CAPÍTULO II – CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR
3. EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR: REDE PÚBLICA E REDE PRIVADA
3.1. Educação pré-escolar pública: princípios e características
A rede pública da educação pré-escolar compreende todos os estabelecimentos de educação infantil dependentes do Ministério da Educação. De acordo com a Lei nº 5/97, nestes estabelecimentos existem dois tipos de componentes: a componente lectiva e a componente sócio-educativa.
A componente educativa é da responsabilidade do Ministério da Educação e é assegurada por um docente especializado – Educador(a) de Infância que segue as
6 Retirado do site: http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=93&doc=8090&mid=2, consultado em 21 de Janeiro e 1 de Fevereiro de
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orientações imanadas pelo Ministério da Educação (Lei nº 5/97, capítulo VI, art. nº 18). A componente sócio-educativa, está mencionada na Lei nº 5/97 que, em articulação com o Decreto-lei nº 147/97 de 11 de Junho, define as bases deste sistema de ensino. Esta componente é da responsabilidade dos órgãos competentes, ou seja, dos agrupamentos/instituições em articulação com as Autarquias. O Ministério da Educação só tem a responsabilidade de carácter educativo, ficando a supervisão pedagógica e o acompanhamento da execução das actividades de animação e de apoio à família à responsabilidade do educador responsável pelo grupo. Esta supervisão é realizada após o horário lectivo, uma vez que abrange o âmbito da componente não lectiva dos estabelecimentos e, de acordo com o Despacho nº 12594/2006 de 16 de Junho, abrange: a programação das actividades; o acompanhamento das actividades através de reuniões com os respectivos dinamizadores; a avaliação da sua realização e reuniões com os encarregados de educação.
A componente lectiva é gratuita para todas as crianças. Os almoços e o prolongamento do horário são pagos ou não, pelos pais, de acordo com a sua situação económica devidamente comprovada e em conformidade com o escalão a que pertencem (Lei nº 5/97, capítulo V, art. nº 16).
Às autarquias cabe disponibilizar os espaços físicos, contratar o pessoal auxiliar de educação e suportar as manutenções dos edifícios com as respectivas despesas inerentes como, por exemplo, água, luz, telefone, aquecimento, entre outras.
Estas medidas visam estimular e desenvolver o alargamento da rede nacional de educação pré-escolar pública, promovendo uma política de igualdade de oportunidades a todas as crianças de acederem a esta educação.
Esta educação é ministrada nos Jardins de Infância construídos para este fim. Estes existem em maior número nas zonas urbanas, ou nas suas proximidades, do que nas zonas rurais (observação directa). A componente lectiva é de 25 horas semanais, distribuídas pelos 5 dias da semana, ou seja, 5h/dia. Existe um intervalo de 1.30h ou 2.00h para almoço. Este poderá ser servido no jardim-de-infância mas terá de ser requerido no início do ano lectivo pelos pais/encarregados de educação.
No Jardim-de-Infância as crianças desenvolverão projectos, participarão em actividades promovidas e orientadas, em actividades livres que lhes proporcionarão a aquisição de novos conhecimentos, afectos, vivências, experiências, aptidões e aprendizagens que contribuirão de uma forma directa e/ou indirecta para o seu desenvolvimento global, cognitivo e psíquico.
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A componente sócio-educativa aparecerá sempre que os pais/encarregados de educação por questões de necessidade a requisitem. O seu horário será fixado no início do ano em reunião de pais e salvaguardando os interesses e bem-estar dos alunos, tentando responder às necessidades da maioria das famílias. Esta componente funcionará fora do horário da componente educativa e geralmente termina às 17h30m, horário que pode ser alargado, de acordo com as necessidades dos pais, e desde que seja aprovado pela Direcção Regional de Educação.
Esta componente não tem uma finalidade pedagógica, por isso, normalmente é vigiada por monitores e/ou auxiliares de acção educativa e coordenada pelo Educador(a) de Infância. As mensalidades desta componente são calculadas tendo em conta o rendimento per capita familiar (Despacho Conjunto nº 300/97 de 9 de Setembro de 1977, 2º série, art. nº 3).
Outra característica da rede pública é a faixa etária, uma vez que se destina exclusivamente a crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 5/6 anos de idade, ou seja, a idade de ingresso no 1º ciclo do ensino básico. (Lei nº 5/97, art. nº 3).
