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Os avanços tecnológicos e o aperfeiçoamento da linguagem do Jornal Nacional

Os avanços tecnológicos na televisão brasileira, e em particular no telejornalismo brasileiro, vem ao longo de décadas modificando a maneira de se fazer telejornalismo. O telejornal Jornal Nacional é referência no telejornalismo brasileiro e sua história de cinco décadas retrata com precisão esses avanços tecnológicos e as consequências que essas novas tecnologias causaram no aperfeiçoamento desse gênero: o telejornal.

Duas obras organizadas pela Rede Globo de Televisão sobre o telejornal Jornal Nacional, JN -15 anos de história75 e Jornal Nacional: a notícia faz

história / Memoria Globo76 , descrevem em detalhes esses avanços.

O suporte técnico utilizado na produção das reportagens do Jornal Nacional nos primeiros anos de sua história, final da década de 1960 e início da década de 1970, era o mesmo utilizado pelo cinema. Os filmes em 16mm eram utilizados nas câmeras Bell & Howel e as Bolex, câmeras que não registravam o som ambiente. Na época a televisão brasileira já dispunha do videoteipe (VT), mas esse recurso era usado exclusivamente nos programas de dramaturgia e entretenimento.

A primeira revolução na produção das reportagens do Jornal Nacional ocorreu com o surgimento das câmeras Auricom; apesar de extremamente pesadas esse modelo era sonoro. Esse avanço tecnológico permitiu ao repórter aparecer nas matérias durante as reportagens com um microfone.

O deslocamento do narrador-repórter ao local do fato, além de dar mais credibilidade à notícia, permitiu a introdução de mais um elemento na linguagem                                                                                                                

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MELO E SOUZA, Claudio. JN - 15 anos de História Rio de Janeiro: Editora Rio Gráfica Ltda., 1984.

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RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Jornal Nacional: a notícia faz história / Memoria Globo. 12a Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

audiovisual: a voz do repórter e dos entrevistados, além do som ambiente já mencionado.

Machado em sua obra A televisão levada a sério destaca que a base do discurso no telejornal é a multiplicidade de vozes que compõem esse discurso. E a mediação entre repórteres, apresentadores e entrevistados é a condição sine

qua non do relato telejornalístico.

O que importa, porém, é extrair as condições necessárias dessa estrutura básica: o telejornal é, antes de mais nada, o lugar onde se dão atos de enunciação a respeito dos eventos. Sujeitos falantes diversos se sucedem, se revezam, se contrapõem uns aos outros, praticando atos de fala que se colocam nitidamente como seu discurso com relação aos fatos relatados. (MACHADO, 2005: pág.104)

É essa polifonia de vozes que desenvolve o relato jornalístico permitindo maior veracidade e credibilidade do enunciador no ato da construção da notícia. A polifonia, dentro do discurso do telejornalismo, tem se modificado ao longo dos anos. O auxílio dos desenvolvimentos tecnológicos e a introdução da tecnologia digital foram fundamentais para essa transformação, como veremos ainda nesse capítulo.

Para Beatriz Becker , o texto audiovisual no telejornalismo tem a função primeiro de criar persuasão no telespectador e construir sentidos por meio da linguagem do telejornal.

Qualquer ato comunicativo envolve construção de sentidos, pois essa característica é própria da linguagem. Ela nos serve tão bem no entendimento da realidade que não ousamos duvidar de sua tarefa seja realmente descrever o mundo. (BECKER, 2005; pág. 45)

A introdução dessa nova tecnologia, o som direto nas matérias jornalísticas, foi a primeira grande revolução na construção da linguagem do telejornalismo, pois proporcionou essa multiplicidade de vozes no telejornal e consequentemente, maior persuasão no discurso do telejornal.

Outro avanço tecnológico decisivo para o desenvolvimento da linguagem e do conteúdo produzido pelo JN foi a utilização de material audiovisual produzido por agências internacionais e distribuídos via satélite. Em 1973 o Jornal Nacional assinou um contrato com a agência de notícias United Press Internacional (UPI) o que lhe garantiu a qualidade da cobertura internacional.

