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O que costumam indicar para o acompanhamento dos Adultos que apresentam maiores dificuldades, quer de aprendizagem, quer económicas?

GUIÃO DE ENTREVISTA AOS COORDENADORES

25. O que costumam indicar para o acompanhamento dos Adultos que apresentam maiores dificuldades, quer de aprendizagem, quer económicas?

Vamos por passos, do ponto de vista escolar, os adultos que ao longo do processo demonstram competências nalgumas áreas podem ter até ao limite total de 50 horas de formação complementar dentro do Processo, não pagam por isso nem podem pagar e têm formação em função das suas necessidades. Claro que estas necessidades sendo individuais há formação complementar individual, também muitas vezes organizam-se grupos de adultos, grupos de adultos com o mesmo tipo de dificuldades sobretudo nas áreas de Linguagem e Comunicação, na área das Tecnologias de Informação e na área da Matemática. Estas são as áreas em que se sentem as maiores dificuldades e maiores necessidades evidenciadas pelos adultos. Agora falando do ponto de vista financeiro, há um Despacho do Senhor Secretário Regional, informando e deliberando que os adultos que estejam desempregados e inscritos no Centro de Desemprego Regional não pagam a taxa de inscrição, que é um valor de 20 euros. Esta taxa de inscrição só é paga no momento do processo RVCC porque toda a primeira etapa nos Centros Novas Oportunidades é absolutamente gratuita para o adulto. Todo o diagnóstico e encaminhamento são absolutamente gratuitos para o adulto. O adulto só paga a taxa de inscrição como já referi só se entrar no processo de RVCC, paga os 20 euros que é taxa de inscrição conforme o estipulado pelo Senhor Secretário Regional e 5 euros de imposto de selo e faz desta forma contrato connosco. A nível financeiro é tudo, é este o valor pago, quer por 6 meses quer por 6 anos.

26.Qual é a sua opinião entre um Diploma obtido através do Processo de RVCC e o obtido através do percurso normal académico?

É evidente que o mercado de trabalho não valoriza da mesma forma, no entanto a ANQ tomou uma decisão, creio que em 2008, está a fazer 2 anos, que todos os certificados não vão indicar a fonte, portanto se não indicam a fonte não haverá desvalorização de Diplomas, e esses problemas não se colocaram…. Também temos assistido a outras situações, sobretudo em parte das empresas que possuem Protocolo com o nosso Centro, que reconhecem a valorização do nosso Diploma, ou melhor, reconhecem uma mais-valia do Certificado por via do processo de RVCC. Tudo isto faz sentido, se pensarmos em termos de competências, é um adulto que não se contenta só com o trabalho que fazia e portanto quis ir mais além, começamos a sentir aliás como já vimos o Belmiro de Azevedo e outros que fizeram investimentos próprios e se tiverem pessoas mais qualificadas, a fortificação das empresas e das sub-empresas ficará mais fácil. Actualmente este reconhecimento começa a ser perceptível, não há ainda no entanto, estudos concretos sobre esta nova realidade. Está em curso o estudo de Roberto Carneiro, o seu estudo, e outros a nível Nacional que naturalmente irão dar contributos significativos para esta revolução silenciosa no Sistema Educativo.

27.Como estruturam os recursos pedagógicos e didácticos?

Os recursos pedagógicos são muito gerados, criados pelo próprio Centro, em função do público que têm, mas há inclusivamente blogs, formação e outros meios específicos que partilhamos instrumentos pedagógicos neste Processo e exclusivamente actividades a realizar com os Adultos.

28.Como se processa a constituição do Júri de Avaliação Final?

O júri é obrigatoriamente constituído pelo adulto, pelos Formadores que com ele trabalharam, podendo estar ausente um, pelo Técnico que liderou o grupo e pelo Avaliador Externo. Portanto, temos os Elementos da Equipa do centro que trabalharam com o Adulto, os Formadores das quatro áreas, por exemplo se for do nível básico B3, mas normalmente juntamos 2 áreas: Linguagem e Comunicação e

Cidadania e Empregabilidade que também normalmente é o mesmo Formador, e ainda o Formador de Matemática para a Vida e o Formador de Tecnologias e Informação. Os Técnicos de Encaminhamento que normalmente conseguem melhores resultados são os de Psicologia, Sociologia ou em Ciências da Educação. As sessões de Júri, são sessões públicas, embora dadas as caraterísticas individuais das histórias de vida, há sempre uma preocupação de proteger os Adultos como estas sessões são públicas. As pessoas que normalmente assistem pedem licença aos presentes para assistirem ao Júri…

29.Qual é o seu ponto de vista relativamente ao Portefólio Reflexivo de

aprendizagens (prescritos na respectiva Legislação) como instrumento de

avaliação? (Há dominantes nas Histórias de Vida dos Adultos que são decisivas para o processo de RVCC?

