Nos países em vias de desenvolvimento, com escassos recursos económicos, o apoio não monetário pode revelar-se o suporte social disponível (Edmonds et al., 2011). A ajuda na execução das tarefas domésticas, deixando mais tempo para outro tipo de atividades, pode revelar-se importante. No entanto, para a primípara tardia esta necessidade pode surgir apenas depois do parto, período durante o qual as mulheres podem necessitar de mais ajuda por não se sentirem preparadas para o desempenho das tarefas nos primeiros dias de maternidade (Bayle, 2005; Carolan, 2007a), pois as mulheres com menor suporte social têm maiores dificuldades em aplicar as informações que obtiveram durante a gravidez (Carolan, 2007a).

No que concerne ao apoio informativo/educativo, amplamente referido pelas primíparas tardias entrevistadas, é de sublinhar a satisfação com a informação recebida, como se verifica pelos excertos dos discursos:

“…mais conhecimento para cuidar do bebé (…) para ver o que ele necessita, o que é preciso fazer para que ele cresça bem (…) mesmo em termos de saúde, estão ali para ajudar, para além da médica, vocês [enfermeiros] são um bem essencial também…”. (EA) “…explica-nos as coisas muito bem…”. (EB)

“ A minha médica de família (…) aconselha-me a melhor solução…”. (EC) “A informação é sempre útil… saber o porquê…”. (ED)

“Sem dúvida… é o da minha mãe, ela é enfermeira, está reformada, (…) é sem dúvida uma mais valia (…) tenho tido dos médicos e dos enfermeiros (…) eu sei que há coisas que eu vou chegar na hora e eu não vou saber fazer… mas é normal…”. (EE)

Importa sublinhar que, de acordo com Lampinen e cols. (2009), as grávidas mais velhas preparam-se melhor para a gravidez do que as mais novas, mental e fisicamente, procurando para isso também informação em diversas fontes como a internet, artigos de revistas, educadores de infância e serviços de assistência hospitalar (Carolan, 2007b). No entanto, a procura de informação em diversas fontes pode tornar-se confusa para as grávidas (Carolan, 2007a; Santos, 2009).

A partilha de informação e de experiências com outras grávidas reveste-se de grande importância na vivência da gravidez. Neste sentido, o estudo realizado por Carolan (2007a) revelou que a interação com outras primíparas com uma gestação tardia bem sucedida permitia atenuar a negatividade de alguma informação recebida. Segundo a autora, as grávidas mais velhas têm maior necessidade de conhecimento do que as mais novas, pelo que procuram mais informação, sobretudo se existir algum problema.

No que concerne à informação transmitida pelos profissionais de saúde, esta é fornecida essencialmente nas consultas médicas e de enfermagem e no curso de preparação para o parto e parentalidade. De acordo com Carolan (2007a), as grávidas com idade materna avançada preferem informação resultante de orientações técnicas e científicas de peritos como enfermeiros ou médicos, em vez de literatura popular. Contudo, a procura de conhecimento científico pode aumentar a ansiedade, na medida em que as grávidas equacionam outras preocupações, e têm maior dificuldade para se concentrarem nas probabilidades positivas (Carolan, 2007a).

Os profissionais de saúde devem estar atentos às experiências e às reais necessidades das primíparas tardias, para que assim possam perceber que necessitam de transmitir informação sobre os riscos e os cuidados a ter na vivência de uma gravidez tardia, mas também que devem ser fornecidos estímulos e informação positiva sobre a vivência de uma gestação em idade avançada (Lampinen et al., 2009). Do mesmo modo, Guedes e Canavarro (2014) defendem que os profissionais de saúde devem ser cautelosos na transmissão de informação sobre riscos associados a uma gravidez tardia, devendo utilizar uma abordagem holística que integre os riscos mas também os comportamentos promotores de saúde, para aumentar a sensação de controlo dos casais.

Através do discurso de umas das grávidas é percetível que, apesar de toda a informação recebida, existe a sensação de alguma falta de preparação e de conhecimento “Estamos sempre a aprender, porque por mais que a gente leia ou que nos digam „é assim, é assado‟, há sempre uma outra coisa que parece que escapa (…) vamos aprendendo…” (ED). O que é corroborado pelo estudo de Carolan (2007a), em que as mulheres entrevistadas referiram que é impossível estar-se totalmente preparada. No mesmo estudo, as primíparas tardias revelaram tendência para anularem os aspetos naturais da maternidade, o que não se verificou nos discursos das grávidas entrevistadas nesta investigação.

Segundo Bayle (2005), a gravidez na cultura ocidental é acompanhada apenas pelos profissionais de saúde, com apoio reduzido da família e amigos. Para a autora, existe pouco apoio emocional, material ou de informação antes ou depois do parto, em especial para as primíparas que, após saírem da maternidade, com determinados conhecimentos terão que encontrar soluções para os problemas que surgem, o que pode conduzir a situações de isolamento com consequente aumento de ansiedade, diminuição da autoestima e sentimentos de falta de competência, isto porque a “…adaptação ao bebé é difícil…” (Bayle, 2005, p.334).

As primíparas tardias entrevistadas nesta investigação revelaram que sentem apoio informativo/educativo, sobretudo dos profissionais de saúde, o que também foi descrito por Bayle (2005). No trabalho de Santos (2009), as primíparas tardias revelaram ter recebido informações da equipa de enfermagem que responderam às suas necessidades informativas. Por outro lado, as participantes do nosso estudo revelaram sentir também apoio informativo por parte dos familiares, ao contrário do descrito por Bayle (2005). As grávidas participantes nesta investigação revelaram sentir apoio emocional, que se revela importante, por parte dos profissionais de saúde e também da família, ao contrário do defendido por Bayle (2005).

Esta discrepância pode ser explicada pelo momento feliz vivido pelas grávidas e pela atenção que as primíparas tardias dirigem ao sucesso da gravidez e ao bem-estar do bebé, atribuindo menor importância a outras questões (Carolan, 2007a). Neste contexto, algumas primíparas entrevistadas por Carolan (2007a), vários meses após o nascimento, reconheceram sentir muitas dificuldades após o parto, por não se terem preparado devidamente, pois durante a gravidez não conseguiram pensar após o parto, apenas pensarem na saúde do bebé e na vivência da gravidez.

Como se verificou através da análise dos resultados, o tipo de rede de suporte social da mulher na vivência da primiparidade tardia pode ser formal ou informal, com a função de apoio emocional, apoio material e instrumental e apoio informativo/educativo.

O EEESMOG também integra a rede de suporte social da mulher que vivencia a primiparidade tardia, intervindo em vários domínios e em diversos períodos, nomeadamente na gravidez, parto e puerpério. Durante a gravidez tardia, o EEESMOG pode promover a diminuição da ansiedade referindo-se à gravidez como um processo natural, mesmo em idades mais avançadas, conduzindo, desta forma, à obtenção da informação necessária, sem excessos. Por outro lado, no que se refere ao parto, no estudo de Rilby, Jansson, Lindblom e Mårtenson (2012), as mulheres referiram sentir-se calmas e seguras quando conseguiam confiar na parteira. De acordo com o apresentado, torna-se relevante analisar o contributo da intervenção do EEESMOG na vivência da primiparidade tardia.

3.5. Contributo da intervenção do enfermeiro especialista em enfermagem