4 DIREITO ESTRANGEIRO E A UNIPESSOALIDADE 4.1 Restrospectiva histórica
5 DESAFIOS A SEREM CONSIDERADOS PARA O FORTALECIMENTO DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA FRENTE À UNIPESSOALIDADE
5.12 Extinção da EIREL
A dissolução trata-se de um processo de encerramento da sociedade que visa extinguir a sua personalidade jurídica. Dessa forma, a partir da dissolução a empresa não é mais titular de direitos e obrigações. Em sentido estrito (stricto sensu), a dissolução refere-se ao procedimento específico que deve ser observado a fim de resguardar os direitos dos sócios e de terceiros, especialmente
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BEHREND, Hermance. Lehrbuch des Handelsrechts apud MENDONÇA, J.X Carvalho de. Tratado de Direito Comercial Brasileiro. Livro Quatro: Das obrigações, dos contractos e da prescripção em matéria commercial. Parte II: Dos contractos em matéria commercial, 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1933, p.158.
os credores. Deste objetivo é que surge a sua importância e necessidade, de forma que, uma vez não seguidas as regras estabelecidas para a dissolução, os sócios incorrem em ilícito e respondem pessoal e ilimitadamente pelas dívidas da sociedade. Nesta hipótese, ressalte-se para o fato de que o sócio que não tenha participado da dissolução irregular deve requerer a dissolução judicial da sociedade a fim de que não seja responsabilizado injustamente. 403
O processo consiste em três fases: dissolução (stricto sensu), liquidação e partilha, divisão esta adotada por autores como Bulgarelli404 e Fábio Ulhoa Coelho405, entretanto não é unânime, na medida em que alguns autores incluem a extinção como uma fase à parte.406 De maneira sucinta, a fase da dissolução corresponde à decisão acerca de sua extinção, a liquidação consiste na apuração do patrimônio e das pendências obrigacionais da sociedade, e a partilha trata-se repartição do patrimônio entre os sócios.407
O princípio da preservação da empresa tem recebido reconhecimento da sua relevância atualmente, de forma que em meio aos múltiplos interesses que circundam a empresa, a sua existência como atividade deixa de ser assunto de exclusivo interesse dos sócios.
O ordenamento jurídico pátrio contempla dois diferentes regimes de dissolução das sociedades. O regime previsto na Lei das Sociedades por Ações408 aplica-se às sociedades institucionais, enquanto que o Código Civil409 é aplicável para as contratuais. Ambos tratam-se de um ato formal, dos sócios ou do juiz, que marca o início do procedimento de extinção (dissolução, liquidação e partilha), a diferença está na natureza dos vínculos societários, de forma que as contratuais seguem, em parte, as normas dos contratos.
A dissolução é o ato pelo qual decide-se pela extinção da sociedade, podendo ocorrer pela vontade dos sócios, ou pelas causas previstas na lei ou no contrato social da empresa. Findada esta fase, a sociedade não encontra-se extinta, mas dissolvida, de forma que ainda permanece a sua personalidade jurídica, a fim
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COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2: sociedades. 16.ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 486-487.
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BULGARELLI, Waldirio Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. São Paulo: Saraiva, 1978, p.87. 405 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2: sociedades, 16.ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p.486.
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TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 4 ed. v.1.São Paulo: Atlas, 2012, p.374. 407
DORIA, Dylson. Curso de Direito Comercial. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p.303. 408
Lei nº 6.404 de 1976, art. 206 e ss. 409
de que conclua as negociações iniciadas e liquide as ultimadas, não podendo, entretanto, realizar novas operações. Este é o estado ao qual denomina-se de “período agônico”.410
São causas de dissolução das sociedades empresárias:
a) Vontade dos sócios – Lei das Sociedades por Ações, art. 206, I, “c”; Código Civil, art. 1.033, II e II;
b) Decurso do prazo determinado de duração - Lei das Sociedades por Ações, art. 206, I, “c”; Código Civil, art. 1.033, I;
c) Falência - Lei das Sociedades por Ações, art. 206, II, “c”; Código Civil, art. 1.044;
d) Unipessoalidade - Lei das Sociedades por Ações, art. 206, I, “d”; Código Civil, art. 1.033, IV;
e) Irrealizabilidade do objeto social - Lei das Sociedades por Ações, art. 206, II, “b”; Código Civil, art. 1.034, II, in fine;
f) Extinção da autorização de funcionamento - Lei das Sociedades por Ações, art. 206, I, “e”; Código Civil, art. 1.033, V.
