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A linguagem audiovisual está na base da construção dos diferentes gêneros televisuais e consequentemente dos telejornais e da linguagem do telejornal. Ana Silvia L.D. Médola59 destaca que a linguagem audiovisual é uma matriz, pois serve de base para a manifestação de outras linguagens.

Nos termos em que tratamos a questão da “pluralidade de substâncias para uma forma única”, reafirmamos que é a linguagem audiovisual que possibilita a forma única para as diferentes substâncias. Pelo fato de ser uma linguagem de base, pois é linguagem suporte conforme propusemos acima, avalia-se ser mais operatório considerá-la como um pressuposto para investigar os níveis de hierarquia resultantes dos modos de articular os outros sistemas semióticos em cada texto, pois é em decorrência das coesões e reciprocidades produzidas discursivamente pelas estratégias enunciativas que poderemos verificar como uma linguagem atua em relação à outra. (MÉDOLA, 2009: pág. 410)

Médola afirma também que a linguagem audiovisual é a que possibilita a formação de todos os modos de articulação das substâncias visual e sonora que formarão outras diferentes linguagens, entre elas a do telejornalismo. Na substância visual, destaca Médola, o sistema é organizado num eixo sintagmático formado por meio da edição de diferentes planos, movimentos, ângulos de câmera com seus efeitos ópticos, eletrônicos, digitais, selecionados a partir das diferentes possibilidades presentes no eixo paradigmático, ou seja, os elementos que compõem essa substância visual associados aos elementos da substância sonora, que são a linguagem verbal sonora, na música, nos sons ambientes, nos ruídos ou mesmo sob forma de silêncio.

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MÉDOLA, Ana Silvia L.D. Lógicas de articulação de linguagens no audiovisual. em OLIVEIRA, Ana Claudia de e TEIXEIRA, Lucia. (Orgs) Linguagens na comunicação:

Para Beatriz Becker60, o discurso audiovisual implica na percepção do texto como um conjunto de enunciações verbais e não verbais: a imagem, os gestos, os movimentos corporais e a voz, e suas diferentes entonações.

Segundo Becker, a TV pode ser definida como uma instituição, assim como o telejornal: esta instituição nos permite reconhecer regularidades enunciativas que caracterizam esses diferentes gêneros televisuais, entre eles o telejornalismo. No entanto, a autora destaca que reconhecer essas regularidades enunciativas no telejornalismo não significa afirmar que todos os noticiários são iguais. A própria grade de programação de uma emissora, o tempo de duração do telejornal, o tipo de público que o telejornal pretende atingir e principalmente, o modo como o telejornal transforma o acontecimento em notícia são diferentes características que criam a identidade de um telejornal.

Como exemplo podemos destacar dois telejornais de âmbito nacional, o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão e o Jornal da Cultura, da TV Cultura de São Paulo. O JN, como analisaremos de forma detalhada no próximo capítulo, é um telejornal que possui destaque na grade de programação da Rede Globo desde seu surgimento na década de 1960. Um telejornal estrategicamente veiculado entre duas telenovelas, com um tempo de duração aproximado de trinta minutos, sempre apresentado por dois jornalistas e que pretende comunicar as notícias do dia, no Brasil e no mundo, de maneira factual, sem um aprofundamento ou análise de uma determinada notícia. Já o Jornal da Cultura, que completou vinte e cinco anos, é exibido mais tarde que o JN, às 21 horas, e possui uma hora de duração. O telejornal é ancorado pela jornalista Maria Cristina Poli, o que lhe permite, em muitas ocasiões, tecer comentários sobre uma determinada notícia. O telejornal conta também com a presença sempre de dois convidados, que se alteram, na análise e nos comentários sobre as reportagens exibidas.

Nesta rápida comparação, sem um grande rigor metodológico, é possível exemplificar as características apontadas por Becker: apesar dos dois telejornais citados apresentarem regularidades enunciativas que os definem num determinado gênero televisual, ambos apresentam características bem diferentes.

