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CAPÍTULO II – CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

2. O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

2.2. O currículo e o educador de infância

“O educador é o construtor, o gestor do currículo, no âmbito do projecto educativo do estabelecimento ou do conjunto de estabelecimentos. O educador deve construir esse currículo com a equipa pedagógica, escutando os saberes das crianças e suas famílias, os desejos da comunidade e, também, as solicitações dos outros níveis educativos”.

Vasconcelos (Ministério da Educação, 1997)4

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De acordo com Vasconcelos (1997) poderemos dizer que o educador é o criador do currículo que implementa, visto não existir um currículo único e universal para a rede de educação pré-escolar.

Assim, o educador com a respectiva equipa pedagógica deverá pensar, planificar, redigir e desenvolver o currículo de acordo com os interesses do grupo de crianças com o qual este irá ser trabalhado/desenvolvido e a comunidade envolvente. No que diz respeito à concepção e desenvolvimento do currículo, o educador deverá recorrer à planificação, organização e respectiva avaliação do ambiente educativo, das actividades desenvolvidas e dos projectos curriculares.

Mas, não será só na construção do currículo que o educador tem um papel importante e indispensável. No aspecto do ambiente educativo, o educador deverá organizar o espaço e os materiais de acordo com a idade e as necessidades das crianças, para lhes proporcionar experiências educativas diversificadas e integradas. Deverá, ainda facilitar o contacto/manuseamento dos diferentes materiais, sem esquecer os interesses principais das crianças que constituem o seu grupo de trabalho.

A organização da rotina diária e a duração de cada actividade deverá ser inicialmente definida, para que assim as crianças comecem a adquirir noções temporais. É de salientar que o tempo atribuído a cada actividade deverá ser flexível e de acordo com a capacidade de atenção e concentração das crianças. No planeamento e organização da prática educativa o educador deverá gerir os recursos educativos, materiais e humanos que possui, bem como, os que estão relacionados com as novas tecnologias de informação e comunicação (TV, DVD, vídeo, computadores, internet, entre outros).

O papel do educador não se fica só pela organização do ambiente educativo, pois a nível da observação, planificação e avaliação o seu papel e intervenção são cruciais e fundamentais. Deverá observar cada criança como um ser único, individual e inserido num grupo/sociedade para assim adquirir um conhecimento global das mesmas e, posteriormente, planificar as actividades e os projectos que o irão ajudar e contribuir para o desenvolvimento integral destas. Contudo, na planificação o educador não deverá descurar as competências e as aprendizagens que as crianças já possuem e já adquiriram em anos anteriores ou então em contextos diferentes do contexto educativo.

De acordo com o que já referimos, poderemos constatar que a observação de todo o ambiente educativo e, principalmente, das crianças/grupo que o educador faz

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serão a base da planificação e posteriormente da avaliação sendo, por isso, considerada como uma parte essencial e integrante do processo educativo.

Ao planificar, o educador deverá fazê-lo de forma integrada e flexível, tendo em consideração os dados recolhidos na observação e na avaliação. Também deverá ter em consideração o grupo de crianças, as suas idades, capacidades, interesses e necessidades/limitações, pois este acto implica que o educador organize ou reorganize todo o ambiente educativo (recursos materiais e humanos que possui ao seu dispor) e que tenha sempre em conta as diferentes áreas de conteúdo, bem como, a articulação entre si e com o 1º ciclo do ensino básico. Assim, o educador deverá planificar actividades abrangentes e com objectivos transversais a todas as áreas de conteúdo referenciadas nas OCEPE5.

Por vezes, o educador também poderá planear o processo educativo com as crianças. Esta forma de planeamento permitirá “ao grupo beneficiar da sua diversidade, das capacidades e competências de cada criança, num processo de partilha facilitador da aprendizagem e do desenvolvimento de todos e de cada um” (Ministério da Educação, 1997, p. 20).

Depois de observar e planificar, o educador deverá agir, ou seja, deverá pôr em prática a sua planificação, ou seja, as suas intenções educativas. Estas deverão ser adaptadas e readaptadas ao grupo sempre que necessário. A avaliação realizada pelo educador deverá ser uma avaliação formativa e sempre que possível deverá ser feita junto do grupo de crianças.

No âmbito das relações e da acção educativa, o educador deverá promover o relacionamento harmonioso com a comunidade envolvente. Deverá proporcionar às crianças um clima alegre, saudável e carinhoso, promovendo o desenvolvimento da autonomia e da auto-confiança destas. Neste sentido, o educador deverá despertar o interesse das crianças pelas tradições da comunidade e pela observação de fenómenos da natureza e acontecimentos sociais.

Finalmente, cabe ao educador promover a continuidade educativa, marcada pela passagem do pré-escolar para o 1º ciclo. Logo, o educador além de comunicar com a família, deverá em colaboração com os colegas do 1º ciclo facilitar a transição da criança para a escolaridade obrigatória. Para isso, o educador deverá promover diálogos

5 Área de Conhecimento do Mundo; Área do Conhecimento do Mundo e Área de Expressão e

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sobre este acontecimento, desenvolver actividades relacionadas com o mesmo e, sempre que possível, realizar visitas de estudo às escolas primárias.