A história de vida nos Centros apresentadas pelos Adultos, não é a história de vida íntima das pessoas, como é lógico, é a história de vida das pessoas desde que elas adquiriram competências, exemplo concreto: Muitas das senhoras, alguns dos senhores que foram pais, relatam o momento da maternidade, ora esse momento por si só não chega, e não é uma mais-valia, só o momento do nascimento, parece duro dizer isto, mas na verdade não é. O relato emocional não serve para comprovar competências… Agora estou-me a lembrar de um caso específico, onde este acontecimento foi feito em torno de uma reflexão. Assim, o nascimento de um filho extrapolou a parte emocional dando origem a um estudo de uma análise comparativa entre o sistema de apoio à maternidade em Portugal e a comparação com outros países, nomeadamente a Inglaterra. O adulto passou por esta experiência relatou o estudo que fez relacionados com os Sistemas de Saúde, os Sistemas de Saúde comparativos entre os dois países e em relação à Europa. Completou com o relato a experiência de vida da maternidade, esteve ainda associado a um bebé que nasceu com problemas de saúde, claro que não digo quem é o adulto, isso é lógico, desta forma temos de facto um manancial de competências impressionantes. Este adulto foi uma pessoa que concluiu o seu nível Secundário com um portefólio interessantíssimo e brilhante sobretudo na área da saúde, tecnologia e ciência. Para

concluir a história de vida é importante nestes contextos e é indispensável que o adulto se agarre nos momentos da sua vida em que de facto desenvolveu as suas competências, quer ao nível pessoal, familiar, profissional, social, quer em momentos formais, não formais ou até informais do seu dia-a-dia e ao longo da sua vida.

30.Quais são as dificuldades que os Adultos são confrontados após a Certificação e integração no Mercado de Trabalho?

Esse estudo está por fazer, já decorre o estudo do Professor Roberto Carneiro, cá na Região Autónoma da Madeira, o Observatório Regional da Educação está a fazer em parte este estudo, é liderado pela Doutora Maria João Freitas, creio que é um estudo específico para a Madeira relacionado com o confronto com o mercado de trabalho e as saídas profissionais. O que posso acrescentar é que a maioria dos nossos certificados já estão ao activo, ou seja, são pessoas que já estão empregadas. Desta forma, não se consegue medir a empregabilidade, porque já lá estão, o que posso dizer é que é mais-valia nem sempre corresponde a uma progressão na carreira, de acordo com as vozes dos adultos, mas isso creio eu deve-se muito ao período de crise que estamos a atravessar e claro devido restrições económicas. Para os utentes desempregados claro que ficam com outras armas para poderem concorrer. Temos alguns dados, claro que não estão tratados, mas de pessoas que nos dizem que o concurso que pretendiam agora já pôde concorrer com a nova qualificação académica. Portanto se isto também acontece como lhe digo, e de facto não estando nada sistematizado temos todo este conhecimento resultante daquilo que falamos, ouvimos… é tudo muito empírico.

31.Os dados Estatísticos referentes à população que frequentou e está em frequência no seu Centro das Novas Oportunidades correspondem às suas expectativas?

Em termos de números de inscrição durante o ano de 2009, houve um decréscimo muito grande no nosso Centro, não tenho cá presente os dados gerais dos outros Centros porque não temos acesso. De facto notou-se uma diminuição nas nossas metas, como já tínhamos previsto, uma vez que abriram mais Centros, é

lógico, havia três Centros, agora estão em funcionamento seis, houve portanto um derrame das inscrições, acontece porém que as listas de espera são ainda muito elevadas, temos cerca de um milhar de pessoas que estão à espera de fazer diagnóstico, portanto é uma pressão muito grande sobre a equipa. Temos no entanto uma novidade, que é a certificação profissional, esta está em franco crescimento, ainda não fizemos muita divulgação e já temos grupos a funcionar e mais pessoas à espera. Esta certificação está a crescer, já temos o Instituto de Formação Profissional por via da Legislação, que a ANQ fez publicar, está a transferir muitas das suas competências para os Centros Novas Oportunidades. Nesta área temos que ter muito cuidado na formação dos profissionais, pois é muito importante que haja uma formação com muita solidez porque aproximam-se um ou dois anos pelo menos na área da certificação profissional e claro que temos que estar preparados para estes desafios.

