• Nenhum resultado encontrado

O Currículo na educação pré-escolar: desenvolvimento e gestão

CAPÍTULO II – CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

2. O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

2.1. O Currículo na educação pré-escolar: desenvolvimento e gestão

A forma como a sociedade começou a encarar a educação destinada às crianças pequenas e o desenvolvimento de novas políticas educativas influenciou significativamente a expansão e o desenvolvimento da rede de educação pré-escolar.

O ano de 1997 foi marcante e decisivo para este nível de ensino. O Estado assumiu-se como o principal responsável da dinamização deste nível educativo. Foi promulgada a Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar, Lei nº 5/97 de 10 de Fevereiro de 1997, cujo princípio geral consignava que “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário”.

Passou-se a olhar para este nível de ensino de outra forma e a avaliação começou a ser vista como uma parte essencial e integrante do processo educacional e do desenvolvimento curricular deste nível educativo.

Em 11 de Junho, foi promulgado o Decreto-Lei nº 147/97 de 11 de Junho. Para se alcançar com êxito o que estava consignado no seu art. nº 7 “a igualdade de acesso à educação a todas as crianças”, criou-se e desenvolveu-se uma rede nacional de estabelecimentos de educação pré-escolar, embora insuficiente e incapaz de integrar todas as crianças em idade pré-escolar.

46

Neste mesmo ano o Ministério da Educação apresentou o Despacho Normativo nº 5220/97 de 4 de Agosto de 1997, através do qual, emanou as OCEPE.

Este documento é específico para a rede de educação pré-escolar e teve uma grande influência nas práticas pedagógicas de todos os educadores de infância. Isto, porque nele os educadores encontraram um documento bem estruturado, que os ajuda a planificar e a organizar as actividades pedagógicas. A intencionalidade das OCEPE é vincular o processo educativo deste nível de ensino.

A par da indissociabilidade do desenvolvimento e da aprendizagem, é seu fundamento o reconhecimento da criança como “um sujeito do processo educativo; a articulação das diferentes áreas do saber/conteúdo; a diversidade e a cooperação” (cfr. Ministério da Educação, 1997, p. 14).

Também sublinham e valorizam a intencionalidade da acção educativa e referem um conjunto de etapas sucessivas - planificação, acção, avaliação e comunicação. Estas características são essenciais e comuns à maioria dos educadores pois asseguram a intencionalidade do processo educativo, ou seja, defendem que o “desenvolvimento curricular, cujo principal actor é o educador, deve ter em consideração os objectivos gerais da educação, a organização do ambiente educativo e a intencionalidade educativa, bem como, as áreas de conteúdo” (Ministério da Educação, 1997, p. 14).

Com a aprovação e o lançamento das OCEPE, pretendeu-se implementar e uniformizar a prática pedagógica, fornecendo aos Educadores de Infância um conjunto de princípios pedagógicos e organizativos para estes utilizarem no seu dia-a-dia, tendo sempre como base uma educação de qualidade.

As OCEPE dividem as áreas do conhecimento infantil em três áreas de conteúdos distintas que são consideradas as fundamentais na organização dos contextos educativos e das oportunidades de aprendizagens. Assim, temos:

● A área de formação pessoal e social;

● A área de expressão e comunicação, que se divide em três domínios:

domínio da expressão motora, dramática, plástica e musical; domínio da linguagem oral e abordagem à escrita; domínio da matemática;

● A área de conhecimento do mundo.

Estas áreas deverão ser trabalhadas de forma articulada e globalizadora. Por isso, durante o horário lectivo deverão ser desenvolvidas actividades lúdico-pedagógicas e didácticas com as crianças, de forma a estas conquistarem aprendizagens

47

significativas. Estas actividades, sempre que possível, deverão ser planeadas com as crianças, procurando deste modo dar cumprimento à Declaração dos Direitos Humanos, ratificada por Portugal, a qual preconiza e defende que o papel da criança no processo educativo deve ser activo e participativo pois é essencial para o seu desenvolvimento.

Apesar da importância e do lugar de destaque que as OCEPE alcançaram no meio da educação pré-escolar, não podem, nem devem ser entendidas como um currículo ou um programa a seguir. Isto é, embora sejam um documento de referência para todos os educadores da rede nacional da educação pré-escolar no nosso país, estes só devem recorrer a ele para se orientarem e, consequentemente, fundamentarem algumas das suas atitudes e decisões pedagógicas, tal como é referido no próprio documento, pois “adoptam uma perspectiva mais centrada em indicações para o educador do que na previsão de aprendizagens a realizar pelas crianças. Diferenciam-se também de algumas concepções de currículo, por serem mais gerais e abrangentes, isto é, por incluírem a possibilidade de fundamentar diversas opções educativas e, portanto, vários currículos” (Ministério da Educação, 1997, p. 13).

Na prática pedagógica, o educador tem um leque diversificado de opções educativas e consequentemente de currículos; as OCEPE não estabelecem nem definem conteúdos, nem objectivos específicos para cada idade, ou seja, todos os objectivos definidos e enumerados neste documento são globais e abrangem todas as faixas etárias que a educação pré-escolar engloba.

Apesar de este documento fazer parte do dia-a-dia dos educadores de infância e de estar presente em toda a sua prática educativa, existem ainda alguns que não sabem muito bem como consultá-lo nem como interpretá-lo. Estas dificuldades surgem “principalmente das próprias características do documento, mas, sobretudo devido à falta do conhecimento teórico que subjaz ao documento oficial, bem assim como à falta de recursos de diagnóstico e de avaliação” (Pereira e Viana, 2003)3.

Em 2001, o Decreto-Lei nº 241/2001, de 30 de Agosto de 2001, ao especificar o perfil do educador de infância, tendo por base a “dimensão de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, veio realçar a importância do currículo e da avaliação já que o educador “concebe e desenvolve o respectivo currículo (…) e avaliação do ambiente educativo, bem como das actividades e projectos curriculares, com vista à construção de aprendizagens integradas”. Para tal “mobiliza o conhecimento e as competências

3

Dionísio, M. e Pereira, I.(2006), disponível no site:

48

necessárias ao desenvolvimento de um currículo integrado”. Podemos considerar o “currículo” previsto no Decreto-Lei acima referenciado, como:

● Um conjunto de aprendizagens consideradas necessárias num dado contexto

educativo e num determinado período de tempo;

● Uma organização de situações educativas e contextualizadas para concretizar

ou desenvolver a prática pedagógica.

Posteriormente, a rede nacional de educação pré-escolar apresentou alguns documentos importantes de apoio à organização e gestão do currículo do pré-escolar, que o educador deverá ter em atenção e em consideração, como por exemplo: a Circular nº 17/DSDC/DEPEB/2007 de 10 de Outubro, onde é possível constatar que os educadores deverão participar activamente na elaboração e construção do currículo. Atendendo a esta circular o projecto curricular de escola e o projecto curricular de turma, são documentos essenciais e fundamentais para a prática-pedagógica da educação pré-escolar, ou seja, os educadores deverão ter uma participação activa no seu planeamento, elaboração e redacção.

O desenvolvimento curricular na educação pré-escolar é de inteira responsabilidade do educador, devendo a sua acção orientar-se pelas OCEPE, entre outros documentos referenciados ao longo deste trabalho. O educador deverá organizar uma sequência temporal estruturada e flexível, onde os vários momentos tenham e façam sentido para as crianças e sejam vividos por estas com entusiasmo, empenho e satisfação, com a finalidade de proporcionar processos de desenvolvimento e de aprendizagens pensados e organizados pelos educadores intencionalmente. Tal como vem definido nas OCEPE e na Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar.