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CAPÍTULO 3 – MODELO E ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.1 Introdução

3.2.6 Critérios de Qualidade do Estudo de Caso

Em qualquer tipo de investigação científica é necessário definir critérios para avaliar a sua credibilidade ou que possam aferir a qualidade das suas conclusões.

De acordo com Yin (2009) a credibilidade do estudo de caso pode ser avaliada através de quatro testes relativos à validade e à fiabilidade:

1. Validade dos Dados: está relacionada com a definição correta dos procedimentos

operacionais utilizados para medir conceitos, ideias e relações para evitar análises subjetivas na recolha de dados (Goetz e LeCompte, 1984; Major e Vieira, 2009; Merriam, 1988).

O teste passa por utilizar múltiplas fontes de evidência (triangulação) para uma mesma variável em análise (Yin, 2009), o estabelecimento de uma cadeia de evidência e a revisão do estudo pelos principais informantes, na fase de recolha de informação (Major e Vieira, 2009; Santos, 2010).

2. Validade Interna: aplica-se a casos explanatórios40, como o presente, e está relacionada com o rigor dos resultados obtidos e resulta da adoção de estratégias para eliminar a ambiguidade e a contradição. Segundo Major e Vieira (2009) “estabelece o relacionamento causal que explica que determinadas condições (causas) levam a outras situações (efeitos) ”.

3. Validade Externa: está relacionada com a possibilidade de generalização analítica das

conclusões e dos resultados obtidas do caso (Cepeda e Martin, 2005; Major e Vieira, 2009; Voss, Tsikriktsis e Frohlich, 2002). A validade externa também consiste na definição do domínio para o qual os resultados podem ser generalizados (Major e Vieira, 2009).

O teste passa por avaliar a coerência dos resultados do estudo com os resultados de outras investigações semelhantes.

40 Os estudos explanatórios procuram informação que possibilite o estabelecimento de relações causa-efeito, ou

seja, procuram a causa que melhor explica o fenómeno estudado e todas as suas relações causais (Major e Vieira, 2009).

4. Fiabilidade: tem a ver com a replicabilidade do processo de recolha e análise de dados,

ou seja, assegura iguais resultados e conclusões se os mesmos procedimentos – como procedimentos de recolha de dados - forem repetidos posteriormente (Cepeda e Martin, 2005; Voss, Tsikriktsis e Frohlich, 2002). Para ser conseguida, Yin (2009) recomenda documentar todos os procedimentos realizados ao longo do estudo.

Seguidamente são desenvolvidos os quatro testes enunciados anteriormente para aferir a credibilidade do estudo de caso objeto do presente trabalho de investigação.

(1) Validade dos Dados

O investigador procurou garantir a validade dos dados adoptando dois princípios da recolha de dados, recomendados por Yin (2009): uso de múltiplas fontes de informação e estabelecimento de uma cadeia de evidências.

Relativamente ao primeiro princípio - recurso a múltiplas fontes de informação - vários investigadores têm referenciado a triangulação como uma das formas de promover a validade dos dados (Mason, 2002; Miles e Huberman, 1994; Ryan et al., 2002; Silverman, 2005; Yin, 2009). De facto, os estudos de caso geram uma grande quantidade e diversidade de dados (Yin, 2009) resultantes de múltiplas fontes de informação e através de vários métodos de recolha de dados (entrevistas, documentação, observação). Por isso, o investigador procedeu à triangulação dos dados obtidos junto das várias fontes de informação, por exemplo, confrontado as respostas obtidas de diferentes entrevistados a questões equivalentes.

Quanto ao segundo princípio – estabelecimento de uma cadeia de evidências -, o investigador procurou organizar a cadeia de evidências segundo a recomendação de Yin (2009): recorrendo a citações de evidências recolhidas nas entrevistas; (2) garantindo a organização da base de dados, a clara identificação das referidas citações e o contexto em que foram recolhidos os dados; (3) assegurando a consistência entre os dados e os respectivos procedimentos de recolha e a estratégia (protocolo) adotada no estudo de caso; (4) e por fim, garantindo que a estratégia adotada para o estudo de caso se relaciona, de forma clara, com as questões iniciais do estudo.