O critério de acesso a esta rede é, sempre que possível, a idade das crianças. Não havendo vagas suficientes para o número de crianças inscritas e, caso seja necessário, far-se-á uma selecção, dando preferência às crianças mais velhas, ou seja, às crianças de 5 anos, seguir-se-ão as de 4 anos e por último as de 3 anos de idade, cumprindo-se assim, o disposto no Despacho nº 3/SEAE/2002, de 28 de Junho.
Geralmente, e sempre que possível, os grupos formados são heterogéneos em sexo e em idade, constituindo as denominadas salas mistas. Todavia, existem salas homogéneas em idade. De acordo com a Lei em vigor (Despacho Conjunto nº 268/97 de 25 de Agosto), cada sala de educação pré-escolar deverá ter em média 2 m² por criança, portanto uma média de 20 a 25 crianças, por sala de actividades. Contudo, existem excepções relativamente às zonas de pouca densidade populacional infantil/jovem, como é o caso de algumas aldeias de Trás-os-Montes e Alto Douro, das Beiras e do Alto/Baixo Alentejo.
É de responsabilidade do Ministério da Educação assegurar a qualidade do ensino ministrado na educação pré-escolar, bem como, financiar os encargos pertencentes à componente educativa (Lei nº 5/97, capítulo III, art. nº 8).
O conceito de Tutela Única “é o instrumento mais adequado para conseguir que todos os contextos de educação pré-escolar concretizem a oferta de educação de infância como serviço educativo e como serviço social” e implica “a criação de regras
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comuns a todos os contextos de educação pré-escolar” (Oliveira-Formosinho, 1977, p. 35).
Segundo esta Lei (art. nº 8), o Estado define as Orientações Gerais da Educação Pré-Escolar, cabendo-lhe os aspectos pedagógicos e técnicos e competindo- lhe:
● Definir as regras para o enquadramento da actividade dos estabelecimentos
de educação pré-escolar;
● Definir os objectivos e linhas de orientação curricular;
● Definir os requisitos habilitacionais do pessoal que presta serviço nos
estabelecimentos de educação pré-escolar;
● Assegurar a formação pessoal;
● Apoiar as actividades de animação pedagógica; ● Definir regras de avaliação de qualidade dos serviços; ● Realizar actividades de fiscalização e inspecção.
A ideia de Tutela Pedagógica única é a forma de se alcançar múltiplas possibilidades, de acordo com a lei e atribuindo responsabilidades entre os vários e diferentes intervenientes. Assim, as dimensões da Tutela Única, segundo Vasconcelos (1998) são:
● O reconhecimento da diversidade de modalidades de educação pré-escolar,
em adequação aos contextos e possibilidades locais, mas salvaguardando sempre a dupla vertente da educação pré-escolar como primeira etapa da educação básica: a função educativa e o apoio às famílias.
● A articulação primordial com o 1º ciclo do ensino básico;
● O estabelecimento de normas, critérios pedagógicos e técnicos de instalação
e/ou adaptações de instalações;
● A concepção e o lançamento das OCEPE a nível nacional;
● A valorização do pessoal técnico e auxiliar e o compromisso pela sua
formação contínua;
● O envolvimento dos pais de uma forma contínua;
● A definição de regras de avaliação da qualidade dos serviços sob o ponto de
vista educativo e social (estabeleceram-se parâmetros avaliativos para os diferentes tipos de serviço);
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● A fiscalização e inspecção, bem como, o apoio à animação pedagógica; ● A salvaguarda do princípio de igualdade de oportunidade e de correcção de
assimetrias sociais;
Devido à escassez de tempo dos pais actualmente, muitos jardins de infância, em colaboração com as autarquias e com os pais/encarregados de educação, já fornecem o almoço às crianças. Este tem de ser previamente requisitado pelos seus familiares. O pagamento das refeições é feito nas autarquias ou nos próprios jardins (Associação de Pais) e de acordo com o rendimento per capita Familiar (Despacho Conjunto nº 300/97 de 9 de Setembro, II série, art. nº 3). Existem crianças que não pagam qualquer mensalidade, desde que as suas famílias sejam abrangidas pelo rendimento mínimo garantido.
Algumas autarquias asseguram o transporte das crianças sempre que necessário e com aviso prévio do educador(a) de infância.