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Praça Júlio de Castilhos - os jardins dos apartamentos.

A Praça Julio de Castilhos está localizada no final da Avenida Independência, e originou-se de um largo do inicio do século, com o nome de Praça dos Moinhos de Vento. Em 1904 recebeu o nome de Julio de Castilhos, falecido no ano anterior. Na praça existem monumentos à Árvore da Amizade, o

Chafariz e o busto a Florêncio Ygartua64. Porém, já se falava em Praça Júlio de

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Castilhos desde 189065, denominada espontaneamente pelo povo em

homenagem ao líder republicano de maior destaque na época, pois esse logradouro recém começava a existir quando foi proclamada a República (Fig. 67).

Em 1891 a Cia Hidráulica Guaibense colocara na praça uma torneira para gozo provisório e gratuito dos moradores. Em 1893 registra-se um expressivo gasto com aterros e de 1897 à 1900, na primeira administração de José Montaury, a praça foi nivelada e ajardinada. A área era pouco habitada e não exclusivamente

Fig. 67 – Planta de Situação da praça Júlio de Castilho. Fonte: Maquete Eletrônica de Lucas Volpatto, baseada em plantas aerofotogramétricas da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e levantamento no local, 2005.

residencial: Companhia de Chapéus José Bastos era uma das fábricas

estabelecidas ali, segundo o Jornal do Comércio, de 26/1/189666.

Em 1904 a praça recebeu urbanização mais apropriada, tendo sido cercada com gradis retirados das praças Marechal Deodoro e 15 de Novembro. Em meados do século XX torna-se puramente residencial e de alta qualificação, sendo atualmente residencial e comercial, por força de sua grande densidade e

valorização67.

Se a praça Dom Sebastião tinha uma identidade relacionada com a imigração portuguesa, a Praça Júlio de Castilhos tem uma referência à imigração alemã. Não somente pelos seus habitantes iniciais, mas também e fortemente pelo caráter público das instituições que ali se estabeleceram, como é o caso do Hospital Moinhos de Vento e a Sociedade Germânia.

O hospital não está situado na praça propriamente dita, mas atende a uma população que usa esse espaço público, mesmo que seja de passagem ou como referência.

Além dos equipamentos de infra-estrutura, os serviços também fazem parte da tradição do bairro. Em 1912 nasceu a idéia da formação de um hospital para os alemães e teuto-brasileiros de Porto Alegre. Estavam envolvidas duas entidades alemãs a Verband Deutscher Vereine (Federação das Sociedades Alemãs) com sede em Porto Alegre e a Frauenhilfe fürs Ausland (Ordem Auxiliadora de Senhores para o Estrangeiro), da Igreja Evangélica da Alemanha. Comprado um grande terreno, com excelente localização, entre as ruas Ramiro Barcelos e Dr. Vale, a pedra fundamental da obra foi solenemente lançada em

21/03/1914 (Fig. 68 e 69). A eclosão da Primeira Guerra Mundial determinou a

paralisação da construção durante vários anos, sobretudo porque um grande abatimento atingiu a colônia germânica de Porto Alegre como decorrência da derrota da Alemanha. Em 1921, com uma nova comissão construtora, as obras foram reiniciadas, permitindo a inauguração do Hospital Alemão em 02/10/1927, o qual reunia as melhores condições técnicas entre todos os seus congêneres (Fig. 70).

66 FRANCO, 1992, p. 243. 67 FRANCO, 1992, p. 243.

Em 1942, por força do rompimento de relações e posterior estado de beligerância entre Brasil e Alemanha, deu-se a mudança do nome para Hospital

Moinhos de Vento (Fig. 71, 72 e 73).

A partir de 1959, o conjunto hospitalar foi sendo sistematicamente ampliado,

a ponto de eclipsar o primeiro bloco, inaugurado em 1927 (Fig. 74 e 75).

Fig.68 - Planta do Deutsches Krankenhaus, 1913. Fonte:TORRENSINI:2002, p.18.

Fig.69 - Hospital Alemão, construção interrompida em 1914 no início da 1ª Guerra Mundial. Fonte:TORRENSINI:2002, p.20 e 21.

Fig.70 - Hospital Alemão, em 02 de outubro de 1927, dia da inauguração. Fonte:TORRENSINI:2002, p.27.

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No desenvolvimento do Hospital Moinhos de Vento tiveram atuação marcante o Pastor Karl Gottschald, os médicos Dr. Frederico Falk e Josef Steidle, o arquiteto Theo Wiedersphan e o comerciante Guilherme Klohs. A entidade hoje é dirigida pela “Associação para Manutenção do Hospital Moinhos de Vento”, uma associação

sem fins lucrativos68(Fig. 76 e 77).

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74 75 Fig.71 - Hospital Alemão, 1907. Vista da Rua Tiradentes. Fonte:TORRENSINI:2002, p.23. Fig.72 - Hospital Alemão e seu jardim, depois da inauguração. Fonte:TORRENSINI:2002, p.28. Fig.73 - Rua Ramiro Barcelos, antiga entrada. Fonte:TORRENSINI:2002, p.56.

