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PARTE I – A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

3. MODALIDADES DE AVALIAÇÃO

Nunca se falou tanto de avaliação como actualmente. No que diz respeito à educação pré-escolar, a forma como a avaliação é vista e realizada evolui ao longo dos últimos tempos. Esta evolução deve-se essencialmente à publicação do Decreto-Lei nº 542/79 de 31 de Dezembro onde de uma forma discreta este conceito já estava presente. Em 1997, a avaliação alcançou um lugar de destaque através da enunciação da Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar (Lei nº 5/97) e das OCEPE.

A educação pré-escolar é considerada a primeira etapa do ensino básico, por isso, poderá guiar-se pela legislação dirigida e emanada para o 1º ciclo referente à avaliação, ou seja, pelos Decretos-Lei nº 6/2001 e nº 209/2002 e pelos Despachos Normativos nº 30/2001, nº 5020/2002 e nº 1/2005.

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Apesar dos documentos acima mencionados serem para a aplicação no 1º ciclo, também podem ser aplicados à educação pré-escolar desde que a especificidade desta e dos seus principais intervenientes, como a idade das crianças, as suas características individuais, o seu desenvolvimento, entre outros aspectos, sejam tidos em consideração pelo educador.

A avaliação das aprendizagens, pode e deve ser entendida como “todo e qualquer processo deliberado e sistemático de recolha de informação, mais ou menos participado e interactivo, mais ou menos negociado, mais ou menos conceptualizado, acerca do que os alunos sabem e são capazes de fazer numa diversidade de situações” (Fernandes, 2005, p. 16).

Todas as modalidades de avaliação, ou seja, a avaliação diagnóstica, a avaliação formativa, a avaliação sumativa, são focadas no Decreto-Lei nº 6/2001 (capítulo III, art. nº 12 e 13).

No âmbito de todo o processo avaliativo, a avaliação diagnóstica é a primeira a ser elaborada e realizada. Geralmente, realiza-se no início de cada ano lectivo e a sua finalidade é a preparação inicial para a aprendizagem. É bastante descritiva e detecta a presença dos conhecimentos e aprendizagens que as crianças possuem, bem como as dificuldades que sentem.

A avaliação formativa assume um carácter contínuo e sistemático. Recorre a uma grande variedade de instrumentos de recolha de informação, adequados às aprendizagens e aos contextos em que estas ocorrem. Uma das suas funções é a regulação do ensino e principalmente das aprendizagens. Pode-se considerar que é uma avaliação qualitativa, pois não atribui notas nem classificações às crianças. Baseia-se na descrição, ou seja, descreve a evolução e o desenvolvimento da criança de uma forma específica, visto ser realizada individualmente para cada criança do grupo.

Finalmente, deparamo-nos com a avaliação sumativa. Traduz-se na formulação de um juízo global sobre as aprendizagens realizadas e adquiridas pelas crianças. Esta avaliação é quantitativa (vai do não satisfaz ao satisfaz bastante/excelente, ou seja, dos 0 aos 20 valores), dependendo do nível de ensino em que é aplicada. Geralmente os métodos utilizados nesta avaliação são as fichas, provas, teste de avaliação e no final de cada período faz-se a média destes. Esta pode subir ou descer dependendo dos critérios de avaliação definidos no início do ano lectivo entre os professores e as crianças/alunos.

Apesar de existirem diversas modalidades de avaliação, a mais utilizada e frequente na educação pré-escolar é a avaliação formativa. Em 2005, o Ministério da

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Educação publica o documento “avaliação na educação de infância”, em que a utilização, o valor e o significado deste conceito é evidenciado e valorizado, pois é uma avaliação que se interessa mais pelos processos do que pelos resultados. Também, tenta procurar ajudar a criança a tornar-se o agente, ou melhor, o actor da sua própria aprendizagem e desenvolvimento. Para que, assim e de uma forma contínua, a criança comece a ter consciência dos êxitos que já alcançou e das dificuldades que teve e tem que ultrapassar para passar as barreiras com que diariamente se depara.

