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2.5 Crescimento equilibrado e indicador equilíbrio do crescimento

2.5.1 Crescimento Equilibrado

Neste contexto, é relevante recuperar um conceito associado a um indicador financeiro, que foi citado pela primeira vez por Higgins (1977): o crescimento sustentado (sustainable growth), cujo nome foi alterado neste trabalho para crescimento equilibrado para evitar confundir com o conceito do crescimento sustentável no nível macroeconômico, amplamente disseminado, debatido e ainda controverso.

Segundo Higgins, quando uma empresa deseja crescer, é necessário comparar a taxa de crescimento pretendida com a taxa de crescimento equilibrado. O aumento das vendas é acompanhado de um aumento nos ativos como estoques, contas a receber e imobilizado, gerando pressão por aumento de caixa. O financiamento do crescimento pode vir de aumento de capital, de redução na distribuição de lucros, de aumento da alavancagem financeira (aumento de endividamento) ou de melhoria no desempenho operacional. Se a empresa não pretende aumentar o capital nem alterar sua estrutura de financiamento, sua política de distribuição de lucros, assim como seu desempenho operacional, existe apenas uma taxa possível de crescimento de vendas, consistente com as variáveis citadas, denominada taxa de crescimento equilibrado.

Deste modo, o crescimento deixa de ser algo a ser maximizado e passa a ser uma variável de decisão, do mesmo modo que a estrutura de capital e a política de dividendos. Ou seja, quando o aumento de capital não é possível, as decisões de investimento, financiamento e distribuição de lucros ficam interdependentes. Sem alterações no desempenho operacional, a fonte de recursos para investimento nos ativos fica limitada aos lucros retidos e ao respectivo aumento no endividamento que mantém a estrutura de capital constante. Investimentos adicionais devem ser avaliados considerando o trade-off entre crescimento e alguma combinação de mais alavancagem e menor distribuição de lucros.

Ulrich e Arlow (1980) definem crescimento equilibrado como a taxa que garante que a empresa possa manter o crescimento de receitas, lucros e ativos, no longo prazo, sem necessidade de aumentar seu capital. Eles destacam as premissas para uso do conceito: a empresa precisa aumentar os ativos para aumentar o volume de negócios, o financiamento dos ativos vem dos lucros retidos, a estrutura de capital da empresa mantém-se inalterada, as vendas incrementais são tão lucrativas quanto as anteriores e os ativos incrementais são usados tão eficientemente quanto os atuais. Este modelo permite que a empresa planeje o crescimento e seus impactos em vez de reagir a ele, como costuma acontecer. O desequilíbrio oriundo do crescimento não planejado aumenta o risco e dificulta a obtenção de financiamento, o que não acontece quando o crescimento é planejado, refletindo a qualidade da gestão.

Higgins (1977) apresentou um modelo de crescimento equilibrado com e sem o componente inflacionário, ressaltando que a inflação reduz a taxa real de crescimento equilibrado. Este modelo é um instrumento útil na avaliação de alternativas que garantam consistência nas estratégias financeira, operacional e de crescimento.

O mesmo autor, em 1983, realizou um estudo sobre as relações entre o crescimento de vendas e a política financeira em subsetores do varejo norte-americano na década de 70, visando auxiliar na formulação de estratégias. Ele calculou a taxa de crescimento equilibrado para facilitar a compreensão dos problemas que as empresas enfrentaram para conciliar o crescimento com as diferentes políticas financeiras adotadas.

Jegers (2003) apresentou o uso do modelo do crescimento equilibrado para organizações sem fins lucrativos, enfatizando que o crescimento ótimo não é uma decisão independente na formulação da estratégia, pois existem restrições financeiras para as possibilidades de crescimento, mesmo quando a variável distribuição de lucros não está presente.

Sampath e Kambil (2005 e 2007), em dois estudos, avaliaram as taxas de crescimento equilibrado de empresas participantes do S&P 500, por setor, comparando-as com a estimativa de crescimento médio da receita anual nos três anos seguintes, considerando os anos-base 2004 e 2005. No primeiro estudo, usando a taxa de crescimento

equilibrado de 2004, a avaliação indica que, com exceção de um setor, todos os outros apresentam crescimento médio projetado inferior à taxa permitida sem comprometimento da saúde financeira. No segundo estudo, usando a taxa de crescimento equilibrado de 2005, o resultado se repete. Os autores exploraram mais profundamente três setores e, então, o comportamento se diferencia nos subsetores, o que indica diferentes abordagens para o crescimento.

Segundo Reinhardt (2000), o desenvolvimento sustentável no nível macroeconômico é aquele que mantém intactos todos os tipos de capital (natural, econômico, humano e social). Esta definição menos abrangente (ou mais focalizada), baseada em conceitos econômicos, permite a analogia com a estratégia sustentável de uma empresa, que envolve a criação de valor sem redução dos seus ativos líquidos. Neste sentido, a sustentabilidade empresarial deixa de ser uma questão abstrata e passa a ser uma questão operacional, fortemente relacionada às preocupações comuns dos gestores: produtividade, investimento e lucro.

Antes de avaliar a sustentabilidade empresarial em termos ambientais e sociais, é necessário garantir a sustentabilidade econômica, o que o autor sugere fazer utilizando o conceito do crescimento equilibrado para testar a capacidade da empresa de crescer com os recursos gerados internamente. Uma empresa sustentável na dimensão econômica deve gerar receita suficiente para pagar os fornecedores de todos os insumos (recursos humanos, físicos e financeiros) e ainda investir em ativos não circulantes para que sua capacidade futura de geração de receita e lucros não seja prejudicada.

Ainda segundo Reinhardt (2000), é razoável pensar em uma avaliação da sustentabilidade empresarial usando o modelo do crescimento equilibrado e incorporando custos sociais que não estão diretamente refletidos nos valores de mercado, sob a forma de custos de oportunidade. As dificuldades de medida destes custos, assim como a ainda incipiente consideração de ativos e passivos associados ao uso de recursos naturais, são barreiras que estão sendo vencidas paulatinamente, à medida que evoluem as pressões da sociedade pela avaliação do desenvolvimento sustentável de países e regiões e as exigências dos stakeholders quanto à avaliação de todas as dimensões da sustentabilidade empresarial.