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PROVÃO: ORIGENS E METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO (1995-2002)

O Exame Nacional de Cursos, que se tornou conhecido como o Provão, foi criado pela lei nº 9.131 de 24 de novembro de 1995170, pelo então Ministro da Educação Paulo Renato Souza171, logo no início do governo Fernando Henrique Cardoso, em seus dois mandatos consecutivos (1995/1998 e 1999/2002).

Em termos gerais, o Provão consistia em um exame escrito aplicado anualmente

a alunos em fase de conclusão ou recém concluintes de cursos de graduação. Por meio dele,

pretendiam-se aferir informações, conhecimentos e habilidades que deveriam ter sido adquiridos pelos estudantes dos cursos examinados. A partir da média do desempenho dos alunos de cada curso avaliado, concluía-se, por extensão, comparando-se todos os cursos avaliados por área, a qualidade e a eficiência de cada um deles. Tal qualidade era, por fim, representada em forma de conceitos que variavam, gradativamente, de A a E, sendo a letra A atribuída ao melhor desempenho.

O Provão foi divulgado, inicialmente, no início de 1995, com a renovação de uma medida provisória – herdada do governo anterior e que ainda tramitava no Congresso – posteriormente aprovada como lei. Ela criava o Conselho Nacional de Educação172, agora com a atribuição de deliberar sobre a organização, o credenciamento e o recredenciamento periódico de instituições de educação superior, inclusive de universidades, com base em relatórios e avaliações apresentados pelo Ministério da Educação e do Desporto173, retificado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Essa primeira mudança já era representativa não só por tirar o caráter permanente do credenciamento das instituições de ensino superior, mas também, e principalmente, por

170 Ver Anexo A.

171 Paulo Renato Souza, hoje sócio-fundador e consultor da empresa Paulo Renato Souza Consultoria, foi

Ministro da Educação durante todo o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Antes disso, exerceu diversos cargos públicos e posições de gerenciamento incluindo a de Gerente de Operações do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID em Washington D.C. Foi reitor da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp (1986 a 1990) e Secretário da Educação do Estado de São Paulo (governo Montoro). Durante os anos setenta ele trabalhou na Organização Internacional do Trabalho como diretor do Programa Regional de Emprego da América Latina e do Caribe, baseado no Chile, além de outras agências das Nações Unidas. É graduado em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, obteve seu mestrado na Universidade do Chile e seu PhD na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, onde também se tornou professor de economia.

172 Que veio a substituir o antigo Conselho Federal de Educação, fechado no governo Itamar Franco por suspeita

de corrupção.

173 A Constituição Federal de 1988 determina que compete aos órgão do governo a garantia de padrão de

vinculá-lo a um sistema de avaliação que teve seu primeiro instrumento criado nessa lei: os exames nacionais, ou seja, o Provão.

De fato, o surgimento do Provão mexeu com o campo da educação superior brasileira. À época, por diferentes motivos, praticamente todos eram contra ele segundo a

maioria dos depoimentos recolhidos por nós em entrevistas (Souza, 1995; Sampaio, 2000)174. E o debate em torno dele foi alimentado pelos seus principais destinatários ao longo das suas oito edições anuais: os cursos de graduação, a comunidade acadêmica, a sociedade em geral e o Ministério da Educação (MEC).

O Provão começou a ser aplicado em 1996175 a estudantes de Administração, Direito e Engenharia Civil e foi, gradativamente, usado na avaliação de outras áreas. Assim, na versão de 2003176, primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva – provavelmente a última versão do exame nos seus moldes originais177 – foram avaliados estudantes de 26 áreas de conhecimento, todos no mesmo dia e horário. Dessa vez, o exame contou com a participação de 436.327 formandos, provenientes de 5.897 cursos das seguintes áreas: Administração, Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Contábeis, Direito, Economia, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Farmácia, Física, Fonoaudiologia, Geografia, História, Jornalismo, Letras, Matemática, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Química (Exame Nacional de Cursos 2003 – Relatório Síntese, 2003). Segue tabela abaixo.

Nas duas tabelas que seguem apresentam-se, detalhadamente, o ano de início da participação de cada área no Provão178 e, na seqüência, do número de áreas, de cursos e de inscritos presentes a cada ano (números totais).

174 “Se a oposição ao Provão era quase consensual entre os reitores de universidades públicas e privadas, suas

motivações para se oporem a ele dificilmente convergem” (Sampaio, 2000, p.174). Dado também confirmado por Jocimar Archagelo (Entrevistas concedidas à autora entre outubro e novembro de 2003).

175 A data exata da aplicação nacional do primeiro Provão a estes 3 áreas de conhecimento foi 10 de outubro de

1996.

176 Com a mudança do governo, este foi o único ano em que os resultados do Provão foram apresentados em dois

formatos: em critérios relativos, mas também absolutos. (ENC 2003 - Relatório Síntese, 2003).

177 Ainda há controvérsias sobre o tema, mas a Medida Provisória instituída pelo Ministro Cris tovam Buarque

para criar um novo sistema de avaliação não deixa explícita a manutenção do Provão, segundo esclarece seu antecessor Paulo Renato Souza (2003 c).

178 Após serem integradas ao Provão, as áreas seguem participando do exame anualmente. Portanto, todas as

Tabela 5:Lista de cursos avaliados pelo Provão de 1996 a 2003.

Cursos Avaliados em:

Administração 1996 a 2003

Agronomia 2000 a 2003

Arquitetura e Urbanismo 2002 e 2003

Biologia (incluindo Ciências com habilitação plena em Biologia) 2000 a 2003

Ciências Contábeis 2002 e 2003

Comunicação Social (habilitação em Jornalismo) 1998 a 2003

Direito 1996 a 2003 Economia 1999 a 2003 Enfermagem 2002 e 2003 Engenharia Civil 1996 a 2003 Engenharia Elétrica 1998 a 2003 Engenharia Mecânica 1999 a 2003 Engenharia Química 1997 a 2003 Farmácia 2001 a 2003

Física (incluindo Ciências com habilitação plena em Física) 2000 a 2003

Fonoaudiologia 2003

Geografia 2003

História 2002 e 2003

Letras (apenas nas habilitações em Língua Portuguesa e respectivas literaturas; Línguas Portuguesa e Estrangeira Moderna e respectivas literaturas; Línguas Portuguesa e Clássica e respectivas literaturas)

1998 a 2003

Matemática (incluindo Ciências com habilitação plena em Matemática) 1998 a 2003

Medicina 1999 a 2003

Medicina veterinária 1997 a 2003

Odontologia 1997 a 2003

Pedagogia 2001 a 2003

Psicologia 2000 a 2003

Química (incluindo Ciências com habilitação plena em Química) 2000 a 2003 Fonte: <Disponível em http://www.inep.gov.br/superior/provao/cursos>. Acesso em 20 de janeiro de 2004.

Tabela 6:- Lista com o número de áreas, cursos e inscritos no Exame Nacional de Cursos nos anos de 1996 a 2003