Poderemos afirmar que o educador é o interveniente principal de todo o processo educativo da educação pré-escolar, principalmente no que diz respeito à elaboração, planificação e desenvolvimento do currículo. Também é o responsável directo e indirecto de formar crianças activas e participativas no processo ensino- aprendizagem. Logo, estas terão e poderão formular hipóteses, dar ideias e sugestões, partilhar experiências, medos, angústias, vivências entre muitos outros aspectos.

Por tudo isto, os educadores deverão “dispor de elementos, de competências necessárias para intervir adequadamente no desenvolvimento de suas capacidades, aspirações e tendências através da organização de actividades didácticas específicas” (Comissionne Ministeriale, 1995, p. 77). Isto, implicará que o educador seja possuidor de conhecimentos de diversos domínios, ou seja, domínios “culturais, pedagógicos, psicológicos, metodológicos e didácticos unidos a uma aberta sensibilidade e disponibilidade ao relacionamento educativo com as crianças” (ibidem, p. 99).

Apesar do importante papel das crianças o educador não pode ser menosprezado, pois ele é o mediador e o organizador de todo o processo educativo. De uma forma indirecta o educador acaba por ser o actor principal de toda a prática educativa, pois toda a dinâmica da sala de actividades dependerá de si e das suas orientações. Ao contrário do que uma grande parte da nossa sociedade ainda pensa e diz, a educação pré-escolar, não serve só para “tomar conta das crianças” enquanto os pais vão trabalhar. A educação pré-escolar deve preocupar-se com o bem-estar da criança, com o seu desenvolvimento integral, harmonioso e saudável, bem como, com as suas aquisições, aprendizagens e conhecimentos adquiridos com êxito por estas ao longo de um determinado período de tempo.

Neste sentido, torna-se necessário que os objectivos educacionais definidos na Lei nº 5/97, nas OCEPE e no plano anual de actividades, entre outros documentos e projectos, sejam trabalhados e alcançados com êxito pelas crianças. Por isso, será importante salientar e definir claramente o que se faz; porque se faz; para que é que se faz; quais as aprendizagens essenciais que as crianças devem adquirir; quais os objectivos e as competências que se pretendem desenvolver e alcançar num determinado período de tempo e numa determinada faixa etária.

De acordo com a Lei nº 5/97 (art. nº 10) e com as OCEPE os principais objectivos da educação pré-escolar são: promover o desenvolvimento pessoal e social

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da criança tendo em vista uma educação para a cidadania; inserir a criança em diferentes grupos sociais, favorecendo a tomada de consciência por parte desta do seu papel como membro de uma sociedade cada vez mais multirracial; contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola a todas as crianças e no sucesso de aprendizagens; desenvolver a criança globalmente, mas tendo sempre presente as suas características individuais e fornecendo comportamentos que favoreçam aprendizagens significativas e diversificadas; desenvolver a expressão e a comunicação através da utilização de diferentes linguagens; despertar a curiosidade e o pensamento crítico da criança; proporcionar a cada criança condições de bem-estar e de segurança; proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e precocidades, promovendo uma orientação e encaminhamento da criança o mais precocemente possível; incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de colaboração com a comunidade envolvente.

Analisando e reflectindo sobre o que atrás foi referenciado, poderemos dizer que os objectivos da educação pré-escolar deverão estimular e favorecer principalmente a formação e o desenvolvimento da criança; contribuir para a estabilidade e a segurança afectiva; desenvolver laços familiares e relações pessoais; fomentar a integração e a sociabilização e proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades para assim se actuar o mais cedo possível, de uma forma mais rápida, directa e eficaz. Por estes motivos é que a educação pré-escolar deverá abranger crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 5/6 anos, e sempre que possível mais novas, e não dar somente prioridade às crianças de 5 anos.

Alcançar, ou melhor, atingir com êxito estes objectivos não é uma tarefa fácil, mas também não é de todo uma tarefa impossível. Os pais/família são os principais intervenientes e responsáveis pela educação das crianças de tenra idade; contudo, infelizmente muitas famílias não têm condições económicas, sociais, afectivas e morais para orientar a criança e muito menos contribuir para o seu desenvolvimento integral, harmonioso e saudável.

Compete ao Estado garantir os direitos a todas as crianças pois infelizmente para muitas famílias a única solução e esperança é mesmo a participação activa do Ministério da Educação e das entidades locais existentes. Apesar disso, para alcançar alguns dos objectivos como a sociabilização, ou seja, a construção de uma sociedade cada vez mais justa, íntegra, moderna e dinâmica torna-se necessário que a intervenção do Ministério da Educação seja mais activa, real e contínua. Infelizmente, o Ministério

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da Educação e os seus responsáveis não têm conhecimento da verdadeira realidade

existente em cada contexto educativo, mais concretamente, em cada jardim-de-infância.