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Cultura política no Cone Sul

No documento PASSAPORTE PARA A AMERICANIDADE (páginas 91-104)

CAPÍTULO III MERCOSUL: VERTENTE CULTURAL

3.1 Cultura política no Cone Sul

Ocupadas pelas populações indígenas que atravessavam aquelas planícies, deslocando-se entre o Chaco e a Patagônia disputada pelos espanhóis e portugueses, pelo gaúcho congenitamente nômade e indócil e, depois, pelos imigrantes, a região dos pampas, entre os Andes e o Atlântico, pode ser considerada o coração e a alma da América

Meridional. Seu espaço político sempre foi alvo de contendas impetuosas e rústicas, tanto pelas elites concentradoras da riqueza e o poder, quanto pelas atividades contínuas de caudilhos.

Em cada país, tanto do lado de lá quanto do lado de cá do rio da Prata, proliferavam comunidades indígenas, espanhóis e portugueses nômades, caudilhos e militares, conduzindo, ao seu modo, contestações aos governos, o aprofundamento das lutas pela autonomia, acobertados por milícias que eles mesmos organizavam na esfera dos seus domínios. As contradições decorrentes do modelo rude e intenso de relacionamento entre os pampianos contribuíram, por outro lado, para transformar os campos sulinos numa zona efervescente de lutas e idéias políticas, cujas ações não se davam por meios convencionais. Campeadores ágeis do gado errante, eles desarvoravam os sistemas de segurança e desarticulavam os interesses das potências internacionais na sub-região, práticas que terminaram por conduzir à militarização de todo o Cone Sul, contribuindo para a configuração de uma cultura sub-regional e modelos de governo de perfis autoritários. Embora alguns tenham lutado juntos nas guerras da Independência, esses caudilhos conseguiram fragmentar a região, tomando como suas as disputas entre Espanha e Portugal, desviando-se do curso de qualquer possibilidade de integração entre os territórios que vieram a se tornar nações independentes e autônomas. Estabeleceram-se com isso os limites físicos e fronteiriços sub-regionais, incorporando e separando populações nativas que seriam, logo a seguir, despojadas de suas culturas pelos “missioneros” e, depois, de suas terras pelas sucessivas correntes migratórias internas e externas assentadas na região

A instituição dos Estados nacionais não apaziguou os ânimos dos habitantes dos pampas. Enraizados na violência campal, a caudilhagem não se inibiu. Foi mantida ao longo de quase todo o século XIX, em que os países se organizavam. Aquelas disputas hegemônicas sub-regionais só começaram a ser amenizadas quando apareceram as primeiras agremiações partidárias15 canalizando para a retórica a violência campal generalizada, isso já quando o século se aproximava do final.

15 Uruguai: Partido Nacional (blancos). Fundadores Gen. Manuel Oribe e Aparício Saraiva. Sua criação

remonta a chamada Batalha de Carpinteria, em 19 de setembro de 1836, contra o exército de Gen. Fructuoso Rivera. Seus combatentes usavam divisas brancas. Identifica-se com o populismo e contra o liberalismo, mantém vínculos com a propriedade da terra, e com o pensamento criolo. Partido Colorado, 1836, líder carismático Fructuoso Rivera, ideologia liberal, urbana. Suas correntes internas vão da centro-direita à social- democracia); Argentina: entre 1870 e 1890 entraram no país cerca de um milhão de imigrantes. As guerras e os levantes de caudilhos foram sendo abandonados. As contradições geradas, já que o país já existia enquanto Nação, terminou fazendo aparecer uma divisão política entre os “patrícios” (criolos) e os imigrantes, e com eles os partidos políticos .O primeiro partido político argentino legitimamente constituído foi a União Cívica Radical (1890), posicionado contra a anarquia de que foi tomado o país nos últimos anos do século XIX. Mas, o Gen. Júlio Rocca disputou as eleições por um Partido Autonomista Nacional (Pan), de linha criola, caudilhesca, vinculado à oligarquia rural que concorria com o Partido Republicano, que sustentou Sarmiento na Presidência da República, considerado de linha modernizadora. A modernização do país agregou à política argentina a linha justicialista, de caráter populista, ou seja, absorvia as tensões sociais, e que tinha Juan Domingo Perón, como seu ícone. Brasil: Os partidos políticos no Brasil funcionaram quase que como representantes de facções, divididas entre conservadores e liberais. No Sul, as forças políticas vão se dividir entre federalistas (maragatos) e republicano (chimangos). O primeiro partido mesmo vai ser o Partido Libertador, criado pelos federalistas, liderados por Silveira Martins, e o Republicano Riograndense liderado por Júlio de Castilhos. O Partido Republicano tornou. se uma agremiação regional, tomando o nome de cada estado e com isso confundia-se com a identidade das lideranças carismáticas. A modernização político- partidària veio com o fim da ditadura de Vargas, quando emergiram três grandes partidos nacionais: UDN (liberal, de direita), PTB (populista) e PSD (uma espécie de partido de linha criola). Paraguai: Os principais

