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CAPÍTULO 3 – MODELO E ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.1 Introdução

3.2.3 Desenho do Estudo de Caso

O desenho do estudo de caso é o plano que orienta o processo de recolha, análise e interpretação das observações e que permite tirar conclusões sobre as relações causais entre as variáveis investigadas e generalizá-las para maiores populações (Frankfort-Nachmias, 1996). Para Stake (1999) o desenho da investigação requer uma organização conceptual, ideias que expressem a compreensão necessária ou pontes conceptuais assentes no que já se conhece, ou ainda, estruturas cognitivas que orientem a recolha de dados. Todo o bom desenho de estudo de caso incorpora uma teoria, que serve como plano geral da investigação, da busca de dados e da sua interpretação (Yacuzzi, 2005). Segundo Yin (2009) o desenho da investigação é o elemento de ligação lógico entre os dados recolhidos e as questões de investigação, devendo garantir que depois de concluída a investigação, os resultados obtidos respondem às questões de investigação.

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A pesquisa histórica, como vértice da pesquisa documental, têm como pressuposto de análise, a compreensão dos fenômenos históricos através dos acontecimentos passados, ou seja, é o tipo de pesquisa que investiga eventos que já tenham ocorrido, utilizando métodos descritivos e analíticos (Kerlinger, 1980).

Segundo Scapens (2004) o primeiro passo em qualquer investigação é a identificação clara das questões de investigação, sendo que no método do estudo de caso, as questões de investigação são identificadas ao longo do processo de revisão de literatura (Ryan et al., 2002; Scapens, 2004; Yin, 2009). Na presente investigação, o investigador definiu a principal questão da investigação ao longo do processo de revisão de literatura e a sua consistência foi avaliada depois de concluída a análise documental.

De acordo com Yin (2009), o desenho da investigação, ou planeamento do estudo de caso, é constituído por cinco componentes, a saber:

Questões de Investigação - No presente trabalho a primeira questão de investigação é,

tipicamente, de compreensão: “Porque é que o Projeto da CVO da Valorsul apresenta um desvio elevado, em termos de custos e de benefícios, face à estimativa inicial?”, o que justifica a inclusão no estudo de caso de vários métodos de recolha de dados como entrevista, observações e documentos (Yin, 2009).

A segunda e terceira questão de investigação são, caracteristicamente, explicativas: “Como se poderiam ter evitado parte dos desvios observados no projeto da CVO?” e “Como pode o projeto da CVO da Valorsul contribuir como processo de aprendizagem para o investimento público português?”, o que justifica também a escolha da metodologia do estudo de caso (Yin, 2009).

Proposições (Hipóteses) se existirem - Relativamente à segunda componente do desenho do

estudo de caso, não se selecionou qualquer proposição/hipótese porque, seguindo Fisher (2007), previamente se havia apresentado um framework conceptual e formulado as questões de investigação. Por exemplo, segundo Carvalho (2011), os estudos de Data Envelopment Analysis36 (DEA) realizados no âmbito da atividade do sector bancário (de Athanassopoulos, em 1998, a Yang, em 2009), ou que combinam o DEA com o Balanced Scorecard (BSC)37 (de Tsang, Jardine e Kolodny, em 1999, a Garcia-Valderrama, Mulero-Mendigorri e Revuelta- Bordoy, em 2009), também não recorrerem a proposições.

36 DEA - Modelo desenvolvido com a finalidade de melhorar a eficiência relativa de unidades ou funções no

interior das organizações (Carvalho, 2011).

37 BSC é uma metodologia de medição e gestão de desempenho empresarial desenvolvida pelos professores da

Unidade de Análise – Uma etapa fundamental no planeamento de um estudo de caso único

diz respeito à seleção e definição da unidade de análise, ou seja, a definição do “caso” de estudo (Yin, 2009), sendo que, a seleção da unidade de análise deve ser o resultado de uma especificação adequada das questões de investigação (Yin, 2009).