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BECKER, Beatriz. A linguagem do telejornal: Um Estudo da Cobertura dos 500 anos do

Para Becker o gênero do telejornal apresenta características bem definidas em sua enunciação:

Os enunciados dos telejornais funcionam como palavras de ordem. O mundo parece estar controlado por um conhecimento perfeito, absoluto, objetivo, e natural. Toda a construção do texto jornalístico parece estar montado numa lógica própria, voltada para criar efeito de verossimilhança, também chamado por alguns autores de efeito de verdade, inclusive com a citação de fontes e testemunhas no texto verbal e a utilização de gráficos, mapas e outros recursos na imagem para garantir a precisão da notícia. A persuasão é o segredo do texto e da imagem dos telejornais, ainda que a sua função primeira seja informar. Por isso, para a maioria dos telespectadores e leitores, a credibilidade da notícia na TV é menos contestada que a da imprensa escrita, mas não para o analista. Para quem está atento a linguagem do telejornal, é nesta característica da cobertura, de “estar perto da notícia”, e nesse “ ver as notícias”, aparentemente natural, que se constrói um discurso próprio, marcado pela irrefutabilidade do fato. Mas sabemos, você e eu, que a comunicação é um duelo constante de convencimentos, sob as crenças de quem ouve e valores de quem diz. (BECKER, 2005: pág. 53)

Guilherme Jorge de Rezende61, em sua obra, Telejornalismo no Brasil também destaca o caráter persuasivo que o jornalismo na TV impõe sobre outros gêneros como o jornalismo impresso. Para Rezende, o processo de exibição do telejornal, o ao vivo, é construído diante dos olhos dos telespectadores, graças à televisão que propicia uma participação instantânea, sem intermediários e por si só, já é um elemento de inestimável poder de mobilização.

Rezende destaca ainda o poder que a mensagem icônica ou a comunicação não-verbal, sobretudo, a imagem, impõe sobre a comunicação verbal. Segundo o autor, para muitos telespectadores o que o telejornal revela, as imagens exibidas no telejornal é a verdade incontestável, a própria realidade.

Já na linguagem verbal, presente no telejornal, Rezende afirma que a oralidade no discurso televisivo e especialmente no telejornal, tem como vocação básica, a função fática. Assim a simulação do diálogo construído pelo apresentador ou pelo repórter com o telespectador dá ao texto, a palavra, no

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REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial São Paulo: Summus, 2000.

enunciado do telejornal um caráter coloquial de afetividade, de intimidade entre aqueles que detêm a palavra e o telespectador.

Rezende destaca ainda que a utilização da linguagem verbal em diálogo permanente com a linguagem não-verbal construirá a linguagem do telejornalismo e também da televisão. O êxito na escolha de uma boa imagem com um texto que reforce e muitas vezes esclareça o que só a imagem não foi capaz de revelar é fundamental para a construção de uma narrativa eficiente no telejornal. O autor nos faz lembrar ainda que a mensagem presente no enunciado do telejornal deve ser compreendida pelo telespectador de forma direta e imediata, pois ao contrário do jornal impresso, o telespectador não poderá reler ou rever a matéria durante o telejornal. Se a mensagem se perder durante a enunciação todo o esforço do comunicador terá sido em vão.

Combinadas essas duas particularidades do texto no telejornalismo, o casamento da palavra com a imagem e a obrigação de ser entendido de imediato pela impossibilidade de se voltar atrás criam uma terceira característica. Embora alguns autores recomendem que não se deve comentar o que a imagem exibe, a língua falada se utiliza amplamente de repetições lexicais e sintáticas como recurso para dotar de clareza o texto que se deseja comunicar. Mais desastroso do que a mensagem verbal repetir a informação visual, para fortalece-la e torná-la assimilável, é render-se ao purismo de nunca comentar o que a imagem mostra e fracassar na tentativa de conseguir a compreensão imediata do significado da notícia pelo telespectador. (REZENDE, 2005: pág. 83)

Já para Beatriz Becker, os textos verbais e não verbais, no telejornalismo, são complementares. Ao contrário do que muitos profissionais de TV afirmam que “uma boa imagem vale por mil palavras”, para a autora essa máxima não pode ser aplicada aos noticiários televisivos. A relação texto – imagem no telejornal complementa a formação dos sentidos, não existindo prioridade de um sobre o outro. Becker exemplifica sua afirmação ao propor que uma pessoa pode compreender o conteúdo de uma notícia na TV ouvindo apenas o noticiário, mas isso não significa que essa pessoa apreenda todos os efeitos de sentido propostos.

