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EXAME NACIONAL DE CURSOS – ENC

5. EFEITOS DA AVALIAÇÃO SOBRE O SISTEMA AO FIM DO GOVERNO FHC.

5.2. As críticas vindas de fora do governo

Certamente, como é de se imaginar, nem todos partilhavam da opinião positiva que o governo FHC tinha sobre a adequação, efetividade e sucesso das suas medidas de avaliação. Isto torna-se mais claro ao se ter em conta, como abordado anteriormente, a diversidade de interesses dos agentes do campo da educação superior no Brasil bem como as diferentes visões e expectativas sobre qual deveria ser o papel do Estado com relação a ela, qual a relação que deveria ter com o mercado, qual o papel da educação, entre outras questões

Paulo Renato Souza em 06 de janeiro de 2004) e confirmadas por Jocimar Archangelo (entrevistas entre outubro de novembro de 2003).

abordadas no capítulo três, que, também conforme demonstrado, longe de serem consenso, movimentavam e ainda movimentam o conflituoso debate neste espaço social.

As críticas ao Provão e ao sistema de avaliação eram comuns, mas seus motivos eram distintos221. Assim, com o intuito de melhor compreender a diversidade de posições que estão em conflito neste campo de luta que é a educação superior brasileira, expõem-se, na seqüência, algumas das principais críticas de agentes externos ao governo sobre as medidas de avaliação implementadas entre 1995 e 2002222.

5.2.1. Críticas das instituições públicas: dirigentes, docentes, servidores técnico- administrativos e estudantes em defesa da escola pública

Comecemos pelas críticas das instituições públicas. De acordo com Rodolfo Pinto da Luz223, desde o início do governo FHC houve um clima de “antagonismo, desconfiança e desconforto” das instituições de ensino superior públicas com o novo Ministério da Educação. Segundo ele, a relação entre ministério e instituições públicas ocorreu em

um clima muito desagradável que persistiu durante oito anos, nunca melhorou. (...). Crises e não se conseguia avançar. E tanto na questão orçamentária, de investimentos na universidade, de reposição de pessoal. O MEC assumiu a política governamental de restringir realmente os investimentos na área pública, os investimentos em geral, (...). (...) houve redução proporcional dos orçamentos, não nominal, porque também nem poderia ser, mas descontada inflação, houve perdas durante o período e, com isso então, o clima sempre foi tenso nesta área224.

221 Em resposta à pergunta sobre quem foram os principais aliados e quem foram os principais opositores às

medidas tomadas no início do seu governo, o ex-ministro Paulo Renato Souza teve dificuldades de nominar poucos críticos. Nas suas palavras: “É difícil a gente dizer! É difícil dizer, quer dizer, a resistência à mudança foi muito grande, sempre! Você veja, a resistência ao Provão, por exemplo!” (entrevista em 06 de janeiro de 2004).

222 Lembre -se, contudo, que a intenção aqui neste primeiro contato da autora com o campo da educação superior

não é a de esgotar as possibilidades nem os argumentos dentro de cada posição. Entretanto, buscou-se uma primeira aproximação com o campo, mesmo sabendo-se do risco de incompletudes e incoerências que podem haver. O objetivo é, sobretudo, demonstrar a multiplicidade de interesses deste campo social e trazer um pouco da sua dinâmica.

223 Além de ter sido Secretário da SESu (Secretaria de Ensino Superior), conforme visto anteriormente, Luz foi

também reitor da Universidade Federal de Santa Catarina durante 8 anos; presidente, no ano de 1999, da ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior) e membro do CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras). (Informações concedidas em entrevista à autora em 22 de novembro de 2003).

Assim, além de se estar vivenciando, naquele momento, um reordenamento do papel do Estado com relação a Educação, no qual, como se viu no capítulo dois, sabia-se que as instituições públicas eram criticadas pelo novo ministério como sendo, apesar de boas, “muito caras, (...) muito ineficientes”225, além de corporativistas e de manterem privilégios. Somava-se ao contexto e à crise da universidade as intenções do governo de dar autonomia financeira às instituições federais e também mudar, conseqüentemente, o vínculo com os funcionários das instituições federais (terminando-se com o Regime Jurídico Único para os professores e servidores técnico-administrativos). Essas e outras questões tumultuavam as relações entre as instituições públicas e o governo FHC.

