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2.2 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade

2.2.4 Sustentabilidade empresarial

No campo macroeconômico, continua o debate sobre como viabilizar o desenvolvimento sustentável, mas a discussão já gerou uma importante conclusão: as organizações, com ou sem fins lucrativos, têm um papel relevante na contribuição para o desenvolvimento sustentável. É pré-requisito fundamental definir o papel das empresas neste processo, assim como a criação e utilização de indicadores de desempenho em ambos os níveis, macro e micro.

Já em 2001, segundo Wiggen e Larsen (2004), 51 das maiores economias do mundo eram empresas e não estados, o que demonstra o importante papel do setor privado na

arena global e seu impacto nas sociedades. As autoras afirmam que, em contrapartida, todos os atores (consumidores, mídia, ONGs, setor público, pesquisadores, organizações internacionais) passaram a dirigir um olhar atento e crítico sobre a atuação empresarial. Como resposta, as empresas desenvolveram iniciativas e práticas de responsabilidade social corporativa, contribuindo para a promoção do desenvolvimento, e conceitos como os de cidadania empresarial e governança corporativa disseminaram- se amplamente no ambiente empresarial.

Desta forma o setor privado passou a ter obrigações sociais e ambientais crescentes, o que endereçou uma revisão do papel e dos objetivos das empresas para além da geração de lucro e remuneração dos proprietários. Associadas à adoção de práticas de responsabilidade social corporativa, surgem questões sobre os impactos das operações das empresas nas pessoas e no ambiente, sobre a forma de relacionamento com os stakeholders e sobre a resolução de possíveis conflitos entre o atendimento das necessidades dos acionistas e o atendimento de todos os stakeholders (WIGGEN; LARSEN, 2004).

Transpondo a definição de sustentabilidade para o nível das organizações pode-se definir sustentabilidade corporativa como a capacidade de atendimento das necessidades dos stakeholders atuais das empresas, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades dos stakeholders futuros. Diante deste objetivo, as empresas devem manter e aprimorar seus capitais econômico, humano, social e ambiental, além de contribuir ativamente para a sustentabilidade no campo político (DYLLICK; HOCKERTS, 2002)

Desta definição saem os elementos-chave da sustentabilidade corporativa: a integração equilibrada dos resultados econômicos, sociais e ambientais, a consideração de aspectos de curto e longo prazo e o cuidado com a preservação de todos os tipos de capitais.

Vários diagramas, modelos descritivos, estratégias, estruturas para implementação e indicadores para avaliação foram desenvolvidos para auxiliar na busca da sustentabilidade corporativa.

Dyllick e Hockerts (2002) reforçam a importância das empresas na tentativa de implementação de um desenvolvimento sustentável. Eles apresentam seis critérios a serem atendidos pelas empresas na busca da sustentabilidade corporativa.

A ecoeficiência implica no uso eficiente do capital natural e é calculada pelo valor econômico adicionado pela empresa, respeitando os limites do ambiente e reduzindo os impactos ecológicos e a intensidade no uso dos recursos.

A socioeficiência descreve a relação entre o valor econômico adicionado e o impacto social da empresa, o qual pode ser positivo ou negativo. Ambos os critérios estão relacionados com a sustentabilidade econômica.

• Sob o ponto de vista da sustentabilidade ambiental, a questão desloca-se para a ecoeficácia, que busca o alcance dos objetivos ecológicos, independente da eficiência.

Ainda na dimensão ambiental, surge o critério de suficiência, que pode parecer apenas uma escolha individual de consumir menos, mas que implica também em responsabilidade por parte das empresas no desenvolvimento de produtos e serviços adequados e nas ações de propaganda e marketing.

O critério de socioeficácia direciona a conduta da empresa para obter um impacto social positivo absoluto, alcançando a sustentabilidade social.

Ainda na dimensão social há o critério de equidade ecológica, com a distribuição justa de direitos de propriedade sobre os recursos naturais e o uso equilibrado destes recursos.