Texto e imagem se unem numa unidade significativa para favorecer a compreensão, mas não basta ver, é preciso que alguém nos diga o que estamos vendo. O texto falado conduz e alinha imagens, sons, ruídos, gráficos e vinhetas. O discurso verbal disciplina o não verbal, às vezes, numa relação de redundância e lógica. E tem características básicas como o uso do tempo presente e os estilos diferentes de expressão dos repórteres e apresentadores. O uso do tempo presente sinaliza duas estratégias narrativas: aproxima o fato do ouvinte por sua atualidade, e estabelece um registro coloquial, o que facilita a compreensão do texto sempre narrado pelo profissional (o repórter, o apresentador) e expresso de forma espontânea pelos entrevistados. (BECKER, 2005: pág. 71)

Beatriz Becker, ainda em sua obra, A linguagem do telejornal: Um

Estudo da Cobertura dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, produziu uma

análise comparativa das edições do Jornal Nacional, Jornal da Record e do Jornal da Band, a partir dos objetivos propostos em sua obra, o que lhe permitiu elaborar uma lógica da produção e das construções discursivas assumidas nesses telejornais. Como metodologia de análise, Becker construiu 10 categorias relacionadas a 11 princípios de enunciação, que, segundo a autora, estão associados aos efeitos de sentidos dos enunciados. Todas essas categorias e princípios foram reunidos e sistematizados a partir dos livros, artigos e ensaios que a autora tomou como suas referências bibliográficas.

A análise dessas categorias e dos princípios de enunciação possibilitou a criação de mecanismos de leitura de um telejornal. Mecanismos estes que nos auxiliarão na análise mais detalhada que propusemos a fazer do Jornal Nacional no último capítulo desta dissertação.

A primeira categoria proposta por Becker foi a estrutura. Todos os telejornais analisados possuem um estrutura formatada: ambos apresentam quase o mesmo tempo de duração, 30 minutos, sem considerar o tempo de intervalo; a produção jornalística dos telejornais, de modo geral, segundo a autora, é estruturada em conjuntos informativos audiovisuais, denominados de blocos; os noticiários começam e terminam de forma semelhantes, com uma escalada no início, apresentando os destaques das edições e uma “boa noite” no final. Segundo Becker, os âncoras ou apresentadores, apresentam os telejornais, simulando uma comunicação cara a cara com o telespectador, impondo assim um ritmo que simula um diálogo.

Para Becker, as técnicas narrativas presentes nos telejornais buscam garantir junto ao telespectador o ritmo e a sensação de atualidade, um domínio, ainda que relativo, dos fatos que foram destaques no Brasil e no mundo. Como exemplo, a autora analisa as próprias características da escalada dos telejornais: são manchetes rápidas apresentando quais informações estão por vir, um “ping pong” entre os âncoras, instigando a curiosidade de forma persuasiva, ilustradas com imagens impactantes. As escaladas também podem ser construídas, como observa Becker, por um âncora presente no estúdio com um repórter ou outro âncora no local de um determinado fato que será destaque na edição. A transmissão ao vivo, reforça ainda mais a “ubiquidade instantânea”, transporta o telespectador para o local do fato e lhe dá a sensação de imprevisibilidade. É a simulação do ato em tempo real que confere ao discurso do telejornal a sensação de estar diante da realidade.

Os blocos dos telejornais , são a segunda categoria proposta por Becker. Para a autora, os telejornais são feitos de pequenas histórias que terminam quase sempre com uma notícia feliz, despertando o sentimento de esperança no telespectador, um happy end. Becker destaca ainda que a atenção conquistada pela escalada pode ser perdida logo no primeiro bloco do telejornal, daí a importância de todo encerramento de bloco terminar com uma chamada de uma nova notícia, também impactante ou de grande interesse popular para o próximo bloco e sucessivamente até o último bloco do telejornal.

A “fragmentação”, segundo a autora, é um dos princípios responsáveis pela articulação do discurso rápido e pela fragmentado da televisão e do telejornalismo.