Nesse clima difícil, segundo Luz, o Provão foi recebido com surpresa, visto que ninguém havia sido consultado sobre ele: “na questão da avaliação, de fato o Provão surgiu assim, abruptamente, quer dizer, não houve nenhuma discussão, nem com conselho de reitores, nem com ANDIFES, nem com entidade, nem com ninguém”226. O fato de isso ter acontecido logo após o envolvimento da comunidade acadêmica com o PAIUB certamente aumenta o efeito da atitude do governo. De acordo com Luz, o anúncio do Provão veio em estilo “Imperial! Comunicava e quem quisesse, bem, quem não tivesse de acordo que continuasse reclamando, mas continuava avançando”227. Então, além de toda a divergência a respeito das medidas implementadas, havia um enorme desconforto devido à postura do Ministério da Educação. A comunidade acadêmica compreendia que as avaliações, que tiveram o seu ponto inicial com o Provão, seriam utilizadas como instrumento para legitimar decisões de financiamento e distribuição de recursos para a educação superior, com a retirada do Estado enquanto provedor da educação superior.

Além do uso que se faria dos resultados do Provão, questionava-se, do ponto de vista metodológico, a validade de uma prova aplicada aos alunos para se avaliar os cursos. Como se pode observar com Luz, “primeiro que ela não é uma avaliação, não pode ser que avalie um curso por uma prova” 228. As críticas diziam respeito à falta de comparabilidade entre as notas de diferentes cursos, à falta de posicionamento do governo para então definir o que era um desempenho médio, ótimo ou abaixo da média (e então passava-se uma falsa impressão para a sociedade, visto que, como sempre haveria cursos As e estes poderiam ser

225 Entrevista concedida por Paulo Renato Souza à autora em 06 de janeiro de 2004. 226 Entrevista de Rodolfo Pinto da Luz concedida à autora em 22 de novembro de 2003. 227 Entrevista de Rodolfo Pinto da Luz concedida à autora em 22 de novembro de 2003. 228 Idem.

cursos ruins); o estímulo que acabaria ocorrendo à lógica do cursinho preparatório para o Provão, o que distorcia o sentido da avaliação entre outros. Por fim, temia-se que a falta de comprometimento dos alunos pudesse prejudicar as instituições, visto que não eram cobrados por resultados e sim pela presença no dia do exame. O temor de ficar à mercê dos boicotes também existia.

Entretanto todas essas questões tornavam-se mais sérias quando ligadas ao fato de que, segundo relatou Luz, as instituições públicas já estavam em crise, não tinham recursos, tinham falta de professores, etc., e quando eram mal avaliadas e solicitavam mais recursos da sua mantenedora, ou seja, do próprio Ministério da Educação, para realizar as melhorias não conseguiam negociar com o governo229. Neste sentido, criticava-se que o processo de avaliação não era utilizado pelo MEC para direcionar melhorias e com essa contradição o governo foi constantemente criticado de somente utilizar o Provão para fins de auto-promoção do MEC devido à falta de políticas para sanar as deficiências encontradas.

Conforme Jocimar Archangelo mencionou, a “chamada Comunidade Acadêmica das escolas públicas, então incluo aqui reitores, professores, sindicato, representação estudantil (não confundir com estudantes), a UNE”230 tinham como maior crítica o fato de que a avaliação serviria para privatizar o ensino público. As universidades já estavam em uma situação de crise que continuou não sendo resolvida pois não se conseguiu chegar num consenso. Segundo ele “as escolas Federais ficaram oito anos se confrontando com o Ministério e com o Governo. Quais seriam as escolas? As que estão na ANDIFES, na ANDES e todos estes organismos representativos de professores, de alunos, estavam se confrontando com o governo (...) que diziam que nós estávamos, segundo o nosso neoliberalismo, privatizando as escolas. (...) o argumento é [era de] que o Ministério estava fazendo uma política neoliberal, uma política do Banco Mundial e visavam privatizar”231. E para o governo, esses grupos representavam os interesses corporativistas da universidade pública232.

