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1. I NTRODUÇÃO

1.2. Papel da família

Ao longo dos tempos, a família assumiu um papel preponderante na sociedade, sendo encarada como uma unidade fundamental, estruturada e com responsabilidades no crescimento e desenvolvimento de novos seres humanos, com quem estabelecem relações afetivas, sociais e culturais. O CIE define família como “… Unidade social ou todo colectivo composto por pessoas ligadas através de consanguinidade, afinidade, relações emocionais ou legais, sendo a unidade ou o todo considerados como um sistema que é maior do que a soma das partes” (2011, p.115).

Ao longo das últimas décadas surgiram novos modelos de família na sociedade contemporânea, segundo Brooks (2002), cit. por Perry (2008a), a família contemporânea pode ser definida como “um grupo de duas ou mais pessoas ligadas por parentesco, casamento, adopção ou proximidade emocional, com a qual têm uma relação permanente e partilham as mesmas necessidades e objectivos de vida” (p.23). Para Perry (2008a), as alterações que ocorrem na família com o ganho ou perda de elementos, seja através do casamento, divórcio, morte, nascimento, ou outros acontecimentos, conduzem à reestruturação do modelo de família e à redefinição de papéis, surgindo desta forma novos modelos de estrutura familiar.

De acordo com Bayle (2008), passou-se de um modelo de família nuclear, que pode ser considerada como a família constituída por marido, esposa e um ou mais filhos (CIE, 2011), para outros modelos cuja classificação seguidamente se apresenta.

Inicia-se a descrição dos vários modelos de família com o conceito de família alargada que, segundo o CIE (2011), é uma família que integra mais do que os pais e os filhos, podendo coabitar no mesmo espaço avós, tios ou outras pessoas com laços de consanguinidade (Perry, 2008a). Para esta autora, neste modelo familiar os papéis familiares desempenhados pelos diferentes membros da família são diversos e podem contribuir para dar um suporte importante, no que respeita à educação das crianças e também na transmissão de experiências e conhecimentos, que poderão promover comportamentos de saúde preventivos. Por outro lado, também podem tornar-se motivo de sobrecarga, no caso de ser necessário cuidar dos familiares mais velhos ou dependentes, sendo que o casal poderá ter de cuidar dos filhos mas também dos pais ou avós, ou outros familiares idosos ou dependentes.

Segundo Bayle (2008), existe um modelo familiar denominado famílias reconstituídas, que resultam de divórcio ou separação, sendo que os membros posteriormente vivem uma outra relação e coabitam com outra pessoa, podendo existir progenitores de cada um dos elementos do casal. Para Perry (2008a), o modelo de família binuclear resulta também de situação de divórcio, na qual os progenitores possuem custódia conjunta, com direitos e responsabilidades iguais na educação dos filhos que, segundo a autora, é uma forma de encarar o divórcio como “um processo de reorganização e redefinição familiar, em vez da dissolução de uma família” (p.24). De acordo com Bayle (2008), existem as famílias adotivas em que, apesar de não se verificar consanguinidade entre pais e filhos, as crianças são introduzidas na família sendo estabelecido vínculo afetivo. Considera-se também o modelo de família homoparental, estabelecida por pessoas do mesmo sexo e que podem ou não ter filhos de relações anteriores (Bayle, 2008). As crianças de famílias homossexuais podem ser fruto de relações heterossexuais anteriores ou então resultado de técnicas de reprodução medicamente assistida ou de adoção que atualmente fornecem outras oportunidades e permitem a vivência da parentalidade a mulheres e homens solteiros (Perry, 2008a). Por último, pode considerar-se as famílias monoparentais, nas quais as crianças vivem apenas com um dos progenitores (Bayle, 2008). Segundo o CIE (2011), a criança ou outros dependentes vivem apenas com uma figura parental única, que pode ser o pai, a mãe ou outro cuidador. Para Perry (2008a), a família monoparental pode resultar de diversas situações como a morte de um dos progenitores,

divórcio, abandono, gravidez planeada ou não planeada, ou até mesmo de uma adoção por parte de uma mulher ou homem solteiros. Segundo a autora, nos Estados Unidos da América as famílias monoparentais estão a tornar-se mais prevalentes, o que acontece também em Portugal. De acordo com os dados do INE, disponíveis na Pordata (2014b), o número de agregados domésticos privados monoparentais mais do que duplicou quando comparados dados de 1962 e 2013, sendo que aumentaram de 203 654 para 423 951, respetivamente. De acordo com o INE, o agregado doméstico privado é considerado:

