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A Convergência tecnológica está na gênese do desenvolvimento de uma Cultura da Convergência. Para o professor Othon Jambeiro31 o pilar dessa                                                                                                                

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JAMBEIRO, Othon. Os pilares estruturais das comunicações contemporâneas., em Trivinho, Eugênio e Cazeloto, Edosn. Org. A cibercultura e seu espelho [recurso eletrônico]: campo de conhecimento emergente e nova vivência humana na era da imersão interativa – Dados eletrônicos. – São Paulo : ABCiber ; Instituto Itaú Cultural, 2009. 166 p. – (Coleção ABCiber, v.1)

convergência se deve aos objetivos de uma nova economia internacional que levou as corporações a se interconectarem não só pelas tecnologias, mas pelo fluxo de capital financeiro, humano, político, corporativo.

Esse novo modelo de interconexão entre diferentes economias, políticas e pessoas, ao mesmo tempo em que possibilitou um avanço no fluxo de capitais, de ações políticas e interpessoais, também gerou um reflexo imediato entre os participantes dessa nova reengenharia.

Esta combinação de convergências – de tecnologias, interesses empresariais e políticas públicas – tornou a internet, a Imprensa, a indústria gráfica, o rádio, a televisão, as telecomunicações e a informática mais interconectadas e interdependentes, de tal forma que uma política de governo ou uma estratégia empresarial para uma delas pode ter significativas implicações para as outras. (JAMBEIRO, 2009: pág. 25)

Para o professor e pesquisador Henry Jenkins, o conceito de Cultura da Convergência32 representa uma mudança de paradigma na troca de valores simbólicos, como a informação por exemplo, entre as pessoas. A transformação cultural apontada por Jenkins, através de uma cultura participativa, não está ancorada nas novas tecnologias digitais, mas nos usuários dessas novas tecnologias. A Cultura da Convergência é, antes de tudo, a aplicação do conceito de Inteligência Coletiva, já definida nesta pesquisa, através das novas tecnologias da comunicação, por usuários ativos desse novo sistema.

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2009: pág.29)

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JENKINS, Henry. Cultura do Convergência. Tradução: Susana Alexandria São Paulo: Aleph, 2005

Para Jenkins, ao contrário do que pregava a revolução digital, onde uma nova mídia substituiria a antiga, o paradigma da convergência presume que as novas mídias irão interagir de forma cada mais complexas com as mídias mais antigas. Jenkins destaca ainda que a convergência altera, tanto o modo de produzir, como o de consumir os meios de comunicação.

Exemplo desse novo modelo de comunicação produzido por essa Cultura da Convergência é a produção e distribuição de conteúdos audiovisuais pelas grandes emissoras de TV. Com a introdução da tecnologia digital na TV as grandes emissoras tiveram a possibilidade de expandir sua programação para outras plataformas como os celulares, TVs digitais portáteis, tablets, notebooks, entre outras. Esse novo modelo de distribuição de conteúdos pelas emissoras, já havia sofrido uma mudança significativa com o desenvolvimento das TVs a cabo e via satélite, mas com as tecnologias desenvolvidas para o ciberespaço e para a telefonia móvel esse modelo se tornou muito mais complexo.

Emissoras como a BBC33 (British Broadcasting Corporation), a CNN34 (Cable News Network), a Al Jazeera,35 a Rede Globo36, fizeram de seus websites grandes plataformas de convergência entre o conteúdo veiculado exclusivamente na TV e o conteúdo disponível nesses portais de comunicação.

A BBC por exemplo, disponibiliza em seu website, diferentes conteúdos, textos, fotos, infográficos, vídeos, áudios, para usuários de diferentes continentes: África, Ásia, América Latina, Oriente Médio, Estados Unidos e Canadá, além do Reino Unido e em diversos idiomas. A emissora disponibiliza ainda, páginas exclusivas com os conteúdos audiovisual e áudio produzidos para TV e rádio (parte desse conteúdo está disponível somente para o Reino Unido), além de serviços via streaming (fluxo de média), como o canal BBC News World, que distribui conteúdo audiovisual ou somente áudio e pode ser acessado por plataformas de distribuição como a LiveStation37, além de aplicativos para celulares como: Android smartphones e tablets, e também para iPhone, iPad e iPod Touch.                                                                                                                 33 http://www.bbc.co.uk/ 34 http://www.cnn.com/ 35 http://www.aljazeera.com/ 36 http://redeglobo.globo.com/ 37 http://www.livestation.com/

O website da emissora também é uma plataforma de acesso as redes socais na internet (RSIs).