229 Um dos casos que ficou mais conhecido foi o do curso de direito da Universidade Federal de Santa Maria

(RS). Apesar de obter três conceitos A no Provão, teve dois itens negativos na avaliação das condições de oferta, justificando sua inclusão em uma lista de instituições que teriam que passar pelo processo de renovação do reconhecimento (estas haviam recebido conceitos D ou E em três avaliações sucessivas do Provão ou conceito CI - condições insuficientes - em dois dos seguintes itens das condições de oferta: qualificação dos docentes, projetos pedagógicos e instalações físicas). Conforme Souza (1999 a).

230 Entrevista concedida por Jocimar Archangelo à autora em 09 de outubro de 2003. 231 Idem.

232 Paulo Renato Souza afirmou, ao comentar as dificuldades de negociação com as instituições federais “eu acho

que foi uma resistência corporativa também e nós não demos tudo que eles queriam, nós os tratamos realmente com muitas exigências, todo nosso relacionamento era de cobrar muita coisa e a verba que as federais tiveram nesse período foi... Nunca na história tiveram também verba de custeio, de manutenção” (entrevista em 06 de janeiro de 2004).

Além desses argumentos dos opositores do Provão, o ponto comum que unia dirigentes, docentes e estudantes em torno de um mesmo objetivo era a defesa da escola pública, contra a privatização do ensino: a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade233. Como se pode observar na opinião do ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Felipe Maia234:

A Universidade Pública brasileira vai viver, no governo Fernando Henrique, a maior crise de sua história porque não contrata novos professores e acontece a aposentadoria gradual dos já contratados. Estes professores perdem o poder aquisitivo dos seus salários e a Universidade passa a não receber recursos suficientes para sua manutenção, como por exemplo, seus laboratórios, bolsas de pesquisa, e em especial, para a formação dos novos estudantes. Estas áreas que têm menos contato com o Mercado são as mais prejudicadas. As áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais, Artes, até mesmo Biologia perdem muito recurso e acaba sobrevivendo quem se adapta a esta lógica. (...) a proposta era desobrigar o Estado, ainda mais, com o financiamento; manter, apenas, as pesquisas em nichos que fossem considerados rentáveis; ampliar a vinculação com o Mercado em todas as áreas e cobrar mensalidades nas universidades públicas. Nesta proposta, avançou-se muito pouco, mesmo com relação à carreira docente que fazia parte da estratégia de quebrar as corporações e diminuir os gastos. Não conseguiram acabar com a estabilidade do Servidor Público, estabelecer um sistema salarial baseado, exclusivamente, na produtividade, acabou ficando misto, ou seja, tem- se o salário e temos as gratificações que estão até sendo discutidas se serão mantidas ou não. Então, eles não conseguiram avançar tudo o que queriam. A resistência foi muito grande.(...) eles queriam que a prova [Provão] determinasse um ranking - porque esse sistema de conceito não é do projeto original – o projeto original era a média.

233 Assinala-se aqui que dirigentes, docentes e estudantes nem sempre estão do mesmo lado da mesa. Como disse

Felipe Maia a respeito da relação entre a ANDES e a ANDIFES “a minha impressão é de que, até greve de 2001, a relação era muito conflituosa. 2001 foi a época em que eu entrei na UNE e a UNE já tinha uma relação melhor com a ANDIFES, já vinha construindo esta relação, porque a orientação política da UNE era mais ampla que a da ANDES. A ANDES, em geral, tinha uma orientação mais sectária, no estilo Reitor patrão, trabalhador não pode conversar com o patrão. A coisa não é tão simples assim, evidentemente, mas eu estou fazendo uma caricatura. Mas a visão era de que a ANDIFES era dominada por um setor mais conservador politicamente. A UNE já tinha uma visão mais ampla, porque desde o início dizia o seguinte: ‘a grande disputa é entre o projeto educacional, é entre o Público e o Privado. O negócio é fortalecer o Público contra o Privado. Então, as diferenças que nós temos dentro do setor público não são as prioridades agora. Nós precisamos defender a Educação Pública porque daqui a pouco não a teremos mais na disputa’. (...) Venceu as eleições da ANDIFES um setor mais progressista, o que facilitou a aproximação política. A greve de 2001 foi uma greve em que os Reitores representaram um papel grande (...). Naquele momento, teve uma certa aproximação política da ANDES com os Reitores empenhados em achar uma solução que ajudasse a Universidade a sair daquele caos. (...). Era uma greve inevitável, não tinha como não ter. Aí passou a ter um pouco mais de proximidade política. A ANDES aceitou que a ANDIFES participasse da mesa de negociação com o MEC pela primeira vez, nunca tinha aceitado. O caos era tão grande que empurrou para a unidade”.

