• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

2. ESTUDO DE CASO(S)

Nos últimos anos, o estudo de caso, como método de pesquisa em investigação educativa ganhou popularidade e consequentemente mais adeptos.

Ao optar pelo estudo de caso, o investigador procura obter um conhecimento integral, absoluto e completo sobre um caso específico ou de um pequeno grupo de casos. Esta opção engloba estratégias de investigação muito próprias e específicas com vista ao conhecimento e aprofundamento dos casos em estudo.

Contudo, esta metodologia não é fácil de levar a cabo. Como reconhecem Savenye & Robinson (1996, p. 1171) existem “demasiados estudos mal concebidos e implementados sob a designação genérica de qualitativos numa tentativa de se evitar definir e descrever métodos de recolha de dados, de fundamentar pressupostos teóricos e até de descrever claramente os resultados a que se chegou”.

Dizer que como metodologia usámos o estudo de caso é uma afirmação pouco consensual entre os autores. Alguns autores como André (1995), Ludke & Andre (1986) e Stake (1994) não o entendem nem o consideram como uma metodologia de pesquisa, mas sim como objecto a ser estudado. Stake (2000, p. 435) afirma que “o estudo de caso não é uma escolha metodológica mas a escolha do que vai ser estudado”, ou seja, a essência metodológica num estudo de caso é a selecção da amostra, ou mais concretamente a selecção do “caso”.

De acordo com as ideias de Punch (1998) trata-se de uma “estratégia de investigação”. Outros autores, como Anderson & Arsenault (1999), Strauss (1987) e Punch (1998) defendem que o estudo de caso é “um processo de observação intensiva e que geralmente se prolonga no tempo”. Ou seja, “o estudo de caso não é uma metodologia específica, mas uma forma de organizar dados preservando o carácter único do objecto social em estudo” (Goode & Hatt, 1952, referenciado por Punch, 1998, p. 150).

Para Yin (1989, p. 13) o estudo de caso é “uma estratégia de investigação que pode ser utilizada em vários cenários contextuais, fenomenológicos, disciplinares e ter subjacentes objectivos diversificados”. Em 1994 (p. 13), este mesmo autor define o estudo de caso “como uma investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo natural, especialmente quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são claramente evidentes (…) em que são usadas múltiplas fontes de evidência”.

114

Stake (1998, p. 11) apresenta uma definição de estudo de caso mais particular. Ele afirma que é “o estudo da particularidade e da complexidade de um caso singular para compreender a sua actividade em circunstâncias importantes”.

Nesta metodologia, o objecto de estudo, segundo Mertens (1998, p. 166) tem de ser “único, específico, diferente e complexo”. Estas características são as que melhor identificam e distinguem este método de investigação que acaba por ser um percurso que envolve o estudo aprofundado, intensivo e detalhado de um caso bem definido, como por exemplo: uma criança, um educador/professor, uma instituição, uma etnia entre outros. Qualquer que seja o caso em questão tem de possuir características físicas e sociais que lhe confiram identidade própria e intransmissível. O que acabámos de dizer vai ao encontro do que Bisquerra (1989, s/p) salienta,

“o estudo de caso é uma análise profunda de um sujeito considerado individualmente. Às vezes pode-se estudar um grupo reduzido de sujeitos considerado globalmente. Em todo o caso, observam-se as características de uma unidade individual como, por exemplo, um sujeito, uma classe, uma escola, uma comunidade, etc. O objectivo consiste em estudar profundamente e analisar intensivamente os fenómenos que constituem o ciclo vital da unidade, em vista a estabelecer generalizações sobre a população à qual pertence”.

Em 1994, Yin apresenta 3 propósitos básicos em que se deve basear um estudo de caso que são: explorar, descrever e explicar. Ponte (1994) diz que o estudo de caso se baseia somente na descrição e na análise, mas Merrian (1998, p. 39) acrescenta um objectivo a estes dois, que é o avaliar.

A definição mais global dos objectivos do estudo de caso é apresentada por Gomez, Flores & Jiménez (1996, p. 99) ao dizerem que “o objectivo geral do estudo de caso é explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar”.

Guba & Lincoln (1994) consideram que através desta metodologia o investigador pode: relatar ou registar os factos tal como sucederam; descrever situações ou factos; proporcionar conhecimentos acerca do fenómeno estudado e comprovar ou contrastar efeitos e relações presentes no caso.

As investigações que se baseiam no estudo de caso como método de pesquisa, importam-se bastante com a descrição pormenorizada e aprofundada do estudo por parte do investigador(a). É através desta descrição que se fica a conhecer a realidade como ela é, apoiando-se assim esta metodologia numa “descrição compacta” (Merrian, 1998, p. 211).

115

A descrição, ou seja, a apresentação dos resultados pode ser dada a conhecer de diferentes formas, como por exemplo, através de gravações áudio e/ou vídeo, transcrições manuscritas, transcrições realizadas para suporte informático, entre outras.