Os partidos surgidos nesse período, embora tenham mudado de nome e gerado novas siglas ao longo de sua existência, mantinham praticamente raízes e caules autônomos atrelados ás representações da vida regional, parecendo sugerir raízes rizomáticas16, que marcaram, no imaginário das populações, a presença dos eventos fundadores políticos de cada grupo, independentemente do nível e da diversidade ideológica alcançada.

Muchas veces se ha dicho que 1880 representa " el fin de la Argentina épica y el comienzo de la Argentina moderna" , sin embargo la frase es válida sólo en un determinado sentido: las guerras y los levantamientos de caudillos fueron dejadas atrás y es cierto que nacieron los partidos políticos y los debates parlamentarios, pero también nacieron nuevos problemas y enfrentamientos , especialmente con la inmigración (História de Argentina – Mercosul tìtulo 1).

Com a modernização, resultado de um intenso processo migratório, as disputas políticas no interior chegaram ao ápice histórico de um modelo ambíguo de governo típico das culturas criolas da América Latina: caudilhesco, nacionalista exacerbado e autonomista. A modernidade trouxera, entretanto, a industrialização e, com ela, uma nova relação social, introduzindo na América Meridional a figura do operário que, unindo-se à sociedade civil, reivindicou para si, por meio de grandes mobilizações, também um espaço na política.

As lutas sociais ganharam tal dimensão que a proteção dos interesses convergentes dentro do aparelho de Estado começou a sair do espaço público para chegar à casa de cada cidadão, fosse ele brasileiro, argentino, uruguaio, paraguaio,, chileno ou boliviano. Essa situação prolongou-se por um período longo, atingindo seu ápice com o militarismo. Para manter, pela força, a estabilidade política, sem poupança interna, o modelo recebia uma injeção de recursos estrangeiros para a economia, o que gerou um endividamento na região para além das possibilidades de cada país. Contudo, ao restringirem as liberdades individuais, permitirem ou conduzirem a prisão, a tortura e o assassinato de cidadãos os governos militares foram, aos poucos, se esfacelando perante a opinião pública interna e externa, terminando por perder o apoio, enquanto as forças revolucionárias também começaram a ganhar uma identidade comum na região.

Mesmo assim, apoiado pelas elites nacionais e os interesses estrangeiros pontuais, o militarismo permaneceu ainda durante muito tempo vivo no imaginário das populações

partidos políticos são o Colorado (Asociación Nacional Republicana), o Liberal Radical Auténtico e Atopo Nacional.

16 Deleuze y Guattari definen en el rizoma como una “extensión superficial ramificada en todos los sentidos”.

El recorrido no secuencial (no lineal) que genera este accionar, manifiesta otra de las características mencionada por estos autores, como la carencia de un principio y un fin: el rizoma no empieza o acaba sino que se encuentra en el medio, entre las cosas, produciendo un movimiento constante al entrar y salir de ese intermezzo que destruye todo inicio y final. Este medio que crece y desborda construye multiplicidades difíciles de localizar por su naturaleza cambiante y evasiva a través de las líneas de fuga de la red. La deslocalización o desterritorialización se manifiesta através del aspecto colaborativo del trabajo en comunidad.” (MATERWECKI, 2008).

por meio das representações criadas e sustentadas pelos respectivos governos e pelo o que foi chamado de “entulho autoritário”, mantendo a região sob tensão até metade dos anos oitenta, quando a modernidade, já avançada, acenava com novas alternativas de sobrevivência e bem estar para as populações e para os países. Paradoxalmente,

[...] a situação sul-americana ainda se caracterizava por “hipóteses de guerra” ou graves tensões entre Argentina e Brasil, Argentina e Chile, Bolívia e Paraguai, Bolívia e Chile, Bolívia e Peru, Peru e Equador, Equador e Colômbia, Colômbia e Venezuela, Venezuela e Brasil, num circuito perfeito de desencontros, associando vizinho a inimigo e fronteira a muro divisório” (Guelar, 1996).