Instituição por instituição, ranking... E o que eles argumentavam era o seguinte, as universidades públicas têm de entrar porque a quantidade de recursos que vão receber vai depender da sua posição no

ranking235.

Ainda conforme Felipe Maia236, na visão da UNE, quando Fernando Henrique venceu as eleições e chamou Paulo Renato para o Ministério da Educação, já se começou a tentar incluir a Educação na visão mais geral de reforma do Estado, orientação para todas as áreas, uma reforma que busca adequar o Estado brasileiro aos preceitos do Estado neoliberal, a esse novo liberalismo. Assim, para Maia237, buscava-se fazer uma aplicação brasileira do modelo do consenso de Washington e diminuir o papel do Estado, focalizar algumas políticas sociais para aqueles setores absolutamente vulneráveis. E neste sentido, a reforma na Educação buscava diminuir os gastos no setor. Para ele, de fato, os oito anos do governo FHC, diminuiu-se o investimento em Educação como um todo, e adotou-se uma tese do Banco Mundial, de que era preciso focalizar o investimento na educação básica, o que, segundo ele, é uma tese já antiga do Banco Mundial, que defendia o seguinte: que o problema dos países em desenvolvimento era a sua educação inicial, que, nos níveis mais elementares, eram muito ruins, e a que uma parcela grande da população não tinha acesso. Como explica Maia, a falta de avanços na área educacional

prejudicaria os conceitos de “empregabilidade”, era de um fator gerador de desemprego, a baixa educação fazia com que os trabalhadores ganhassem menos, ou seja, se se atacasse o problema, conseguiríamos resolver a questão do desemprego, aumentar a renda do trabalhador. Esta é uma visão meio estranha, porque parece que a culpa do desemprego é do desempregado238.

Segundo Wadson Ribeiro, também ex-presidente da UNE no período do governo FHC, a UNE nunca foi contra a avaliação das instituições, mas achava que a avaliação deveria ter outros parâmetros, que não os do Provão. Nas palavras de Ribeiro: “em 98 tínhamos uma

235 Complementando o argumento de Felipe Maia, segundo outro ex-presidente da UNE, Wadson Ribeiro, neste

sentido o Provão “não se viabilizou, na prática. A sua tentativa era criar isto. Cria -se, usa-se esta matriz como orçamento, então, as universidades ‘As’ vão ter mais orçamento, as ‘Bs’ o resto! Vai-se descomprometendo com o financiamento. A privatização universitária.” (Entrevista em 04 de novembro de 2003).

236 Entrevista concedida por Felipe Maia, ex-presidente da UNE durante o governo FHC, à autora em 30 de

outubro de 2003.

237 Idem.

luta sempre muito contextualizada. Era o debate sobre a avaliação e o contexto político em que o país vivia. Em 98 tínhamos um grande movimento de oposição ao Fernando Henrique e ao Paulo Renato, que era o ministro da educação”. Então, destaca-se aí a diferença político- ideológica entre a UNE e o governo FHC, que também se materializavam em debates sobre o Provão e a avaliação. Ainda de acordo Ribeiro, o entendimento da UNE, desde o início do governo FHC,