Para estudar como é que se poderiam ter evitado parte dos desvios observados no projeto da CVO, selecionou-se o estudo de caso único38 do projeto da CVO da Valorsul, pelos seguintes factores:

a. O projeto de investimento na CVO da Valorsul é um caso típico ou representativo, ou seja, não existem muitas situações semelhantes, com as mesmas especificidades, para que sejam feitos estudos comparativos (Stake, 1999; Yin, 2009). Por esta razão, optámos por realizar um único estudo de caso aprofundado e rico em descrições, detalhes e explicações (Dyer e Wilkins, 1991). De acordo com Moll et al. (2006) a escolha da organização para o estudo de caso deve ser justificada pela importância económica, pela predisposição para adopção de novas técnicas ou pela sua dimensão. O projeto da CVO, selecionado para o presente estudo de caso, está inserido na maior empresa nacional de tratamento e valorização de resíduos urbanos que tem desenvolvido grandes projetos de investimento nos últimos anos.

Tendo em conta o conhecimento e experiência prévia do investigador no domínio da gestão dos resíduos urbanos, optou-se por realizar um estudo de caso na Valorsul. Por outro lado, o facto de o investigador conhecer e ter experiência na empresa em estudo, facilitou a interpretação e análise das diversas evidências, para se chegar a conclusões e respostas às questões de investigação;

b. O estudo reúne, numa interpretação unificada, inúmeros aspetos de um objeto pesquisado, aumentando a compreensão de um fenómeno (Matar, 1996);

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Apesar de defender que a inclusão de vários estudos de caso num mesmo trabalho de investigação tem vantagens, Yin (2009) considera que o estudo de caso único é apropriado nas seguintes situações: (1) quando representa um caso decisivo para testar uma teoria bem formulada; (2) quando é um caso raro ou extremo que possibilita a análise de uma situação pouco frequente ou exclusiva; (3) quando é um caso típico ou representativo de um conjunto de circunstâncias ou condições do contexto do dia-a-dia; (4) quando é revelador de um fenómeno previamente inacessível à investigação; (5) quando se trata de um caso longitudinal, ou seja, quando permite estudar o mesmo caso único em diferentes momentos.

c. Trata-se de um estudo que recorre a técnicas qualitativas porque o objetivo é o de responder a questões para extrair conclusões (Yin, 2009);

d. Integra outros métodos de investigação, para além do estudo de caso, como entrevistas, observação, textos e documentos, para compreender melhor o contexto e os resultados da investigação, mitigando as limitações apontadas ao estudo de caso único (Yin, 2009); e. É um estudo de caso explanatório porque a teoria existente é o que permite ao

investigador identificar explicações convincentes sobre as práticas observadas (Scapens, 2004; Yin, 2009). Por isso, e numa fase prévia à da recolha de dados, identificámos as perspectivas, teorias e corpo de conhecimento que enquadram o trabalho de campo a desenvolver;

f. Não lança bases para a obtenção de generalizações (como nos estudos de caso exploratórios), mas antes estuda e explica a existência de determinadas práticas. O foco da investigação é no particular, e não no genérico (Major e Vieira, 2009);

g. A abordagem será essencialmente empírica, procurando investigar um “fenómeno atual no seu contexto real”, tendo em conta uma realidade dinâmica e dando primazia à metodologia qualitativa (Yin, 2009);

h. Na seleção do “caso” o investigador teve em consideração, quer as condições de acesso à informação considerada relevante para a investigação, quer a aceitação dos principais intervenientes em participar com a sua perspetiva relativamente ao estudo (Yin, 2009). Os critérios para a interpretação dos resultados da investigação são os formulados pela metodologia conceptual integrada no modelo RG3, desenvolvido partir das bases dos quatro modelos que o sustentam (ROII; GRP; GCBAIP; GB, 2003).