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Capítulo 1 Raízes político-institucionais do PI (1962-2002)

1.5.2 Opção do PDC

O outro parceiro principal no NE, o PDC, não acompanhou a decisão do PGP de aliar-se ao PC. Diante da inviabilidade da continuidade da coligação sem o grupo de Batalla, ele preferiu se vincular eleitoralmente à FA149.

Mieres, um dos principais artífices da criação do PI, então no PDC, afirma que foi voto vencido na deliberação, pois era favorável a que a legenda participasse da criação do partido NE. Ele se submeteu à vontade da maioria, inclusive tendo concorrido a deputado. Mas a inconformidade permaneceu: passada a eleição, preferiu deixar o PDC e ficar sem filiação (MIERES, 10 maio 2017 [informação verbal]; 2017)150.

Contudo, o PDC não aderiu à FA diretamente, seja via coligação entre as duas entidades, seja por meio da reincorporação. Ele formou o chamado Encontro Progressista (EP), uma aliança que também contou com: Corrente 78151, liderada

149 O outro componente do NE, a União Cívica, tomou um terceiro caminho: voltou a concorrer de modo autônomo, tendo apresentado candidatura a Presidente. Ela o fez também nos pleitos de 1999 e de 2004, sempre com votação ínfima (no máximo, 0,2% dos votos válidos). Nas eleições de 2009 e de 2014 passou a apoiar os blancos. Em todas essas oportunidades, não alcançou representação parlamentar.

150 A saída do PDC não foi individual. Na mesma ocasião, vários outros filiados deixaram o partido, como Juan Young, que havia o presidido e participara das negociações do Clube Naval.

151 Também chamada de Corrente Progressista ou Encontro dos Blancos Progressistas, cf. Yaffé (2005a, p. 158).

por Rodolfo Nin Novoa (1948-)152, que deixara o PN; e Daniel Díaz Maynard (1933- 2007), deputado dissidente do PGP153.

Yaffé (2004, p. 179, nota 5) cita mais um grupo formador do EP, o Batllismo Progressista, reputado por ele como um muito pouco conhecido agrupamento, eleitoralmente irrelevante, formado por cidadãos provenientes do PC. Conforme Fernández (2004, p. 124), ele surgiu de colorados que atuaram ao lado da esquerda no referendo contrário às privatizações durante o governo Lacalle, e, ao não poderem utilizar a expressão batllismo, apresentam-se eleitoralmente como Baluarte Progressista.

Também houve a participação da Confluência Frente-amplista (Confa), composta por dissidentes do PCU. Corresponde a parte do grupo que Garcé, De Giorgi, Lanza (2012) chamaram de “renovadores”. Eles foram superados na disputa interna pelos “históricos”, que não queriam modificações na orientação ideológica após a queda do socialismo real. Assim, deixaram o PCU e formaram este grupo político, nos quais se destacam: Marcos Carámbula (1947-), que se tornaria Intendente de Canelones (2005-2015) e atualmente é senador; Victor Rossi (1943-), deputado, diretor de transporte e trânsito da intendência de Montevidéu e Ministro de Transportes, ambos em governos de Vázquez.

Como um grupo novo, a Confa não pertencia oficialmente à FA e, por conta de sua origem, teve várias tentativas de ingresso vetadas pelo PCU (sem a concordância dele, não era possível alcançar os votos necessários para tal: 90% do Plenário Nacional ou 80% dos presentes). Por esta razão, atuou inicialmente por meio do EP, embora, de fato, não compusesse um grupo externo à FA e que a ela tenha aderido, como o eram Corrente 78 e PDC. O ingresso formal da Confa só aconteceu em 2002 (FA FRANQUEÓ..., 28 abr. 2002). A demarcar a diferença em relação a Corrente 78 e PDC, estes só aderiram à FA em 2005.