é que o Provão veio de uma conjuntura política. Primeiro, a avaliação da Universidade é algo fundamental porque apesar de ter autonomia universitária, ela não tem soberania universitária. (...). Só que o Provão, veio em uma conjuntura política do país que é a que chamamos, conjuntura de um governo neoliberal, que foi o de Fernando Henrique. O que é o neoliberalismo? Em muitos casos parece um chavão, o neoliberalismo e tal. Mas, qual era a materialização do neoliberalismo na Universidade brasileira? O neoliberalismo tinha como premissa o Estado mínimo. (...). Não existiria o Estado e, portanto, se abriria, de forma indiscriminada, o mercado. O que vale são as leis do mercado. O que vale é o capital e tudo mais. O Estado só atrapalha e tem de ser enxuto. Então, esta era a lógica. Como esta era a lógica que presidia, qual era o reflexo disso para a Educação, para a Universidade? Ora, se o país não tem perspectiva de desenvolvimento nacional próprio, não interessa também termos instituições como as universidades públicas no Brasil orçadas em 6 bilhões, mais ou menos - as 57 IFES. Não tem por que termos uma universidade pública se, no nosso horizonte, não está colocada uma tecnologia desenvolvida no Brasil, uma Ciência produzida no Brasil. Não tem por que, se a lógica que preside o Brasil é a lógica da subserviência externa! Ainda mais que era um tipo de avaliação que tornava o aluno objeto de avaliação e não participante dela, podendo ser estigmatizado pela nota que, antes da vitória da UNE, iria aparecer no diploma ou histórico do recém-formado, ou que iria prejudicá-lo por ficar estigmatizado por vir de uma instituição mal avaliada.

Ao final desta citação, se vê uma das grandes críticas da UNE com relação ao Provão em termos de prejuízo para o aluno: além de o aluno ser utilizado como objeto da avaliação (ele é que era avaliado - e não agente que participava de um processo de avaliação), a UNE achava que a divulgação das notas em seu documento escolar, como foi proposto pelo governo em um primeiro momento, poderia prejudicá-lo individualmente. De todo modo, a nota da instituição também o prejudicaria de certo modo. Assim, a UNE tentou promover, ao longo de todo o período de aplicação do Provão, a desmoralização e o questionamento do

mesmo, e também o seu boicote, quando não tentou impedir a sua realização (através da invasão de salas, medidas legais que propiciavam o cancelamento da Prova, entre outros)239.

Algumas das críticas da UNE, como dito anteriormente, são partilhadas pela ANDES (Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior – Sindicato Nacional). Como nos afirmou Rubens Camargo240, professor filiado ao ANDES-SN (Sindicato Nacional) e a sua seção sindical na USP, a ADUSP (Associação de Docentes da USP),

O modelo que o Governo Federal usou, especialmente a partir de 95 - que o Governo Fernando Henrique e o Paulo Renato –, de privilegiar o setor privado na expansão do Sistema de Ensino Superior é uma catástrofe, no meu modo de ver! (...)As orientações do Banco [Mundial, que orientavam o governo] são explícitas, lá na ação, na sugestão de colocar que o ensino superior deve ser pago e essas orientações casam com a leitura do grupo que vai para o poder com Fernando Henrique. O próprio Paulo Renato já era um cara que estava vinculado ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e vários dos caras que são mentores das políticas porque orientaram durante tempos a política do MEC – (...) o Cláudio Moura Castro –, são pessoas que trabalham no Banco, que fazem análises e sugerem essas orientações. E também aqui, nós vimos, no Ministério, praticamente o gabinete executivo dessas orientações. Então, quando você pega os números e vê que (...) em todos os estados, não tem uma exceção! de 92 a 2002 o número de cursos no Brasil aumentou dramaticamente, e especialmente, no setor privado e, ao mesmo tempo, como essa era a orientação, o que foi feito no setor público? Foi sempre diminuindo os recursos, não repondo as pessoas que saíam por aposentadoria ou mudanças e tal. Quer dizer, a idéia fundamental é que o setor público era um gasto excessivo, que não precisaria daquilo e a construção de um novo modelo de universidade ou de ensino superior, que vai desde cursos seqüenciais, que são as coisas mais elementares (cursos de 2 anos) ou coisas do tipo especializações, que são bastante curtas, de 360, 500 horas

Para o sindicato ANDES e também para a ADUSP, do mesmo modo que para a UNE, o Provão seria uma exigência de contrato do Banco Mundial para emprestar recursos para o Brasil. Conforme afirmou Rubens Camargo241:

239 “O enterro do Provão”, encenação, com um caixão, em frente ao Ministério da Educação em Brasília, ilustra

a postura da UNE contra o Provão. Disponível sob o título “UNE promove o enterro do Provão”, de 25 de setembro de 2003, em http://www.une.org.br/home/; Acesso em 28/09/2003.