O sucesso da cobertura internacional levou a Rede Globo a investir em escritórios próprios no exterior. A primeira sucursal foi a de Nova York (1973), depois vieram a de Londres (1974) e em outras cidades sucessivamente. As sucursais possibilitaram a cobertura de fatos importantes como a Revolução dos Cravos e a cobertura do caso Watergate que culminou na renúncia de Richard Nixon.

A presença dos diferentes correspondentes nos locais das notícias davam mais credibilidade ao noticiário. As reportagens podiam ser personalizadas e a informações era direcionadas ao telespectador brasileiro.

Arlindo Machado destaca a importância do papel do repórter na cobertura de um telejornal, para Machado, o repórter é responsável pela descentralização da narração do fato, cabendo ao apresentar do telejornal arramar os diferentes enunciados.

No modelo “padrão”, pelo contrário, o relato telejornalístico é imaginado como uma estrutura destituída de entidade narradora central, na qual o evento é reportado através das falas de seus protagonistas e/ou dos enviados especiais da própria televisão. A função do apresentador nessa estrutura consiste basicamente em ler as notícias e amarrar os vários enunciados, chamando os outros protagonistas, mas não lhe cabe tecer comentários ou extrair conclusões. O repórter goza aí de uma autonomia; ele está, por assim dizer, na fronteira intermediária entre a voz institucional e a voz individual e constitui uma espécie de interface entre a televisão e o evento. (MACHADO, 2005: pág.107)

Com o recurso da transmissão por satélite, houve a possibilidade de construir uma nova dimensão da notícia, com um importante avanço no processo de comunicação mediado pela TV. Castells denominou, esse avanço tecnológico da comunicação de massa, e em particular da TV, como um novo sistema

eletrônico de comunicação cujas características são: o alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial.

Os fatos e as notícias narrados agora em escala global, incorporados nas diferentes editorias do telejornalismo, possibilitaram ao cidadão comum, o que utiliza a TV preponderantemente como fonte de informação, o contato com diferentes realidades e conflitos. O espelho eletrônico ganhava um escala global onde diferentes sociedades poderiam se ver e trocar experiências.

A primeira reportagem internacional, via satélite para o Brasil, através do Intelsat III, possibilitou uma transmissão em rede nacional para todo o Brasil, comandada pela EMBRATEL. A reportagem, ao vivo, trazia Hilton Gomes diretamente de Roma destacando a tecnologia que permitiria a transmissão da Copa do Mundo no México, no próximo ano.

Ainda no início da década de 1970, a tecnologia dos novos equipamentos trouxeram um ganho significativo no desenvolvimento da linguagem do JN. As câmeras Auricom foram substituídas pelas câmeras CP (iniciais do nome do fabricante norte-americano Cinema Products). Esse novo modelo era mais leve que a Auricom e o registro do som já era acoplado na câmera, o que permitia mais agilidade do repórter e do cinegrafista na elaboração das matérias.

O teleprompter, utilizado pela primeira vez em 1971, foi outra grande novidade. Esse recurso permitiu aos apresentadores lerem com mais naturalidade as notícias, consolidando ainda mais a linguagem informal, característica do texto telejornalístico.

Já o ano de 1972 foi marcado pela chegada da cor à televisão brasileira, mas o Jornal Nacional só começou a produzir e exibir, regularmente, suas reportagens em filmes coloridos em 1973. Porém, outras experiências na exibição de imagens coloridas já haviam sido realizadas.

Na Copa do Mundo de 1970, por exemplo, boletins diários sobre a seleção brasileira eram transmitidos em cores diretamente do México para todo o Brasil. Mas foi só a partir de 1973 que as reportagens do Jornal Nacional passaram a ser produzidas regularmente em filme colorido. A primeira foi em 19 de julho, nos funerais do senador Filinto Müller. (RIBEIRO, 2005: pág. 52)

A consolidação e as transformações tecnológicas possibilitaram também o crescimento da rede de afiliadas da Globo. No início do JN, a Rede Globo possuía, além da emissora do Rio, as estações de TV de São Paulo e Belo Horizonte. Já em 1971 foi implantada a TV Globo de Brasília.

No início dos anos de 1980 a Rede Globo decidiu montar um escritório na região amazônica, tendo a cidade de Bélem, no Pará, como sede. Coberturas marcantes como as realizadas em Serra Pelada mostravam o contraste de um Brasil ainda exótico para os telespectadores.

