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Um mosaico com diferentes configurações da pesquisa

1.2 Configuração da Pesquisa

1.3.2 Um mosaico com diferentes configurações da pesquisa

O primeiro nome da pesquisa era Meritocracia na Midiocracia: a instituição

de um sistema de trocas simbólicas no campo do Jornalismo. Do projeto de tese até a qualificação e coleta de dados (2009-2010) trabalhamos com esse perfil. A partir do avanço dos trabalhos de análise (2011-2012), resolvemos sair da questão meramente sociológica de dominação, distinção, poder simbólico (BOURDIEU, 1998). O conceito de Campo é muito operacional, mas validava classe social, coisa com o qual Foucault rompeu (lutas de classes e ideologia) ao centrar-se no poder. O poder não vem só da economia e nem só do estado. O poder não é uma autoridade exercida sobre questões de direito, mas acima de tudo um poder imanente na sociedade, que se reflete na produção de normas e valores. A visão de Foucault se revelou mais adequada para a pesquisa porque estudamos prêmios que vêm de todos os lugares e que têm “n” vetores que podem ser multiplicados, vide um mesmo prêmio poder ter 11 entidades na composição do papel do premiador.

O intuito da pesquisa é de tirar uma foto do status quo dos prêmios revelando sua complexidade e os vários poderes que o atravessam no Jornalismo. De modo algum a pesquisa se propõe ou estimula confrontos e oposições entre os modelos jornalísticos na validação de um melhor ou pior padrão. Também não cria uma dicotomia entre prêmios dominantes e dominados, hegemônico e contra-hegemônicos. Fala-se, sim, em consolidados (quase 60 anos de existência) e emergentes (recentes). Mas, claro, as epistemes são dialógicas no sentido de serem comparadas gerando variáveis e invariáveis que emergem dos dois paradigmas em questão: pós-Objetividade e pós- Sujeito em relação à hibridização de gêneros e práticas jornalísticas, a partir dos prêmios.

A questão da ideologia e a fuga de abordagens não operacionais para o corpus de 114 prêmios levou- nos a mais um perfil provisório da pesquisa. O segundo nome da pesquisa era Prêmios em Jornalismo e a emergência de um novo ethos profissional. Abandonamos esse tipo de abordagem porque não queríamos fazer uma disputa entre os paradigmas do Jornalismo Informativo e Jornalismo Público por algum tipo de autonomia ou até mesmo hegemonia, a partir da questão ética e deontológica da profissão (tomando ethos nesses termos de dever-ser mesmo). Nesta abordagem, era inevitável cruzar com o entendimento de ethos a rigor da Ética Discursiva, em postulados como Razão Instrumental ou Razão Comunicativa (HABERMAS, 1989).

Também nos afastamos desse tipo de abordagem, para não cair em Gramsci, Hegemonia

Cultural, dividindo os premiadores em dois universos: sociedade política e a sociedade

civil, o que nos induziria a ver, principalmente o Terceiro Setor, como uma ampliação da concepção marxista de Estado. Mas, claro, percebendo que o conceito de intelectuais

orgânicos poderia ser facilmente empregado a muitas premiações no que concerne à necessidade de se educar trabalhadores dentro de uma ideologia, formando intelectuais provenientes da classe trabalhadora. Esta abordagem também foi abandonada. Não faríamos a distinção entre sociedade política e sociedade civil (Gramsci) e nem entre

discurso científico e ideologia (Althusser), relativos ao pressuposto de luta de classes, tendo em vista que já tínhamos adotado as epistemes em Foucault.

Foucault faz uma análise Microfísica do Poder de cunho histórico e até binário, a partir dos estudos nos hospícios (lúcido e delirante), presídios (inofensivo e perigoso), quartéis (hierarquia e anarquia), dentre outros. Existe uma crítica de que o mundo binário, em Foucault, do normal e anormal, seria praticamente a inversão da realidade, como na dialética marxista, tendo como diferença apenas que o autor se apoia no indivíduo/subjetividade e o marxismo no Estado/ideologia, como instâncias disciplinares e prescritivas de regras, normatização, modalização, padronização.

Não entramos no mérito do jovem Foucault ou de velho Foucault, sobre a ousadia de suas obras em dados momentos da sua vida e percurso intelectual. Entretanto, por abdicar dos meandros meramente ideológicos, abrimos mão de outros autores com este tipo de enfoque (BOURDIEU, HABERMAS, GRAMSCI, ALTHUSSER). Com isso, ficou bem claro que na abordagem foucaultiana era mais operacional falar em ethos apenas como práxis: práticas e valores associados a um padrão da atividade profissional, tão somente. Não há qualquer valoração do certo e do errado como prática deontológica ou ética. E nem sobre disputa por poder. Há, sim, o conhecimento e a normatividade prescrita nos prêmios (saber) que tem influência (poder) sobre o processo de produção da notícia (nas três instâncias de Molotch e Lester: News Promoters, News Assemblers e News Consumers)49.

49 No contexto da Filosofia Política, o mapa dos pensadores sobre a legitimação e a justificação do Estado e do governo: os limites e a organização do Estado frente ao indivíduo (Thomas Hobbes, John Locke, barão de Montesquieu, J.-J Rousseau); as relações gerais entre sociedade, Estado e moral (Nicolau Maquiavel, Augusto Comte, Antônio Gramsci); as relações entre a economia e política (Karl Marx, F. Engels, Max Weber); o poder como constituidor do "indivíduo" (Michel Foucault); as questões

sobre a liberdade (Benjamin Constant, John Stuart Mill, Isaiah Berlin, Hannah Arendt, Raymond Aron,

Norberto Bobbio, Phillip Pettit); as questões sobre justiça e Direito (Immanuel Kant, F. W. Hegel, John Rawls, Jürgen Habermas, Michael Sandel); as questões sobre participação e deliberação (Carole

Queremos trazer para a área da Comunicação a questão do poder (nos prêmios, premiadores, premiados) e do saber (normatividade) instituindo um aparelho teórico- metodológico, News Honors, para estudá-los. Tal contribuição sendo entendida como um esforço inicial, um panorama composto por 114 prêmios, dentre os quais não trabalharemos a questão de disputas ideológicas entre eles e nem mesmo a ênfase da disputa por poder. O foco é o do poder, mas não das relações de poder em disputa como em macropoderes e micropoderes, pois não fazemos juízo de valor sobre os prêmios. Apenas os apresentamos como constituintes de práticas, epistemes.

O conceito de epistemes tem origem em Platão, mas passa por Foucault como uma construção feita para se apresentar50 as relações de poder frente a dada subjetividade, no sentido da filosofia analítica. Não entraremos no plano ético, nem ideológico e nem filosófico da questão das epistemes em relação ao doxa. A abordagem está situada, historicamente, apenas, a partir do conhecimento estabelecido nas modalidades de Jornalismo Informativo, Jornalismo Investigativo, Jornalismo

Institucional e Jornalismo Público organizadas em duas epistemes: pós-Objetividade e pós-Sujeito. E visa trazer à tona os encontros e desencontros entre percursos e tendências sobre os quais gerações de jornalistas foram instituídos como profissionais e compartilharam interações dentro deste cenários (premissa). Buscamos, a partir desse aparato, vislumbrar as bases sobre as quais se dariam as rotinas cognitivas, fotografar e mapear o status quo dos prêmios hoje e identificar o locus do News Honor, dentro do processo de produção da notícia (hipótese).