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Capítulo 1 Raízes político-institucionais do PI (1962-2002)

1.6 Das eleições de 1999 à vitória da FA em 2004

1.6.2 Crise no NE e fundação do PI

A viabilidade do projeto político do NE estava em xeque após o ciclo eleitoral de 1999-2000. Como mostram o Quadro 2 e o Gráfico 6, apresentados a seguir, o

178 A completar esta perspectiva: o autor do texto deixou o NE e militou no PI até recentemente abandonar a atividade partidária (COURTOISIE, 30 marzo 2017).

contraste entre o desempenho de FA e NE é nítido. Entre 1989 e 1999, a primeira ampliou a sua votação de 21,2% para 40,1% e, consequentemente, ganhou mais espaço no parlamento (de 21 deputados para 40 e de sete senadores para 12). O segundo realizou movimento inverso: perdeu progressivamente relevância eleitoral e parlamentar, tendo passado de 9% a 4,6% dos votos, de nove deputados para quatro, de dois senadores para um. O fato de, em 1989, o NE ser uma coligação, com composição distinta daquela assumida pelo partido NE, constituído em 1994, não altera a perspectiva de queda aqui registrada.

Quadro 2 – Desempenho de FA e NE nas eleições presidencial e parlamentar (Uruguai, 1989-1999) Cargo FA NE 1989 1994 1999 1989 1994 1999 Presidente (%) 21,2 30,6 40,1 9,0 5,2 4,6 Senado (N) 7 9 12 2 1 1 Câmara (N) 21 31 40 9 5 4

Fonte: BOTTINELLI; GIMENEZ; MARIUS (2014); URUGUAY. CORTE ELECTORAL (2017c, 2017d, 2017e)

Gráfico 6 – Representação parlamentar obtida pela FA e pelo NE (Uruguai, 1989- 1999)

Fonte: BOTTINELLI; GIMENEZ; MARIUS (2014); URUGUAY. CORTE ELECTORAL (2017c, 2017d, 2017e) * Como parte do PC; ** Como parte da FA.

7 2 21 9 9 1 31 5 12 1 40 4 0 7 14 21 28 35 42

FA - Senado NE - Senado FA - Câmara NE - Câmara 1989 1994 1999

O resultado nas eleições departamentais de maio de 2000, realizadas alguns meses após a disputa presidencial, tornava mais angustiante a situação e servia de símbolo do impasse que o NE vivia: ele não conquistou nenhuma cadeira nas 19 Juntas Departamentais179 do país, o que também simboliza claramente a perda de espaço político do partido. Em 1994, ele havia obtido seis vagas, espalhadas por cinco departamentos (Montevidéu, Canelones, Maldonado, San José e Florida); e em 1989, a coligação NE alcançara 22, distribuídas por quase todo o país, as exceções foram Treinta y Tres, Río Negro e Rivera.

Mais uma vez o contraste com a FA é intenso: esta obteve 50 cadeiras nas Juntas Departamentais em 1989, passou a 93 em 1994 e chegou a 116 em 1999, espalhadas pelos 19 departamentos (a exceção é Soriano, no qual a FA não conseguiu representação em 1989) (URUGUAY. CORTE ELECTORAL, 2017f, 2017g, 2017h).

No entanto, o resultado não chegava a surpreender. Buquet (1999, p. 58) previu que isto iria acontecer:

lo que seguramente se va a apreciar es que el Nuevo Espacio va a votar muy mal en las elecciones de mayo [de 1999] porque, razonablemente, es un partido que no tiene ninguna aspiración de gobernar los municipios y, por tanto, en esta ocasión va a ser el gran perjudicado180.

Talvez o autor não imaginasse que a previsão de um desempenho “muy mal” atingisse o ponto de não alcançar representação em nenhuma Junta Departamental.

Como pontuou La Red 21 (EL BAJÓN..., 15 mayo 2000), a situação de não eleger edil deixava poucas chances de o NE impulsionar suas propostas no âmbito local, punha em dúvida a continuidade desse espaço alternativo aos três partidos principais, e apontava para o início da ideia de vincular-se a um deles.

