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Visão do Coordenador sobre os Adultos em geral

GUIÃO DA ENTREVISTA

V- Visão do Coordenador sobre os Adultos em geral

1.Como define os grupos que procuram o Programa Novas Oportunidades? (quer ao nível etário, número de utentes, média de idades, percursos escolares, assiduidade nas Sessões programadas, dificuldades referenciadas no trajecto de passagem pelos diversos módulos e etapas do processo

RVCC, atitudes, comportamentos como se evidenciam, participação dos familiares no processo de RVCC, outras situações relevantes?)

Eu não lido directamente com os Referenciais, eu conheço-os. Mas por exemplo, penso que é nas TIC, que têm mais dificuldades, isto é só impressão que tenho, porque já tivemos algumas situações em que constatámos que havia Adultos que nunca tinham feito formação nesta área. Também temos pessoas que conhecem bem o computador e que têm conhecimentos, e estão sem dificuldades na informática. Mas, excepto alguns poucos casos superam bem…às vezes com meia dúzia de horas de Formação Complementar, chegam lá. Matemática, o Referencial de Matemática, se for levado à letra parece-me exigente, eu só tive Matemática no 9º ano como aluno, mas parece-me exigente, os conceitos que eu depois comparo com os alunos do 9º ano Regular e parece-me exigente, portanto é normal que hajam algumas dificuldades, mas vão fazendo…Em Língua e Comunicação, também é uma impressão minha, já me aconteceu ler alguns textos, alguns extractos de Histórias de Vida e encontramos muitos erros e dificuldades de construção frásica, mas depois comparo com os alunos do Ensino Regular do 7º, 8º e 9º ano e não escrevem muito melhor, alguns… São pessoas com dificuldades no ler e escrever português mas os filhos deles também têm…Eu por acaso tive a colaborar com uma colega da Universidade a fazer um Estudo que era sobre a importância da Formação das Auxiliares da Acção Educativa no Pré-Escolar, porque elas estão possivelmente mais tempo com as crianças do que com as Educadoras, além do tempo em sala de aulas, levam-nas aos recreios, casas de banhos e muito mais actividades…e as crianças aprendem a falar pelo que ouvem, não é? O que nós constamos naquele contexto específico davam erros de meia – noite e claro que depois as crianças apanham aqueles vícios…ora em casa é a mesma coisa. Portanto aqueles Adultos que têm muitas dificuldades na leitura e escrita os filhos também têm…Por isso Linguagem e Comunicação a mim, por fora, parece-me muito mais complicado que por exemplo informática, porque esta é uma área nova, parece-lhes interessante e é curioso, não há preconceitos, e se houver no trabalho qualquer coisinha de Word ou Excel não é mau…agora o Português… eu que dou aulas a

um EFA, a Adultos com perfil semelhante, e têm muitas dificuldades…Sabe que como temos curso EFA, cria uma situação interessante, é que eles falam uns com os outros, os dos EFA acham que os do CNO, que só têm “aulas” uma vez por semana e queixam-se que não têm tempo para fazer as coisas, “então nós que estamos mais vezes por semana na Escola como é que eles não têm mais meses de processo?” Os do CNO sentem que não têm aquele apoio, os dos Curso EFA, têm os professores a explicarem…Os dos EFA têm que ir às aulas todos os dias, mas não é prática mandar tarefas para casa, enquanto os do CNO, têm toda a autonomia e trabalho em casa…Em relação ao módulo de Cidadania, pelo feedback da Formadora, dar aulas de Cidadania para mim é algo óptimo, sabe que é bom que eu tenho as duas visões do CNO e dos EFA, então eu trabalho no mesmo terreno que a minha colega no CNO e o que acontece é que eu tenho um leque de opções que ela não tem, eu tenho aulas e os Adultos gostam desta área, mas atenção que não é esta a metodologia que se faz no RVCC. No CNO, têm apenas algumas horas de Formação Complementar e os Adultos referem essa lacuna de terem aulas… Por exemplo ontem estávamos a falar da globalização, nos hábitos, nos hábitos alimentares, apresentei-lhes um documentário, e repare que o documentário são duas horas, claro que num EFA, ver um filme de duas horas e comenta-lo não me parece um desperdício de tempo, ora os Adultos do CNO se quisessem teriam de ver o filme em casa e a argumentação, comentário claro que já não tem a riqueza da dimensão na sala de aulas. Nós fazemos um debate, eu ajudo a reflectir nas temáticas…ou seja num EFA a disciplina de Cidadania parece relativamente acessível, mas no processo de RVCC, a impressão que eu tenho é que os Adultos têm algumas dificuldades a reflectir…o Referencial de Cidadania é o mesmo do EFA, B2 ou B3 é o mesmo que do Processo RVCC, o Referencial de Competências Chave, mas por exemplo, na parte do Programa, agora está na actualidade do dia a Lei das Finanças Regionais, se pedirmos uma opinião às pessoas sabe a Lei das Finanças Regionais, grande parte das pessoas nem sequer percebe como é que a Lei das Finanças Regionais influência a sua vida do dia-a-dia…lá está num EFA eu posso explicar, porque tenho tempo, contacto com os Adultos, tenho

disponibilidade….Muitos Adultos ouvem as notícias e eu tenho a percepção que têm dificuldade em fazer reflexão sobre determinados assuntos, determinadas competências pois se perguntar sobre a Organização do Estado Democrático, eles respondem isso é para os políticos…posso estar enganado!…Sentem que não é palpável, não tangível no dia-a-dia dos Adultos.

