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Capítulo 1 Raízes político-institucionais do PI (1962-2002)

1.3 Frente Ampla

1.3.3 Debate sobre as duas esquerdas no período pós-ditadura

Passada essa eleição transicional, a FA ingressou em um vigoroso debate interno – desenvolvido publicamente entre 1985 e 1989, quando ocorreu o rompimento, mas que prosseguiu até 1994 –, e que foi identificado por Garcé e Yaffé (2014) como a “esquerda em transição”. Nele afloraram algumas questões que acompanhavam a FA desde os primórdios, mas que somente em um contexto de retomada da normalidade institucional tiveram a oportunidade de florescer com plena intensidade.

As “dúvidas” narradas anteriormente de setores do PGP e do PDC quanto a permanecer/retornar à FA eram um sintoma dessa polêmica. O cenário internacional

117 Para García (2013, p. 130), o êxito do PGP esteve ligado ao prestígio popular que o líder Batalla havia alcançado na época, fruto da atuação como advogado de presos políticos e opositor à ditadura.

também ajudou a fomentar a discussão, especialmente por causa das mudanças em curso no bloco soviético e que redundariam no colapso do socialismo real.

Para os objetivos da pesquisa, trata-se de um debate de vital importância, pois as questões em disputa sintetizam os impasses que subsidiaram a formação do PI e que continuaram ao longo da trajetória dele como partido autônomo, embora o partido tenha sido criado praticamente 15 anos após o auge da discussão.

A polêmica envolveu, de um lado, PGP e PDC, e, de outro, as correntes marxistas, tendo girado em torno da existência de “duas esquerdas” ou da reivindicação de uma “esquerda renovada” frente à “tradicional”, que era contrária à atualização ideológica e programática da FA.

Essa discussão abrangeu várias dimensões. A primeira se refere a questões programáticas, ou seja, ao debate sobre as políticas a serem propostas e/ou desenvolvidas pela FA. Como a parte da discussão abordada nesta subseção ocorreu antes da eleição de 1989, período em que a FA não exercia nenhum posto de governo, ela se deu mais no campo teórico sobre como governar quando estivesse no comanda do que no prático. Ou, alternativamente, englobava tão somente as ações a serem desenvolvidas na condição de oposição, girando em torno do apoio ou não a determinadas iniciativas governamentais e aos tipos de crítica e/ou de proposições que deveriam ser apresentadas. Na síntese de Argones e Mieres (1989, p. 45):

unos expresan que el nivel de acuerdos programáticos en el Frente es genérico e insuficiente, y que a la hora de concretar surgen diferencias sustantivas en cuanto a las medidas a proponer en las diversas áreas del quehacer nacional. Por su parte, los otros entienden que no es necesario profundizar o alterar las bases programáticas ya acordadas, y que en caso de hacerlo no existirán diferencias.

Apesar disso, o debate sobre as políticas públicas não era vão. Em 1989, a FA conquistou a intendência de Montevidéu, o que trouxe urgência e concretude a essas questões. Contudo, quando isto ocorreu, as rupturas de PGP e de PDC já estavam consagradas e esta fase posterior do debate se deu exclusivamente entre os setores que permaneceram na entidade.

Um segundo campo de polêmica abarcava a definição da natureza da FA e desdobrava-se no modo como ela deveria se organizar, os mecanismos a serem adotados para a tomada de decisão e o ingresso de novos membros. Logo, abrangia

discutir a matriz dual da FA, pois esta era, ao mesmo tempo, uma coalizão de partidos, formada com objetivos eleitorais, e um movimento de massas, que forjou uma rede peculiar de organizações de base, as quais operavam como núcleos de integração e de militância.

O caráter de movimento fazia referência à convocação ativa à participação cidadã e militante de base numa nova força política com projeção nacional. Ao mesmo tempo, denominou-se coalizão política como resultado de um acordo de partidos e de organizações políticas com tradições partidárias diversas que queriam se preservar (SERNA, 2004, p. 181).

Consequentemente, havia duas formas de filiação: por intermédio dos partidos que a compunham, já que todos os seus filiados estavam automaticamente a ela vinculados; ou de caráter individual, diretamente na FA, promovida por membros dos comitês de base. Assim, era possível filiar-se sem estar vinculado formalmente a nenhum dos partidos-membros.

