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Crenças e Aglomerados de Crenças no ensino e na aprendizagem de línguas:

3.3 O conceito de “Crença” nas diferentes áreas do conhecimento

3.3.4 Crenças e aglomerados de crenças

3.3.4.2 Crenças e Aglomerados de Crenças no ensino e na aprendizagem de línguas:

Entendemos crenças no ensino/aprendizagem de línguas como idéias ou conjunto de idéias para as quais apresentamos graus distintos de adesão (conjecturas, idéias relativamente estáveis, convicção e fé). As crenças na teoria de ensino e aprendizagem de línguas são essas idéias que tanto alunos, professores e terceiros30 têm a respeito dos processos de ensino/aprendizagem de línguas e que se (re)constrói31 neles mediante as suas próprias experiências de vida e que mantêm por um certo período de tempo. É importante ressaltar que à medida que se (re)constroem através da interação social, as crenças estão em constante transformação, assumindo, portanto, um caráter dinâmico de sensibilidade aos contextos.

As crenças, conforme previamente definido e discutido por Barcelos (2001) têm origem nas experiências, sendo por isso pessoais, intuitivas, episódicas e na maioria das vezes, implícitas. Dessa forma, as crenças não são apenas fenômenos exclusivamente cognitivos, mas socialmente construídos sobre experiências em quadros específicos, problemas pessoais, de nossa “interação com o contexto e da nossa capacidade de refletir e pensar sobre o que nos cerca” (Barcelos, 2004a:132) e acrescentamos permitindo sempre um agir sobre, transformando esse contexto, que é sócio-histórico e cultural.

30 Entendemos “terceiros” ou “cultura de terceiros” como os outros agentes participantes do processo

educacional, tais como o coordenador, diretor e/ou dono da escola; autores de documentos educacionais (Parâmetros Curriculares Nacionais, Leis e Diretrizes e Bases para a Educação, etc), pais, dentre outros.

Em outras palavras, as crenças seriam um acervo vivo de verdades individuais ou coletivas32, na maioria das vezes implícitas, (re)construídas ativamente nas experiências, que guiam a ação do indivíduo e podem influenciar a crença de outros que estejam ou não inseridos na sala de aula. Concordamos com Nespor (1987) quando afirma que as crenças são compostas de inúmeros fatores, dentre eles emoções, expectativas, sentimentos, valorações e percepções que se firmam como atitudes, posturas do professor/aprendiz frente ao processo de ensinar/aprender uma LE.

As crenças formam um das quatro categorias de maior destaque do que Bandeira (2003) denomina “categorias de informalidade”. São elas: crenças, intuições, memórias e atitudes33. Acreditamos que existam outras variáveis (imagens, percepções, visões, dentre outras) que não foram contempladas nem discutidas por Bandeira, por se tratar de um estudo exploratório (Garbuio, 2005).

O conceito de “aglomerados de crenças”, representa o conjunto de construtos de idéias e/ou verdades pessoais interligadas que temos e mantemos de maneira sustentada, estável por um determinado período de tempo. Em outras palavras, são feixes de crenças com laços coesivos entre si, verdadeiras constelações de crenças que se auto-apóiam. Esse composto de crenças, conforme já discutido e mencionado na subseção anterior tem origem nas experiências pessoais (cf. Barcelos, 2001) e/ou coletivas, nas intuições, nos fatos, e na maioria vezes implícitas. Dessa forma, os aglomerados de crenças são um construto de crenças vinculadas entre si por um objeto comum.

3.3.4.2.1 Categorização das crenças

Quanto se trata de categorizar crenças, lembramos dos estudos realizados pelos estudiosos da Psicologia Cognitiva, Abelson (1979) e Nespor (1987), previamente discutidos nas seções anteriores, que se propuseram a caracterizar o sistema de crenças. Além destes estudos, relembramos do importante trabalho desenvolvido pelo lingüista aplicado canadense Woods (1996), que criou o termo BAK para conceituar o construto de crenças.

3.3.4.2.1.1 Crenças: conjecturas, idéias relativamente estáveis, convicção e mitos

Segundo Price (1969), outro aspecto pertinente no que concerne às crenças é o fato de as mesmas admitirem certos graus, ou seja, um professor e/ou aprendiz de língua pode acreditar forte, moderado ou levemente numa determinada premissa ou idéia.

32 Por exemplo, um grupo de pessoas, no nosso caso, alunos e professores podem compartilhar de uma mesma

crença.

Seguindo esta linha de raciocínio, entendemos crenças no ensino/aprendizagem de línguas como idéias ou conjunto de idéias para as quais apresentamos graus distintos de adesão (conjecturas, idéias relativamente estáveis, convicção e fé).

A palavra “conjectura” é originária do latim medieval (“conjectura”), e por sua vez, é definida por Ferreira (1986:115) como “presunção, suposição, hipótese, idéia com fundamento incerto; opinião hipotética”. A conjectura, de acordo com a nossa visão, seria uma idéia ainda não viabilizada, ou seja, quando se trata de uma proposição tênue, temporária, hipotética. Quando uma idéia passa a ter uma certa estabilidade, dizemos que se trata de uma idéia relativamente estável. Ao passar a ser uma idéia se torna absolutamente verdadeira para o aluno e/ou professor, quando já não se levanta nenhum questionamento sério sobre a mesma, a crença, deixa de ser uma idéia estável, passando a ser uma convicção.

Pois a palavra convicção vem do latim “convictione” e é definida por Ferreira (1986:152) como uma certeza obtida por “fatos ou razões, que não deixam dúvida nem dão lugar à objeção; crenças, opiniões firmes”. Quando uma idéia se fortifica mais e mais, e não possui um correspondente na realidade, categorizamos aquela crença como um mito. Mito vem do latim “mythu” e do grego “mythos”, e é definido por Ferreira (1986:306) como “uma expressão de uma idéia, doutrina ou teoria filosófica sob forma imaginativa onde a fantasia sugere e simboliza a verdade que se pretende transmitir”. O mito, conforme discutido no trabalho de Carvalho (2000:85), pode ser “fruto de concepções errôneas e estereotipadas, às vezes veiculadas pela mídia e passadas de geração para geração sem que as pessoas parem para refletir ou mesmo buscar na literatura especializada elementos que justifiquem ou não esses mitos”.

Os mitos podem influenciar positiva ou negativamente tanto o professor quanto o aprendiz de línguas, no sentido de fazer com que eles tenham expectativas ilusórias e fortes sobre o processo de ensinar/aprender uma LE. Tais expectativas, se decepcionantes, segundo Carvalho (2000:86), trarão frustração, desmotivação e, em conseqüência, desistência do ensino ou da aprendizagem de uma língua. Da mesma forma, as crenças facilitadoras podem auxiliar grandemente o professor e o aluno no processo de ensinar/aprender uma língua, desde que encontre correspondência na realidade. Os mitos, por sua vez, podem ser um grande obstáculo, capaz de dificultar ou até mesmo impossibilitar o ensino/aprendizado desta língua.

Os elementos que discutimos nesta subseção podem ser melhor visualizados na figura abaixo:

Figura 3: Categorização das crenças

3.3.4.3 Crenças e Aglomerados de Crenças: Possíveis origens, funções e influências no