179 Elas são órgão legislativos dos departamentos, sendo todas compostas por 31 membros, independentemente do contingente populacional ou eleitoral da localidade. Ao partido do Intendente eleito é garantida a maioria de 16 cadeiras (chamada maioria automática), caso não a tenha alcançado pelas urnas. As 15 restantes são distribuídas aos demais partidos pelo sistema proporcional. Na prática, portanto, a fórmula eleitoral departamental é primeiro de maioria simples, distribuindo 16 cadeiras ao partido do Intendente, para só em um segundo momento tornar-se proporcional, com vistas a distribuir as 15 cadeiras restantes entre os partidos de oposição. Se o partido do Intendente eleito supera as 16 vagas, o sistema opera como proporcional para distribuir todas as 31 cadeiras. Mais detalhes, ver: Moraes (1997-1998).

180 Esclarece-se que, quando o pesquisador fala em municípios, ele se refere aos departamentos, ou melhor, às eleições para Intendente. Na época, ainda não haviam sido criados os municípios, o terceiro nível de administração – eles foram implantados em 2010 –, razão pela qual era comum, inclusive entre os politólogos, que as instâncias departamentais fossem assim denominadas.

De modo semelhante, Bottinelli (06 feb. 2005 [2015], p. 401) registrou que, assim como seu homônimo, ele sentia a esterilidade da ação parlamentar pura, a ausência da possibilidade de ser governo e a necessidade de compor uma base governista.

Frente a este cenário que punha em dúvida a possibilidade de futuro do NE, internamente, as posições sobre esta questão já estavam estabelecidas e o dividiam em dois grupos: os que não acreditavam na possibilidade de continuar como uma proposta autônoma ou isolada por não conseguir a expressão político-eleitoral necessária e, por consequência, projetavam mudanças no rumo da instituição; e os que pensavam o contrário (ou não consideravam tal expressão o aspecto mais relevante) e, por isso, pretendiam continuar com o NE como partido independente181. O primeiro grupo era liderado por Rafael Michelini, com a participação de seu irmão Felipe. Defendia uma aproximação efetiva com o EP-FA, de modo a formar uma “nova maioria”, que possibilitasse vencer a eleição presidencial, o que, conforme as regras vigentes, implicava obter a maioria absoluta dos votos emitidos.

Como anteviam os críticos internos, a declaração de voto Michelini no 2º turno da eleição de 1999 contribuiu para uma aproximação com a FA, de tal forma que, em fevereiro de 2000, ele se reuniu com Vázquez. Ao sair do evento, o líder do NE já cogitava um futuro acordo com a FA (EP Y NE..., 29 feb. 2000).

Como pondera Yaffé (2005b, p. 52), esta lógica era convergente com a da FA, que tinha claro que era preciso construir alianças ainda mais amplas do que as já firmadas para ganhar a presidência, incorporando como sócios setores de centro- esquerda. Obviamente, o alvo principal era o NE, então colocado à direita da FA, cujo eleitorado, apesar de pequeno, poderia ser decisivo, como já o teria sido no pleito de 1994, quando as regras anteriores exigiam maioria simples para esta conquista e a FA perdeu a eleição para o PC por cerca de 33 mil votos ou dois pontos percentuais.