Da mesma maneira, desde a reforma estatutária de 1986, as instâncias diretivas (Plenária Nacional e Mesa Política) eram formadas tanto por representantes dos partidos que a compunham (70% dos cargos) quanto por representantes das bases frente-amplistas (30%), não necessariamente vinculados a alguma das legendas ou, então, claramente independentes em relação a elas118. Estes seguiriam o que pondera Panebianco (2005, p. 59):

[...] mesmo nos partidos divididos em facções, existem amplos setores de ativismo de base que não participam dos jogos faccionistas. O crente, de fato, identifica-se, por definição, com o partido (e não com um de seus setores), em relação ao qual mantém uma elevada lealdade [...]119.

Esta dicotomia gerava uma tensão, decorrente do modus operandi de forças como PGP e PDC, que eram estruturas tradicionais e com pouca base material e humana de apoio120, e as correntes marxistas, calcada na militância. Como

118 Em 1993, nova reforma estatutária tornou este quadro ainda mais agudo, pois dividiu igualmente os cargos nos órgãos diretivos entre essas duas formas de representação.

119 “Crente” é a denominação que o autor adota para indicar a categoria analítica dos militantes que dependem, predominantemente, de incentivos coletivos de identidade na sua relação com o partido. Ela se distingue do “carreirista”, aquele filiado cuja participação depende, predominantemente, de incentivos seletivos, materiais e/ou de status (PANEBIANCO, 2005, p. 53).

120 Essa carência saltava aos olhos. Um jornalista brasileiro que fez uma série de reportagens sobre a eleição de 1984 observou que a previsão de sucesso eleitoral de Batalla – plenamente confirmada – é “[...] tudo em consequência do prestígio pessoal. Seu grupo não possui estrutura material, tanto, que nem conseguiu realizar um comício final, tendo optado por uma espécie de festival de música [...]” (UCHA, 1984, p. 55).

resultado, aqueles setores mais militantes tinham condições de estarem sobrerrepresentadas nos órgãos decisórios e, consequentemente, tinham mais condições de influenciar os rumos da FA, já que ocupavam espaço por serem partidos formadores e, via seus filiados, por atuarem em núcleos de base.

Igualmente, esta representação das frações, calcada no público interno (exclusiva a filiados), não necessariamente correspondia ao espaço obtido pelos setores junto ao público externo (eleitorado), o que ampliava a distorção e fazia com que o peso decisório de uma fração no interior do partido pudesse ser bastante desproporcional em comparação ao que ela ocupava no legislativo. Era o que ocorria no período, pois a principal fração da FA no parlamento era o PGP, que não ocupava o espaço correspondente nas instâncias internas.

Com vistas a neutralizar tal situação, o PGP defendia que a FA era uma coalizão, e não uma estrutura dual, composta por partidos e por órgãos de base. Nessa lógica, era necessário garantir poder de veto às partes constituintes (partidos) em relação às decisões coletivas (e que davam capacidade decisória a essas bases). Ao mesmo tempo, tornava-se imprescindível dar autonomia a tais partidos- membros para acatar as decisões que achassem convenientes e de elaborar estratégias fora da FA, com vistas a evitar que a própria aliança se tornasse um poder comum, central e fonte de decisões que eles teriam de obedecer compulsoriamente.

A visão do PDC era semelhante, como ele manifesta no “Documento de Shangrilá”121, datado de nove de abril de 1988:

Debe reafirmarse el carácter de coalición [da FA] privilegiando las instancias de negociación política al más alto nivel, especialmente entre los grupos de mayor gravitación, sin demasiados formalismos y apuntando a las discusiones esenciales. Las otras instancias colectivas a nivel de dirigencia intermedia y de base, deben operar, como corresponde a una coalición como ámbito de coordinación, de encuentro e intercambio y de acción proselitista hacia afuera, evitando los enfrentamientos y los intentos de copamiento que una ficticia delegación de facultades de decisión inevitablemente ha producido. La participación política sustancial debe operar – como siempre ha ocurrido realmente – en el ámbito de los partidos y según sus particulares modalidades (PDC, 1989a, p. 9).

