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Desafios e perspectivas mundiais frente à Diretiva Europeia

4 DIREITO ESTRANGEIRO E A UNIPESSOALIDADE 4.1 Restrospectiva histórica

4.2 Desafios e perspectivas mundiais frente à Diretiva Europeia

A sociedade unipessoal de responsabilidade limitada já era uma realidade na França e na Alemanha. Foi então que os Estados da União Europeia decidiram elaborar algumas diretrizes para que todos os países membros ajustassem seus ordenamentos jurídicos à nova figura societária.

A XII Diretiva ocorreu em 21 de dezembro de 1989 e tinha como objeto orientações sobre as sociedades unipessoais, sua formação, registro e alteração. Ela retrata um meio de apaziguar as opiniões divergentes em solo europeu no que diz respeito à sociedade unipessoal:

Considerando que as reformas introduzidas em algumas legislações nacionais, no decurso dos últimos anos, com o objetivo de permitir a existência de sociedades de responsabilidade limitada com um único sócio, deram origem a disparidades entre as legislações dos Estados-membros; Considerando que é conveniente prever a criação de um instrumento jurídico que permita a limitação da responsabilidade do empresário individual, em toda a Comunidade, sem prejuízo das legislações dos Estados membros que, em casos excepcionais, impõem a responsabilidade desse empresário relativamente às obrigações da empresa.185

Quanto à natureza dessa Diretiva, importante observarmos a opinião de Duque Dominguez:

A finalidade formal da Directiva é coordenar as legislações dos Estados membros, impondo um quadro mínimo de normas que eliminem, em benefício de terceiros (e de eventuais sócios futuros), as disparidades que

185 DÉCIMA SEGUNDA DIRECTIVA DO CONSELHO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS de 21 de Dezembro de 1989 em matéria de direito das sociedades relativa às sociedades de responsabilidade limitada com um único sócio. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:31989L0667:PT:HTML>. Acesso em 01 jul. 2012.

tenham surgido ou que puderam produzir-se no regime da sociedade de responsabilidade limitada com um único sócio.186

Por fim, esclarecemos que antes dela alguns países da Europa já prescreviam em seus ordenamentos jurídicos a existência da sociedade unipessoal. Entre eles, Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Dinamarca. Após a Diretiva, passaram também a prescrever normas sobre esse tipo societário: a Itália, a Espanha e Portugal.

É importante distinguirmos duas ordens de ideias, pois inicialmente podemos conceber que antes da Diretiva não eram discutidas as sociedades unipessoais ou simplesmente repudiadas em Conselhos deste gênero.

Na verdade, havia em Diretivas anteriores dispositivos sobre sociedades unipessoais, mas que visavam dar a chance dela serem regularizadas como pluripessoais. Havia um consenso de que não deveria se extinguir as eventuais sociedades unipessoais, mas regularizá-las.

O que mudou com a XII Diretiva Europeia foi a reformulação de que poderiam as sociedades unipessoais existirem juridicamente sem estarem inválidas ou irregulares do ponto de vista jurídico.

Esta reformulação, entretanto, não aconteceu repentinamente nem estava na redação original da XII Diretiva. Ela é fruto de modificações posteriores, como as de 2 de julho de 1988.187

O objetivo principal era unificar as legislações díspares dos países europeus para regular igualmente a situação daquele que pode movimentar ainda mais a economia, mesmo sozinho e sofrendo limitações quanto à responsabilização de seu patrimônio pessoal.

Um outro motivo subjacente à reformulação foi a desburocratização, que facilitou juridicamente a possibilidade de mais pessoas ingressarem neste tipo de sociedade.

Na verdade, a causa sempre residiu na questão econômica, pois a União Europeia seguiu uma reestruturação coadunada com a modernidade e a

186

DOMINGUEZ, Justino F. Duque apud COSTA, Ricardo Aberto Santos. A Sociedade por Quotas Unipessoal no Direito Português. Coimbra: Almedina, 2002, p. 106-128.

187

COSTA, Ricardo Aberto Santos. A Sociedade por Quotas Unipessoal no Direito Português. Coimbra: Almedina, 2002, p.220.

tendência atual, considerando melhor adaptar o Direito para dinamizar a economia a estagná-la por questões jurídicas.

Em resumo, podemos afirmar que alguns dispositivos da Diretiva tentam unificar nos países-membros, a responsabilização do ponto de vista jurídico e administrativo, tanto no caso das sociedades limitadas, como nas anônimas.

Uma outra disposição da Diretiva foi permitir que originalmente nascesse a sociedade individual, assim como, no decorrer da existência de quaisquer sociedades, ela pudesse se transformar em uma.

Todavia, por mais incentivo e disposição legal que Diretiva Europeia tenha trazido e mesmo sendo considerada um símbolo, um marco no tratamento jurídico do nosso debate, a Diretiva recebeu diversas críticas e não está isenta de falhas.

Uma das mais severas refere-se à simplicidade do conceito de sociedade unipessoal, como a “sociedade de um sócio só” sem aprofundar o conceito, sem indicar se pode existir pessoa natural ou jurídica, e nem abordar a natureza jurídica do instituto, cabendo indagar se uma situação assim configura uma sociedade ou um novo modelo de pessoa jurídica.

Cada legislação nacional poderia definir o conceito mais especificamente. O art.2 da Diretiva implicitamente remete a solução aos países, mas não parece ter sido esta a mais acertada. Se o objetivo inicial era unificar as legislações para evitar conflitos na União Europeia, relegar a cada nação a possibilidade de definir legalmente o que entende sobre sociedade unipessoal parece um verdadeiro contrassenso.

Outro aspecto complexo está na omissão sobre as possíveis contradições entre as negociações do único sócio com a sua sociedade. Estas questões foram propostas originalmente, mas não apareceram na redação final do art. 4. A solução antes oferecida era que as contradições seriam aparentes e que a vontade da tradicional Assembleia Geral deveria ser substituída pela do único sócio. 188

188 FERNÁNDEZ, María Belén González. La Sociedad Unipersonal en El Derecho Español. Las Rozas /Madrid: La Ley, 2004, p. 348.

Enfim, em que pesem estas considerações, a Diretiva Europeia representa a unificação da legislação acerca da unipessoalidade societária e o fortalecimento da legislação dos Estados a ela vinculados.