Fig.74 - Ampliação do prédio principal do Hospital Moinhos de Vento. Fonte:TORRENSINI:2002, p.83. Fig.75 - Ampliação do prédio principal do Hospital Moinhos de Vento. Fonte:TORRENSINI:2002, p.83.

Também de origem germânica, o próprio nome diz, a Sociedade Germânica (Fig. 78) se instalou junto à praça desde de 1917. Essa instituição é a mais antiga sociedade recreativa de Porto Alegre. A primeira assembléia que tratou da sua fundação data de 1º/06/1885. Teve a princípio a denominação de Gesellschaft Germânia. Reunia a elite alemã radicada em Porto Alegre, diferenciando-se, por isso, de outras sociedades mais modestas, que surgiram mais tarde. Em 1886 inaugurou uma imponente sede própria, à Rua Dr. Flores, lado par. Esta sede foi incendiada e saqueada por ocasião de manifestações de anti-alemães de 14 a 16 de abril de 1917. Como o terreno foi desapropriado pela Intendência Municipal, para as obras de abertura da Av. Otávio Rocha, a sociedade adquiriu, na Praça Júlio de Castilhos, o elegante prédio neoclássico conhecido como “Vila Palmeiro”. Durante a Segunda Guerra Mundial, o prédio foi apropriado pelo governo federal, que ali instalou o comando da Zona Aérea. Devolvida a sede à entidade em 1953, reiniciou-se a vida associativa do centenário clube. Em 1981, a Sociedade permutou seu imóvel por dois andares no edifício que veio a ser construído no mesmo local. Expressivas personalidades do comércio e da indústria porto-alegrense dirigiram,

ao longo do tempo, a Sociedade Germânia69.

Mas a Praça Júlio de Castilhos também sofreu uma mudança que a aproximou da modernidade. Não uma mudança de escala grandiosa urbana, como o caso da Praça Dom Sebastião, que se organizou em função da circulação viária. A alteração se deu no sentido grandioso da verticalidade, pois os edifícios de dois ou três pavimentos foram sendo substituídos por arranha-céus de uso residencial

com mais de dez pavimentos (Fig. 79). Percebe-se que, além da situação topográfica

em que se encontra o sítio, a intenção de subir em altura é deflagradora de uma intenção de modernidade sem precedentes em Porto Alegre.

76 77 Fig.76 - Ampliação do prédio principal do Hospital Moinhos de Vento. Fonte:TORRENSINI:2002, p.83. Fig.77 -Hospital Moinhos de Vento no final da década de 50. Fonte:TORRENSINI:2002, p.81.

Mas não se pode deixar de apresentar a rica e diversificada prestação de serviços que foi se estabelecendo em torno desta praça: além do Hospital Moinhos de Vento, ali estabeleceu-se o Hospital Fêmina em 1955, o Colégio Bom Conselho, e o comércio de pequeno porte ao longo das galerias dos pavimentos térreo dos edifícios residenciais.

O Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho (Fig. 80), situado até hoje na

Rua Ramiro Barcelos, nº 996, é apresentado à população como uma instituição que admite alunas internas, externas e semi-internas, com a finalidade de proporcionar à mocidade uma sólida educação intelectual, moral, religiosa e cívica. O Colégio era mantido pela Sociedade Caritativa e Literária de São Francisco de Assis, com sede em São Leopoldo. Na década de 50 integrava já um conjunto de

instituições escolares70 que contemplava a educação feminina completa.

78 79 Fig.78 - Praça Júlio de Castilhos, e o palacete da “Sociedade Germânica”, sede da antiga associação.

Fonte: COSTA: 1922, p.223.

Fig.79 - Entorno da praça Júlio de Castilhos, com edifícios de apartamentos. Fonte:

70 Na década de 50, integrava o seguinte conjunto de instituições escolares: Curso Fundamental comum

de 4 anos e Primário Complementar de 1 ano. Curso Ginasial de 4 anos. Curso Colegial de 3 anos, desdobrado em Clássico e Científico. (SPALDING, 1953, s/p)

Fig.80 - Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho. Rua Ramiro Barcelos.

O Instituto Santa Luzia, situado à Avenida Independência, era uma importante Fundação de Assistência Social em Porto Alegre. Este Instituto, para cego e surdos- mudos, pertencia ao rol das grandes e beneméritas instituições da ilustre dama,

Dona Lydia Moschetti (Fig. 81 e 82).

Esses pobres que desconhecem a luz, e ignoram as belezas que encerra a grande Mãe Natureza, recebem nesse instituto dirigido por abnegadas freiras, todo carinho e o máximo cuidado intelectual e moral através, principalmente, do sistema Braille. (...) Prédios pequenos e acanhados, adotados à finalidade, estão, entretanto, longe de serem o que deveria ser a grande instituição de Dona Lydia Moschetti. Mas há um grande projeto já em vista de execução e para o qual já possui sua criadora regular fundo de reserva e terreno adquirido.71

2.3 O bairro Moinhos de Vento