Hugo Cores, dirigente do PVP, fundador da CNT e deputado eleito em 1989, sintetizou o modo como os outros setores da FA viam a questão:

121 O nome decorre do balneário, localizado no departamento de Canelones, onde a Mesa Política da FA realizou uma reunião extraordinária nesta data.

estaban en juego dos formas de hacer política una que minimiza el componente militante y juega sólo con la relación entre los parlamentarios, la televisión y el público espectador, la otra que busca utilizar los espacios en los medios de difusión para estimular la participación de la gente en las cuestiones políticas; que apuesta fundamentalmente a la autorganización y la lucha de las grandes mayorías y no se esclaviza ante las siempre manipulables encuestas de opinión (CORES apud HARNECKER, 1991, t. II, p. 61).

Além de questionar a estrutura da FA pensada como um movimento, tentar impedir a sobrevalorização de alguns setores, garantir a sua área de influência na coalizão e manter a sua autonomia interna, a demanda punha em destaque outro aspecto do problema. Trata-se da transformação simbólica e institucional da FA em um partido, a consolidação de uma lógica e de um ator político frente-amplista antes (ou independentemente) de estar filiado a qualquer das suas partes constituintes.

Como aponta relatório escrito por Líber Seregni ao final de 1982 (SEREGNI, 1982 apud BAYLEY, 2007, p. 198), quando ainda estava na prisão: as circunstâncias da ditadura civil-militar e da ilegalização da organização também contribuíram para este cenário. Em razão delas, a maior parte dos grupos formadores da FA deixou de atuar, com exceção de PCU, PS e do PDC (este, fora do âmbito da FA), o que gerou uma massa importante de aderentes que se definiam simplesmente como frente-amplistas.

A questão envolvia a possibilidade da existência de um militante tão somente frente-amplista, mas também dizia respeito ao processo que a literatura uruguaia da área chama de tradicionalização122. Foi em 1989, por exemplo, que surgiu a Vertente Artiguista (VA)123, a primeira fração gerada pela própria FA, e que não era cisão dos partidos ou dos grupos que a compunham. Em 1994, houve o surgimento de outro setor com as mesmas características, Assembleia Uruguai (AU), por iniciativa de Danilo Astori (1940-)124. Logo, ao lado de PCU e PS, entre outros,

122 O termo também é utilizado para indicar a tendência de o voto na FA passar dos pais para os filhos, a exemplo do que ocorria com os partidos tradicionais. E há um terceiro significado, analisado por Queirolo (1999), que indica o processo de aproximação programática e de estilo político com blancos e colorados. Esse terceiro significado Yaffé (2005a) prefere denominar “moderação”, com vistas a distinguir os dois fenômenos.

123 É um desdobramento da IDI, então formado por GAU, UP e PVP, correspondente aos setores mais esquerdistas da FA, mas apenas GAU participou da formação da VA. Contou, ainda, com uma cisão do PDC, chamada Artiguismo e Unidade, e a adesão da Corrente Popular, dissidência do PN, originalmente ligada ao Movimento pela Pátria, de Wilson Ferreira (YAFFÉ, 2005a, p. 157; FERNÁNDEZ, 2016, p. 208). Um de seus quadros mais destacados é Mariano Arana (1933-), que foi Intendente de Montevidéu por dois períodos (entre 1995 e 2004), sucedendo a Tabaré Vázquez. 124 Principal oponente de Vázquez na disputa pela liderança da FA e pela candidatura presidencial de 1994 e de 1999. Nos anos 1980 não estava vinculado a qualquer fração, era o nome preferido por

surgiram grupos internos que não mais correspondiam a organizações que em algum momento tiveram “vida” e “história” fora da FA. Ou, como afirma Mieres (1996, p. 45), a FA deixou de ser uma força política integrada por grupos ou por partidos pré-existentes, e se tornou, ela própria, um partido com vitalidade suficiente para produzir grupos e movimentos internos, de natureza similar a das frações existentes nos partidos tradicionais.

Uma declaração de Astori sobre as razões de criar um setor após ter atuado tanto tempo como frente-amplista, apresentada por Campodónico (2004, p. 53) indica o paradoxo:

[...] llegó un momento en el cual aquellos que estábamos intentando aportar un perfil independiente tuvimos la necesidad de organizarnos para pesar más adentro del Frente Amplio. Habíamos llegado a la convicción de que Asamblea Uruguay era necesaria porque la figura del frenteamplista a secas estaba destinada a no tener ninguna influencia ni en la marcha del Frente Amplio ni en la izquierda uruguaya.