Figura 8: Página do website da BBC

No Brasil, todas as grandes redes de TV, possuem websites com características semelhantes, Rede Globo38, Rede Record39, SBT40, Rede TV41, Bandeirantes42e TV Cultura43. Essas características se assemelham tanto na forma: na apresentação dos programas através das grades de programação, notícias, vídeos, publicidade, área institucional e área comercial, quanto no próprio conteúdo. Porém, quando analisamos a interatividade entre esses portais de comunicação e o conteúdo veiculado na TV, existem diferenças importantes.

A TV Bandeirantes, por exemplo, já disponibiliza em seu website conteúdo ao vivo exibido na TV.

                                                                                                                38 http://redeglobo.globo.com/ 39 http://rederecord.r7.com/ 40 http://www.sbt.com.br/home/ 41 http://www.redetv.com.br/ 42 http://www.band.com.br/tv/ 43 http://tvcultura.cmais.com.br/

Figura 9: imagens do programa Brasil Urgente exibido online pelo website da TV Bandeirantes.

Esse conteúdo ao vivo também está conectado às redes sociais, Facebook e Twitter. É comum que os telespectadores-internautas comentem através das RSIs o conteúdo ao vivo online.

A Rede TV também já disponibiliza ao vivo sua programação em seu website, mas diferentemente da TV Bandeirantes, o conteúdo ao vivo não está no mesmo template (modelo de página) com as RSIs da emissora.

Figura 10: website da Rede TV com transmissão ao vivo do seu conteúdo na TV.

A TV Cultura de São Paulo apresenta parte de sua programação, ao vivo, em seu website. O template da página do ao vivo, muda de acordo com o conteúdo exibido online, como podemos observamos nas figuras abaixo.

Figura 12 e 13: website da TV Cultura de São Paulo com conteúdos ao vivo. Na figura 12 (a esquerda) Doctor Who e seu template interativo com o Twitter e na figura 13 (a direita) a exibição do telejornal Jornal da Cultura com o Facebook da emissora.

A Rede Record, o SBT e a Rede Globo não disponibilizam os conteúdos ao vivo de sua programação em seus websites.

Entendemos que uma das grandes questões na discussão sobre a convergência da TV para o ciberespaço, através dos websites, é em relação às transformações que a linguagem televisiva, e em particular a do telejornalismo, pode sofrer.

A linguagem apresentada pelo website de uma emissora, com parte do próprio conteúdo veiculado na TV, pode ser caracterizada como uma linguagem audiovisual dentro de uma nova plataforma de comunicação?

Para Santaella44 as imagens nos ambientes ciberespaciais, apresentam características híbridas: com diferentes formas de regimes de visualidade possíveis, gráfica, fotográfica, videográfica e sintética, acompanhada também de textos, sons, ruídos e que constituem, segundo a autora, uma linguagem inaugural, a linguagem hipermidiática.

Trata-se de uma linguagem polivalente que a par das questões formais de justaposição e associação, também incluem a inter-relação ou colisão entre texto, imagem e som em camadas espaciais e temporais. Em vez da mera referência cruzada que é própria do hipertexto, ao incorporar mídias dinâmicas, a hipermídia faz ruir muitos dos limites entre som e imagem, situando “o usuário no meio da assimilação e feedback. Os efeitos disso sugerem um campo caracterizado pela transição e não pela resolução, no qual a experiência oscila entre a presença epistêmica e a contingência temporal” (SANTAELLA, 2006: pág. 199)

A linguagem da hipermídia é portanto característica da Web 2.0. Todo conteúdo postado por uma emissora de TV em seu website, ou mesmo em suas redes sociais, terá uma linguagem híbrida e convergente, portanto, hipermidiática.