Para Rezende77, a popularidade alcançada pelo Jornal Nacional já no início da década de 1970, e com as dificuldades na elaboração dos conteúdos das notícias devido a pressão causada pela censura, levou a Rede Globo a investir no aperfeiçoamento técnico do telejornal e de toda a emissora. Começava assim, a formatação do modelo de um telejornalismo que foi consolidado dentro da emissora e que serviu de padrão para outros telejornais da própria Globo.

A começar pelo apresentador símbolo do programa Cid Moreira, outros locutores do “JN”, todos do sexo masculino da década de 80 (Sérgio Chapelin, Marcos Hummel, Celso Freitas, Carlos Campbel), conciliavam suas atuações com a rigidez do cenário e um abundante uso de videoteipes e efeitos especiais, para construir um modelo de apresentação “requintado e frio, pretensamente objetivo” (Lins da Silva, 1983, p.34) O modelo aplicava-se também aos repórteres, dos quais se queria uma aparência de “neutralidade” e formalismo, essencial para uma imagem de isenção na abordagem dos fatos e credibilidade junto aos telespectadores. (REZENDE, 2010: pág. 64)

Porém, se o JN crescia no aperfeiçoamento tecnológico e estético, destaca Rezende, o mesmo avanço não era visto em seu conteúdo. Durante os anos mais difíceis da ditadura militar no país e da censura, o Jornal Nacional, líder de audiência se afastou da realidade brasileira. Nesse período, o JN modificou sua linha editorial, agora baseada na agilidade do estilo “manchetado” e se tornou um noticiário mais superficial, com um rápido panorama dos acontecimentos do dia- a-dia, para a fácil absorção do telespectador.

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REZENDE, Guilherne Jorge de. 60 anos de jornalismo na TV brasileira: percalços e conquistas. em VIZEU, Alfredo; PORCELLO, Flávio e COUTINHO, Iluska. (Orgs.) 60 anos de

No final da década de 1970 e início da década de 1980 ocorreu na TV brasileira e no telejornalismo brasileiro o que poderíamos chamar de o desenvolvimento de um jornalismo eletrônico.

Em 1976, segundo Ribeiro, a TV Globo inaugurou o Eletronic News

Gathering (ENG), que nada mais era do que pequenas unidades móveis ou

portáteis, dotadas de um sistema de câmeras, mais leves, um sistema de microondas, videoteipes e sistema de edição, que permitiam o envio de imagens e sons diretamente do local dos acontecimentos para a emissora, além disso, essa nova tecnologia viabilizaria transmissões ao vivo de qualquer ponto onde estivesse a unidade móvel.

A introdução gradual dessa nova tecnologia mudou radicalmente a narrativa do telejornalismo brasileiro: se antes, os repórteres pouco apareciam nas reportagens, uma vez que era preciso controlar a quantidade de película usada, agora, eles se tornavam os protagonistas de suas matérias.

Depois que a tecnologia foi implantada, o repórter passou não só a ir ao local dos acontecimentos e apurar as informações, mas também a fazer o texto e ele mesmo apresentar. Esse novo sistema exigia mais dos repórteres em improvisação, memorização e reflexão sobre o conteúdo e o texto. Por isso, ainda em 1974, já prevendo a adoção do jornalismo eletrônico, a Rede Globo iniciou o treinamento de repórteres de vídeo, para serem aproveitadas nas unidades móveis que fariam a transmissão diretamente dos locais dos acontecimentos. (RIBEIRO, 2005: pág.91)

Esse novo modelo foi implantado tendo como referencia o formato narrativo do telejornalismo norte-americano: apoiado em grande parte, na performance de vídeo dos repórteres. Para Machado a transmissão ao vivo, talvez seja, entre todas as possibilidades de expressão que marcam a linguagem da televisão, a que mais aprofunda a experiência desse meio.

Se o telejornalismo, como já destacamos, teve em sua gênese o modelo do jornalismo radiofônico, marcado por apresentadores que liam as principais notícias ao vivo dos estúdios, os avanços tecnológicos tornaram a narrativa dos telejornais cada vez mais complexas, com elementos que extrapolaram esse modelo.