No dizer de Lanzaro (2001b, p. 37; 2003, p. 59; 2004, p. 78-79), ao longo desse período – que, segundo Yaffé (2005a), processou-se até 1994 e, portanto, se encontrava em pleno andamento em 1989 –, a FA deixou de ser uma coalizão de partidos para se tornar um partido de coalizão, o que significa que os setores são frações de um todo, o qual é maior do que a soma das partes e que se constitui como uma estrutura unificada, com uma identidade abrangente e com uma tradição própria.

Para Yaffé (2003, p. 163; 2005a, p. 119), é preciso ponderar as questões simbólicas envolvidas nesse processo. Isto porque, para seus membros, a FA se tornou um valor em si mesmo e passou a constituir-se em uma nova identidade política, fortalecendo o sentimento de pertencimento. Tal percepção foi largamente utilizada pela própria instituição como recurso para fortalecer sua coesão, distinguir- se dos demais partidos e promover ação política.

Seregni para sucedê-lo e aparecia com o principal defensor dos princípios originais da FA, contrapondo-se aos que defendiam a “renovação”. Concorreu a Vice-presidente em 1989 na chapa de Seregni e se elegeu senador no mesmo ano, tendo figurado como primeiro nome em todas as listas, fato inédito e nunca mais repetido na história da FA. Na segunda metade dos anos 1990 passou por um giro ideológico e se tornou moderado, defensor de políticas pró-mercado e do diálogo com os partidos tradicionais. Retornou ao Senado em 1999. Após a chegada ao poder em 2005, tornou-se Ministro da Economia e, em seguida, Vice-presidente de José Mujica (1935-). Atualmente, é Ministro da Economia no segundo governo Vázquez. Mais detalhes, ver: Campodónico (2004); Tagliaferro (2009).

Material para construir essa tradição havia em profusão. A trajetória da FA contemplava um conjunto de experiências e de acontecimentos, de personalidades, lugares e símbolos que forneciam os recursos necessários. A repressão sofrida durante a ditadura, com sequestro, tortura, morte e exílio de muitos de seus membros, e a resistência a tais violências, ajudaram a produzir os episódios marcantes e os mártires imprescindíveis para consolidar esta épica própria, a chamada mística frente-amplista (BEISSO; CASTAGNOLA, 1987, p. 16). Yaffé (2003) destaca que a FA construiu a sua tradição, o que implica lançar um olhar seletivo sobre o seu passado, e que esta também é reelaborada e ressignificada à luz dos acontecimentos contemporâneos.

A análise de Yaffé (2003) ressalva que esta identidade também foi construída por meio de uma releitura do passado nacional, subsidiada por trabalhos que renovaram a historiografia – muitos deles realizados por pesquisadores identificados com a esquerda. Ela fez da FA herdeira das “melhores tradições” do país e continuadora da revolução artiguista e da reforma batllista, ambas consideradas projetos nacionais frustrados ou bloqueados e que restaram inconclusos.

Um dos primeiros e principais incentivadores dessa estratégia foi Seregni, que a apresentou já no período inicial da FA, entre 1971 e 1973, reforçando-a no período pós-ditadura. A bandeira da FA é muito semelhante à artiguista que foi hasteada pela primeira vez em Montevidéu por ordem do militar Otorgués (e que, por isso, é conhecida como “bandeira de Otorgués”). E traz como logotipo as letras F e A, simulando uma bandeira colocada sobre um cerro. Os principais eventos políticos do partido na campanha de 1971 coincidiam intencionalmente com datas representativas do período artiguista, como o comício inaugural, que foi realizado em 26 de março, uma referência à data em que, em 1815, ocorreu o hasteamento narrado acima.

Os vínculos batllistas de Seregni foram comentados anteriormente. Como resultado,

el Frente Amplio como organización política ha generado desde su constitución, un conjunto sólido de símbolos que fueran pautando su expresión pública. Es posible afirmar que ha generado su propia tradición, por lo que se puede hablar en el Uruguay de hoy del surgimiento de una tercera tradición que se suma a las de los partidos históricos y que se expresa con similar fuerza en la población (ARGONES; MIERES, 1989, p. 47).