A fase de dissolução divide-se, ainda, em três espécies. A dissolução de pleno direito é aquela que se verifica independentemente da vontade dos sócios ou mesmo da intervenção judicial, como por exemplo a morte de um dos sócios. A dissolução consensual ocorre por mútuo consenso entre os sócios. E, por fim, a dissolução judicial é a que se realiza mediante sentença judicial, a pedido de qualquer dos sócios ou de terceiros.411
Findada a fase de dissolução, conforme já mencionado, a sociedade mantém sua personalidade jurídica a fim de liquidar as pendências obrigacionais existentes. Tendo em vista a proteção aos interesses de terceiros, formalidades são trazidas pela legislação, como a publicidade do ato dissolutório através do seu arquivamento na Junta Comercial412; e a agregação obrigatória da expressão “em liquidação” ao nome empresarial da sociedade.413
A fase de liquidação possui dois objetivos, a realização do ativo, que consiste na venda dos bens da sociedade e a cobrança de seus devedores; e a
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DORIA, Dylson. Curso de Direito Comercial. 1º Volume, 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p.304. 411
DORIA, Dylson. Curso de Direito Comercial. 1º Volume, 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p.305-306. 412
Lei das Sociedades por Ações, art. 210, I; Código Civil, art. 51 § 1º. 413
satisfação do passivo, que nada mais é do que o pagamento aos devedores. Em outras palavras, visa transformar o ativo em dinheiro.
A partir desse momento a representação da sociedade não cabe mais aos administradores da empresa, devendo ser nomeado representante legal ao qual denomina-se de “liquidante”, sendo este o órgão responsável pela manifestação da vontade da pessoa jurídica durante a fase de liquidação até a sua extinção. Possível e bastante freqüente coincidir de o próprio administrador ser nomeado liquidante, entretanto suas atribuições são diferentes, enquanto o administrador possui amplos poderes para obrigar a pessoa jurídica por quaisquer atos, o liquidante somente a pode vincular nos atos próprios à liquidação.414
Após a liquidação, o processo de extinção da empresa alcança sua fase final, a partilha dos lucros líquidos entre os sócios. Como regra geral, será observada a proporção da participação de cada sócio no capital social, entretanto possuem os sócios a faculdade de negociar livremente, uma vez que tratam-se de direitos disponíveis.
Na hipótese de o patrimônio social não ser suficiente para sanar as dívidas da sociedade, o liquidante pode tomar duas providências: requerer a falência desde já415, ou realizar os pagamentos possíveis, com a observância das preferências de cada credor, somente após confessando a falência.416
Para a unipessoalidade, a questão da extinção deve ater-se para o fato de que o patrimônio separado, constitutivo da empresa, deve conter em si a garantia dos credores relacionados com a atividade empreendedora do empresário e, assim, enquanto esse patrimônio estiver em estado de solvência, nada há que temer. Todavia, se ocorrer a insolvência deste patrimônio, deve o titular da EIRELI pedir sua autofalência ou então qualquer credor.417
A jurisprudência brasileira entende que no caso da unipessoalidade não há fase de dissolução, pois face à existência de um sócio apenas, parte-se para a liquidação e partilha de bens.418
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COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial volume 2: sociedades, 16.ed.São Paulo: Saraiva, 2012, p. 494-495.
415 Lei das Sociedades por Ações, art. 210, VII; Código Civil, art. 1.103, VII. 416
Lei das Sociedades por Ações, art. 214; Código Civil, art. 1.106. 417 MARCONDES, p. 316-317.
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Oitava Câmara Cível Agravo De Instrumento Nº 0051384-80.2012.8.19.0000 agravante 1: Nivaldo Lopes de Oliveira Neto Agravante 2: J N Materiais Cirúrgicos LTDA. ME Agravado: João Luiz dos Santos Relator: Des. Ana Maria Pereira de Oliveira
A Instrução Normativa nº 117, do DNRC, acerca da EIRELI, também fixou os casos de alteração do ato constitutivo e de dissolução da EIRELI, de modo que o ato de alteração foi chamado de “Decisão do Titular” e o de dissolução foi chamado de “Desconstituição”.
Enfim, a extinção da EIRELI decidida extrajudicialmente deve ater-se apenas à fase de liquidação, a fim de atingir-se o patrimônio separado para saldar as obrigações junto aos credores.
Quando for judicialmente, a qual poderá se dar através da falência ou por iniciativa dos administradores, quando o sócio único decidir contrariamente ao investimento, proceder-se-á a apuração de haveres para pagamento das dívidas, inclusive o próprio sócio. Nessa última situação, poder-se-á admitir que a discussão acerca da dissolução seja travada no que se refere a ser ou não a decisão do sócio em benefício da atividade empresarial.