Pierre Lévy 45 destaca que a multimída interativa característica do ciberespaço e da tecnologia digital, apresenta a questão do fim do logocentrismo: da supremacia do discurso sobre os outros modos de comunicação. Para Lévy a linguagem humana, provavelmente, tenha surgido simultaneamente com diversas formas: oral, gestual, musical, icônica, plástica e a linguagem escrita acabou                                                                                                                

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SANTAELLA, Lucia. Por uma epistemiologia das imagens tecnológicas: seus modos de apresentar, indicar e representar a realidade., em Araujo, Denise Correia (org.) Imagem (ir)

realidade: comunicação e cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2006.

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LÉVY, Pierre. A inteligência Coletiva – por uma antropologia do ciberespaço . Trad. Luiz Paulo Rouanet. 8a Ed. São Paulo: Edições Loyola , 2011

centralizando a linguagem humano com um discurso unitário. O surgimento de uma linguagem hipermidiática é um destronamento da linguagem escrita em direção a um plano semiótico desterritorizado.

Ora, o surgimento das hipermídias desenha em pontilhado, um possível interessante (entre outros que o são menos): o de uma volta ao que havia antes do caminho aberto pela escrita, aquém do logocentrismo triunfante, em direção à reabertura de um plano semiótico desterritorizado, mas uma volta rica de toda as potencias do texto, um retorno armado de instrumentos desconhecidos no paleolítico, suscetíveis de dar vida aos signos. Em vez de se encerrar na posição fácil entre o texto razoável e a imagem fascinante, não é melhor tentar explorar as possibilidades mais ricas, mais sutis, mais refinadas de pensamento e de expressão abertas pelos mundos virtuais, pelas simulações multimodais, pelos suportes de escrita dinâmica? (LÉVY, 2011: pág. 107)

Essa desterritorização referida por Lévy é característica de uma nova arquitetura do ciberespaço. Arquitetura fundamental para a construção de uma inteligência ou imaginação coletiva. Para Lévy essa nova arquitetura do ciberespaço permite o favorecimento de instrumentos que privilegiem o desenvolvimento do laço social pelo aprendizado e pela troca de saber; agenciamentos de comunicação capazes de escutar, integrar e restituir a diversidade de opiniões e comportamentos contrários a mera reprodução da difusão midiática tradicional e a valorização da autonomia dos seres.

Jambeiro destaca que a tecnologia digital possibilitou a criação de uma linguagem comum, com características convergentes, facilmente manipulável por um usuário ou por um coletivo.

A tecnologia digital tornou possível o uso de uma linguagem comum: um filme, uma chamada telefônica, uma carta, um artigo de revista, qualquer deles pode ser transformado em dígitos e distribuído por fios telefônicos, microondas, satélites ou ainda por um meio físico de gravação, como um CD, um DVD, um flash-drive. A digitalização tornou o conteúdo totalmente plástico, isto é, qualquer mensagem, som ou imagem pode ser editado e alterado, parcial ou totalmente, tanto na forma quanto no conteúdo. (JAMBEIRO, 2009: pág. 25)

Há portanto, dois aspectos importantes que a linguagem da hipermídia nos apresenta: um sincretismo de duas ou mais linguagens que são convergidas para o ciberespaço, através de websites por exemplo, mas também por blogs, RSIs, entre outros, e o surgimento de uma cultura mais participativa dos meios de comunicação digitais.

Pelo conceito de sincretismo tomamos como referência, a definição apresentada pela professora Ana Silvia Lopes Davi Médola46.

Atualmente, o “termo sincrético”, na expressão semiótica sincrética, designa os textos-objeto constituídos pela utilização de duas ou mais linguagens de manifestação que interagem, formando um todo de significação. (MÉDOLA, 2009: 401)

Médola destaca que a própria linguagem audiovisual já apresenta diferentes formas e níveis de articulação nos dois planos da linguagem audiovisual, o plano da expressão e o plano de conteúdo.