32.Qual é o balanço que faz ao funcionamento do seu Centro Novas Oportunidades? (Podia-nos falar sobre a sua experiência enquanto Coordenador do processo de RVCC, e quais são os pontos fortes e fracos do processo de RVCC)

Bom, contextualizando tudo isto, e tentando arrumar as ideias, a iniciativa Novas Oportunidades, ou melhor o processo de RVCC, iniciou-se como se sabe em Portugal como consequência da estratégia de Lisboa, no Tratado de Lisboa em 2001, portanto com compromissos Europeus. Em 2002, o Sistema Nacional de Reconhecimento de Competências até 2004/2005 começou-se a notar uma avalanche, que depois foi tão grande o número de inscrições que se sentia a necessidade de estruturar o Processo e dos Centros fazerem o reconhecimento de competências. Atenção que não foi uma iniciativa exclusiva de 2005, já vinha de 2001/2002, tudo termina com o primeiro grande fio desta oportunidade, dos adultos reporem a sua certificação escolar e que termina na sua primeira fase no final deste ano, até Novembro de 2010, termina assim a primeira fase desta iniciativa: Novas Oportunidades. As metas dificilmente serão atingidas na totalidade…A meta que Portugal se comprometeu até 31 de Dezembro de 2010 para certificar um milhar, já

se fala num alargamento desta fase, pelo menos até ao final do primeiro trimestre de 2011. O que virá a seguir não se sabe certamente, mas o que é dado como certo é este número significativo de movimentos de adultos, este retorno à escola à procura de qualificação académica e naturalmente estas situações não podem ficar sem resposta. É importantíssimo qualificar os portugueses nas diversas áreas. Nós, por exemplo, só podemos fazer reconhecimento profissional nas áreas de Bar, Restauração e Cozinha, porque a escola só tem formadores nestas áreas, e as instalações que temos são canalizadas para as mesmas. Portanto a 2ª fase começará daqui a um ano, mas estamos já conscientes da importância de aproveitar por um lado a massa profissional que se gerou, milhares de pessoas a trabalhar no país todo, cerca de 435 Centros por todo o País, temos 435 Directores, temos 435 Coordenadores, isto multiplicando por os Coordenadores e Técnicos, temos alguns milhares de pessoas a trabalhar nesta iniciativa das Novas Oportunidades. Há portanto uma massa crítica que se foi ao longo destes anos criando e que certamente vai continuar a contribuir para a qualificação de Portugal…A grande vantagem é por um lado possibilitar certificar pessoas que já são competentes nas suas áreas profissionais, e naturalmente proporciona-lhes a sua satisfação a nível pessoal, enquanto a grande desvantagem é o desvalorizar o processo e o meio-termo é esquecido por vezes. Este é de facto o principal problema, um outro que não encaro como negativo mas que é menos positivo, é a falta de resposta de forma adequada dos adultos que são encaminhados para fora dos Centros. Aqui na Madeira já se percebeu esta realidade, há muitos adultos que não enquadram no Ensino Recorrente que já foram encaminhados para cursos EFA e não tinham resposta. O Sistema Educativo Regional percebeu esta pressão e criou os CEF, assim estão em quase todas as escolas da Região. Portanto o que vai fazer falta agora? É dar outro passo que estamos a sentir que faz falta, que é o das formações Modelares, por modelos. Apesar do Centro não puder fazer Formação Modelar, nós podemos fazer o diagnóstico e o encaminhamento, em termos de futuro haverão assim formações complementares para os Adultos. Para concluir o impressionante é a grande procura dos adultos e o seu recurso ao Programa das Novas Oportunidades quer para dar

respostas sociais, quer pessoais…enfim assim vamos tendo um número crescente de Qualificações Académicas.

33.Gostaríamos para terminar, de agradecer a sua preciosa colaboração e disponibilidade. Será que quer referir qualquer situação ou pormenor sobre o qual não tivéssemos perguntado e que considere importante?

Creio que disse tudo, ah! Esqueci de referir que também temos Protocolos com o

Programa Escolhas, iremos dar Apoio aos Bairros da Nogueira, que se localiza na

Camacha e no Bairro da Nazaré que se localiza em São Martinho – Funchal. No nosso ponto de vista teremos novos desafios educativos - formativos mas que serão muito interessantes para a Região Autónoma da Madeira.

Muito obrigada por ter participado neste processo de Investigação.