Figura 3: Visão geral dos critérios de sustentabilidade corporativa Fonte: DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p.138

Apesar do crescente envolvimento com questões ambientais e sociais, a maioria das empresas concentra-se no critério de ecoeficiência para a sustentabilidade empresarial, o que é insuficiente, como pode ser percebido pelas definições acima. A partir destes critérios, Dyllick e Hockerts (2002) criaram três modelos de negócios: Business Case para a sustentabilidade empresarial, quando a empresa busca a sustentabilidade econômica, considerando em segundo plano as questões sociais e ambientais, via a instrumentalização dos capitais natural e social; Natural Case para a sustentabilidade empresarial, com a busca da sustentabilidade ecológica, considerando os negócios e sociedade (instrumentos) como direcionadores do bem ambiental; e Societal Case para a sustentabilidade empresarial, onde a ligação com o mundo empresarial é fraca e pouco compreendida. Há a busca da sustentabilidade social, considerando o uso dos capitais natural e econômico (instrumentos) para o bem maior da sociedade.

Ao tentar esclarecer as diferenças entre os conceitos de “Sustentabilidade Empresarial – Corporate Sustainability” e “Responsabilidade Social Corporativa – Corporate Social Responsibility”, Marrewijk (2003) considera que a sustentabilidade empresarial é o objetivo maior: atender as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de terem suas necessidades atendidas, assumindo as responsabilidades econômica, social e ambiental. No passado recente, a sustentabilidade corporativa estava relacionada a aspectos ambientais apenas e a responsabilidade social corporativa se referia aos aspectos sociais, como direitos humanos. A seguir, elas passaram a ser usadas como sinônimos, mas, segundo o autor, não o são. Marrewijk considera que a Responsabilidade Social Corporativa é uma etapa intermediária em direção à Sustentabilidade Empresarial.

Figura 4: Sustentabilidade Organizacional e Responsabilidade Organizacional Fonte: MARREWIJK, 2003, p. 102

Em outro artigo, Marrewijk e Werre (2003) propõem níveis de sustentabilidade corporativa (CS), que refletem as diferentes motivações para a sua incorporação: desde a ausência de preocupação com a sustentabilidade (pre CS), passando pela obrigação de atendimento das exigências legais (compliance-driven CS), seguida da fase de motivação pelo aumento do lucro (profit-driven CS), da preocupação com as pessoas e com o planeta (caring CS), da preocupação com a própria sustentabilidade, por ser esta a direção inevitável do progresso, (synergistic CS) e, por fim, quando a CS está totalmente integrada nas organizações, como a única alternativa e responsabilidade de todos (holistic CS).

Placet, Anderson e Fowler (2005) destacam que o desenvolvimento sustentável envolve a integração da proteção ambiental, com a melhoria na qualidade de vida de indivíduos e da sociedade em geral e com a geração de benefícios econômicos para as empresas, os stakeholders e a sociedade. Eles fazem sugestões de etapas para o desenvolvimento de estratégias empresariais focalizadas na sustentabilidade: inicialmente garantir que várias opções sustentáveis foram consideradas; a seguir examinar estas opções de forma ampla, incluindo a perspectiva social e a perspectiva ambiental; depois identificar e considerar as perspectivas dos stakeholders; e, finalmente, considerar os riscos e benefícios financeiros das possíveis inovações, incluindo os riscos e benefícios de não inovar. A conclusão é que, para adotar as três dimensões da sustentabilidade, são necessários a pesquisa e o desenvolvimento de produtos e processos sustentáveis.

Nesta linha, Hart e Milstein (2003), definem empresa sustentável como sendo aquela que contribui para o desenvolvimento sustentável global através da geração de benefícios econômicos, ambientais e sociais. Existe uma lógica estratégica para a busca do valor sustentável nas organizações. Os autores detalharam quatro conjuntos de motivadores para a sustentabilidade global: a crescente industrialização e suas consequências, a atuação de stakeholders da sociedade civil, as tecnologias emergentes e o aumento da população, da pobreza e da desigualdade associados à globalização.

