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1 INTRODUÇÃO

7.5 HIPÓTESES DE CABIMENTO

7.5.3 Corrupção

A corrupção é uma malesa tão antiga que encontra referência até mesmo na Bíblia. Trata-se de vício impregnado à atividade humana, sobretudo no trato da coisa pública, sem distinguir local ou tempo. Aliás, são endêmicos os escândalos que envolvem corrupção nos diversos níveis da administração pública brasileira, a exemplo dos casos “Impecheament de Collor”, “Anões do orçamento”, “Mensalão”, “Caso Arruda”, e outros tantos.

deterioração, putrefação e degeneração. Sobre o tema explica Monica Caggiano195 em uma abordagem genérica “o termo corrupção indica quaisquer ações praticadas de forma camuflada, a partir de uma zona de penumbra, à margem das linhas comportamentais

norteadas pela lei e pela moral, com vistas à obtenção de vantagens individuais ou em prol de um grupo, inatingíveis pelas vias ordinárias”.

A corrupção eleitoral é hipótese de cabimento que está intimamente ligada ao abuso de poder econômico. Na jurisprudência pátria o que se percebe é a concomitância de ambos os ilícitos (nos casos de procedência da AIME), havendo, por vezes, uma aparente confusão entre os dois. Aliás, este embasamento poderia ser dissipado se a jurisprudência e doutrina especializadas enfrentassem a corrupção eleitoral de forma isolada, isto é, dissociada do abuso de poder econômico. Talvez isso ainda não ocorreu pois, frequentemente, a prática de corrupção eleitoral envolve o uso indevido de dinheiro ou patrimônio em troca de votos. Os casos de AIME com supedâneo único na corrupção eleitoral são raros. No entanto há uma diferença latente. Trata-se da possibilidade de praticar corrupção eleitoral sem emprego do viés econômico. É o caso das promessas196 de emprego a eleitores específicos em troca de voto caso o candidato seja eleito. E ainda, a oferta de projetos para que se dê às ruas ou praças o nome de parentes de eleitores (Mas também ocorre a corrupção se a promessa é de vantagem de outra natureza, como a de oferecer projetos para que se dê a ruas e praças os nomes de parentes de eleitores. Aqui se opera a corrupção independentemente de abuso de poder econômico197. Tanto em um como noutro exemplo não há emprego do vetor financeiro,

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CAGGIANO, Monica Herman Salem. Legalidade, Legitimidade e Corrupção em Campanhas Eleitorais, In Revista Trimestral de Direito Público. São Paulo, nº 7, 1994, p.131-141.

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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Jurisprudência Ac. no 5.498, de 27.9.2005, rel. Min. Gilmar Mendes.Disponível em: <http://www.tse.jus.br/internet/jurisprudencia/index.htm>. Acesso em: 07-11-2010.

“Quando a promessa é genérica e não-vinculada a eleitores específicos não é caso de corrupção eleitoral, mas

apenas da chamada “promessa de campanha”, legalmente admitida. Entretanto, se a promessa for especificada quanto ao tipo de emprego e vinculada a determinados eleitores de forma potenciada, haverá a corrupção eleitoral. Em todo caso, se recomenda considerar as peculiaridade de cada caso.”

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mas permanece a malversação da liberdade de votar. Logo, todo abuso de poder econômico poderá caracterizar corrupção eleitoral, porém nem toda corrupção eleitoral poderá caracterizar abuso de poder econômico.

A corrupção eleitoral é mais visível através de duas formas principais: o ilícito civil- eleitoral e o ilícito criminal-eleitoral. No primeiro, tem-se a captação ilícita de votos prevista no artigo 41-A, da Lei n.º 9.504/97 (Lei das Eleições). No segundo, a conduta criminosa está prevista no artigo 299 da Lei 4.737/65 (Código Eleitoral). Perceba-se que uma só conduta pode configurar ambos os ilícitos, com conseqüências distintas.

Todavia, a forma de corrupção eleitoral que interessa ao presente estudo é aquela praticada através do ilícito civil-eleitoral do art.41-A, da Lei das Eleições. Esclareça-se aqui tratar-se daquela caracterizada pela captação ilícita de votos de forma potenciada, ou seja, com amplitude suficiente a comprometer a lisura e a normalidade das eleições. Disso decorre que não haverá a corrupção, como hipótese de cabimento da Impugnatória, senão quando houver potencialidade lesiva para interferir no pleito. A captação ilícita de votos só se transforma em corrupção eleitoral quando potenciada. O ato ilícito não-comprometedor da lisura e normalidade das eleições é irrelevante para a propositura da AIME...