A curta duração de cada unidade informativa não permite, em geral, que se compreenda o fenômeno noticiado, em toda a sua complexidade. E como as notícias são apresentadas como um mosaico, raramente oferecem a oportunidade de realizar interligações indispensáveis para a correta apreensão dos problemas sociais. (BECKER, 2005: pág. 78)

Para Becker, a maneira como as matérias são distribuídas e organizadas refletem e produzem a realidade construída pelo telejornal. Essas estruturas

narrativas organizam o modo de ver e olhar o mundo, mais do que isso, constroem os mecanismos de apreensão que determinarão como o telespectador verá aquela informação. Para a autora, uma “dramatização” é outro princípio discursivo dos telejornais. Essa natureza ficcional de melodrama, já apontada também por Bucci, constrói “histórias” que vão envolver emocionalmente o telespectador.

Outro princípio de enunciação destacado pela autora e utilizado pelos noticiários de TV é a “comercialização”, ou seja, a compreensão do valor dos blocos do telejornal em virtude da inserção dos intervalos comerciais. Segundo Becker, os noticiários imitam os comerciais quando fazem publicidades de si próprios. A autora utiliza, como exemplo, as chamadas de outros programas feitas dentro do Jornal Nacional, como se fossem notas informativas, mas com características de comerciais.

Ainda sobre o Jornal Nacional, Beatriz Becker destaca que os blocos desse telejornal são editados como se fossem pequenos telejornais, apresentando simultaneamente assuntos diversos. Os blocos apresentam-se como unidades quase independentes, formando uma versão diária da realidade que o telejornal deseja exibir. Becker chama atenção também para o ritmo que a linguagem do telejornalismo impõe; o timing, que corresponde exatamente ao ritmo do telejornal, dá aos blocos e à estrutura do telejornal um caráter de urgência. Todas as informações, seja através de textos, notas ou reportagens são apresentadas de forma breve, concisa, “pílulas informativas” que pautarão a dinâmica do discurso do telejornal.

O ritmo da narrativa é intencionalmente acelerado, produzindo um discurso dinâmico, a impressão de atualidade, a sensação de imprevisibilidade. Esta estratégia está relacionada a mais um princípio de enunciação do telejornal: o timing, ou ritmo. (BECKER, 2005: pág. 83)

A função dos apresentadores, segundo Becker, ocupa também um papel de destaque nos telejornais. São eles os responsáveis pela mediação direta entre as informações, os fatos noticiados e o telespectador. Os apresentadores são portanto, os grandes organizadores dessa “colagem de depoimentos e fontes

numa sequência sintagmática”, a que se refere Machado em sua obra A televisão

levada a sério.

Temer também destaca em seu capítulo A mistura dos gêneros e o futuro

do telejornalismo, já citado nesta dissertação, a importância do noticiarista ou

do apresentador para a estrutura interna do telejornal. Segundo a autora, o apresentador ou apresentadores assumem personas, que desempenham um papel de autoridade simbólica: a onisciência dos fatos relatados.

O noticiarista principal – papel que tende a ser exercido pelo editor do telejornal – trabalha a partir de elementos de identificação com o público, dando ao receptor / telespectador a sensação de que está recebendo um visitante ilustre, uma personalidade ou autoridade cuja presença por si só já agrega status e importância ao seu espaço doméstico. (TEMER, 2010: pág. 115)

Temer destaca ainda que a presença do comentarista, sempre uma “autoridade” sobre um tema ou assunto, e que é conduzido pelo apresentador, reforça esta ideia de onisciência: apresentador e comentarista trocam informações e análises, em diálogos quase sempre ao vivo, o que os colocam num mesmo patamar de conhecimento.

Segundo Becker os repórteres são outra categoria dentro do telejornal, tendo como principal função a interpretação e o testemunho dos fatos, principalmente nas transmissões ao vivo. A ambientação visual de uma passagem, as escolhas dos entrevistados, reafirmam o que está sendo apresentado e dá um “imediatismo”, segundo a autora, ao fato social apresentado. Esse “imediatismo” é um importante princípio discursivo dos telejornais.