A televisão ao vivo, afirma Machado, permite que o registro de um espetáculo ou acontecimento que está ainda se enunciando e a visualização/audição do resultado final possam se dar simultaneamente e é essa a característica fundamental da transmissão direta: dar ao telespectador, que está situado em locais distintos, a recepção de eventos que estão sendo “construídos” diante dos seus olhos.

Para Machado, a transmissão direta elimina alguns filtros de controle característicos da produção da TV e do telejornalismo, como a edição. Todo evento, ao vivo, desta forma, é mais autêntico, mais real, do que um programa ou reportagem previamente gravados. Esse material quase bruto que chega ao espectador tem a chance de sofrer menos censura e manipulações do que um conteúdo gravado e editado, mais do que isso, a transmissão direta dialoga com o improviso, com o acaso e até mesmo com o inusitado.

Toda transmissão em tempo real e presente inclui um certo elemento de suspense, na medida em que as coisas podem não ocorrem como planejadas. O melhor da televisão ao vivo acontece quando o imponderável se impõe sobre o programado e isso pode se dar de duas maneiras diferentes. De um lado, o acaso ou o não previsto podem se impor com tal eloquência, que todo controle sobre a operação em tempo presente, por parte daqueles que fazem televisão, torna possível, paradoxalmente, a intervenção planejada, seja de grupos organizados externos à televisão, seja dos próprios acontecimentos, que, a partir de um certo nível de magnitude, se impõem às câmeras como temas inevitáveis. (MACHADO, 2005: pág. 141)

Rapidamente, esse novo recurso foi incorporado ao telejornalismo da Rede Globo o que proporcionou um amadurecimento da própria linguagem da televisão e do telejornalismo. O imediatismo, como já apontou Becker, é característica, também, determinante do telejornalismo, recurso que permitiu ao repórter mostrar o próprio acontecimento e não mais narrar apenas o que viu.

A Rede Globo também apostou num novo padrão estético e em 1975 contratou Hans Donner num momento importante para a emissora que completava 10 anos e ao mesmo tempo tentava consolidar a qualidade de sua transmissão a cores.

A primeira ação de Hans Donner foi criar um novo logotipo para a Rede Globo e a partir desse logotipo, o designer criou todo uma nova identidade visual, mais futurista, para a emissora. Foram criados: vinhetas, logotipos dos programas, e de projetos especiais da emissora. A nova marca também foi incorporada à pintura dos carros, microfones, releases, papéis de carta, selos de discos e animações. Os telejornais da emissora também sofreram mudanças: eles passaram a ter um fundo azul, com um logotipo integrado às letras dos programas.

Ribeiro destaca ainda que em 1979, Hans Donner venceu um concurso para a criação de um novo cenário para o Jornal Nacional. O novo cenário trazia as letras do selo “JN” em perspectiva ao fundo, além de mais uma parede ao fundo com dois monitores de cada lado o que possibilitou um maior deslocamento das câmeras e uma maior movimentação dos apresentadores. Ainda na década de 1980, outras mudanças foram incorporadas ao cenário do Jornal Nacional.

A primeira vinheta do Jornal Nacional elaborada a partir de recursos de computação gráfica foi criada em 1983. Toda a vinheta, que mostrava um Globo em movimento de onde saiam diversos “JN”s de dentro foi criada por Hans Donner usando apenas imagens geradas por computador.

O cenário do JN acompanhou as mudanças da abertura do telejornal, em 1983. Apesar da cor cinza ainda ser predominante, o vermelho e o azul passaram a fazer parte do novo visual. Naquela fase, a bancada parecia estar dentro de um globo, com diversos quadros que mostravam ora diversos takes da vinheta, ora um selo que ilustrasse o assunto em questão. O Departamento de artes da CGJ, dirigida por Paulo Polé, era o responsável pela produção diária dos selos, inseridos no vídeo através da técnica do chromakey junto com o Quantel, um equipamento eletrônico que reduzia a imagem. (RIBEIRO, 2005: pág.96)

Médola, em seu capítulo, Lógicas de articulação de linguagens78, afirma que a linguagem audiovisual, como já destacamos, configura uma semiótica conotativa, pois, segundo a autora, o seu plano da expressão é constituído pelos                                                                                                                

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MÉDOLA, Ana Silvia L.D. Lógicas de articulação de linguagens no audiovisual. em OLIVEIRA, Ana Claudia de e TEIXEIRA, Lucia. (Orgs) Linguagens na comunicação:

planos de conteúdo e de expressão de outras semióticas. Analisar a forma do texto audiovisual por meio de uma semiótica sincrética, proposta por Médola, nos permite depreender como o telejornal, por exemplo, utilizou ao longo de suas cinco décadas, a tecnologia para construir significados em sua própria linguagem.