Então, a conduta de captação ilícita de voto, seja única ou múltipla, só ganhará relevo jurídico no contexto da Ação se consubstanciada na potencialidade lesiva. Daí não ser viável a propositura da AIME com base apenas na captação ilícita de votos do artigo 41-A, mas somente na hipótese de corrupção eleitoral propriamente dita, que necessariamente deve ser potenciada.

Nessa linha, podem-se exemplificar como casos de corrupção eleitoral a doação de dinheiro, a oferta de emprego, a promessa de prêmio, entrega de bens, fornecimento de

carteira de habilitação198 oferecimento de vantagens ou benefícios, tudo em troca de voto do eleitor e de forma potenciada. Outro caso interessante se dá com a promessa de manutenção em cargos na prefeitura nestes termos 199

Por outro lado, para a jurisprudência da Corte superior eleitoral basta a corrupção em seu sentido apenas coloquial e não tecnicamente penal, para fins de configuração de hipótese seu sentido apenas coloquial e não tecnicamente penal, para fins de configuração de hipótese de cabimento da AIME.200 Isso certamente leva a refletir se este sentido de corrupção transborda ao de captação ilícita potenciada, isto é, se se comportaria uma interpretação mais abrangente.

Para tanto não se pode perder de vista a liberdade de votar do eleitor. Nessa perspectiva amplificada cabe indagar: excetuando-se a captação ilícita de votos potenciada, haveria outras condutas ilícitas que configurariam a corrupção eleitoral? Na tarefa de fornecer respostas se recai nas hipóteses de abuso de poder econômico, ou abuso de poder político e de autoridade entrelaçado ao econômico, não havendo nitidez quanto a ato de corrupção eleitoral isolado, diferente da captação ilícita potenciada. É que a corrupção restaria englobada pelos ilícitos mais abrangentes não sendo possível, nestes casos, dissociá-la ou isolá-la, pois, nesse contexto, sempre será dependente daqueles.

Contudo, isso não é óbice à aplicação da corrupção eleitoral de forma ampla, devendo- se considerar a captação ilícita de votos potenciada ainda que não haja pedido de voto explícito (art.41-A, §1º), quando houver violência ou a grave ameaça com o fim de obter o voto (art.41-A, §2º), nos casos de pagamentos a eleitores para não votarem em candidato ____________________________

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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Jurisprudência Ac. de 6.4.2006 no RO nº 777, rel. Min. Gilmar Mendes Disponível em: <http://www.tse.jus.br/internet/jurisprudencia/index.htm>. Acesso em: 07-11-2010. 199

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Jurisprudência REsp. 1865 Rel. Arnaldo Versiani Leite Soares, DJ - 26/02/2008. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/internet/jurisprudencia/index.htm>. Acesso em: 07-11- 2010.

200

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Jurisprudência REspe nº 28.040-BA, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 1º.7.2008.Disponível em: <http://www.tse.jus.br/internet/jurisprudencia/index.htm>. Acesso em: 07-11-2010.

adversário, ou para que eleitores viajem para outro local; ou ainda, o “confisco”, durante a votação, de documentos de eleitores, em todos os casos inviabilizando os votos em candidatos adversários.

Ainda nessa trilha, a captação ilícita de votos pode ser caracterizada tanto de forma direta (quando o próprio candidato beneficiário pratica a conduta ilícita), como indireta (quando o candidato beneficiário anui ou participa de qualquer forma para a conduta ilícita- geralmente através de terceiros). Inevitavelmente, este mesmo raciocínio deverá ser aplicado à corrupção eleitoral, que também poderá ser praticada de forma direta ou indireta, a depender da forma de envolvimento do beneficiário.

O sentido coloquial atribuído à corrupção eleitoral deve ser considerado numa consecução ampla e conjunta das mais variadas formas de captação ilícita de votos potenciada, além daquelas hipóteses em que a corrupção está abrangida pelo abuso de poder econômico, ou abuso de poder político e de autoridade entrelaçado ao econômico.