2.1. Caracterização do nosso estudo de caso

Como já vimos anteriormente, não existe uma única definição de estudo de caso, sendo visto como metodologia, objecto de estudo ou estratégia de investigação.

Ao escolher o “caso”, o investigador terá que estabelecer e delinear todo o caminho que percorrerá durante o processo de recolha de dados. Ao longo dessa recolha, o investigador deverá ter em atenção as ideias de Stake (1995, p. 4): “o estudo de caso não é uma investigação baseada em amostragem. Não se estuda um caso para compreender outros casos mas para compreender o caso”.

Existem várias tipologias de estudo de caso, conforme os autores que as apresentam e defendem. Contudo, basear-nos-emos em Yin e Stake para caracterizarmos o nosso estudo de caso.

Tendo em atenção o que é referido por Stake (2003, p. 134), seja qual for o estudo de caso “nem tudo pode ser estudado e compreendido”. Isto conduz e faz com que o investigador tenha de fazer escolhas, opções e tomar decisões sobre o que é mais importante, essencial e fundamental para o seu estudo investigativo.

Em 1994, Yin apresenta uma tipologia que engloba quatro tipos de estudo de caso, denominados da seguinte forma:

● Caso único com unidades de análise simples (global); ● Caso único com unidades de análise múltiplas (inclusivo); ● Caso múltiplo com unidades de análise simples (global); ● Caso múltiplo com unidades de análise múltiplas (inclusivo);

O recurso ao estudo de caso único é frequente quando o caso de investigação é um caso crítico ou quando o investigador pretende realizar um estudo prévio, exploratório ou piloto. Quando o estudo envolve mais do que um caso é denominado estudo de caso múltiplo. Estes apresentam vantagens e desvantagens.

Mais tarde Yin (1994) melhora a sua tipologia de estudos de casos, apresentando estudos de casos:

116

● Descritivos – apresentam uma descrição completa do fenómeno dentro de

um determinado contexto;

● Explicativo – apresenta dados que traduzem relações causa/efeito.

Contudo, existem autores que defendem uma tipologia de estudo de casos bem mais simples; é o caso de Stake (1998) que apenas distingue o estudo de caso em:

● Intrínseco – quando se refere à investigação de uma situação particular ou

específica, ou seja, o investigador estuda um caso específico e quer saber tudo acerca do mesmo. O investigador quer compreender o caso particular na sua profundidade, ou seja, “O caso é dado e o investigador é obrigado a tomá-lo como objecto de estudo” (Stake, 1998, p. 16).

● Instrumental – acontece quando “um caso particular é examinado, sobretudo,

para providenciar “insights” sobre uma questão ou para re-desenhar a generalização” (Stake, 2000, p. 437).

Também existe o estudo de caso colectivo, que incide num número variável de casos cujo objectivo é estudar um fenómeno, uma população ou condições e características em comum.

Outra autora que define as principais características dos estudos de casos é Merrian (1998). De uma forma simples, concisa e correcta esta autora sintetiza as ideias que muitos autores defendem sobre os estudos de casos.

Assim, os estudos de casos que estão englobados nas metodologias qualitativas podem ser (adaptado, Merrian, 1998, pp. 29-30):

● Particularistas – focam a atenção numa situação, acontecimento ou fenómeno

particular. O que é importante é o que é revelado acerca do fenómeno estudado e o que ele representa no meio em que a investigação decorre;

● Descritivos – a intenção do estudo de caso é que no final de este estar

estudado, deve ser pormenorizadamente descrito;

● Heurísticos – contribuem para a compreensão de um caso em estudo quer por

parte dos investigadores quer por parte dos leitores interessados no caso em questão. Seja qual for a situação, “o objecto estudado é tratado como único, uma representação singular da realidade que é multidimensional e historicamente situada” (Ludke e André, 1986. p. 21).

Analisando a tipologia que estes autores apresentam, poderemos dizer que o nosso estudo de caso, segundo Yin (1994), é um estudo de caso múltiplo, porque inclui vários educadores de instituições de educação pré-escolar da rede pública e da rede

117

privada; descritivo, porque descrevemos exaustivamente as conclusões dentro de um contexto e inclusivo, visto prestarmos atenção a mais do que uma unidade de análise (dois jardins de infância da rede pública e dois jardins de infância da rede privada). Tomando como referência Stake (1998) poderemos dizer que o nosso estudo de caso é intrínseco, visto querermos saber como é que os educadores de infância avaliam as crianças na educação pré-escolar e se recorrem ao uso do portfolio para esse fim.

Também, e segundo Stake (2000, p. 437), poderemos afirmar que o nosso estudo de caso é um estudo de caso colectivo, porque é “estendido a vários casos”, ou seja, cada educador acaba por ser um estudo de caso e também porque é nossa intenção saber se a variável “rede pública” e “rede privada” tem impacto e influência na forma como se processa a avaliação das crianças na educação pré-escolar.