• Nenhum resultado encontrado

Plano Operacional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos

CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO

4.2 Projeto da Central de Valorização Orgânica – Estudo de Caso

4.2.2 Plano Operacional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos

Uma das primeiras decisões da Valorsul, logo após a sua criação, foi a elaboração dos Termos de Referência para o Estudo “Elaboração do Quadro de Referência Estratégica e do Plano Operacional de Intervenção da Valorsul na Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos Urbanos dos municípios de Amadora, Lisboa, Loures e Vila Franca de Xira, que constituiu a primeira etapa do Plano Operacional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (POGIRSU) dos municípios anteriormente mencionados.

Primeira Fase do POGIRSU - Estudos de Base

Os Termos de Referência do Estudo indicado no ponto anterior que constituiu, como já referido, a primeira etapa do POGIRSU, exigiam que fossem analisados para diferentes cenários de evolução da produção de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e da evolução de recuperação de materiais, configurações do sistema integrado de gestão que permitisse suportar decisões empresariais, fundamentadas em critérios de natureza: (i) ambiental; (ii) técnica; (iii) microeconómica; (iv) macroeconómica; (v) institucional e (vi) jurídico-legal. O Estudo foi adjudicado a uma empresa de consultoria externa, tendo sido concluído em dezembro de 1995.

Painel Técnico de Acompanhamento do POGIRSU

No seguimento do Estudo atrás mencionado, a Valorsul convidou três associações de defesa do ambiente - QUERCUS, GEOTA e LPN – para participar num Painel de acompanhamento crítico do desenvolvimento do Estudo, objetivo que se concretizou na criação de um grupo de técnicos propostos pelas referidas associações, reservando-se para estas o estatuto de observadoras nas reuniões entre a Valorsul e o Painel. O Painel, para além de ter contribuído para a construção dos cenários de produção de resíduos e de recuperação de materiais neles contidos, elaborou um Memorando no qual sintetizava as suas críticas ao Estudo.

Algumas das críticas ao estudo efetuadas pelo Painel tinham a ver com: a falta de especificações sobre que cenário se estava a fazer a avaliação dos equipamentos; a ausência de estratégias alternativas relativamente aos sistemas e equipamentos disponíveis para

implementar uma recolha seletiva, que possam potenciar ou substituir em situações não controladas; ausência de informação acerca das fontes dos dados; a quantificação económica de cenários assente em pressupostos incorretos; pressupostos técnicos e económicos que careciam de uma profunda revisão/justificação/correção; a não discriminação dos custos de manutenção por equipamento.

Segunda Fase do POGIRSU

Os resultados do estudo, complementados com o Memorando e contendo as críticas e sugestões do Painel, permitiram iniciar em janeiro de 1996 uma segunda etapa do POGIRSU, em termos de desenvolvimento de um processo de análise dos pressupostos quantitativos e qualitativos do estudo e a elaboração de uma proposta autónoma de estratégia e plano operacional de gestão dos RSU da região, que foi intitulada Proposta POGIRSU.

No quadro das considerações gerais de natureza estratégica enunciadas na Proposta POGIRSU esta preconizava: (i) a necessidade de melhor caraterização da realidade da produção de resíduos, na área de intervenção da Valorsul; (ii) a necessidade de uma efetiva redução da produção de RSU; (iii) a fixação de metas para a recuperação de materiais contidos nos RSU.

Em termos de caraterização da produção de resíduos, na área de intervenção da Valorsul, essa caraterização devia compreender: a localização das zonas prioritárias de intervenção para recolhas seletivas, domésticas e industriais; a caraterização mais aprofundada das áreas homogéneas consideradas, integrando aspetos psico-sociais, comportamentais, perfis socioeconómicos e texturas urbanísticas; a metodologia de abordagem, identificando os circuitos a amostrar, número de amostras a considerar e critérios de divisão das quantidades recolhidas em circuitos que compreendam mais do que uma unidade homogénea.