2.Normalmente qual é a origem social dos Adultos? (Classe social predominante?)

Normalmente a origem social dos Adultos como já referi é média (…). Se tivessem boas condições claro que tinham estudado (…).

3.Quais são as motivações, expectativas, dos Adultos quando procuram os Centros das Novas Oportunidades?

Como já lhe disse as pessoas chegam motivadas, mas por vezes uma motivação errada, que isto é para despachar e já está… mas quando começam a fazer, e percebem e dizem: isto dá trabalho. Há duas situações, ou as pessoas desistem, ou outras dizem isto dá trabalho, mas eu vou fazer. Isto é como tudo, dentro de cada grupo variam, há pessoas adiantadíssimas e que até vão a júri mais rapidamente. Há outras pessoas que estão mais atrasadas e que se marca Formação Complementar mas que não aparecem. Fazemos por exemplo uma sessão individual, para dar mais apoio e atenção às pessoas, mas há pessoas que não querem sessões individuais, porque não se sentem à vontade, não querem ser o centro dizem, até porque não se pode pressionar os Adultos a nada…Como este Processo implica muita autonomia, então o que preparámos são sessões colectivas e tentámos que as pessoas se motivem nessas sessões, porque se as pessoas estiverem contrariadas não temos sucesso claro. Nós não temos muitos casos felizmente, se calhar estou a falar de um ou dois mas se as pessoas estivessem muito pressionadas, poderia acontecer…desmotivar-se, desintegrar- se, sentirem que não conseguem, que não têm tempo (… ).

1.O que costumam indicar para o acompanhamento dos Adultos que apresentam maiores dificuldades, quer de aprendizagem, quer económicas?

Nos Adultos, que apresentam dificuldades de aprendizagem, nós fazemos o encaminhamento para a Formação Complementar…., esta Formação está integrada no processo de RVCC e não implica encargos económicos …como sabe o processo RVCC prevê para esta situação até 50 horas.

2.Como estruturam os recursos pedagógicos e didácticos?

Se os Adultos tiverem acesso em casa à internet, têm muitos e muitos recursos, infelizmente já há até Histórias de Vida já feitas na internet…há muito matéria…

Agora quantas pessoas têm internet em casa? Já pensou como esta situação é complicada?

VI- Estratégias e posicionamento face ao Sistema Educativo Actual

1.Qual é a sua opinião entre um Diploma obtido através do processo de RVCC e o obtido através do percurso normal académico?

Já se nota alguma preocupação por parte dos Adultos, com aquela história que quando referem tenho o 9º ano, mas foi através das Novas Oportunidades, isso não vale de nada, já se nota alguma preocupação com esta situação, mas isso é normal…Nós por exemplo, e agora pensando no processo de RVCC, os Adultos até vão à internet pesquisar e se o Professor disse-lhes: agora pesquisem sobre o processo de RVCC….claro que muitas das vezes o que eles encontram não é muito agradável…aquelas críticas ferozes e algumas vezes um pouco infundadas, aquela história de que vão pedir o Diploma na Segunda e vão recebê-lo na Quarta…e claro que os Adultos ficam preocupados com estes constrangimentos.

2.Como se processa a constituição do Júri de Avaliação Final?

Vamos ter só para Abril possivelmente a primeira etapa de Certificação, até lá estamos em fase de preparação da constituição do Júri.

1.Quais são as dificuldades que os Adultos são confrontados após a Certificação e integração no Mercado de Trabalho?

Nós por exemplo temos dois casos, duas situações que eu não posso dar resposta, porque ainda temos Júri…são dois Adultos que queriam fazer o nível B3, porque a nível profissional lhes foi pedido o 9º ano, então justificaram que estavam inscritos e que estavam em fase de conclusão do processo de RVCC, então foi-lhes pedido que entregassem uma Declaração comprovativa, então nós elaboramos esse Documento de acordo com o comprovativo de inscrição. Claro que irão a Júri, mas o que constatámos é que houve objectivamente uma possibilidade profissional e uma melhoria na vida daquelas pessoas.

A motivação dessas pessoas, que depois se aperceberam que se inscreverem nas Novas Oportunidades foi útil, e foi mesmo útil nas suas vidas, é uma motivação enorme porque sabem que quando terminarem o Processo, vai buscar o Diploma do processo de RVCC e mais o Diploma Profissional que tinha, e aí percebem que há uma melhoria significativa na sua vida, (…), se todos os Adultos têm essa percepção não sei!.