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Prêmios em Jornalismo

2.6 Panorama dos prêmios

2.6.2 Crítica aos prêmios

A sensibilização do campo jornalístico a pautas de direitos humanos mimetiza uma estratégia simples de certificação de colaboradores. Dines (2001) critica as premiações da seguinte forma:

Qualquer estudante de marketing conhece o recurso: se o cliente não quer gastar muito, mas deseja tornar sua marca mais visível, com mais exposição na mídia, basta criar um concurso de jornalismo com o seu nome no título. Os veículos abrem espaços antes, durante e depois da premiação, seduzidos pela oportunidade da autopromoção (DINES, 2001).

Detectamos que há muita crítica no meio jornalístico em relação aos prêmios, seus objetivos e instrumentos de aferição de premiados. A polêmica incide principalmente sobre os prêmios que titulam jornalistas a partir de critérios corporativos. Esses costumam ser reprovados quanto a suas finalidades. Existe maior aceitação do campo às premiações do tipo concurso, na qual o jornalista se inscreve como candidato ou o seu trabalho.

Brickman (2006) já protestou sobre os prêmios da seguinte forma:

Prêmio de jornalismo não pode ser sinônimo de jabá; não pode ser (ou não deveria ser) vinculado a um determinado tema. A vinculação o transforma em pura e simples compra de reportagens. E tudo quase de graça, baratinho, muito mais barato do que um anúncio comum, com a vantagem de que as matérias elogiosas saem em vários lugares e só é preciso pagar em um deles (BRICKMAN, 2006).

Dines (2002) é crítico dos prêmios e os considera “mimetismo marqueteiro”. Em sua análise:

O número de prêmios nacionais de jornalismo é enorme. Difícil de precisar porque não há um controle sobre eles, seus critérios, procedimentos e mesmo resultados. A Fenaj ou a

168 O prêmio que tivemos mais condições de vislumbrar esse processo dos bastidores foi o Prêmio Jornalista Amigo da Criança, que era objeto de um estudo de caso e mestrado, do mesmo autor desta tese. E, mesmo assim, algumas informações foram conquistadas pelo pesquisador por este ter amigos que trabalham na instituição promotora do prêmio.

169 Não trabalhamos com Bourdieu (1998), mas nos conceitos deste autor, os prêmios em Jornalismo poderiam ser entendidos como instrumentos de instituição de outorga simbólica, nos moldes propostos em Ritos de Instituição, quase que um batismo institucional, como propostos em Mercado de Trocas Simbólicas.

ABI, naturalmente indicadas para disciplinar essa enxurrada, não fazem o acompanhamento. Raros são os certames que escapam dos arranjos e combinações informais onde todos levam alguma coisa e ninguém reclama.

No ano de 2001, este Observatório foi procurado por quatro grandes empresas multinacionais para organizar diferentes premiações de jornalismo. Algumas efetivamente meritórias. Recusou todas. Se aceitasse, estaria simplesmente oferecendo um aval para uma mera jogada de marketing. Além disso eram prêmios em dinheiro (DINES, 2002).

O debate em torno dos prêmios vai longe. Dines (2002) já teceu críticas diretas à premiação GP Ayrton Senna de Jornalismo170 (relativo à infância e adolescência), do

Instituto Ayrton Senna. A crítica se aplicava nos seguintes termos:

O recurso barato de promover uma entidade através de concursos de reportagem e prêmios de jornalismo – apelação fácil adotada por qualquer empresa de terceira categoria que precisa chamar a atenção da mídia – já foi incorporada por alguns institutos do Terceiro Setor.

Agora, um deles – cujo trabalho junto a crianças e adolescentes é meritório – foi adiante e criou duas novas categorias no seu prêmio de jornalismo: vai escolher o melhor jornalista político e o melhor jornalista econômico.

Distribuiu para 300 "formadores de opinião" um luxuoso estojo com uma cédula contendo cinco candidatos para cada categoria. O que nos leva a formular as seguintes perguntas: -Qual o fórum ou critérios usados para selecionar estes esplêndidos e impecáveis candidatos?

-Que atributos técnicos tem o colégio eleitoral dos formadores de opinião para escolher entre eles o melhor do setor?

-Por que estes e não outros? -Por que outros e não estes?

