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4 DIREITO ESTRANGEIRO E A UNIPESSOALIDADE 4.1 Restrospectiva histórica

5 DESAFIOS A SEREM CONSIDERADOS PARA O FORTALECIMENTO DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA FRENTE À UNIPESSOALIDADE

5.2 Prós e contras do instituto

5.5.2 Capital Social

5.5.2.2 Integralização e avaliação

As funções do capital social são a produtividade, garantia e de determinação da posição do sócio339. A contribuição para o capital social só pode ser em dinheiro e bens, sendo vedada para a sociedade empresária a contribuição em serviços, conforme art. 1055, § 2º do Código Civil, e a Instrução Normativa nº 117 do DNRC.340

Não há necessidade de dividir-se o capital social em cotas, tendo em vista a participação única.

Marcondes341 também coloca a importância do capital social na unipessoalidade, que nada mais é que a garantia de terceiros, objetivando o fortalecimento da empresa, bem como a fiscalização da atividade. Esclarece que para a unipessoalidade, a limitação da responsabilidade decorre efetivamente da separação do patrimônio, sendo que não há responsabilidade limitada ao total de um patrimônio separado por parcelas. Então não se admite a integralização seja feita em parcelas para que efetivamente não se desprestigie o instituto da unipessoalidade aliado ao da separação patrimonial.342.

Quando a integralização for feita em bens, o único sócio responderá pela exata estimação dos bens conferidos, pelo prazo de 5 anos (CC – art. 1.055, § 1º c.c. art. 980-A, § 6º) se houve uma superavaliação de bens em prejuízo da efetividade do capital social, o titular responderá pela diferença. A superavaliação do bem para a integralização equipara-se à não integralização, acarretando a responsabilidade no patrimônio pessoal.343

339 TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 4 ed. v.1.São Paulo: Atlas, 2012, p. 57.

340 “O capital da EIRELI deve estar inteiramente integralizado na constituição ou em aumentos futuros.” Instrução Normativa Nº 117, de 22 de novembro de 2011. Aprova o Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Disponível em: http://www.jucepa.pa.gov.br/, Acesso: 25/04/2013. Item 1.2.16.2. 341

MACHADO, Sylvio Marcondes. Limitação da responsabilidade de comerciante individual. São Paulo: Max Limonad, 1956, p. 311-312.

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MACHADO, Sylvio Marcondes. Limitação da responsabilidade de comerciante individual. São Paulo: Max Limonad, 1956, p. 301-302.

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Especificamente no que se refere aos bens imóveis, a Lei nº 8.934/94, em seu artigo 35, inciso VII, alíneas “a” e “b”, coloca que sejam cumpridas determinadas exigências, quais sejam, a descrição do imóvel no ato constitutivo, como sua identificação, área e número de matrícula; a anuência do cônjuge no caso de titular casado.

No Brasil, a Lei nº 6.404/76, que dispõe a respeito das sociedades anônimas estabelece que, uma das formas de integralização do capital social para a constituição das mesmas pode ser feita em bens, sejam eles móveis ou imóveis, exigindo-se para tanto laudo de avaliação firmado por três peritos.

Este tipo específico de integralização tem que se perfazer mediante uma avaliação e nas condições do Art. 8.º e seus parágrafos da Lei nº 6.404/76. O dispositivo traz uma noção bastante acentuada da complexidade e da burocracia exigidas para que a integralização ocorra 344, especialmente pelo fato de ser sociedade de capital e este a única garantia dos credores.

Logicamente que esta exigência trazida pela Lei das S/A representa custos na contratação dos peritos e no cumprimento de formalidades, o que nas sociedades limitadas é recomendado apenas para que os sócios não sejam solidários, mas traduzem numa preocupação com os credores da sociedade e de terceiros de forma geral, pois é uma forma de garantir que, em casos de dívida, aquele patrimônio realmente equivalha ao valor declinado.345

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Art. 8.º A avaliação dos bens será feita por 3 (três) peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembléia-geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalando-se em primeira convocação com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número.

§ 1º Os peritos ou a empresa avaliadora deverão apresentar laudo fundamentado, com a indicação dos critérios de avaliação e dos elementos de comparação adotados e instruído com os documentos relativos aos bens avaliados, e estarão presentes à assembléia que conhecer do laudo, a fim de prestarem as informações que lhes forem solicitadas.