As lutas de libertação nacional e as forças políticas internas, sufocadas até então17, de repente emergiram, numa entusiástica mobilização pela democracia, contribuindo para um ajuste pluripartidário, no qual foram acomodados, inclusive, grupos que haviam radicalizado suas atividades clandestinas, pegando em armas. Na área social, cada segmento – universidades, sindicatos, meio científico, economia e até a igreja - procurava recuperar o tempo perdido. Essa explosão de criatividade se estendeu à área cultural, cujas manifestações viviam sob o efeito das censuras e proibições.

Os problemas internos eram de tal ordem que restavam poucas oportunidades de reaproximação imediata e de afirmação de um entendimento comum na região. Comprometidos internamente com as liberdades democráticas e sob os efeitos da globalização no campo da economia, os novos governos civis reagruparam as forças produtivas nacionais em torno de modelos de desenvolvimento que pudessem pacificar as nações e reinseri-las no processo de desenvolvimento global, já que era aquela a tendência.

O Brasil e a América Latina estavam muito atrasados em relação a tudo que acontecia no mundo. Martín-Barbero chama de divórcio da modernidade, entendida como processo econômico vivido pelos países da região - em que são rompidos os laços com o período pré-capitalista - e movimento cultural exposto ao próprio esgotamento. O modernismo perdera sua relação com a modernidade e transformara-se numa ideologia, amparando no Brasil, as opções nacionalistas. (BARBERO, 1995, p.15).

Desde o final dos anos cinqüenta e ao longo dos anos sessenta, quando o crescimento econômico e o desenvolvimento urbano abrigavam novos contingentes de classe, a indústria cultural ganhara o seu impulso definitivo, dela decorrendo a expansão e uma diversificação cultural massiva e um mercado de bens simbólicos, que se colocavam, - para usar uma expressão de Thomas Tuffe - numa “zona cinza” entre o interesse público e o privado. “Ela é a sala mais próxima da rua, onde as pessoas entram, olham, conversam umas com as outras, [...] influenciando a constituirão das culturas híbridas das massas urbanas da América Latina” (TUFFE, 1995. p.44-45).

17 Entre as primeiras iniciativas efetivas de integração dos governos do Cone Sul, ocorreu no período militar -

décadas de 70/80 - a chamada “Operação Condor”, em que os aparelhos repressivos se uniram em torno da tese da segurança interna, comprometendo-se a deter e repatriar proscritos de um país que estivessem vivendo em outro país, para que fossem julgados no país de origem. Aconteceram muitos casos de prisões e deportaçoes.

Assim, a queda dos regimes autoritários fez aflorar a democratização dos processos políticos, econômicos, sociais e culturais. A imprensa foi libertada das suas amarras partidárias, condição básica para o ingresso no novo espaço transfronteiriço proporcionado por ela mesma, passando a abrigar a idéia do fortalecimento da economia pela livre iniciativa e a livre circulação de idéias. A substituição das importações de bens industriais esgotava-se rapidamente e a pós-modernidade, na sua voracidade, trazia outras alternativas. Barbero definiu a recém-chegada como “el nombre de un malestar, de la imprecisa y ambígua consciência de um cambio de época”. Para ele, ela se articulava a partir da negação da razão totalizante e da “búsqueda de uma unidad no violenta de lo múltiple, com la conseguiente revaloración de las fracturas, los fragmentos y las minorias en cultura, en política o en sexo.” Conclui que : “[...] no significa la negación o el desconocimiento del pasado sino la negación a la nostalgia de la totalidad como unidad.” Isolados, endividados e pauperizados, na América os países procuravam opções para sair do atraso em que estavam mergulhados. O fim das ditaduras militares nacionalistas e sua substituição por modelos mais abertos recuperou das estantes velhas iniciativas de aproximação entre vizinhos, induzindo os países à formação de blocos integrados, já percebidos em outras regiões, como opção para o enfrentamento dos novos paradigmas do desenvolvimento global. Sinalizava-se assim para o início de um processo de entendimento entre diferentes países na América, no Cone Sul, um estreitamento de relações entre velhos “inimigos cordiais” como Chile e Argentina e Argentina e Brasil. Os dois últimos iniciaram então uma série de consultas mútuas e troca que, de imediato, transformaram-se em acordos que começaram a ser assinados em 1985, com a Ata de Iguaçu e desembocaram no Tratado de Assunção em 1991, ao qual se agregaram de imediato o Uruguai e o Paraguai.