…um conjunto de pessoas que residem no mesmo alojamento e cujas despesas fundamentais ou básicas (alimentação, alojamento) são suportadas em conjunto, independentemente da existência ou não de laços de parentesco; ou a pessoa que ocupa integralmente um alojamento ou que, partilhando-o com outros, não satisfaz a condição anterior. (Pordata, 2014b)

O aumento referido ocorreu nos agregados domésticos privados monoparentais masculinos e nos femininos, com um aumento mais significativo no feminino (cerca de 2,1 vezes maior no feminino e 1,6 vezes no masculino), sendo que o agregado doméstico privado monoparental feminino é mais prevalente comparativamente ao masculino, existindo 365 295 agregados domésticos privados monoparentais femininos e 48 656 masculinos no ano de 2013. Segundo Perry (2008a), existem estudos que apresentam perspectivas diferentes no que respeita às vantagens e dificuldades das famílias monoparentais. Por um lado, estas famílias apresentam maior vulnerabilidade a nível económico e social, podendo condicionar o desenvolvimento da criança no que respeita à saúde, desempenho escolar, comportamentos de risco, havendo uma maior probabilidade de pobreza nas mães solteiras, assim como resultados perinatais menos favoráveis. Por outro lado, este modelo familiar tem sido cada vez mais aceite na sociedade contemporânea, sendo que a tomada de decisão nestas famílias e a comunicação entre os membros é encarada como um compromisso, e a relação que estabelecem com os seus filhos uma forma de realização pessoal, o que cria laços afetivos mais fortes.

Apesar de existirem diferentes modelos familiares, em todos se reconhece a existência de papéis definidos e funções que a família desempenha, que se vão alterando ao longo dos tempos e se adaptam às mudanças económicas e sociais que ocorrem na sociedade (Perry, 2008a). No entanto, de um modo geral, as principais funções da família são: afetiva, uma das mais importantes e que visa dar resposta às necessidades de afeto e compreensão dos elementos da família; socializadora, ao procurar transmitir aos filhos as referências culturais e a forma de assumir os diferentes papéis na sociedade, prolongando-se por todo o ciclo vital;

reprodutiva, cujo objetivo é assegurar a continuidade da família e da sociedade ao longo das gerações; económica, visando a aquisição e distribuição de recursos que garantam o bem-estar familiar; relativas aos cuidados de saúde, providenciando recursos que assegurem as necessidades básicas de vida (Perry, 2008a).

De acordo com Bayle (2008), a família é “… a primeira instituição social que vai assegurar protecção, carinho, amor e responder de forma adequada às suas necessidades fundamentais, como a alimentação, o afecto, a protecção e a socialização“ (p.321). De acordo com a autora, a família regula os contactos com o meio exterior, organiza a forma como os elementos interagem uns com os outros, através do estabelecimento de regras. Para além disso permite o desenvolvimento intelectual, afetivo e social.

Segundo Perry (2008a), a família pode ser considerada uma das instituições com maior importância na sociedade e insere-se num contexto cultural e comunitário, sofrendo as influências sociais e culturais do meio na qual está inserida e transmitindo o seu património cultural, fruto das suas vivências, aos mais novos. Neste sentido, e de acordo com a mesma autora, o modo como a família se coloca face aos cuidados de saúde e adesão a comportamentos de vida saudáveis vão ser influenciados pelo ambiente social e cultural que a envolve, que ocorre nas diferentes fases do ciclo de vida, incluindo na gravidez e parentalidade.