§ 2º Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assembléia, os bens incorporar-se-ão ao patrimônio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessárias à respectiva transmissão. § 3º Se a assembléia não aprovar a avaliação, ou o subscritor não aceitar a avaliação aprovada, ficará sem efeito o projeto de constituição da companhia.

§ 4º Os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio da companhia por valor acima do que lhes tiver dado o subscritor.

§ 5º Aplica-se à assembléia referida neste artigo o disposto nos §§ 1º e 2º do artigo 115.

§ 6º Os avaliadores e o subscritor responderão perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens, sem prejuízo da responsabilidade penal em que tenham incorrido; no caso de bens em condomínio, a responsabilidade dos subscritores é solidária. (BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1.976. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ ccivil 03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 27 abr.2013).

345 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial – direito de empresa: o direito comercial e a disciplina da atividade econômica. v.1.São Paulo: Saraiva, 2011, p.181-182.

No caso, da EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) haveria ainda mais uma consideração a ser feita: como há apenas um único sócio, conforme já comentado é evidente que, numericamente as garantias dos credores diminuem, sendo assim, esta estipulação não iria permitir abusos de fraudes a credores e imprimiriam ainda mais credibilidade à EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), podendo, inclusive, atribuir-se a responsabilidade ao avaliador solidariamente, quando a avaliação não corresponder a verdade. Todavia, não há qualquer exigência para tanto, sendo que a Instrução Normativa 117 do DNRC346 libera de tal formalidade, justamente visando a simplicidade e eliminação de custos para esta modalidade societária.

Sendo o capital social totalmente integralizado na constituição, não poderão os credores, em caso de falência da EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), demandar o patrimônio pessoal do único sócio347, haja vista o limite de responsabilidade, consagrando-se a autonomia patrimonial.

E encontrando-se a subscrição e integralização de acordo com o estabelecido na lei, possíveis alterações do salário não demandará qualquer alteração, conforme V Jornada de Direito Civil.348

No caso, porém, do capital sofrer diminuição, em caso de perdas irreparáveis, e se for excessivo em relação ao objeto da empresa, 349,algumas formalidades devem ser respeitadas, a fim de que sejam resguardados os interesses dos credores, tais como decisão específica publicada, na qual se concede o prazo de 90 (noventa) dias para eventual impugnação de credores. Acaso não haja a impugnação ou se for provado o pagamento da dívida, eventualmente impugnada a redução é eficaz e será registrada pela Junta Comercial, preservando- se sempre o limite mínimo legal estabelecido.350

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“Não é exigível a apresentação de laudo de avaliação para comprovação dos valores dos bens

declarados na integralização de capital de EIRELI.” Instrução Normativa Nº 117, de 22 de novembro de 2011. Aprova o Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Disponível em: http://www.jucepa.pa.gov.br/, Acesso: 27/04/2013. Item 1.2.16.3.

347 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 24.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.204.

348 “ Uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital individual de responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações no salário mínimo.” 1ª Jornada de Direito Comercial, enunciado nº 4. Disponível em: http://www.jf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/outras-publicacoes, acesso 27/04/2013. 349

2.2.3 - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Disponível em: http://www.jucepa.pa.gov.br/, Acesso em 27 abr. 2013.

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Instrução Normativa Nº 117, de 22 de novembro de 2011. Aprova o Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Disponível em: http://www.jucepa.pa.gov.br/, Acesso em 27 abr.2013.

Embora tenha se fixado a figura do capital social mínimo, e que não haja alteração quando do aumento do salário mínimo, para o fortalecimento da empresa e das garantias dos credores, faz-se nesse momento uma sugestão de reter parte anual de lucros líquidos, para formação de fundo de reserva, como objetivo de que o valor mínimo seja observado, caso contrário, depois de alguns anos e com as alterações do salário mínimo, tal exigência configurará letra morta da lei.

Com a constituição de um fundo de reserva, posteriormente ocorreria a capitalização, mantendo-se sempre um patamar significativo e afastando assim qualquer investida no patrimônio pessoal do sócio único, alegando-se subcapitalização.351