Os “entulhos autoritários” no Cone Sul foram gradualmente sendo desativados, provocando um imenso impacto sobre as representações de mundo que separavam os interesses e as populações do Cone Sul. Como conseqüência imediata, observou-se o desmonte da maioria dos conflitos potenciais internos e regionais na América do Sul, promovendo-se um período de profundas transformações na região. Consagrou-se o pluripartidarismo, a livre iniciativa e a liberdade de pensamento, parâmetros dentro dos quais cada grupo político, empresarial ou social foi se acomodando. Data desse momento, a maioria das parcerias comerciais com os vizinhos, quase impossível nos governos militares, porque mascaravam as relações produtivas com um nacionalismo que resultara num protecionismo improdutivo e tacanho. O fim dos governos militares foi, portanto, um marco para o desenvolvimento e para a tão reclamada modernização das economias e das sociedades da América.

Assim, não parece ser mais um sonho o processo de modernização nos paises da região. O modelo integracionista, mesmo enfrentando inflexões graves, avançou na área comercial, alavancando riquezas comuns, alternativas de consumo para as populações, introduziu novos hábitos, extravasando-os para outros segmentos sociais e culturais. Entende-se que, se não for tomada por novos retrocessos, a integração econômica, política, social e cultural da América do Sul continuará seu processo modernizante, de formatação lenta, mas sistematicamente progressivo, tendendo a desembocar num “destino comum”.

O Brasil mostrou-se sempre aberto às propostas de integração regional, tendo participado do Tratado de Montevidéu, em 1960, da Associação Latino-americana de Livre Comércio (Alalc), substituído, em 1980, pela Associação Latino-Americana de Integração (Alaldi).

No início dos anos 80, final dos anos dos governos militares, em plena “abertura política”, no Brasil, o general João Batista Figueiredo, ainda Presidente, fez uma visita, já na fase de distensão político-militar, à Argentina, de caráter quase sentimental, já que fora adido em Buenos Aires, e lá perambulou pela cidade, conversou com cidadãos, foi ao bairro La Boca dançar tango, visitou o seu time de futebol, e vestiu a sua camisa, e fez declaração de amor à cidade de Buenos Aires. Sua atitude foi recebida com entusiásticas manifestações de simpatia pelos argentinos. Figueiredo deixou o governo em março de 1985. A sua passagem por Buenos Aires e a identificação com a cultura e o comportamento dos portenhos constituiu-se num passo importante - que a literatura acadêmica tem se recusado a registrar por se tratar de um governo militar - para sepultar muitos dos ranços e desconfianças entre brasileiros e argentinos, que vinham sendo alimentados há anos, abrindo espaços para uma aproximação entre governos e cidadãos dos dois países.18

Esse quadro histórico conjuntural, coincidente em vários aspectos com o

imaginário social e político dos dois países, despertou o Brasil e a Argentina para a busca de um destino mais próximo. O anacrônico modelo protecionista de proibição das importações, que se estendera por quase 30 anos, entre 1950 a 1980, agonizava diante do novo cenário de abertura global que emergiu com o esvaziamento das disputas hegemônicas entre o Ocidente e o Leste europeu.