Para os que viam a FA como uma coalizão, este tipo de fortalecimento institucional e simbólico era indesejável, pois implicava o enfraquecimento dos partidos que a constituíam. Um dos líderes do PDC, Mario Cayota, em meio às disputas que se está a apresentar, defendeu a ideia da autonomia das partes constituintes e o dano que a “FA partido” causava:

La heterogeneidad ideológica de sus componentes sólo podía sobrevivir sin enfrentamientos y rupturas a través de una expresión plural con dilatados campos de disenso, el modelo de protopartido que al Frente se le impuso, contrariando el sentir de muchos, con una excesiva rigidez, acabó por ponerlo en situación de fractura (CAYOTA, 1989b, p. 20) [grifo em itálico no original].

A terceira ordem de questões discutia a relação efetiva que a FA desenvolvia com a “democracia formal” e, em consequência, abrangia as estratégias a serem mobilizadas para alcançar o poder. O PGP considerava que o modelo original da FA havia atingido um teto eleitoral e que, para vencer nas urnas, era necessário avançar em direção ao centro, o que implicava modificar o programa, moderar o conjunto de propostas e de reivindicações, aprofundar o compromisso com a “democracia formal” e apostar em reformas graduais no interior da economia capitalista. Na mesma medida, apontava que era preciso ampliar o leque de alianças, alcançar mais adesões e constituir-se como uma esquerda renovada, expressão muito em voga naquele período (SERNA, 2004, p. 186-187).

Seguindo esta perspectiva, PGP e PDC já haviam iniciado uma série de negociações com setores blancos, com o objetivo de formar um novo espaço progressista, mais amplo do que o da FA, capaz de vencer o pleito de 1989 (CRESPO, 2002, p. 132). Na informação de Blixen (1997, p. 163-164), as negociações não estavam sendo entabuladas às vésperas do pleito de 1989, elas eram mais antigas, remontavam a 1986, e envolveriam especialmente um acordo com o setor de Wilson Ferreira, tendo sido interrompidas, entre outros fatores, pela morte do líder blanco, ocorrida em março de 1988.

A partir desses questionamentos, o PGP apresentou à Mesa Política da FA, em julho de 1988, um conjunto de propostas denominado “Pautas de reformulação da FA” (YAFFÉ, 2005a, p. 164). Estellano, Latorre e Elizalde (1989, p. 71-72) as resumem:

1 la necesidad de reformulación del Frente Amplio para actualizarlo a las nuevas condiciones sociales y políticas. 2. Esa reformulación pasaba por sustituir el actual programa por una decena de puntos o plataforma inmediata y viable de medidas de gobierno. 3. Impulso de una reforma constitucional que ofrezca libertades electorales a miembros del FA, para acordar alianzas con otros grupos no frentistas, eventualmente de los partidos tradicionales. A esto se le denomina libertad de acción. 4. Convertir al Frente Amplio en una alianza electoral de dirigentes partidarios. Para este cometido se propuso convertir los comités de base en núcleos de personas cuyo objetivo será transmitir las directivas que vienen de la coalición. Se eliminaría así toda la injerencia de los mismos en la conducción de la alianza, como establece la actual organización.

O posicionamento do PGP foi contestado especialmente pelo PCU, que indicava que a FA não deveria amenizar seu programa. A visão dos comunistas era de que a estratégia deveria ser inversa: cada vez mais apostar na tendência de o eleitorado pender para a esquerda, razão pela qual era vital que ele encontrasse esta opção claramente delimitada. Da mesma forma, a política de alianças não deveria contemplar propostas centristas, pois a FA era um instrumento da revolução, e não simplesmente um projeto para alcançar o poder na ordem democrática burguesa (YAFFÉ, 2005a, p. 163).

É o que se pode ler em Estellano, Latorre e Elizalde (1989, p. 75-76) e segue duas perspectivas. A primeira, considerar que esses possíveis aliados não se propunham a promover mudanças substanciais e nem transformações sociais profundas, o que a tornaria um mero acordo para chegar ao governo, mas não para alcançar o poder. A segunda afirma que a FA conseguiria um respaldo muito maior se contasse com a mobilização de outros setores, como a classe trabalhadora organizada nos sindicatos.

Há depoimento de Astori em que ele narra como essa visão (não