Nos cálculos de Michelini parecia operar o dilema narrado por V. O. Key (apud BARAHONA, 2001, p. 168): “sus dirigentes caen en la tentación de fusionarse con uno de los partidos mayoritarios a cambio de cualquier favor por parte del partido mayoritario, conducta que generalmente trae aparejada la absorción del

181 As diferenças não abrangiam diferenças programáticas substanciais e irreconciliáveis entre eles. Luna (2004a, p. 146), ao analisar os dados da Pesquisa sobre Elites Políticas Parlamentares (PELA) de 2001 e que, portanto, ouviu os parlamentares envolvidos na ruptura, identificou restrito nível de dissenso interno no NE.

partido minoritario en el proceso de fusión”. Assim, a exemplo do que ocorreu com Batalla, parecia cumprir-se a possibilidade elencada por Bolleyer (2013, p. 127):

em alguns casos, os fundadores do partido, que inicialmente deixaram um estabelecido para ter seu próprio veículo para concorrer em eleições, volta para o partido-mãe ou se junta a outro partido já existente. [...] o incentivo para manter o próprio partido desaparece, uma vez que os fundadores percebem que seu veículo não teve sucesso em termos eleitorais, não é organizacionalmente viável, ou se eles são suficientemente bem-sucedidos para induzir o partido-mãe a fazer uma oferta atrativa em troca do retorno do fundador.

Lembra-se que, inicialmente, a intenção do NE não era fundir-se com a FA, tampouco esta a fixou nestes termos. Todavia, a aproximação entre ambos tinha como horizonte inegável a perspectiva de o NE deixar de existir como partido autônomo e se tornar um setor da FA, o que acabou por acontecer.

A percepção do segundo grupo, que contava com os outros três deputados do partido (Mieres, Posada e Ricardo Falero182) e constituía a maioria da bancada, era bastante distinta e não se preocupava com a viabilidade eleitoral do partido, e sim com a sua permanência como opção política.

A diferença não é banal, pois configura perspectivas muitos díspares sobre as estratégias a serem desenvolvidas em relação à próxima eleição e, no limite, diziam respeito à persistência ou não do próprio partido.

Desse modo, este grupo não aceitava a associação com a FA, apesar das mudanças programáticas que ela realizara, razão pela qual se dispunha a permanecer como partido autônomo e independente, ainda que isto continuasse a implicar perdas de votos e de espaço parlamentar.

Posada foi categórico (e premonitório): “el senador Rafael Michelini está redactando el certificado de defunción del Nuevo Espacio”, reputando a tentativa de acordo a uma ação pessoal do líder, realizada por fora das instâncias partidárias e que, segundo ele, era rejeitada pela maioria da legenda, que pretendia continuar a ser independente (IVÁN..., 05 feb. 2001).

A declaração de Mieres, de dezembro de 2000, explicita a lógica seguida pelos defensores da manutenção do NE como partido:

182 Foi eleito deputado pelo departamento de Canelones, em 1994, sendo reeleito em 1999. Nas duas oportunidades, concorreu pelo NE.

además de las diferencias programáticas y de fondo que motivaron la ruptura del Frente (las que siguen vigentes), hay un problema casi de física: una alianza con un partido que es casi 10 veces más que el otro no es una alianza, es un anexo (MIERES, 2000 apud BARAHONA, 2001, p. 167).

A polêmica encontrou uma definição, mas não seu final, no V Congresso Federal do NE, realizado em outubro de 2001. O partido autorizou Michelini a promover as negociações com outras forças políticas. Tratava-se de um eufemismo, pois a autorização era para costurar um acordo com o EP-FA. O texto aprovado indica o seguinte:

El Quinto Congreso Federal del Nuevo Espacio, resuelve: encomendar al senador Rafael Michelini, en acuerdo con la Mesa Ejecutiva Nacional, iniciar un diálogo con otras fuerzas políticas a fin de analizar las posibilidades de conformar una nueva mayoría en el país. Este proceso de diálogo deberá sustentarse en la independencia política del Nuevo Espacio y, reafirmando los valores recogidos en su Declaración de Principios, aspirará a concretar en los hechos nuestra visión de una sociedad en que se hayan superado las barreras impuestas por la pobreza, la exclusión social y la falta de oportunidades. La construcción de un Uruguay integrado socialmente, con garantías y oportunidades para todos, es nuestro objetivo. La Junta Federal del Partido será convocada periódicamente para darle cuenta de las gestiones realizadas. […] (EL NUEVO..., 07 oct. 2001).