Como a sustentabilidade é um conceito complexo e multidimensional, Hart e Milstein propõem uma estrutura para auxiliar na criação de valor para o acionista com a inclusão dos desafios do desenvolvimento sustentável. Nesta estrutura, há duas dimensões: tempo (curto prazo e longo prazo) no eixo vertical e aspectos internos (habilidades e potenciais) e externos (novas perspectivas e conhecimentos) no eixo horizontal, formando uma matriz com quatro quadrantes, onde as empresas se posicionam, assim como os motivadores da sustentabilidade, com estratégias e práticas associadas. Os passos a seguir na busca do valor sustentável são: diagnóstico, avaliação de oportunidades e implementação. De acordo com os autores:

As empresas são desfiadas a minimizar as perdas nas operações correntes, a reorientar simultaneamente seus portfólios de competências na direção de tecnologias e habilidades mais sustentáveis, a se engajar em um amplo diálogo com os stakeholders externos através das ofertas atuais e a desenvolver soluções economicamente interessantes para os problemas sociais e ambientais do futuro (visão de sustentabilidade). (HART; MILSTEIN, 2003, p. 64).

Figura 5: Estrutura para a geração de valor sustentável Fonte: HART; MILSTEIN, 2003, p. 60.

Comparando vários autores, Willard (2005) construiu um contínuo de sustentabilidade, muito semelhante aos níveis de Marrewijk e Werre (2003): estágio 1: pre-compliance, onde a empresa só se preocupa com os lucros, ignorando a sustentabilidade e lutando contra regulamentações; estágio 2: compliance, onde a empresa obedece às regulamentações, mas ainda considera as práticas sociais e ambientais como custos; estágio 3: beyond compliance, onde a empresa torna-se proativa nas tentativas de redução de custos, atuando em projetos sociais e ambientais, pois percebe que há efeitos positivos sobre a sua imagem que contribuem para a maximização do valor para os acionistas; estágio 4: estratégia integrada, onde a empresa incorpora a sustentabilidade na sua estratégia, percebendo oportunidades para obter vantagens competitivas; e estágio 5: onde, conscientes de que este é o comportamento correto, há compromisso com o bem-estar dos indivíduos, da empresa, da sociedade e do ambiente, contribuindo assim para um mundo melhor.

Marrewijk e Hardjono (2003) apresentaram o European Corporate Sustainability Framework (ECSF), que oferece às empresas uma metodologia de mudança; um conjunto de estruturas e teorias que permite endereçar questões complexas na busca da sustentabilidade, para garantir a continuidade das empresas e do sistema onde elas estão inseridas (social, ecológico e econômico), melhorando seu desempenho e incluindo os interesses dos vários stakeholders.

O Quadro 1, a seguir, apresenta um resumo das iniciativas apresentadas para auxiliar na descrição, implementação e avaliação da sustentabilidade empresarial.

Autores Ano Iniciativas

Dyllick e Hockerts 2002

Critérios atendidos pelas empresas na direção da sustentabilidade corporativa

Marrewijk 2003

Definições de sustentabilidade organizacional e responsabilidade organizacional

Marrewijk e Werre 2003 Níveis de sustentabilidade corporativa Placet, Anderson e Fowler 2005

Etapas para o desenvolvimento de estratégias com foco na sustentabilidade

Hart e Milstein 2003

Estrutura matricial para criação de valor para o acionista na empresa sustentável

Willard 2005 Estágios para a incorporação da sustentabilidade Marrewijk e Hardjono 2003 ECSF - European Corporate Sustainability Framework Quadro 1: Resumo das iniciativas na busca da sustentabilidade empresarial

Outros autores também propõem estruturas semelhantes às já descritas para avaliar o estágio em que a empresa está e as etapas orientadoras que devem ser seguidas na incorporação da sustentabilidade em suas estratégias, procedimentos de gestão e de avaliação de desempenho, como por exemplo: Boron e Murray (2004), Dias-Sardinha e Reijnders (2001), Guler e Crowther (2008), Caldelli e Parmigiani (2004).

Em resumo, os estudos apontam que as empresas sustentáveis devem possuir estratégias de longo prazo, integrando os objetivos do negócio e boas práticas econômicas, sociais e ambientais, com uma estrutura de governança que viabilize resultados econômicos, qualidade de vida para todos os stakeholders e respeito ao meio ambiente. Estas empresas devem manter sua atividade por muito tempo, minimizando riscos e com bom relacionamento com a sociedade. Desta forma seu valor deve aumentar.