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1.2 Configuração da Pesquisa

1.2.8 Objetivos Específicos

O intuito é o de construir e acrescentar uma construção teórico-metodológica,

News Honors, numa perspectiva sociocêntrica, à classificação de Molotch e Lester (1974) da Teoria da Notícia (midiacêntrica), que identifique instâncias certificadoras de mérito, prescritivas de valores e procedimentos no jornalismo brasileiro. Sendo também óbvias as limitantes para a contribuição: estudamos prêmios dentro de uma realidade profissional de jornalistas como repórteres e assessores, no Brasil, que tem um arranjo específico, diferente de outros países (onde quem está nas organizações são os profissionais de relações públicas; e não os jornalistas).

1.2.9 Justificativa

Inicialmente, o interesse era traçar uma sequência cronológica dos prêmios e modelos no Brasil, quase como uma finalidade histórica. Mas isso se tornou inevitável quando o objeto começou a falar por si, no processo de apuração do fenômeno em apreço. Saltou aos olhos a correspondência entre a instauração de modelos, Jornalismo

Informativo (anos 50) e Jornalismo Público (anos 90)31, com o surgimento de prêmios que prescreviam novos procedimentos e valores para jornalistas. Dessa forma, a questão do ethos32 continuou importante, mas subsidiária à questão de instâncias da certificação meritocrática e prescrição de um padrão, dentro do campo do jornalismo brasileiro.

31 Ressaltamos que, os prêmios são dispositivos quase que inerentes a cada modelo de jornalismo comercial. Existem vários modelos: Jornalismo Informativo, Jornalismo Científico, Jornalismo Público,

Jornalismo Organizacional. Dizemos “comercial”, pois não vemos correspondência entre a instauração

de um paradigma de premiações em relação ao Jornalismo Literário, por exemplo, a julgar pela sua gênese, no Brasil. Existem prêmios, atualmente, com categorias que premiam o Jornalismo Opinativo e Jornalismo Literário dentro de formatos noticiosos e comerciais (lógica do produto).

32 Ressalta-se que, quando falamos em ethos, não estamos fazendo um juízo de valor do que é ético e deontológico, dentro da profissão, mas indicando uma práxis.

No decorrer da pesquisa empírica, notou-se que a classificação internacional de Molotch e Lester (News Promoters, News Assemblers e News Consumers), de origem anglo-saxã, ao menos em relação à nossa abordagem, não conseguia abarcar os prêmios no Brasil, que são produzidos e gestados por: assessores (1), pelos próprios jornalistas em entidades associativas e sindicais (2) e nem por organismos do Terceiro Setor (3), tomando a cidadania e entidades da Sociedade Civil como figuras para muito além do leitor, relatada pelos teóricos. Sendo que tal classificação também não absorve a nova realidade, por exemplo, de Mídia das Fontes e do Jornalismo Corporativo, bem típica do cenário nacional que admite que os jornalistas estejam nas assessorias e em veículos organizacionais, também um aspecto mais amplo sobre as instâncias de veiculação de produtos noticiosos para além dos veículos tradicionais de mercado33.

Sem falar que, na complexa realidade brasileira, os jornalistas não são somente os News Assemblers das redações; os profissionais de relações públicas não são necessariamente os News Promoters nas assessorias; e os News Consumers não são somente os leitores e consumidores de produtos e serviços noticiosos. Não que o entendimento da pesquisa seja uma negação a este panorama. Mas é uma ampliação dele, com certeza. A partir de uma perspectiva sociocêntrica, acredita-se que haja outros atores nesse processo, além de outros fluxos de informação.

O paradigma sociocêntrico já é tradicionalmente estudado no PPGFAC/UnB. Trata-se de um conceito de Motta (2005, p. 2) acerca da ideia de que o jornalismo é permeável às contradições e às pressões da Sociedade Civil. O autor confronta esta perspectiva à visão do paradigma midiacêntrico. Hegemônico nas pesquisas sobre jornalismo no Brasil, desde a década de 60, o midiacêntrico pauta-se pela ideia de que o jornalismo tem o poder de manipular a sociedade. De acordo com Motta, tais pensamentos de dominação unilateral são ingênuos na realidade atual. Em contraposição, ele propõe o sociocentrismo como uma nova postura epistemológica, em que as pesquisas procuram verificar até onde os grupos sociais organizados são capazes de contrapor suas visões de mundo e de reverter as posições da mídia, amplificando os dizeres. Outra pertinência do paradigma sociocêntrico é justamente o foco na dinâmica

33 Não identificamos essa prática de premiação com prescrição de valores e procedimentos profissionais antes do paradigma da Objetividade. Tanto que usamos a expressão Pós-Objetividade na pesquisa. Entretanto, sabe- se que, em 1921, o escritor, juiz, político e jornalista Rui Barbosa recusou uma condecoração do senador Félix Pacheco. Tratava-se de um prêmio nacional, em dinheiro. Mas era uma honraria do estado pela atuação de Rui Barbosa na vida pública brasileira, o que funcionaria como um prêmio com a lógica de relações públicas: relacionamento entre públicos e organização. E não uma certificação meritocrática pelo exercício da atividade jornalística em prol de um modelo do que é o profissional ou “bom jornalismo”.

social e a possibilidade de analisar o objeto sob a ótica dos enfrentamentos e negociações, hipótese presente nas interações entre produção e recepção no jornalismo contemporâneo. Desta perspectiva, na mesma escola, emergem conceitos como os de Silva (Contra-Agendamento o Co-Agendamento) com uma nova concepção de agendamento midiático. Há mais de uma década, com mais de 30 pesquisas que abordam o tema, a ciência brasileira em Comunicação vêm se perguntando quem pauta a agenda da mídia (visão sociocêntrica34), para muito além da prescrição das agendas da sociedade que a mídia paute (visão midiacêntrica), no postulado de autores anglo- saxões.

