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CAPÍTULO 3 – O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS

3.3 Sistema brasileiro de controle de constitucionalidade

3.3.2 Controle concentrado de constitucionalidade

Além do controle difuso de constitucionalidade, incorporado ao direito brasileiro a partir da Carta Republicana de 1891, existe ainda no ordenamento jurídico brasileiro o chamado controle abstrato ou concentrado, que visa a declarar, por meio de ações próprias e preestabelecidas para este fim, a inconstitucionalidade de um ato normativo do Poder Público para, a partir daí, excluí-lo do mundo jurídico ou simplesmente negar-lhe aplicação.

A maior diferença entre o controle difuso (concreto) e o concentrado (abstrato) é que este não se presta a buscar solução para um caso específico, resolvendo um conflito, mas, de outra banda, visa a verificação da compatibilidade do ato normativo contestado face aos princípios e regras insculpidos na Constituição Federal. Aqui (controle abstrato), o que se visa é extirpar a própria lei ou ato normativo do ordenamento jurídico, e não compor uma lide ou a resolver um caso concreto, como ocorre no controle difuso.

Nas palavras de Canotilho,

[...] o controle abstrato de normas existe quando, independentemente de um caso concreto, se averigua da conformidade de quaisquer normas com o parâmetro normativo-constitucional. O Tribunal Constitucional atua como defensor da constituição relativamente ao legislador e como órgão de garantia da hierarquia normativa da ordem constitucional.92

Portanto, diferentemente do que ocorre no controle difuso, em que o juiz ou tribunal interpreta a constituição com a finalidade de aplicar a lei, ou, ao contrário, subtrair a parte ou interveniente aos seus efeitos, no controle abstrato não existe um caso concreto, por isso diz-se que a discussão é em tese, pois aqui o que se visa é o exame da adequação de uma lei ou ato normativo aos princípios e regras constitucionais, para que, caso haja contrariedade entre as normas infraconstitucionais e a constituição, possa esta prevalecer sobre aquelas.

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Por conta dessa peculiaridade, ou seja, por não existir um caso concreto a ser solucionado, mas apenas uma discussão abstrata sobre a adequação da norma à constituição, diz-se que o controle abstrato possui a natureza de processo objetivo, pois não há partes, processualmente falando, haja vista que tal processo se destina unicamente à defesa da constituição.

No Brasil, o método de controle abstrato de constitucionalidade finca suas raízes na Constituição de 1934, que atribuiu competência ao Congresso Nacional para decretar a intervenção federal nos Estados-membros, quando por estes fossem desrespeitados os princípios constitucionais sensíveis, elencados no art. 7° daquela Carta. Contudo, foi através da Emenda Constitucional n. 16, de 6 de dezembro de 1965 (ns vigência na Constituição de 1946, portanto), que o controle concentrado ingressou definitivamente no ordenamento jurídico brasileiro. A referida reforma atribuiu competência ao Supremo Tribunal Federal para processar e julgar, originariamente, a representação do Procurador-Geral da República por inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual.

A Constituição Federal de 1988 não só manteve o controle abstrato de constitucionalidade de normas como o modernizou, criando novas formas de fiscalização e aumentando o rol de legitimados.

O controle abstrato de constitucionalidade, de acordo com o art. 102, I, “a”, da CF/88, é de competência originária do Supremo Tribunal Federal, quando a norma paradigma para o controle seja a Constituição Federal. Daí ser chamado de controle concentrado, conforme anteriormente explicitado. Quando, no entanto, o parâmetro de análise for a Constituição Estadual ou a Lei Orgânica do Distrito Federal, o controle abstrato será de competência do respectivo Tribunal de Justiça.

Contrariamente ao controle difuso, que possibilita a qualquer pessoa (parte ou interveniente) argüir incidentalmente eventual ofensa à constituição, no controle concentrado a legitimação ativa se limita aos órgãos ou pessoas elencadas no art. 103 da CF/88, a seguir transcrito:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:

I – o Presidente da República; II – a Mesa do Senado Federal;

IV – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI – o Procurador-Geral da República;

VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII – partido político com representação no Congresso Nacional; IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Atualmente, o sistema brasileiro de controle abstrato de constitucionalidade se serve de várias ações judiciais específicas, com a finalidade de averiguar a inconstitucionalidade dos atos normativos do Poder Público. São elas: ação direta interventiva, prevista no art. 34 da Constituição Federal; ação direta de inconstitucionalidade (positiva ou negativa) e ação declaratória de constitucionalidade, ambas regulamentadas por meio da Lei n. 9.868/99; e ainda a argüição de descumprimento de preceito fundamental, inserida no ordenamento jurídico brasileiro através da Lei n. 9.882/99.

Também diferentemente do controle difuso, os efeitos alcançados nos processos de fiscalização abstrata têm, em regra, eficácia erga omnes e efeito vinculante.

Por eficácia erga omnes entende-se a característica da decisão que alcança a todos indistintamente, pouco importando se figuraram ou não no pólo ativo da demanda, enquanto que o efeito vinculante impõe a observância da decisão por parte dos demais órgãos do Poder Judiciário e pela Administração Pública direta e indireta da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Resumindo, todos esses órgãos e pessoas ficam vinculados à decisão emanada do STF, nos exatos termos do art. 102, § 2º, da CF/88, verbis:

Art. 102 [...]

§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Além da eficácia erga omnes e do efeito vinculante, a regra geral no controle abstrato de normas é a produção de efeitos ex tunc, retroagindo, pois, à origem da norma impugnada.

Nada obstante, tanto a Lei nº 9.868/99, que trata sobre a ação direta de inconstitucionalidade, em seu art. 27, quanto a Lei nº 9.882/99, que regula o processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, em seu art. 11, permitem que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dessas ações de controle abstrato, possa, excepcionalmente, por razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, e por maioria de 2/3 de seus ministros, restringir os efeitos da decisão, conceder eficácia ex nunc ou ainda fixar outro momento para o início da eficácia de sua decisão. Trata-se da modulação de efeitos prevista expressamente para as ações de fiscalização abstrata e também possível, excepcionalmente, na seara do controle difuso, conforme alhures explicitado.

CAPÍTULO 4 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE TRATADOS PELO