E, de fato, em dezembro de 2002 foi assinado o acordo eleitoral e programático do NE com EP-FA, denominado Nova Maioria183. A aliança passou a ser identificado como EP-FA-NM, lema com o qual se apresentou ao eleitorado em 2004 (ACTO..., 20 dic. 2002).

A decisão do Congresso do NE acirrou ainda mais as divisões, pois a corrente derrotada alegou que os vencedores obtiveram a maioria de 228 votos (em 413, dos quais 183 eram contrários e dois em branco)184, mas não alcançaram a quantidade determinada pelo estatuto. Por essa razão, ingressou com ação contrária à decisão na Corte Eleitoral, mas não obteve sucesso (ESCISIÓN..., 09 oct. 2001; MIERES, POSADA..., 17 oct. 2001).

Ainda no mês de outubro, os principais líderes do posicionamento contrário à aliança com EP-FA foram expulsos sob a alegação do princípio da realidade já que haviam renunciado ao NE (NUEVO ESPACIO..., 03 nov. 2001). A versão

183 O nome escolhido explicita a estratégia política que o subsidia: juntar forças para obter os votos necessários para vencer a disputa eleitoral no 1º turno. E a intenção se confirmou: a aliança fez a maioria absoluta na eleição presidencial e também no parlamento.

184 Na realidade, os 183 votos eram favoráveis à moção proposta por Mieres e por Posada, que defendia a manutenção da independência política e eleitoral do NE, pois foram colocadas em votação as duas propostas.

apresentada no site do PI (01 jul. 2013a) afirma que os três parlamentares – além dos convencionais derrotados – se retiraram do NE em dezembro de 2001 e passaram a atuar no parlamento como uma nova fração, separada da bancada a qual pertenciam até então, que foi denominada como Novo Espaço Independente e se tornou o embrião do novo partido.

A polêmica que divide o NE em dois grupos e que vai promover uma mudança da ordem organizativa e provocar a sua ruptura decorre do que Panebianco (2005, p. 475) chamada de crise organizativa provocada por pressões ambientais. Este é o choque ou o evento de severas consequências, de origem externa, que estimula e dá início à mudança partidária realizada pela própria organização, como frisam Harmel e Janda (1994).

A situação motivou os líderes (o grupo em torno de Michelini) a propor mudanças radicais com vistas a melhorar as possibilidades da entidade. No caso específico, à votação declinante do partido e à perspectiva de perda futura de mais espaço político se seguiu a intenção de articular uma aliança com um competidor mais forte, e, com isso, produzir novas possibilidades de inserção no mercado eleitoral, ainda que ao custo da autonomia do partido.

Não houve concordância com a proposta por parte de algumas lideranças, as quais são chamadas pelo autor de coalizão dominante185, e ocorreu o embate entre as posições pró e contrárias à inovação. Aprovada a orientação pela mudança no V Congresso Federal e, na sequência, sacramentada a saída dos descontentes, configura-se a segunda etapa do processo de mudança institucional, ou seja, a alteração na composição dos grupos dirigentes.

A peculiaridade da situação em apreço é que Rafael Michelini e seus aliados prevaleceram e este manteve o posto, enquanto os derrotados se retiraram da entidade, em uma das modalidades mais tradicionais de cisão partidária. O fato não causa nenhuma surpresa para Panebianco (2005, p. 485), que registra:

185 Ele a define como “aqueles agentes formalmente internos e/ou externos à organização, que controlam as zonas de incerteza mais vitais. O controle sobre esses recursos, por sua vez, faz da coalizão dominante o principal centro de distribuição dos incentivos organizativos no interior do partido” (PANEBIANCO 2005, p. 74). Para o autor, as zonas de incertezas são “todos aqueles fatores que, se não forem controlados, ameaçam ou podem ameaçar a sobrevivência da organização e/ou a estabilidade da sua ordem interna. Os líderes são aqueles que controlam as principais áreas de incerteza, cruciais para a organização, e que podem usar esse recurso nas negociações internas (nos jogos de poder), desequilibrando-os em seu próprio favor” (PANEBIANCO, 2005, p. 45). Dentre as principais zonas de incerteza, ele lista: competência, gestão da relação com o ambiente, comunicações internas, regras formais, financiamento, recrutamento (PANEBIANCO, 2005, p. 66-70).

