• Nenhum resultado encontrado

PARTE II – O PORTFOLIO COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO

4. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DE PORTFOLIO

Como anteriormente constatamos, o termo portfolio é cada vez mais utilizado no meio educacional e frequentemente se recorre a este instrumento de trabalho e avaliação. Isto porque o portfolio é uma possibilidade viável da avaliação alternativa, pois envolve directa e continuamente os dois principais intervenientes do processo educativo, ou seja, a criança que participa activamente na recolha, selecção e reflexão dos trabalhos escolhidos e o educador, no caso concreto do pré-escolar que apreende com mais facilidade a competência das crianças valorizando os seus progressos e conquistas.

As vantagens do recurso ao portfolio como instrumento de trabalho e avaliação são descritas e enumeradas por vários autores. Através deste instrumento o aceso à informação relativamente às crianças é mais fácil, mas nem sempre mais rápido devido ao elevado número de informações e trabalhos que poderão conter.

Para Nunes (1999, referenciado por Melo e Freitas, 2006, p. 66), os portfolios reforçam “a comunicação entre o professor e o aluno, dada a necessidade de um acompanhamento contínuo por parte do professor e de o aluno não sentir o estigma da avaliação”, ou seja, os portfolios favorecem o diálogo, as relações e o companheirismo entre o educador e a criança, fazendo com que as crianças não sintam a pressão e o stress da avaliação a que constantemente são sujeitas.

A utilização dos portfolios no acto educativo favorece o aparecimento e o desenvolvimento de uma relação de confiança, o que vai de encontro às ideias de Mota (s/d, referenciado por Melo e Freitas, 2006, p. 66), quando afirma que o portfolio “facilita a construção do diálogo através da confiabilidade que se constitui entre professor e aluno”.

Como todas as crianças que constituem o grupo de actividades são implicadas e envolvidas activamente no processo de construção e organização dos seus portfolios e dos seus colegas, acabam por desenvolver o seu espírito crítico, a sua capacidade de auto-análise e reflexão, o seu sentido de responsabilidade e a sua maneira de ver e pensar.

Por seu lado, Fernandes et al. (1994) consideram que na prática educativa a utilização de portfolios é fundamental. Nesta perspectiva quem recorrer a este instrumento de trabalho e atingir com sucesso os objectivos a que se propõem, contribui

98

de uma forma directa para o desenvolvimento de muitas vantagens, como afirmam e defendem Melo e Freitas (2006, pp. 66-67):

● A adequação do currículo às metodologias utilizadas e à avaliação através de

uma maior coincidência das actividades de avaliação com as aprendizagens desenvolvidas e adquiridas;

● A diversificação dos processos e objectivos de avaliação através da

contextualização, isto é, desenvolver-se-á uma maior e mais estreita relação da avaliação e o local/contexto onde se desenvolvem as aprendizagens;

● A reflexão das crianças em relação ao seu próprio trabalho é mais activa e

participativa;

● A participação das crianças no processo de avaliação deixará de ser uma

participação passiva e passa a ser uma participação activa.

● A identificação dos progressos desenvolvidos ao longo da concretização das

actividades, bem como, as dificuldades sentidas na realização das mesmas;

● Ficar a conhecer melhor como é o currículo e como este está a ser

desenvolvido e praticado. Ficar a conhecer melhor as características das crianças, bem como do grupo;

● As crianças conseguirão mostrar mais facilmente o que sabem e o que já

conseguem fazer, logo, o processo de avaliação será menos constrangedor.

Outra das vantagens da utilização dos portfolios no processo ensino- aprendizagem é mencionada por Bentes e Cristo (1994, referenciado por Melo e Freitas, 2006, p. 67). Segundo estes autores, os portfolios motivam os estudantes que nunca manifestaram e demonstraram “qualquer interesse nas aulas” e permitem que estes “reflictam sobre a sua própria avaliação dando-lhes a perspectiva do seu papel activo na escola”.

Outro autor que escreve sobre este assunto é Mota (2003, p. 1). Para ele, as vantagens da utilização dos portfolios centram-se no desenvolvimento da “criatividade e o interesse pela pesquisa, e se multiplica o acesso a novas formas de comunicação”.