Ainda que não seja objetivo desta tese fazer uma análise semiótica do telejornal Jornal Nacional, como já destacamos também, compreender algumas grandezas semióticas presentes no texto audiovisual do JN, nos permite depreender qual a importância dos avanços tecnológicos para a linguagem do JN.

Se fizermos um inventário das linguagens presentes no telejornal, como propõe Médola, e segundo a definição de linguagem do telejornalismo já apresentada neste trabalho por Becker, “um conjunto de enunciações verbais e não verbais: a imagem, os gestos, os movimentos corporais e a voz, e suas diferentes entonações” podemos afirma que é o plano do conteúdo, o plano carregado de sentido e, contrariamente, o plano da expressão é um campo vazio, de unidades desemantizadas. E é das articulações, afirma Médola, das relações e correlações presentes no plano da expressão que surgi o todo global de significação, ou seja, o plano do conteúdo.

Assim se tomarmos como exemplo, as breves características apresentadas por Ribeiro, da nova identidade visual criada por Hans Donner para a Rede Globo e para o Jornal Nacional, e fizermos um inventário das diferentes linguagens que a compõem, verificaremos que nessa nova identidade visual estão presentes elementos formantes de diferentes categorias articuladas no plano da expressão, ou seja, estão presentes elementos cromáticos (azul, vermelho, cinza), eidéticos, como as linhas retas e linhas curvas que formam, por exemplo, letras em perspectivas (as letras “JN”s), o movimento (dos elementos em cena e do próprio quadro recortado pela câmera), todos esse elementos estão organizados no plano da tela e estabelecendo relações de interdependência.

O que a tecnologia permitiu foi a criação de uma identidade visual e de uma realidade também virtual a partir desses diferentes formantes (cromático, eidéticos, topológicos) criados por computadores e software que compõem figuras da expressão e suas diferentes categorias (claro vs escuro; brilhante vs opaco; dinâmico vs estático). Essas categorias, segundo Médola, se estruturam em conjuntos de formantes que não são semantizadas no plano da expressão, mas

que perpassam as diferentes linguagens manifestadas no plano do conteúdo. Toda essa figuratização presente no plano do conteúdo é materialmente a identidade visual que o telespectador vê e que formou essa nova linguagem do telejornal, com características mais futuristas.

O alinhamento político entre a Rede Globo e o governo militar no Brasil, foi também determinante para o desenvolvimento tecnológico da Rede Globo e do JN. O caso Time-Life, como destaca o pesquisador, Nuno Coimbra Mesquita em sua tese, Mídia e Democracia no Brasil: Jornal Nacional, crise política e

confiança nas instituições79, foi decisivo para o desenvolvimento tecnológico da Rede Globo logo no início de sua criação. O surgimento da emissora foi conturbado, segundo o pesquisador. A formação da emissora havia se dado graças a um acordo entre a Rede Globo e a empresa-estadunidense, Time-Life, o que era ilegal segundo a legislação vigente. O episódio conhecido como, o caso

Time-life, que é descrito também na página da memória Globo80, na Web, deu origem a uma comissão parlamentar de inquérito, que teve seu relatório final, ignorado pelo governo militar, assim como o parecer do Conselho Nacional de Telecomunicações.

Em 1967, conforme consta na documentação da Memória Globo, o governo federal modificou a legislação sobre concessões de telecomunicações no Brasil, criando efetivas restrições aos empréstimos de origem externa e à contratação de assistência técnica do exterior. Em outubro de 1967, o consultor- geral da República, Adroaldo Mesquita da Costa, emitiu um parecer sobre o caso Globo/Time-Life favorável à Rede Globo. Segundo o procurador, não havia uma sociedade entre as duas empresas. Em setembro de 1968, o presidente Costa e Silva deu o caso como encerrado, no entanto os avanços tecnológicos da parceria