[...] para haver mudança na composição da coalizão dominante, não é necessário, embora frequentemente isto ocorra, que a mudança seja sancionada por uma substituição do líder mais visível. Muitas vezes, a mudança se deve justamente a uma modificação de alianças, cujo eixo é o líder visível [...].

É o que Harmel e Janda (1994, p. 278-280) sintetizam por meio das seguintes suposições: a coalizão dominante promove mudanças somente quando estima que os benefícios serão maiores do que as perdas, vislumbra que a mudança consolida ou preserva o seu poder e que ela pode resultar em avanço no atendimento aos objetivos da organização. Igualmente, essa mudança pode implicar alteração na composição da coalizão dominante, com a saída voluntária ou o afastamento compulsório de algumas das lideranças que são contrárias à própria mudança ou que são substituídas por novos aliados.

Na sequência, concretiza-se o redefinamento das metas da instituição, a reestruturação organizativa, realizada pela nova composição da coalizão dominante. No caso específico, o primeiro estágio foi a aliança eleitoral com o EP-FA com vistas à disputa de 2004 e o derradeiro, o pedido de incorporação à FA realizado no período pós-eleição, já em 2005.

Por sua vez, os deputados ou membros da coalizão dominante que deixaram o NE ao final de 2001 e que se organizaram iniciamente como um grupo parlamentar independente começaram a organizar uma nova força partidária, capaz de preservar os objetivos de ter um partido autônomo. Para os dissidentes, conforme relato por eles mesmos produzidos:

a este nuevo grupo político [o Novo Espaço Independente] se integraron nuevos adherentes provenientes de diferentes orígenes partidarios que compartieron la necesidad de construir un nuevo partido político. Es así que en la fundación del Partido Independiente participan compañeros provenientes de los dos núcleos ideológicos originarios (socialdemócratas y demócrata cristianos) junto a compañeros provenientes de otros partidos y compañeros que no tenían trayectoria política anterior (PI, 01 jul. 2013a).

Em 11 de novembro 2002, uma assembleia criou o Partido Independente, aprovou sua Declaração de Princípios e seu estatuto. Dois eram os nomes cogitados: o escolhido e Espaço Independente, que era uma espécie de híbrido entre os propósitos que moviam seus proponentes e a lembrança da experiência anterior (NUEVO..., 09 nov. 2002). De qualquer modo, as duas possibilidades exaltam a “independência” como o principal traço identitário.

Além dos três deputados que o compunham e que constituíam a coalizão dominante ou o “centro” da nova legenda, outras figuras conhecidas da política e do meio intelectual uruguaio participaram da criação do PI, caso de Juan Young186, de Hebert Gatto187 e do historiador José Rilla188.

A ata de fundação era acompanhada por mais de mil assinaturas, número superior às exigências legais da época para registro de um partido junto à Corte Eleitoral189. Na Declaração de Princípios, ele se definia como integrado por vertentes de sociais-democratas, democratas-cristãos, liberais igualitaristas, ambientalistas e cidadãos independente (PI, 01 jul. 2013b190). No Estatuto do partido, as fontes citadas são um pouco diferentes (ou são nominadas de modo distinto): socialismo democrático, social-cristianismo, coletividades tradicionais do país e cidadãos independentes (PI, 01 jul. 2013e, art. 2º)191.

Nenhum dos textos que cita as diferentes origens teóricas dos fundadores do PI traz mais informações que permitam identificar os elementos que configuram tais vertentes e o que cada uma aportou ao partido ou porque a ele se vincularam. O que se pode observar é que estas referências genéricas indicam que nele convivem correntes de diferentes origens e com diversas visões de mundo, o que o apresenta como de ampla extensão ideológica – um tema a ser abordado no capítulo 3.