Ao valorizar-se a criança neste processo tão complexo e ambíguo que é a avaliação, está-se a valorizar e a reconhecer o seu esforço e a forma como se comportou e reagiu durante as actividades e as tarefas que lhe eram propostas e desenvolvidas.

Esta forma de avaliação ajuda e contribui para o desenvolvimento da auto- estima, do auto-conhecimento e da auto-confiança das crianças pequenas.

Apesar de todos os avanços registados ainda não existe nenhum documento específico sobre a avaliação para a educação pré-escolar e muito menos sobre a avaliação formativa. Por isso, a forma como os educadores encaram e desenvolvem o processo avaliativo está directamente relacionado com a forma como desenvolvem a sua prática pedagógica, bem como, pelo contexto em que está inserido o jardim-de-infância. Apesar de tudo, se a avaliação tiver como finalidade fornecer informações ao educador, ela tem de ser formativa, pois “é uma parte diária e contínua do ciclo de ensino e aprendizagem” (Fischer, 2007, p. 35).

Através da avaliação, o educador “observa aquilo que as crianças sabem, compreendem e conseguem fazer” (Idem).

Os objectivos desta avaliação estão estabelecidos e descriminados no Despacho Normativo 98-A/92 (Avaliação no ensino básico), logo esta modalidade avaliativa deverá criar “metas intermediárias que favoreçam a confiança própria no sucesso educativo”, permitindo “adoptar novas metodologias e medidas educativas de apoio, ou de adaptação curricular, sempre que sejam detectadas dificuldades ou desajustamentos no processo de ensino e de aprendizagem” (Art. nº 18 alínea a e b).

Esta avaliação é feita num processo contínuo, ou seja, diariamente através da observação e posterior registo de comportamentos, atitudes, evoluções ou retrocessos das crianças, de forma, a que o educador consiga retirar informações sobre o seu desenvolvimento e sobre a evolução das suas aprendizagens de “modo a planear o que elas precisam de saber e de fazer a seguir” (Fischer, 2007, p. 35). Esta continuidade é da

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“responsabilidade conjunta do professor, em diálogo com os alunos e outros professores” (Art. nº 20).

Contudo, ao adoptarmos por esta modalidade avaliativa, temos que ter plena consciência de que todos os intervenientes do processo de ensino-aprendizagem vão ser envolvidos e afectados pelo mesmo.

Tal como todas as outras modalidades de avaliação, esta também possui características específicas que são: ser educativa – porque ela própria é uma actividade de aprendizagem; ser dinâmica – visto fornecer um feedback relativamente a objectivos pedagógicos específicos; ser descriminante – porque identifica problemas de aprendizagem; ser economizadora – só avalia pequenas partes da matéria; ser transparente – a qualquer momento as crianças/alunos sabem o que deles se espera; ser individualizante – respeita o ritmo de aprendizagem de cada criança e ser exigente – pois tem uma programação específica e bem definida no currículo (Zabalza, 1995; Brookfield, 1995; Cortesão, 1983; entre outros).

Em jeito de síntese, e reflectindo sobre o que referimos poderemos dizer que a avaliação das crianças de tenra idade deverá ser mais descritiva que valorativa, ou seja, deverá dar mais ênfase e importância ao crescimento e desenvolvimento das crianças durante o desenrolar diário da prática educativa do que ao resultado final.

Também deverá ter em consideração as áreas de conteúdo essenciais ao desenvolvimento integral e harmonioso das crianças, isto é, no processo de avaliação das crianças os educadores nunca devem descurar as áreas de conteúdo referenciadas nas OCEPE, bem como, a articulação entre elas e/ou o 1º ciclo se for esse o caso.

A avaliação deverá ser elaborada em coerência com o definido e estipulado no projecto educativo, no projecto curricular e no plano anual de actividades.

Outra característica deste processo é que se deverá apoiar sempre em qualquer tipo de registo de observação. Este sempre que possível deverá ser combinado com os pais, e estes deverão ser um participante activo do processo de ensino-aprendizagem.

Finalmente poderemos realçar que a avaliação das crianças deverá ser feita em grupo e individualmente, mas deverá ser sempre feita uma avaliação individual para cada criança.

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