• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4 Análise dos Dados

4.3 Crenças e os Aglomerados de Crenças dos alunos-professores e suas possíveis origens

4.3.5 Crenças: inferidas, recorrentes e as suas possíveis origens

4.3.5.2 Crenças: possíveis origens

Conforme assevera Vieira-Abrahão (2004:147), “mapear com exatidão as origens das crenças trazidas pelos alunos professores de línguas” é uma missão “difícil senão possível”. Levando em consideração esta premissa, o que pretendemos apresentar nesta subseção são hipóteses baseadas nos fatos, reflexões das histórias de vida de cada sujeito-participante para se ter uma visão mais ampla destas origens. Para este fim, utilizamos os dados obtidos pela análise dos instrumentos que foi empreendido nesta pesquisa (questionários, entrevistas, dentre outros).

A análise evidenciou que cinco informantes trouxeram boas e más experiências de sua vida escolar em escolas públicas e particulares (ensino fundamental e médio), onde tiveram os melhores e os piores exemplos de professores de línguas (Inglês). Esta premissa pode ser observada nos seguintes excertos:

[118] “Uma atividade que eu detestava era (...) ficar traduzindo textos, palavra por palavra” (Darlene – Questionário).

[119] “O meu aprendizado na escola pública não foi eficiente (...) pois não aprendi a pronuncia, o que atualmente faz muita falta para o entendimento da língua” (Fabi – Questionário).

[120] “Não havia nada de interessante na escola pública” (Cleber – Questionário).

[121] “Lembro-me perfeitamente que minha professora do Ensino Médio sempre colocava frases na lousa em português, pedia-nos que as escrevesse em Inglês e passasse para as formas negativa e interrogativa (...) Eu detestava esta atividade” (Jéssica – Questionário).

[122] “(A aprendizagem de línguas na escola pública) foi eficiente na medida em que me instigou uma vontade de aprender mais e desvendar o mistério da língua” (Darlene – Questionário)

[123] “Familiarizado com a língua desde a infância por ter sido alfabetizado em colégio internacional na América Central (Panamá)” (Tinti – Questionário)

A partir destes excertos, podemos hipotetizar que grande parte das crenças e dos aglomerados de crenças que esses alunos-professores possuem no que concerne ao processo de ensino/aprendizagem de LE (Inglês), ou seja, concepções de ensino/aprendizagem de uma LE, características do bom professor e do bom aprendiz de línguas; crenças e aglomerados de crenças sobre o ensino e aprendizagem de LE, tiveram como origem a sua experiência como aprendiz na escola pública ou particular.

Conforme já apresentado e discutido em capítulos anteriores, as crenças sobre ensino e aprendizagem de LE se respaldam na longa tradição de metodologias centradas no professor (“teacher-centered”) que são privilegiadas nas escolas primária e secundária e que privilegia o léxico e a gramática em detrimento da comunicação (cf.

Barcelos, 1995). A partir desta situação em que o professor de línguas (Inglês) está inserido, os sujeitos-participantes da pesquisa construíram em parte da imagem do bom professor que eles tem hoje: boa proficiência na LE; capaz de utilizar uma boa metodologia e ministrar uma boa aula; atualiza todo o tempo; é capaz de utilizar estratégias adequadas para o ensino e adequa as suas aulas às reais necessidades do aluno; tem domínio da matéria ou da língua; motivação para ensinar.

A imagem que eles trouxeram do professor de inglês da escola pública e privada era bastante negativa: não possuíam uma boa proficiência lingüística-comunicativa; aulas pouco interessantes e priorizavam a gramática e a tradução de palavras e frases.

Estando conscientes da necessidade de aprender inglês e acreditando que não tinham condições de aprendê-lo nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio, quase todos alunos-professores freqüentam ou freqüentaram escolas de idiomas, onde puderam ter contato com novas formas de estudar inglês: classe com poucos alunos; recursos audiovisuais, metodologias audiovisuais ou comunicativas; professores com uma boa proficiência lingüística-comunicativa; material didático, etc. Esta premissa pode ser observada nos excertos abaixo.

[124] “Estudei inglês na CI por escola de idiomas” (Chileno – Questionário). [125] “Estudei nove anos no YYY e um ano no CCAA” (Jéssica – Questionário). [126] “Estudei seis anos no YYY” (Darlene – Questionário).

[127] “Estudei dois anos no FFF de Campinas (Gisele – Questionário). [128] “Estudei dez anos no FFF” (Tinti – Questionário)

[129] “Estudei inglês na escola UTY por seis meses (Fabi – Questionário)

Outro fator, que na perspectiva dos sujeitos-participantes, contribuiu de alguma para forma para a origem de suas crenças é a cultura de terceiros65. Observe os excertos abaixo.

[130] “Iniciei o curso de Inglês aos nove anos de idade por influência da minha mãe. Embora ela não soubesse a língua, ela queria que desde cedo eu a aprendesse, principalmente pois ouvia dizer que o conhecimento de Inglês abre portas de emprego. Continuei a fazer aulas pois gostei muito de inglês, mas acho que a maior parte das pessoas busca aprender a línguas por questões relacionadas a emprego” (Jéssica – Questionário).

[131] “(...) Meu pai começou a falar inglês com trinta anos, assim (...) Ele correu bastante atrás, ele fala muito bem, eu acho” (Chileno – Entrevista).

A partir da análise destes dois excertos, percebemos que Jéssica passou a se interessar pelo ensino de línguas (Inglês) por causa da sua mãe, que por sua vez, sofreu influência das propagandas publicitária na mídia escrita e/ou televisiva que realçava a importância do aprendizado de uma língua neste mundo globalizado. Um dos fatores que contribuiu para que Chileno tivesse interesse no aprendizado da língua inglesa é o exemplo de seu pai que, por esforço diligente e força de vontade, aprendeu uma LE. Segue abaixo um quadro que contém as possíveis origens das crenças e dos aglomerados de crenças dos sujeitos-participantes de nossa pesquisa

Quadro 21: As possíveis origens das crenças e dos aglomerados de crenças

Sujeito participante Possíveis Origens

Chileno Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privada ou escola de idiomas

O exemplo do pai

Cleber Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privada ou escola de idiomas

Darlene Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privada ou escola de idiomas

Fabi Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privada ou escola de idiomas

Gisele Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privada ou escola de idiomas

Jéssica Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privada ou escola de idiomas

Cultura de Terceiros: Mãe; e fator propagandístico e/ou jornalístico (propagandas na mídia escrita e/ou falada).

Tinti Experiência como aprendiz de línguas na escola pública/privado ou escola de idiomas

Visualizando o Quadro 21, concluímos que as possíveis origens das crenças dos alunos-professores poderiam ser classificadas em duas categorias básicas: a) cultura de aprender línguas, ou seja, experiências prévias como aprendiz de LE na escola pública/privada ou de idiomas; b) cultura de terceiros; ou seja, a influência de pai, mãe, o fator propagandístico e/ou jornalístico.

4.4 A influência das crenças e dos aglomerados de crenças na prática pedagógica