A Corte Eleitoral aprovou a iniciativa da formação de uma nova legenda no dia 20 de dezembro de 2002, ocasião em que o PI se tornou oficialmente um partido. A bancada inicial, herdada do NE, era composta por três deputados (os já citados Mieres, Posada e Falero). O partido estreou nas urnas nas eleições de 2004.

186 Como já foi visto, atuou como dirigente do PDC, participou das negociações do Pacto do Clube Naval, como representante do partido e da FA. Ele acompanhou Mieres na desfiliação do PDC, ocorrida em 1995, bem como se vinculou ao NE em 1996, pelo qual concorreu a Intendente de Montevidéu em 2000. Igualmente, seguiu Mieres na opção pelo PI, partido no qual militou até a sua morte, ocorrida em 2006 (MURIÓ..., 26 dic. 2006).

187 Ver nota 125 deste capítulo.

188 Professor da Udelar. Ele figurou na tese até o momento por meio de sua atividade acadêmica. 189 A norma que regulamentava o registro oficial de partidos era a Lei 9.831, de 1939, que exigia: a) apresentação da ata original (ou cópia autenticada do ato de fundação), com o nome completo dos fundadores e a indicação da série e do número de inscrição no Registro Cívico; b) programa de princípios que o partido propõe desenvolver; c) Carta Orgânica; d) assinatura dos aderentes, que não podem ser menos do que 500, com indicação também da série e do número de sua inscrição no Registro Cívico; e) identificação do local principal em que funciona e que constitua o seu domicílio legal; f) lista com o nome das autoridades departamentais, indicando os locais onde atua no território nacional (URUGUAY. Ley no 9.831, art. 11). Ressalva-se que, em 2009, foi aprovada uma nova lei (URUGUAY. Ley no 18.485), que fixa outros requisitos.

190 A Declaração de Princípios é de 2002, mas não figura com nenhuma informação sobre data. A versão disponível no site do partido foi postada em 2013, por isso essa identificação.

191 As correntes enunciadas são as mesmas constantes no Estatuto do partido NE, conforme citado anteriormente na tese, a partir de Barahona (2001, p. 158).

Ele adotou o número 909, uma referência à Lista 99, nome pelo qual o PGP era popularmente conhecido desde os seus primórdios, e adotou as cores violeta e amarelo (PI, 01 jul. 2013a), como mostra a Figura 1, reproduzida na sequência. A predominância da violeta pode ser uma referência sutil ao PDC, legenda que adotou, em 1971, uma identificação predominantemente laranja, no qual há um círculo branco no meio. A moldura desse círculo e a flecha que existe dentro dele são da cor violeta ou azul escuro (ILHA LÓPEZ, 2014, p. 27), como pode ser observado na Figura 2192. Há versões do círculo sem a moldura, assim como outras mais recentes que incorporam a sigla PDC à imagem.

Figura 1 – Logotipo do Partido Independente

Fonte: PI (2017)

Figura 2 – Logotipo do PDC

Fonte: PDC (2017)

A Figura 3, apresentada na próxima página, sintetiza o processo histórico de acordos e de rupturas partidárias que resultou na criação do PI e que foi narrado até aqui.

192 A flecha é um símbolo utilizado pelo PDC desde o seu surgimento, também adotado pela democracia-cristã em vários outros países.

Figura 3 – Síntese do processo histórico de formação do PI*

Pré-1971 1971-1988 1989 1994 - 1999 2003 – hoje

Fonte: SOUTO (2017, p. 25)

* os partidos/coligações figuram no período em que tiveram relação com o PI, embora, eventualmente, alguns tenham uma atuação política anterior e/ou posterior. Lista 99 (PGP) PDC Outros (PCU – PS) FA FA FA FA Novo Espaço PGP PDC Novo Espaço PI P. Colorado