Como se referiu anteriormente, nas situações em que o investigador teve dúvidas a propósito da interpretação da evidência recolhida ou da sua credibilidade, contactou os entrevistados para as validar e obter feedback sobre as interpretações formuladas, ou recorreu a outros especialistas da organização estudada.

De forma também a garantir a qualidade e credibilidade da evidência recolhida a mesma foi baseada em elementos oficiais, públicos, concretos e reais e em fontes de informação fidedignas.

A validade foi ainda testada através da utilização de um modelo conceptual (RG3) que delimitou as fronteiras da investigação e estabeleceu a informação relevante a recolher.

(2) Validade Interna

O teste da validade interna (das conclusões a que conduz) refere-se à questão da legitimidade para se inferir a partir dos dados ou fazer deduções. Segundo Yin (2009), a análise teórica deve suportar-se na utilização de padrões para adequação ao modelo teórico. O investigador seguiu esta estratégia através do uso de uma compilação metodológica de práticas internacionalmente comprovadas e aceites usada para a confrontação dos factos que permitiu julgar de forma independente e validar os resultados obtidos.

(3) Validade Externa

A validade externa refere-se à capacidade do estudo de caso proporcionar generalizações analíticas (e não estatísticas) dos resultados face à teoria existente ou ao desenvolvimento de teorias novas. Consiste no estabelecimento do domínio para o qual os resultados do estudo podem ser generalizados e testa a coerência dos resultados do caso com os resultados de outras investigações semelhantes. O investigador testou a coerência dos resultados deste estudo comparando os resultados obtidos à luz da teoria existente.

(4) Fiabilidade

Por fim, a fiabilidade do estudo de caso, ou a confiança nos processos de recolha e análise dos dados, consiste em demonstrar que os procedimentos de recolha de informação realizada pelo autor do estudo podem ser repetidos posteriormente por outro investigador obtendo-se, pelo menos parcialmente, iguais resultados e conclusões (Cepeda e Martin, 2005; Major e Vieira, 2009).

O investigador procurou garantir a fiabilidade do estudo de caso, adoptando os dois princípios recomendados por Yin (2009): (1) criação de uma base de dados para o estudo de caso; e (2) estabelecimento de uma cadeia de evidências.

Relativamente ao primeiro princípio – criação de uma base de dados - os dados deste estudo de caso foram arquivados e catalogados do seguinte modo: (1) as entrevistas, que foram respondidas por escrito, foram transcritas para que mais tarde servisse de base à elaboração do relatório do estudo de caso; (2) foram registadas notas adicionais às entrevistas (seguindo as recomendações de Yin, 2009 e Scapens, 2004); (3) foram escritas notas a partir das observações diretas e análise dos documentos recolhidos; (4) os documentos recolhidos e respectivas notas foram catalogados numa lista.

Quanto ao segundo princípio – estabelecimento de uma cadeia de evidências - a cadeia de evidências sugerida por Yin (2009) foi organizada e clarificada no relatório do estudo de caso nos termos anteriormente formulados para o primeiro teste de avaliação da credibilidade do estudo de caso – Validade dos Dados-.

Em síntese, neste estudo de caso a validade e a fidedignidade foram asseguradas através do recurso a múltiplas fontes de evidência, ao desenvolvimento de um modelo conceptual (RG3) que delimitou o domínio da investigação e definiu a informação relevante a obter, através da revisão das conclusões pelos principais inquiridos, pelo uso da teoria e pelo desenvolvimento de uma base de dados.

Por fim, este trabalho utiliza o estudo de caso para explanação (Yin, 2009) testando a teoria da combinação das melhores práticas internacionais de análise e avaliação de projetos (ROII; GRP; GCBAIP; GB, 2003) aplicadas a um estudo de caso de um projeto de investimento inserido no sector dos resíduos urbanos. Porém, pode, também, dizer-se, segundo Carvalho (2011), Dul e Hak (2008), e Mota e Gonçalves (2007), que este trabalho utiliza o estudo de caso como investigação aplicada, propondo um modelo processual de análise e avaliação de projetos de investimento (RG3) para o sector de atividade dos resíduos urbanos.