-Por que política e economia e não meio-ambiente e educação? -Por que vedetes e não os iniciantes? (IDEM)

Dines (2002) contribui para um maior referencial sobre o panorama das premiações em Jornalismo no Brasil. Em sua análise, os prêmios são legítimos e aplicáveis quando:

-A instituição patrocinadora não tem interesses comerciais ou promocionais;

-Os juízes foram escolhidos de forma legítima e não representam veículos, corporações e grupos de interesse;

-Não há candidatos, isto é, todos são candidatos. (Idem)

Em vista desses requisitos, Dines (2002) conclui que

No Brasil, nenhuma premiação conhecida preenche tais exigências. Este Observador sempre se manifestou contra as premiações jornalísticas que seguem interesses promocionais, mercadológicos e desvirtuam os verdadeiros níveis de aferição da qualidade do jornalismo brasileiro.

170O Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo premia personalidades engajadas na defesa dos direitos da criança e do adolescente. Alguns apoiadores do prêmio são ANJ (Associação Nacional dos Jornais), Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas), Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância). Cada uma dessas entidades é representada anualmente, na Comissão Julgadora de cada edição.

Quem confere excelência em jornalismo são os destinatários – leitores, telespectadores, internautas e ouvintes. E o prêmio que distribuem é o da credibilidade e confiança. O resto é pura badalação (Idem).

O tema dos prêmios não é muito discutido no campo jornalístico e também não é muito pesquisado. O próprio Observatório da Imprensa que se propõe ao monitoramento da mídia ainda não contribuiu muito para o debate. Sendo a grande maioria dos artigos que tratam sobre o tema de autoria ser do próprio fundador do site: Alberto Dines. A varredura que fizemos para construir esta seção mostra os textos que abordam o tema (prêmios) falam quase que somente sobre inscrições, resultados e oportunidades de participar de mais e mais premiações.

Os poucos textos mais críticos sobre as finalidades e justificativas dos prêmios são baseados nos desfechos tomados, ou seja, uma crítica a quem é o vencedor de dada edição (premiado), quase que numa postura de “chororô do perdedor”171. Em números

substanciais, não tivemos contato com reflexões sobre “a quem promove os prêmios” (premiadores) ou mesmo as próprias premiações. E não há menção sobre o uso dos prêmios na profissão no sentido de barganha por postos de trabalho; sobre negociação de status no mercado de trabalho; sobre a hipótese de repórteres fazerem coberturas pautadas por critérios de dada premiação, apenas para serem mais competitivos no certame.

Na ciência, o mesmo comportamento: o olhar de quem pesquisa é sobre os vencedores dos prêmios (premiados) e poucas vezes sobre os processos de certificação (prêmios), sobre os atores financiadores destes (premiadores) ou sobre os valores prescritos por cada premiação (normatividade). Também são escassos os textos e publicações científicas específicas sobre o tema172.

Ressaltamos que todas as aspas utilizadas para construir esta seção de críticas aos prêmios são oriundas de textos de críticas de mídia, principalmente Observatório da

Imprensa, o que nos faz pensar que o “pensar” sobre os prêmios (e até criticá-los) seja um tabu no jornalismo brasileiro. E no aspecto mais amplo dos jornalistas, seja no ambiente da internet ou veículos de comunicação, as críticas que chegam mais perto das

171 NASSIF, Luiz. O protesto contra o Prêmio Esso de Jornalismo 2012. 01/12/2012

Disponível em www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-protesto-contra-o-premio-esso-de-jornalismo-2012. Acesso em 20/12/2012.

172A julgar pelo panorama bibliográfico deste projeto de pesquisa que teve como fontes diversas bibliotecas virtuais (USP, UNICAMP, UNB, UFF, UFRJ, UFPE, UMESP, PUCSP, PUCCampinas, UCB, UFBA, UFSC, UFS, IBICT, CAPES, Universia, Domínio Público), bibliotecas físicas (UNB, UniCEUB, UCB), comutação bibliografia e internet.

finalidades e justificativas dos prêmios nem sequer são de Jornalismo, mas de arte (cinema, TV) e de literatura.