Quanto à recuperação de materiais contidos nos RSU, a Proposta POGIRSU considerou duas frentes de intervenção como mais eficazes para atingir esse objetivo:

1. A recolha seletiva em contentores, do vidro, do papel, dos plásticos e dos metais não ferrosos, para reciclagem;

2. A recolha seletiva de matéria orgânica para compostagem.

Foi a partir da definição desta última meta, isto é, em termos de recolha seletiva de matéria orgânica, que o processo de construção da CVO começou a ser delineado pela Valorsul.

Terceira Fase do POGIRSU – Estudos Técnicos, Ambientais e Económicos

Esta fase correspondeu à fase da discussão da proposta POGIRSU sob forma de reuniões de trabalho, para a qual foram convidados representantes do Ministério do Ambiente, das Câmaras Municipais integrantes do sistema multimunicipal, associações de defesa do ambiente e de associações industriais para a reciclagem de materiais. O objetivo destas reuniões, entre outros, foi de estabelecer compromissos quanto à garantia de metas de recolha e de capacidade industrial de recuperação por fileira de material.

Na sequência das reuniões e análise dos posicionamentos ali manifestados, o Concelho de Administração da Valorsul, na sua reunião de 1 de outubro de 1996 tomou as seguintes decisões, entre outras: mandatar a Comissão Executiva da Valorsul no sentido de elaborar estudos técnicos, económicos e financeiros de suporte a eventuais projetos de candidatura ao Fundo de Coesão, concretamente, em termos de uma instalação de valorização de matéria orgânica por compostagem (CVO), dimensionada para uma ordem de grandeza de 50 mil toneladas por ano, justificada através dos estudos acima referidos, a serem elaborados pela Direção de Estudos e Desenvolvimento da Valorsul.

Na sequência da decisão do Conselho de Administração da Valorsul, enunciada no ponto anterior, foi considerada a hipótese de promover a valorização orgânica de alguns dos resíduos produzidos na área de intervenção da Valorsul.

Como alternativas para a valorização orgânica, foram identificados os processos de:

• Compostagem Clássica (CC): a CC é um processo de decomposição aeróbia (na presença de oxigénio) da fração orgânica dos resíduos, em que microrganismos transformam a matéria orgânica existente nos resíduos urbanos, num produto a que se chama composto (fertilizante natural para a agricultura);

• Digestão Anaeróbia (DA): a DA consiste num processo que envolve a degradação biológica da matéria orgânica em condições de ausência de oxigénio (anaerobiose), por ação de microrganismos. No caso da digestão anaeróbia, para além da produção de composto, do processo resulta ainda a produção de energia térmica e/ou elétrica, a partir do biogás resultante da decomposição dos resíduos.

Com base nas duas alternativas indicadas, o estudo realizado pela Direção de Estudos e Desenvolvimento da Valorsul apresentou uma análise comparativa entre os dois processos,

considerando critérios técnicos, sócio-ambientais e económico-financeiros, com base nos seguintes pressupostos:

1. A matéria orgânica seria recolhida seletivamente na origem onde se encontra espacialmente mais concentrada, designadamente, no Mercado Abastecedor Retalhista de Lisboa (MARL), empresas de catering, cantinas, hospitais, quartéis, estabelecimentos prisionais, centros comerciais, hipermercados, hotéis e restaurantes;

2. A quantidade da matéria orgânica a valorizar seria a constante dos cenários de recuperação da Proposta POGIRSU, o que implicava a necessidade de construir uma CVO de 40.000 t/ano na data de arranque (1999) expandido essa capacidade para 60.000 t/ano em 2005.

A opção pela recolha seletiva na origem derivava de razões que se prendiam com a melhor qualidade do composto produzido, eventualmente, o único processo que assegurava para o composto a conformidade a normas que se previam ser, no futuro próximo, bem mais exigentes do que à época.