Foi o EP quem se coligou com a FA e, juntos, eles apresentaram a chapa Tabaré Vázquez (Presidente) e Novoa (Vice). Como explica Bielous (1996, p. 225), do ponto de vista da legislação uruguaia, o EP não existia porque não era um lema e, por isso, não poderia de direito, apenas de fato, coligar-se com a FA. A alternativa

152 Intendente de Cerro Largo, eleito em 1984 e em 1989. Rompeu com os blancos em 1993. Concorreu a Vice-presidente na chapa de Vázquez em 1994, 1999 e 2004, quando foi eleito. Depois de deixar o cargo, tornou-se senador em 2009 e, desde 2015, é Ministro das Relações Exteriores. 153 Maiztegui Casas (2010, p. 285) chama o agrupamento liderado por Díaz Maynard de Opção Socialista.

foi apresentar-se às eleições como parte da Frente Ampla, que passou a ser identificada como EP-FA. Desse modo, as forças listadas acima concorreram nas eleições legislativas como Espaço Renovador, sublema da FA, e não colheram bons resultados: conquistaram apenas uma vaga, que coube a Díaz Maynard.

Gráfico 5 – Representação parlamentar obtida pelo PDC (Uruguai, 1942-1971)

Fonte: BOTTINELLI; GIMENEZ; MARIUS (2014)

* Como lema próprio; ** Como parte da FA; *** Como parte do NE; **** Como parte do EP-FA.

O fraco desempenho eleitoral alcançado pelo PDC em 1994 não era propriamente uma novidade. Como mostra o Gráfico 5, ele já havia ocorrido em 1984 e em 1989, ocasiões em que elegera apenas um deputado. O cenário de 1994 era tão somente mais grave, ou seja, o PDC estaria fora do parlamento, após ter formado bancada desde o seu surgimento em 1962 (ou muito antes, desde 1916, quando era União Cívica). E ele contrasta com a bancada obtida no período anterior ao Golpe: em 1971, conquistara oito cadeiras (sete de deputados e uma de senador), a sua mais ampla representação; e em 1966 e em 1962, três deputados e, apenas na eleição de estreia, mais uma de senador.

Sobre o desempenho do PDC em 1984, ao identificar uma tendência que se consolidou nos pleitos subsequentes, Rial (1986, p. 54-55) aponta:

El PDC stricto sensu sufrió el notorio deterioro que supuso el cambio de posiciones internacionales de la DC [Democracia Cristã], su declinación en América Latina, el hecho de ser uno de los escasos lugares donde

1 0 1 0 0 0 3 3 7 1 1 0 1962* 1966* 1971** 1984** 1989*** 1994**** Senado Câmara

mantienen una alianza con fuerzas de izquierda (otro en Ecuador) y ello tras vacilaciones (salieron del Frente, reingresaron en febrero de 1984 a costa de una escisión interna que supuso la renuncia de todos los viejos dirigentes encabezados por Juan Pablo Terra).

A leitura de Rodolfo González (1990, p. 43), realizada a partir dos resultados de 1989, reputa o recuo do PDC à perda de identidade decorrente da aproximação com as correntes marxistas e da absorção de muitos dos princípios que elas defendiam. Portanto, a origem residiria na formação da FA, em 1971, e na opção pós-ditadura de retornar ao seio da FA.

Ele ilustra esses danos ao comparar os resultados obtidos em 1984 por PDC e por União Cívica, que ele chama eufemisticamente de “setor mais moderado do espaço social cristão”: enquanto o primeiro alcançou 42 mil votos e elegeu um deputado, o segundo atingiu 45 mil e dois deputados. Esse desempenho era desproporcional àquele apresentado nos pleitos de 1966 e de 1971, quando a União Cívica – sob outra denominação – apresentou-se como opção mais conservadora ao eleitorado católico insatisfeito com o PDC.

Rodolfo González (1990, p. 41) ainda especula que esse desempenho se deveu a dois fatores: o papel que a União Cívica desempenhou nas negociações para saída da ditadura e o fato de ter se tornado uma opção para eleitores blancos que decidiram não votar no seu lema.