O fim da Guerra Fria e a abertura comercial dela decorrente vinha contribuir para limitar ainda mais a presença da América Latina no mercado mundial. A formação de megablocos provocou uma perda de espaço da região no comercial internacional. Os dados são dramáticos: “Em 1970, 8% do comércio internacional era feito com a América Latina. Em 1989 essa participação caiu para 3,5% e no período de 1990/91 para 2%. Em matéria de investimentos, em 1980, 13% das inversões mundiais foram direcionadas para a região. Nos dois últimos anos (90/91), esse percentual caiu para cerca de 5%. A essas perdas somam-se as dificuldade de obtenção de financiamento e de acesso à tecnologia. [...], As exportações para a Comunidade Européia estão estagnadas nos últimos três anos e meio, enquanto no mesmo período houve uma queda nas vendas do

Brasil para os Estados Unidos”. (TACHINARDI, 1992)

3.1.1 Aprendendo a conviver com os vizinhos

Os mercados dos Estados Unidos e da Comunidade Européia representavam 65% das vendas do Brasil para o exterior. Uma análise das condições históricas desses relacionamentos econômicos do Brasil e das perspectivas conjunturais levou o Itamaraty a recomendar uma maior atenção para uma política de aproximação com os países da América do Sul, vistos, a partir de então, como uma importante zona de comércio para o Brasil. Em novembro de 1985, os Presidentes Raúl Alfonsin, da Argentina, e José Sarney, do Brasil, assinaram a chamada Ata de Iguaçu, com a finalidade de incrementar as relações comerciais, complementar o processo de industrialização e desenvolver uma cooperação no campo da tecnologia e da energia nuclear. O desenvolvimento unilateral nessa área chegara a provocar, no passado, a desconfiança entre os governos militares dos dois países que já haviam tido suas divergências quando da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e a opção por uma política nuclear diferenciada. Embora sem terem extinguidos todos os ranços no campo, principalmente cultural, os dois países davam o passo inicial nesse sentido, ao partirem para uma empreitada conjunta de enfrentamento das novas condições do mercado globalizado pela integração dos respectivos segmentos produtivos. A assinatura da Ata de Iguaçu, em novembro de 1985, e o Programa de Integração e Cooperação Econômica (Picab), em meados de 1986, vão enterrar de vez as divergências no campo militar e sinalizar para o início de um processo de cooperação econômica, cuja intenção já era, no fundo, conseguir retomar a idéia do Cone Sul, mas como uma região geoeconômica comum. No desdobramento do Pice, Raúl Alfonsin, da Argentina, e José Sarney, do Brasil, assinaram, em dois anos, doze protocolos comuns, seis adicionais e diversos anexos. Na assinatura da chamada Ata da Integração, em Buenos Aires, já se previa um mercado comum para o ano 2000.

Estabeleceram-se metas comuns nos segmentos de:

[...] bens de capital; comércio; empresas binacionais; assuntos financeiros; fundos de investimento; energia; estudos econômicos; cooperação aeronáutica; indústria siderúrgica; transporte terrestre e marítimo: comunicações; cooperação nuclear; cooperação cultural; administração pública; instrumentos monetários; cooperação industrial (alimentícia e automobilística); questões fronteiriças; e planejamento econômico e social (FILGUEIRAS. 1996. p-16).

A maioria dos protocolos não vingou devido aos problemas econômicos nos dois países, e o programa teve de passar por uma revisão geral, que resultaria em uma mudança importante com o Tratado de Buenos Aires, em novembro de 1988, dentro do qual foram assinados mais vinte e quatro protocolos. O documento básico só foi aprovado em 1989 pelos parlamentos dos dois países. Previa-se para até 1994 a formação de um mercado comum, estabelecendo-se, contudo, um prazo de dez anos para a eliminação de toda e qualquer restrição tarifária e não-tarifária no campo da comercialização de produtos e serviços constantes da Nomenclatura Aduaneira da Aladi. Para o estudo da questão, negociação e harmonização das políticas, criou-se o Grupo Mercado Comum e firmou-se um Tratado para o Estabelecimento de um Estatuto das Empresas Binacionais

Brasileiro/Argentino, em que o capital das empresas poderia transitar livremente entre grupos empresariais dos dois países.

A agilidade do processo de integração Brasil e Argentina dentro do espaço do Cone Sul despertou também o Uruguai e o Paraguai, localizados na mesma região e com intensos laços econômicos e culturais entre si, com o Brasil e a Argentina, que manifestaram de imediato o desejo de participarem do processo de integração, até então bilateral. Por sua vez, a Constituição Brasileira de 1989, em seu artigo 4º, parágrafo único, recomendou a realização de esforços por parte dos governos do Brasil para fomentar a integração da América Latina. A adesão do Uruguai e do Paraguai vinha dar consistência ao processo de

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