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1 INTRODUÇÃO

6.4 EXTINÇÃO DE MANDATO ELETIVO

6.4.2 No Direito brasileiro

No direito pátrio há varias hipóteses de extinção do mandato eletivo, a depender das respectivas causas originárias. José Jairo Gomes158 identificou que o termo extinção engloba tanto a perda como a cassação de mandato eletivo. Ressalvando que a Constituição de 1988 preferiu àquele vocábulo à este, explica que a cassação é instituto típico do Direito Público, é uma espécie de desfazimento de ato anteriormente editado e subdivide-se em cassação administrativa e política. Na primeira aduz que os fundamentos são o juízo de conveniência e oportunidade, além da ilegalidade do ato administrativo desconstruído. No segundo, elucida que implica em perda dos direitos políticos, de cargo e função pública, à título de punição. Também subdivide as causas de extinção do mandato político em eleitoral e não eleitoral. Conforme aponta o autor as causas não eleitorais de extinção do mandato político estão ligadas a fatos ocorridos durante o exercício deste e as diferencia entre não sancionatórias e sancioantórias, a depender da existência de causa punitiva. Aquelas consistem em: a) encerramento do tempo do mandato, b) morte do titular, c) renúncia e d) desincompatibilização. Já estas útimas, podem ocorrer pelo: a) impedimento ou impeachment (art.86, CF/88), b) efeito secundário da sentença penal condenatória (art. 92, I, “a”, CP), c) suspensão direitos políticos (art. 15, III, CF/88), d) infidelidade partidária (Resolução n.º 22.610/07, do TSE); e) quanto ao mandato parlamentar, e.1) violação das proibições do art. 54 da CF/88, e.2) violação do decoro parlamentar (art. 55, §1º, CF/88). Já as causas eleitorais _________________________

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de extinção da investidura política referem-se a fatos eleitorais ocorridos no transcorrer do processo eleitoral ou até mesmo depois deste, porém sempre em razão das eleições.

Ocorre que a Justiça Eleitoral, apesar de suas características avançadas, não consegue julgar definitivamente todas as demandas eleitorais que possam influir no resultado do pleito antes da votação, perdurando estas pendências mesmo depois da diplomação e até depois da posse dos eleitos.159

Sem dúvida, esta indefinição causa uma grande sensação de insegurança jurídica, pois, o resultado do certame fica pendente enquanto não houver decisão definitiva da Justiça Eleitoral. Ademais, com certa freqüência candidatos que concorreram as eleições com seus registros sub judice podem perder seus mandatos com o advento de decisão desfavorável. Por outro lado, podem ocorrer reviravoltas no exercício do mandato eletivo, conforme ocorram decisões de cassação com efeito imediato (Art. 41-A, art. 30-A, da LE, AIME, Cf/88), ou sejam concedidas liminares, em sede de mandado de segurança ou ação cautelar, suspendendo excepcionalmente os efeitos da cassação imediata.

Assim, a doutrina160 divide as causas extintivas eleitorais de mandato eleitoral em: a) indeferimento ou cassação de registro de candidatura e b) cassação de diploma ou mandato por abuso de poder. Em todos os casos haverá invalidação da votação.

O registro de candidatura é a habilitação jurídica para o exercício da elegibilidade do cidadão nas eleições. Assim, tanto o indeferimento com a cassação deste registro impede a inclusão definitiva do pré-candidato na disputa eleitoral por não preenchimento dos pressupostos legais. A distinção entre ambos é que no primeiro sequer existiu o registro e no segundo o registro anteriormente concedido é cassado. O indeferimento pode ocorrer através da decisão da Justiça Eleitoral quando da análise do Pedido de Registro de Candidatura, ou

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Isso ocorre por vários motivos, entre eles a sobrecarga de demandas, a concentração das fases do processo eleitoral, a complexidade de certas lides, a interposição de vários recursos, além de outros.

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em virtude do julgamento procedente da Ação de Impugnação de Registro de Candidatura – AIRC nas seguintes hipóteses: a.1) ausência de condição de elegibilidade, a.2) incidência de causa de inelegibilidade, a.3) ausência de documentação exigida por lei para o RRC (Requerimento de Registro de Candidatura) e a.4) ausência de completude da chapa majoritária.

Em qualquer destes casos, havendo recurso da decisão desfavorável a respectiva candidatura ficará sub judice e, enquanto não advir decisão definitiva, poderá o candidato fazer campanha eleitoral, ser eleito, diplomado e empossado.161

Afora isso, a cassação de diploma ou mandato eletivo poderá ocorrer nas hipóteses em que o candidato eleito praticar ou se beneficiar do abuso de poder durante as eleições. Estas situações comprometem a normalidade e legitimidade das eleições (art.14, §10, da CF/88), além da liberdade do eleitor de votar e são combatidas através de diversas ações eleitorais.

São elas o Recurso Contra a Expedição do Diploma – RCD (Art. 262, IV), a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo – AIME (art.14, §10, da CF/88), as representações da Lei das Eleições (art. 41-A, art. 30-A, art. 73, §5º, 74, 75, parágrafo único e 77, parágrafo único). Estas ações exigem a configuração da potencialidade lesiva, à exceção das representações do art. 41-A162 e art. 30-A.163

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BRASIL.Lei Ordinária n.º 9.504 (1997) “Art. 16-A. O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior.”

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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Jurisprudência. Divulgação em: <www.tse.jus.br> Acesso em 15/10/32010. “Ac.-TSE, de 8.10.2009, no RO nº 2.373; de 17.4.2008, no REspe nº 27.104 e, de 1º.3.2007, no REspe nº 26.118: para incidência da sanção prevista neste dispositivo, não se exige a aferição da potencialidade do fato para desequilibrar o pleito.”

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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Jurisprudência. Divulgação em: <www.tse.jus.br> Acesso em 15/10/32010. “Ac.-TSE, de 28.4.2009, no RO nº 1.540: inexigência de potencialidade da conduta, bastando prova da proporcionalidade (relevância jurídica) do ilícito praticado, para incidência da sanção de cassação do registro ou negação do diploma.”

Aliás, o artigo 222164 do Código Eleitoral prescreve “É também anulável a votação, quando viciada de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que trata o art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei. Já o art. 237 preceitua “A interferência do poder econômico e o desvio ou abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto, serão coibidos e punidos.

Logo, sendo julgadas estas ações depois da posse dos eleitos e havendo decisão de procedência, surgirão as causas eleitorais de extinção do mandato eletivo e a natural invalidação da votação.

Dessa sorte, haverá extinção do mandato eletivo por causa eleitoral quando houver: 1) indeferimento definitivo do Pedido de Registro de Candidatura, 2) julgamento definitivo e de procedência da Ação de Impugnação de Registro de Candidatura – AIRC, 3) procedência das ações eleitorais que resultem na cassação do diploma e do mandato eletivo, por abuso de poder, captação ilícita de sufrágio e arrecadação e gastos ilícitos.

Como se vê, a AIME enquadra-se perfeitamente no contexto de incidência das causas eleitorais de extinção do mandato eletivo, pois é fundamentada em ilícitos eleitorais praticados em virtude das eleições.

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7 A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - AIME