Não é objetivo desta pesquisa fazer uma análise semiótica da linguagem hipermidiática ou da linguagem audiovisual, tomamos o conceito de sincretismo para reafirmar as características da linguagem hipermídiatica, já apresentadas aqui por outros autores e ao nosso ver fundamentais para a compreensão do conceito de convergência.

Essa “colisão entre texto, imagem e som em camadas espaciais e temporais” destacada por Santaella também está presente nas semióticas sincréticas pois se caracterizam pela utilização de diferentes linguagens simultaneamente, formando um todo de sentido.

Outro aspecto importante da linguagem hipermidiática é a possibilidade da criação de uma cultura participativa e aqui, destaca Jenkins, os antigos telespectadores e internautas, ou consumidores, como denomina o autor, eram ditos como passivos, previsíveis e isolados, já os novos consumidores são ativos, migratórios, não mais leais às redes ou meios de comunicação.

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MÉDOLA, Ana Silvia Lopes Davi. Lógica de articulação de linguagens no audiovisual., em OLIVEIRA, Ana Claudia. e TEIXEIRA, Lucia. (orgs.) Linguagens na Comunicação:

Tomemos aqui como exemplo o próprio website do Jornal Nacional, como podemos observar na figura abaixo.

Figura 14: Página inicial do website do Jornal Nacional

Como podemos observar na figura acima, na página inicial do website do Jornal Nacional estão presentes todas as características da linguagem hipermidiática, a justaposição de conteúdos: o informativo, o publicitário, o comércio online e as diferentes linguagens, a linguagem audiovisual através da presença de vídeos; a linguagem icônica, com a presença de imagens (fotografias e ícones); a linguagem verbal escrita, através de textos. A associação de conteúdos: na mesma página do website do JN por exemplo, é possível acessar tanto conteúdos informativos quanto conteúdos publicitários ou comércio online. Esse mapeamento de diferentes conteúdos se dá pelas indicações presentes na própria página através de termos como publicidade, shopping e pelo uso prático desse tipo de plataforma pelo usuário que reconhece as características de cada conteúdo.

Muitos conteúdos presentes no website do Jornal Nacional, assim como na maioria dos websites de diferentes emissoras de TV, estão inter-relacionados. É possível acessar, por exemplo, o conteúdo do JN e ao mesmo tempo acessar o conteúdo do G1, portal de notícias da Rede Globo.

A inter-relação e a exibição desse conteúdo acaba gerando o que Santaella chamou de “colisão entre texto, imagem e som em camadas espaciais e temporais”, como exemplo podemos citar a postagem dos vídeos apresentados pelo JN na TV. No website do telejornal é possível assistir aos conteúdos dos vídeos exibidos na TV e, ao mesmo tempo, ler as reportagens que foram transcritas. Há portanto a colisão entre textos e imagens pela convergência de diferentes linguagens.

As camadas espaciais e temporais a que se refere Santaella dialogam com o plano semiótico desterritorizado apresentado por Lévy: o internauta conectado na tela do computador, notebook, tablet ou celular, através de comandos, navega pelas infovias, canais digitais do ciberespaço, e vai construindo e unindo de um modo a-seqüencial, fragmentos de informação de naturezas diversas através de um tipo de comunicação multilinear e labiríntica. Cabe ao usuário dessa linguagem hipermídiatica estabelecer uma ordenação sintático-textual, e aqui entendemos por textual as diferentes linguagens presentes na hipermídia, que pode estar previamente prescrita num website por exemplo, mas que pode surgir como uma nova ordenação associativa, fruto da interatividade do meio.

Desta maneira, o internauta que, a princípio, tinha como objetivo assistir às reportagens da última edição do JN, pode acabar migrando para uma página de busca de imóveis, ou adquirindo um par de tênis através do comércio online.

É importante reforçarmos que apesar desses diferentes caminhos que um internauta pode construir a partir de sua interação com o website de uma emissora de TV, esta plataforma, ao contrário da RSIs, se transformou no grande ponto de convergência das emissoras no ciberespaço.