Já em relação às matérias de um telejornal, Becker analisou o conteúdo dos três telejornais propostos pela autora; o Jornal Nacional, o Jornal da Record e o Jornal da Band, durante a semana comemorativa do quinto centenário do descobrimento do Brasil em abril de 2000. A partir dessa comparação Becker formulou alguns dados interessantes entre os três telejornais, o que lhe permitiu formular algumas considerações: para a autora, as reportagens acompanhadas nas diferentes edições, são resultantes das escolhas criteriosas e subjetivas de cada telejornal; apenas 30% das pautas selecionadas são comuns, todos os dias nos

três telejornais; 10% das matérias exibidas diariamente pelos três telejornais são pautadas por assuntos distanciados ou em desacordo com a função objetiva dos telejornais, de dar conta dos principais fatos e notícias que são destaques no Brasil e no mundo.

Hoje, portanto, o telejornal não é feito apenas de notícias importantes do dia, mas de uma mistura de gêneros discursivos, uma constatação que nos leva a duas considerações importantes. Primeiro, a reafirmação da função subjetiva do telejornal de ordenar, ou melhor, de reordenar a experiência social do cidadão nas cidades e em diferentes comunidades no agendamento de uma atualidade, de um mundo e não do mundo, como sugerido anteriormente na Introdução e neste capítulo. Esta constatação também indica uma tendência potencial e constante do noticiário televisivo de aglutinar , de realizar a convergência de formas e conteúdos narrativos distintos, resultante numa possível transformação do próprio gênero, como já ocorre nos noticiários norte-americanos. Confere- se assim, cada vez mais espaço às notícias diversificadas, amenas e suaves, dando-se uma ênfase maior ao entretenimento do que à informação, e ao compromisso com a cidadania e a responsabilidade social, na busca pela conquista da audiência. (BECKER, 2005: pág. 90)

Entrevistas e depoimentos formam, como afirmou Machado, essa colagem de vozes num eixo sintagmático, mas para Becker, a escolha de quem fala?; o que fala?; de que lugar fala?; por que fala? não reflete a pluralidade de opiniões e falas nos telejornais. Para a autora, o telejornalismo brasileiro privilegia em seus depoimentos fontes de classes sociais privilegiadas, deixando para as classes sociais mais pobres, histórias individuais, que contam pequenos ou grandes dramas do cotidiano. É característico do discurso jornalístico, segundo a autora, a valorização da ação individual das fontes e indivíduos e a diluição de uma mobilização coletiva com o objetivo de ganhar a audiência através da comoção, mas mantendo a ordem, um status quo.

Se existe uma hierarquização de falas e depoimentos que construirão o discurso dos telejornais, existe também, segundo Becker, uma hierarquização dos assuntos que serão destaques num determinado telejornal segundo os interesses econômicos, políticos e sociais de cada empresa de comunicação. Becker, em sua obra A linguagem do telejornal: Um Estudo da Cobertura dos 500 anos do

às ofertas que os telejornais, principalmente os de rede nacional, oferecem todos os dias pela travessia audiovisual de cerca de trinta minutos, pela realidade brasileira.

A autora constatou ainda em seus estudos, analisando os três telejornais, Jornal Nacional, Jornal da Record e Jornal da Band, que os telejornais tentam buscar um equilíbrio entre os diferentes campos temáticos: Política, Brasil, Hard News, Esporte, Economia, Internacional e outros, com o objetivo de atrair a maior pluralidade de telespectadores e consequentemente conquistar bons índices de audiência. Na TV aberta, como já destacamos neste trabalho, não há interesse por parte das emissoras em segmentar sua programação, principalmente em produtos audiovisuais, como o telejornais.

Essa lógica da produção de conteúdo nos telejornais só é quebrada em virtude de um fato, ou acontecimento nacional ou internacional de extrema relevância ou comoção, como pudemos observar na edição do Jornal Nacional do dia 07 de abril de 2011. Nesta edição o JN foi quase todo dedicado ao massacre de estudantes na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, por um ex-aluno da escola. Quando realizamos a decupagem62 dessa edição do JN, fica claro o tempo que o telejornal dedicou ao massacre dos estudantes: dos quase 23 minutos entre reportagens e notas exibidas na edição do dia 07 de abril, aproximadamente 18 minutos, mais de 78% do conteúdo do