Para nós, no olhar de pesquisador, fica a impressão que discutir os prêmios dentro da profissão jornalística é um tabu, realmente. Notar que os poucos textos escritos por jornalistas a respeito do tema são oriundos da produção de Crítica de Mídia, nos leva a pensar que é mais fácil falar dos prêmios estando fora da profissão (“5º poder”: Crítica de Mídia) do que dentro dela (4º poder: Jornalismo). Nesse sentido, retomo uma afirmação do professor Jorge Duarte, proferida de forma oral, na banca de qualificação desta pesquisa: “com os prêmios ninguém perde! Todos ganham! Quem é que vai falar mal de alguma instituição premiadora se, na verdade, o que importa é o mérito de ser premiado e ter status dentro da profissão? No mercado, quase que há uma ideia de que os prêmios são bons para todos, esteja você nas redações ou nas assessorias. Ninguém tem pesar com eles, praticamente”.

A pesquisa não trata dos papa-prêmios173: que podem ser os jornalistas frequentemente reconhecidos por mérito espontâneo ou aqueles que façam coberturas com perfil prescrito por dada premiação, apenas com o objetivo de se tornar mais competitivo.

A título de curiosidade, dos jornalistas brasileiros, Eliane Brum é considerada a mais premiada de todos os tempos no Ranking Jornalistas&Cia, iniciativa do Centro de

Memória dos Prêmios de Jornalismo do Brasil (apoiado e financiado por Shell, Gerdau, Ambev, Embraer), que fez o ranking com base em quase 70 prêmios em Jornalismo, nacionais e estrangeiros. O ranqueamento leva em conta uma metodologia institucional de escala de notas, critérios de pontuação, além da incorporação de dados de outros rankings nacionais e regionais, em vários anos174.

Dines (2007) critica os prêmios já os considerando “mimetismo marqueteiro”. Sua postura é mais em relação a prêmio que não tenha a questão da avaliação par a par, jornalistas apoiando o processo de seleção e avaliação. Em sua opinião, a Federação

173 Papa-prêmios = a expressão é muito utilizada no meio artístico e esportivo para designar pessoas de destaque que frequentemente são nomeadas e certificadas com algum mérito, reconhecimento.

174 A gaúcha Eliane Brum é a mais premiada jornalista brasileira de todos os tempos, segundo pesquisa inédita e pioneira desenvolvida pelo Instituto Corda, em parceria com Jornalistas & Cia. Eliane atingiu 840 pontos, na somatória de todos os prêmios conquistados, sendo seguida, de longe, por Miriam Leitão, com 685 pontos. Entre os dez mais premiados vêm na sequência Caco Barcellos (675), Marcelo Canellas (605), José Hamilton Ribeiro (595), Mônica Bergamo (552,5), Carlos Wagner (537,5), Giovani Grizotti (530), Clovis Rossi (520) e Fernando Rodrigues (470). (Jornal Jornalistas & Cia. Edição 826. 21 de dezembro de 2011 a 3 de janeiro de 2012. Acesso em 28/12/2012. Disponível em:

Nacional dos Jornalistas (Fenaj) ou a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) deveriam ser mais vinculadas às premiações, além da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), Associação Brasileira de

Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), dentre outras entidades.

Durante a pesquisa, tentamos contato com 28 jornalistas para responder a perguntas e checar algumas tensões em relações a prêmios175. Apenas quatro responderam: Zuenir Ventura176, Sérgio Abranches177, Jorge Duarte e Chico Sant‟anna. Não temos uma resposta sobre os jornalistas não retornarem o contato, mas fica a suspeita que falar sobre prêmios seja um tabu. O professor Jorge Duarte, na qualificação desta pesquisa, disse-nos algo interessante: “com os prêmios, todos saem ganhando. Ninguém tem o que falar mal deles”.

Alberto Dines (2001 2002 2007) é um dos poucos jornalistas que criticam os prêmios. Talvez, por estar situado além do mercado jornalístico. No fim de 2012, ele foi homenageado no 34º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos

Humanos, o Alberto Dines na categoria de prêmio especial “pelos relevantes serviços prestados à causa da Democracia, da Paz, da Justiça e contra a Guerra”. O discurso está na íntegra no anexo 3. Entretanto, vale lembra que as críticas do deste jornalista são relativos a prêmios do Terceiro Setor e não aos prêmios consolidados e tradicionais do

Jornalismo Informativo e Jornalismo Investigativo, sendo que ele fez parte de muitos deles como membro de banca ou organizador.