A partir do que o objeto falou por si, na pesquisa empírica, acredita-se que a ampliação da classificação da Teoria da Notícia, em Molotch e Lester, ao agregar o conceito de News Honors, pode ser benéfica para a ciência em Comunicação no entendimento de diversos fenômenos específicos da realidade nacional, além de tirar do senso comum toda a sistemática dos prêmios. E isso justifica a proposição desta tese como novo conhecimento no arcabouço teórico da Comunicação, a ser avaliada por membros da comunidade científica.

1,3 Pressupostos Teóricos da abordagem

A partir da percepção de novos atores adjacentes ao processo de produção da notícia, no decorrer do processo de apuração, notou-se que podíamos contribuir especificamente com o arcabouço teórico da Comunicação ao olhar para o postulado da

Teoria da Notícia, em Molotch e Lester (1974), no tocante à classificação: News

Promoters, News Assemblers e News Consumers.

Trabalhamos com essa classificação e com pressupostos da Teoria da Notícia, de cunho estruturalista e etnoconstrucionista (Agenda Setting, Newsmaking,

Gatekeeper), além de categorias e conceitos pertinentes, tais como: Noticiabilidade,

Valores Notícia, Valores-Serviço35 e Objetividade36. Percebemos, no decorrer da

34 O paradigma sociocêntrico, segundo o autor, entende que a correlação de forças determina as posições, as práticas e os conteúdos da mídia. O foco são as relações sociais nos seus confrontos e alianças. A mídia é percebida como um espaço dos enfrentamentos políticos, concepção que traz questões como cidadania, democracia e Esfera Pública. No contexto brasileiro, esse paradigma vê, na história democrática do país, a Sociedade Civil reorganizada, vigilante sobre as instituições públicas e ciente de novos canais de manifestação. Por fim, o paradigma percebe a mídia como um novo espaço de sociabilidade. Os pesquisadores nessa área buscam captar a dinâmica social e incorporá-las às análises.

pesquisa empírica, que alguns prêmios se relacionavam diretamente com o aparecimento de paradigmas jornalísticos no Brasil. Foi possível estabelecer essa associação quando fizemos uma sequência cronológica comparando a instauração de modelos jornalísticos no Brasil com o aparecimento de alguns prêmios (Jornalismo

Informativo nos anos 1950 e o Jornalismo Público nos anos 1990). Estávamos trabalhando a questão de epistemes (FOUCAULT, 1966; 1969) e marcos temporais como inauguradores de modelos, práticas, valores e procedimentos em jornalismo. Tomamos os modelos de Jornalismo como epistemes e os prêmios tradicionais dentro dessas modalidades como marcos da instauração destas correntes37: identificadas em pós-Objetividade e pós-Sujeito.

Para muito além de jornalistas como assessores ou repórteres, percebemos que os prêmios são dispositivos que, desde a origem do Jornalismo Informativo no Brasil (reforma editorial do JB), estiveram presentes no cenário do jornalismo com o intuito de prescrever ethos e certificar meritocraticamente procedimentos relativos ao exercício da atividade profissional. Acreditamos que o entendimento destes dispositivos de instituição de honra a dado mérito (prêmios) seja fundamental para vislumbrar como os modelos de jornalismo influenciam a profissão (1), assim como, identificar quem são os atores sociais (premiadores) que financiam essas premiações. O Premio Esso, por exemplo, é institucional, pra vender a si e mudar o noticiário brasileiro resistente à

Standard Oil Company of Brazil (na questão do nacionalismo da era Vargas, em “o petróleo é nosso”), além de fomentar o Jornalismo Investigativo a partir da ênfase na figura do repórter e da reportagem38.

36 Não é um conceito propriamente dito, mas um referencial e um conjunto de critérios técnicos e valorativos que, em sua gênese, configuram o profissionalismo em Jornalismo, seu método de verificação, status de verdade, autoridade do discurso, instauração de mercado noticioso, formatação de gêneros jornalísticos, dentre outros.

37 Elementos da perspectiva pós-estruturalista: subjetividade, poder institucional e poder individual, saber-poder, micropoderes (As palavras e as coisas, Arqueologia do Saber). O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, na concepção tradicional da análise do discurso francesa, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos. A realidade é considerada como uma construção social e subjetiva.

38 Pressupostos teóricos: Controle do trabalho (Breed), Rotinas produtivas (Tuchman), Ação pessoal e seleção de notícias (Lewin) por um filtro ou portão (White, Senra), Profissionalismo (Soloski), sofrimento com a pressão do tempo (Schlesinger), Processo de produção da notícia e relacionamento entre fontes e os jornalistas (Molotch e Lester), Cultura Profissional (Schudson, Hall et al), Definidores Primários (Hall et al), Governo dos Peritos (Walter Lippmann), Grande Comunidade (John Dewey),

Saber e Poder (Foucault), Arqueologia do Poder (Foucault), Valor-notícia (Agendamento), Valor-serviço