Estudo Técnico

Os resultados da comparação técnica efetuada entre os dois sistemas de valorização orgânica (CC e DA), considerando uma CVO com um processamento inicial de 40.000 toneladas/ano, extensível a médio prazo, para 60.000 toneladas/ano, são apresentados no Quadro 3.

Quadro 3 – Análise dos descritores técnicos

Fonte: Valorsul – POGIRSU: Volume 1, Relatório Base, (nov. 1996)

Da análise ao Quadro 3 resultam as seguintes conclusões: (1) no que se refere à duração do tratamento, em termos médios, a DA apresentava-se ligeiramente mais vantajosa do que a CC;

Indicadores Unidade CC DA

Duração do tratamento semanas 10 a 12 8 a 10

Área da instalação ha 4 1

Produção de refugos % de RO* a processar 9 5

Produção de composto % de RO* a processar 31 40

Balanço energético kWh/t produzidos 0 250

kWh/t consumidos -50 -50

kWh/t balanço -50 200

Consumo de água m³/t 0,05 0,30

Produção de águas residuais m³/t 0,05 0,50

Pessoal envolvido nº trabalhadores 18 15

(2) a área necessária à implantação da unidade CC (4ha) é maior do que a da unidade DA (1ha); (3) em termos de taxa de produção de refugos e de composto, a alternativa de DA apresentava-se mais vantajosa que a CC, com uma taxa de 5% e 40%, respetivamente, contra 9% e de 31% da CC; (4) o balanço energético da alternativa de DA é positivo (+200kWh/t) enquanto o da alternativa de CC é negativo (-50 kWh/t); (6) no que se refere aos consumos de água, a alternativa de CC (0,05 m³/t) apresentava-se mais vantajosa que a DA (0,30 m³/t); (7) em termos de produção de águas residuais, a alternativa de CC (0,05 m³/t) também se apresentava mais vantajosa do que a alternativa de DA (0,50 m³/t); (8) o número de trabalhadores é maior na alternativa de CC (18) do que na de DA (15).

Análise Sócio-Ambiental

Os resultados da comparação sócio-ambiental foram os indicados no Quadro 4.

Quadro 4 – Análise dos descritos ambientais

Fonte: Valorsul – POGIRSU: Volume 1, Relatório Base (nov. 1996)

Da análise efetuada ao Quadro 4 e das conclusões extraídas do Relatório Base do POGIRSU, verifica-se existirem diferenças intimamente dependentes da área de implantação da CVO, nomeadamente na paisagem, uso e ocupação do solo que é quatro vezes superior no caso de CC e, em certa medida, a aceitação social.

Em termos de emissões gasosas, só foram contabilizadas as emissões de CO2 com origem na degradação aeróbia dos resíduos, não tendo sido levadas em conta as emissões derivadas na

Indicadores CC DA

Qualidade do Composto

Emissões Gasosas 4.400 t/ano CO2 800 t/ano CO2 Emissões de Odores

Impacte Paisagístico Maior impacte dada a maior área de implantação

Ruído

Uso e Ocupação do Solo Maior impacte dada a maior área de implantação

Risco Maior risco potencial, embora controlado (biogás)

Aceitação Social Menor aceitação, relacionada com má imagem e maior área de implantação

Indeterminado por desconhecimento da população deste tipo de sistema. Maior aceitação potencial se assegurada a não produção de odores e menor área de implantação

Equivalência em ambos os sistemas, dado ser dependente da qualidade/composição dos resíduos a processar

Equivalentes, desde que exista uma unidade de desodorização em funcionamento

combustão do biogás, uma vez que se considerou que estas emissões representavam apenas a substituição de outras em processos alternativos de produção de energia.

No que respeita à aceitação social, verificava-se que a alternativa de DA apresentava potencialmente maiores vantagens que a CC, em virtude de este último processo apresentar uma imagem algo negativa, associada às más condições de exploração de algumas instalações existentes.