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4 DIREITO ESTRANGEIRO E A UNIPESSOALIDADE 4.1 Restrospectiva histórica

5 DESAFIOS A SEREM CONSIDERADOS PARA O FORTALECIMENTO DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA FRENTE À UNIPESSOALIDADE

5.2 Prós e contras do instituto

5.7.1 Convocação e Conteúdo

Os atos de deliberação das sociedades unipessoais devem ser documentados, já que as assembléias ou reuniões de sócios se constituem obviamente por uma pluralidade de pessoas, que na unipessoalidade poderia ser dispensada.

No caso das sociedades unipessoais, é óbvio que este órgão não tem como existir, por razões lógicas, mas o que não pode ser suplantado são as atribuições conferidas a ele, que deverão ser tomadas e executadas, apenas pelo único sócio. Inúmeras situações ocorrem em empresas, independentemente do número de sócios das mesmas e estas sugerem a necessidade de resolução para a preservação e proteção da própria atividade.

Alguns pontos podem ser questionados, tais como, a convocação de um sócio único, algo perfeitamente possível quando os administradores sentirem a necessidade de que o tal sócio formalize suas decisões, no que tange por exemplo: gestão empresarial, aprovação sobre as contas do exercício social anterior e destinação dos resultados.

Salienta-se ainda que, se os administradores não procederem à convocatória, respondem solidariamente com o sócio único pelas dívidas da sociedade que porventura possam surgir.

Por outro lado, existem alguns assuntos que são pela lógica, impossíveis de serem decididos quando há apenas um único sócio, tais como estabelecer-se quorum mínimo ou qualificado para determinados assuntos.

Instituído o sócio em órgão da sociedade, exerce ele as competências que caberiam à assembléia numa sociedade pluripessoal, mediante decisões as quais devem ser registradas em ata por ele assinada.366

366 SANTOS, Filipe Cassiano dos. A Sociedade Unipessoal por Quotas. Coimbra: Editora Coimbra, 2009, p.101.

Assim, o sócio atua como órgão da sociedade unipessoal e não tendo a EIRELI assembléia, pode-se dizer que o sócio é o próprio órgão da sociedade. Por esse motivo quando atua sobre as matérias que competiriam à assembléia nas sociedades pluripessoais, deve tomar suas decisões de modo social, ou seja, em prol da sociedade como atividade e não de seus interesses pessoais.367

Apesar de não haver deliberações da assembléia, o órgão de fiscalização, se existir, ou o administrador, se for não-sócio, irá atuar, podendo inclusive expor a nulidade da decisão, requerendo-a judicialmente caso se faça necessário. Trata-se de um necessário mecanismo de defesa do administrador e também do sócio. No Direito Português, Filipe Cassiano dos Santos ressalta que a legislação portuguesa não contém disposição específica para as sociedades unipessoais.368

Outros preceitos, entretanto, não são aplicáveis às sociedades unipessoais, como a convocação da assembléia. Sendo necessária a convocação, no caso de o administrador não sócio. Nesta hipótese, a legislação portuguesa dispõe que deve ocorrer de maneira menos formal que na assembléia, visto que não há uma sessão.369

Logicamente, não há necessidade de convocação para a deliberação no caso do sócio ser ele mesmo o administrador, mas quando distintos é necessária até mesmo em nome da preservação da atividade, a fim de que o mesmo se manifeste sobre situações que comprometem a preservação da empresa.

Especialmente, no que se refere à aprovação das contas, melhor seja feita a convocação pelos administradores para que o sócio decida, a respeito. A iniciativa de interpor a competente ação de prestação de contas, é inviável porque demandará custo e tempo.

Outra situação em que é viável a convocação do sócio único, diz respeito a dissolução da sociedade, evitando-se assim responsabilidade dos administradores pelas dívidas da mesma.

Tais convocações poderiam ser publicadas com antecedência para instalação que em razão da omissão da lei, deverá existir disposição expressa no

367

SANTOS, Filipe Cassiano dos. A Sociedade Unipessoal por Quotas. Coimbra: Coimbra, 2009, p.102. 368 SANTOS, Filipe Cassiano dos. A Sociedade Unipessoal por Quotas. Coimbra: Coimbra, 2009, p.103. 369

ato constitutivo. Na verdade, este mecanismo, embora possa representar excesso de formalidade, diminui os riscos de que divergências entre administradores e sócio possam comprometer o negócio.

Na Espanha, Maria Belén Gonzáles Fernandez assevera que em determinadas oportunidades, os administradores podem convocar a assembléia para que o sócio único se manifeste sobre determinados assuntos, a fim de se prevenir acerca de suas responsabilidades, pois eles têm responsabilidade pessoal pelos atos que praticam.370

A exigência do registro das decisões do sócio único em ata, justifica- se pelo interesse geral no correto funcionamento da sociedade, e ainda pelo interesse específico de terceiros que com ela se relacionam.371

A ata, além da assinatura, deve conter os elementos referidos no preceito legal, com as devidas adaptações pela inexistência de procedimento coletivo, sendo, dessa forma, o registro da decisão e a assinatura do sócio, requisitos essenciais da decisão.372

Quanto à publicidade das decisões do sócio único, inquestionável a sua relevância visto o interesse dos credores em terem fácil acesso às decisões que podem lhes afetar.

A exemplo da Espanha, as transcrições devem ser necessariamente completas e devem ser anexados todos os documentos correlatos ao ato contratado, a fim de transmitir a terceiros, o maior conhecimento possível a respeito da transação em tela; não porque estes possam ter acesso ao “livro-registro”, mas sim porque todas estas contratações devem ser arquivadas no Registro Mercantil. 373

O objetivo maior é a formalização e execução das decisões para que se fixe em primeiro lugar a proteção ao investimento, à atividade, e em segundo a preservação de eventuais responsabilidades.

Poder-se-ia estabelecer no ato constitutivo determinação para que, em um determinado prazo, após o encerramento do exercício social, seja feita a convocação para aprovação em assembléia das contas prestadas pelo administrador, a exemplo do que dispõe o artigo 132 da Lei 6.404/76.

370

SANTOS, Filipe Cassiano dos. A Sociedade Unipessoal por Quotas. Coimbra: Coimbra, 2009, p.105 371

SANTOS, Filipe Cassiano dos. A Sociedade Unipessoal por Quotas. Coimbra: Coimbra, 2009, p.105 372

SANTOS, Filipe Cassiano dos. A Sociedade Unipessoal por Quotas. Coimbra: Coimbra, 2009, p.105. 373FERNÁNDEZ, María Belén González. La sociedad unipersonal em el derecho español: (sociedad anónima, sociedad de responsabilidad limitada y sociedad limitada nueva empresa). ed. Madrid: La Ley, 2004. 348 p.

Enfim, a unipessoalidade não é motivo para que as decisões não sejam documentadas e registradas, aliás, tal providência é ainda mais forte nessa circunstância, a fim de que o sócio único não se utilize da estrutura em benefício próprio. Por esta razão, a transcrição e registro representam a garantia para o sócio de que a separação patrimonial seja garantida, em face da transparência em que se pautam suas decisões.