Vários são os autores que referem às vantagens sobre a implementação da utilização dos portfolios no processo educativo. Autores como Fernandes (1992), Kankanenta (1996), Brown e Hudson (1998), Nunes (1999), Potter (1999), Sith (2000), Wood e Bennett (2001) e Parente (2004) salientam algumas das vantagens que vão de encontro às identificadas pelos autores referenciados anteriormente e acrescentam ainda outras, como (Fernandes, 2005, p. 60):

99

● A ênfase ao carácter positivo e dinâmico do ensino, da aprendizagem e da

avaliação;

● A valorização do processo de aprendizagem e não apenas do produto;

● Constituir e ser um centro de interesse e de visionamento nas reuniões de

pais;

● A partilha do trabalho em grande/pequeno grupo;

● A cooperação e a articulação entre o pré-escolar e o 1º ciclo, durante a

transição das crianças;

● A ajuda à criança no estabelecimento de objectivos pessoais e a aprenderem

de acordo com o seu ritmo de desenvolvimento e aprendizagem.

Apesar de todas as vantagens que lhe são atribuídas, a construção, organização e utilização de portfolios nem sempre é alcançada e realizada com êxito.

A sua construção requer uma grande disponibilidade, investimento e empenhamento por parte do educador e da criança. Exige um planeamento rigoroso e clarificador e uma negociação entre os intervenientes no processo educativo sobre os principais critérios de construção/organização dos portfolios. A forma como se procederá à sua avaliação deverá ser consensualizada e registada no início do processo.

Porém, na elaboração e utilização dos portfolios existem algumas desvantagens a considerar, como:

● O tempo e a disponibilidade que a avaliação exige por parte do educador,

devido ao elevado número de trabalhos a compilar;

● A autoria dos trabalhos compilados poderá ser posta em causa, uma vez que

alguns trabalhos poderão ser realizados fora da sala de actividades. Na educação pré- escolar isto dificilmente acontecerá. Contudo, alguns trabalhos poderão ser realizados pelas crianças em casa juntamente com os seus familiares, de modo a desenvolver a articulação com a família;

● Serem prejudiciais para os alunos que demonstrem dificuldades na escrita; ● Exige um trabalho diário e contínuo das crianças/alunos para produzirem,

compilarem e organizarem o portfolio;

Mas, para os autores referenciados anteriormente12 as principais desvantagens da utilização de portfolios, são:

● Os alunos terem e sentirem dificuldades em avaliar o seu próprio trabalho;

12Fernandes (1992), Kankanenta (1996), Brown e Hudson (1998), Nunes (1999), Potter (1999), Sith

100

● As avaliações das crianças, no caso concreto da educação pré-escolar,

poderem não ter em conta os objectivos curriculares previamente definidos;

● As crianças mais novas e de tenra idade geralmente dão respostas autónomas

nas suas selecções e utilizam critérios egocêntricos e concretos;

● A organização do portfolio poderá suscitar dúvidas, pois não existe um

consenso de como deverá ser organizado este instrumento (cfr. Fernandes, 2005, p. 61). De acordo com Barreira (2001, p. 25), o portfolio ainda é pouco utilizado. Não por causa das desvantagens que apresenta mas devido ao desconhecimento por parte dos professores/educadores das suas vantagens, ou talvez por estes não possuírem formação adequada em “relação a esta estratégia”. Este autor considera que para que os professores apliquem esta estratégia “é necessário, em primeiro lugar, que estes se mostrem disponíveis para renovar as suas práticas pedagógicas e de avaliação, em segundo lugar, que conheçam melhor a utilidade e as vantagens que estas técnicas podem trazer à sua prática e, em terceiro lugar, que saibam como os portfolios podem ser concretizados na prática” (Ibidem).

As desvantagens apresentadas poderão ser minimizadas se os intervenientes da sua construção estiverem motivados para isso e se na prática se colocarem métodos e formas pedagógicas que influenciem directa e positivamente a forma como se ensina, como se aprende e, essencialmente, como se avalia e como se deve avaliar.

Fazendo uma pequena síntese, poderemos dizer que o portfolio como instrumento de trabalho e de avaliação tem mais benefícios do que malefícios, quer para as crianças, quer para os educadores e poderá ser utilizado em qualquer nível de ensino desde que adaptado à idade e às características individuais e colectivas das crianças/grupo de trabalho, ao contexto educativo, familiar e sócio-geográfico envolvente.