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A CRIAÇÃO DE UMA I NSTITUIÇÃO : O I NSTITUTO A NTONIO C ARLOS J OBIM

Dando continuidade a essa preocupação evidenciada por Tom — a de zelar por seu próprio acervo — e deparando-se com demandas de pesquisadores com a falta de condições de trabalho e com um volume de documentos que não permitia o acesso manual, a família decidiu criar uma instituição que pudesse inventariar, preservar, proteger e divulgar os documentos de Tom.

Desde 1999, uma tentativa embrionária nesse sentido já ocupava cômodos da casa do filho Paulo Jobim. Foi quando Vanda Maria Mangia Klabin, amiga da família e diretora do Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, foi convidada a organizar o acervo. Consciente do que tinha em mãos, estruturou a sede e providenciou a legalização do órgão. Como precisava de uma equipe para ajudá-la na empreitada, contactou sua amiga pessoal e então diretora do Museu-Casa da Fundação Casa de Rui Barbosa, Magaly Cabral. Ela explicou que as necessidades do acervo de Tom eram mais próximas ao trabalho que a equipe do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB) desenvolvia. Foi então que a chefe do setor, Eliane Vasconcellos, começou a trabalhar para levantar fundos e manter a equipe de organização, higienização e digitalização do acervo de Tom Jobim.

O Instituto Antonio Carlos Jobim (IACJ), criado oficialmente em 8 de agosto de 2001, e comandado por seus herdeiros e pela diretora Vanda Klabin, é o principal detentor do acervo pessoal do maestro. Seus objetivos são, de acordo com seu estatuto:

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a) preservar e divulgar no Brasil e no exterior, a obra de Antonio Carlos Jobim, assim como os valores culturais manifestados em vida pelo compositor;

b) promover o acesso público à obra e aos materiais biográficos do compositor;

c) desenvolver e/ou promover projetos, exposições, festivais e espetáculos nas áreas de arte, música, cultura , comunicação ecologia, educação e outras afins;

d) editar, produzir, publicar, distribuir e comercializar obras literárias, artísticas ou científicas e outras relativas às ciências humanas, às letras e às artes, inclusive na forma de livros, fonogramas, compact disc, vídeos, CD- Rom’s, DVDs e audiovisuais, bem como outras formas de mídia eletrônica ou digital;

e) editar e produzir home pages e sites na Internet;

f) editar, produzir, publicar, distribuir e comercializar obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia;

g) editar, produzir, publicar, distribuir e comercializar as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo constituam criação intelectual.

Além destes, é importante frisar que o IACJ deve também tornar disponível, especialmente para pesquisadores, toda a produção do artista, assim como desenvolver e/ou promover projetos e pesquisas nas áreas de educação, música, arte e ecologia.

Inicialmente, o Instituto funcionou dentro da sede de uma empresa da família, fundada por Tom e Ana Jobim, a Jobim Music6, em um prédio comercial no bairro carioca do Jardim Botânico. Depois de ocupar por cinco anos essa sala comercial, o Instituto adaptou um dos prédios do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), dentro

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Fundada em 1990, a Jobim Music é também uma iniciativa do maestro de reunir sua obra musical, e comercial, garantindo a arrecadação de seus direitos autorais.

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do Espaço Tom Jobim (ETJ)7, para criar as condições ideais de controle do ambiente e acesso ao acervo. Nesse sentido, foi adotado um sistema de climatização, de acordo com as normas do Conarq (Conselho Nacional de Arquivos) e com alguns casos reconhecidamente de sucesso, como o da Fundação Casa de Rui Barbosa e da Fundação Getúlio Vargas. O sistema está estruturado sobre o programa Sistrad8, para plataforma Windows que mede, em tempo real, a umidade e a temperatura da ante- câmara e da sala do arquivo, ligando e desligando automaticamente os condicionadores de ar, os dutos de ventilação e os desumidificadores sendo monitorado 24 horas por dia, via web.

Como o ambiente informacional, também inovador, requeria termos muito específicos, foi necessária a ajuda dos especialistas que trabalharam para adaptá-lo9. Um pouco da sofisticada configuração da rede de computadores será descrita mais à frente, mas é baseada em três fundamentos essenciais àquilo que o trabalho exigia: todos os programas são gratuitos, seguros e atualizados, o que levou o Instituto a ser considerado case em desenvolvimento de banco de dados voltados para arquivos pessoais10.

A instituição foi custeada pela própria família nos primeiros seis anos de existência, tamanha era a dedicação e o interesse pelo projeto. Até o início de nossa pesquisa, em 2007, o IACJ era mantido pela construtora Camargo Correa Desenvolvimento Imobiliário, de São Paulo, através de doação para custear seus principais gastos. A equipe de pesquisadores só é reunida quando há possibilidade de trabalho temporário. Atualmente, está em desenvolvimento o projeto de organização do acervo Dorival Caymmi, amigo querido de Tom, pois sua família solicitou esse apoio.

O Instituto Antonio Carlos Jobim tornou-se um “lugar de memória”, que guarda o legado de seu patrono. Dessa forma, um confere legitimidade ao outro, como observou Luciana Heymann em relação ao arquivo e Fundação Darcy Ribeiro:

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O ETJ está situado no Centro de Visitantes do JBRJ, criado pelo Termo de Cessão de Uso Processo N. 02011000123/22123599 para a Associação de Cultura e Meio Ambiente (ACMA) dar melhor uso a quatro prédios e uma praça, realizar manifestações culturais e atrair público para aquela área antes pouco usada.

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Este sistema foi desenvolvido pela empresa Full Gauge, que também forneceu os sensores de temperatura e umidade.

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Marcelo Carius e Tiago Ferreira, ambos da Carius Informática, a quem agradeço efusivamente.

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E era o primeiro caso no mundo a usar o Dspace, voltado para acervos pessoais; pelo menos até o início de nossa pesquisa.

61 a legitimidade dentro do campo de instituições de memória depende, em grande parte, da capacidade de abrigar acervos, de reunir peças e documentos inéditos — que funcionam como manifestação material do legado — ou, ao menos, de produzir um discurso convincente e documentado na apresentação do personagem e de sua trajetória. (HEYMANN, 2005, p. 53)

A instituição depende do arquivo, pois certamente, as pessoas que estão à sua frente têm consciência do “forte capital simbólico” (HEYMANN, 2005, p. 52) que ele representa dentro de uma cada vez mais crescente vertente de pesquisadores, que mantêm interesse nos documentos pessoais como fonte primária e no arquivo como objeto de pesquisa.