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O curso de especialização em Saúde da Família (CESF) e sua primeira oferta (1999 2000)

4. As iniciativas de especialização em Saúde da Família da UFMG

4.1. O curso de especialização em Saúde da Família (CESF) e sua primeira oferta (1999 2000)

A primeira oferta de um curso de especialização em Saúde da Família está vinculada à criação, quatro anos antes de sua aprovação, de um grupo de trabalho composto pela UFMG (representada pela Faculdade de Medicina e pela Escola de Enfermagem), a Coordenação do PSF da Secretaria Estadual de Saúde, pela Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESMIG) e pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCCMG). Esse grupo, estabelecido em 1995 a convite da coordenação estadual do PSF, visava à elaboração e implantação de um projeto de educação permanente destinado aos profissionais que já integravam as primeiras equipes de Saúde da Família no estado de Minas Gerais. A UFMG vem, assim, desempenhando um papel no desenvolvimento da força de trabalho para aquela estratégia desde os primórdios desta no estado.

O eixo da proposta concebida pelo grupo foi um curso de especialização em Saúde da Família para médicos e enfermeiros inseridos em equipes de PSF, ministrado por docentes das instituições participantes. Esse curso ficou vinculado administrativamente à ESMIG, que por esse motivo se responsabilizou pela titulação dos profissionais, e a sua coordenação didático- pedagógica ficou a cargo do grupo de trabalho que o concebeu. Suas atividades iniciaram-se em 1997, e foram desenvolvidas por faculdades de medicina e de enfermagem das universidades federais de Alfenas e Juiz de Fora, além da Universidade Estadual de Montes Claros, da FCMMG, da UFMG e da ESMIG – essas duas últimas responsáveis conjuntamente por duas turmas do curso em Belo Horizonte, nos anos de 1997 e 1998.

Paralelamente à articulação com a Secretaria de Estado da Saúde (SES/MG), o grupo de professores envolvidos no curso a cargo da ESMIG decidiu responder ao edital do Ministério

50 As datas entre parêntesis indicam o período da única oferta do curso. Ressalta-se que o primeiro ano se refere ao início das atividades acadêmicas do curso, uma vez que a sua concepção, planejamento e tramitação costumam durar cerca de um ano.

da Saúde para a criação de Polos de Formação, capacitação e Educação Permanente de

Pessoal para a Saúde da Família, lançado em dezembro de 1996. O projeto para a instalação

de um polo na UFMG foi enviado em fevereiro de 1997, tendo sido aprovado no mesmo ano.

Esse projeto já mencionava explicitamente a criação de um curso de especialização, no âmbito da UFMG, em Saúde da Família para médicos e enfermeiros, que estaria inserido em um programa maior de educação permanente para profissionais da rede básica de serviços. Aproveitando-se da experiência acumulada junto ao grupo de trabalho da SES e das instituições parceiras daquela empreitada, um grupo de professores ligados ao polo apresentou, em 1998, a versão final de um projeto de Curso de Especialização em Saúde da

Família (CESF) – que viria, após tramitar em todos os departamentos que possuíam docentes

envolvidos, a ser aprovado pela Câmara de Pós-Graduação da UFMG em 27 de abril de 1999.

Cabe aqui ressaltar que o curso anterior, vinculado à ESMIG, já contava com profissionais da UFMG em seu corpo docente e utilizava a infraestrutura da universidade em algumas atividades. O novo curso, embora articulado pelo Polo-SF/UFMG, não ficou vinculado a essa instância, e sim à própria universidade. Diz uma pessoa envolvida nesse processo:

Dentro do grupo a gente falava: esse curso não é do polo, esse curso é da UFMG, então todos os nossos projetos foram no sentido de se institucionalizarem o mais rápido possível. Ele nunca foi um curso de especialização do polo, ele é um curso de especialização da UFMG. Aí nós passamos do primeiro curso que foi oferecido para a ESMIG para o nosso curso, uma transição até tranquila, começando um e terminando outro. Foi o tempo de tramitar... (Entrevista nº 08)

Segundo o projeto aprovado do curso, seus objetivos eram: a) estimular a capacidade de análise crítica sob regime de treinamento; b) aperfeiçoar o conhecimento e a abordagem da nosologia prevalente; c) estimular ações de promoção e educação para a saúde; d) habilitar o profissional para a sistematização das ações coletivas em saúde; e) contribuir de forma diferenciada para o fortalecimento do SUS e possibilitar a mudança do modelo de atenção à saúde então vigente.

A carga horária total do curso era de 570 horas, das quais 360 eram intraclasse (distribuídas em 18 períodos mensais de concentração, de 20 horas cada) e 210 eram dedicadas a atividades de campo (período de dispersão). O curso foi estruturado em três linhas programáticas (LP):

Clínico-assistencial (LP1); sócio-pedagógica para abordagem individual, familiar e coletiva (LP2) e sistematização das ações de saúde coletiva (LP3). Cada linha continha três diferentes disciplinas. Apesar disso, decidiu-se por adaptar essa grade original e trabalhar com ciclos de vida, em vez de linhas programáticas, por se julgar ser aquela abordagem a mais adequada à formação em Saúde da Família. Por esse motivo, foram administrados módulos adaptados das disciplinas originais (a grade curricular original pode ser encontrada no anexo 01, e a adaptada, no anexo 02).

Apesar dessa estruturação prévia, o colegiado do curso decidiu que ele não seria ministrado em disciplinas sequenciais: em vez disso, estas se integrariam em módulos referentes a ciclos de vida (Saúde da criança e do adolescente, saúde do adulto, saúde do idoso e saúde da mulher) e a outros conteúdos relevantes (Gerenciamento do cuidado em saúde, saúde mental, saúde do trabalhador e ambiental). Ao final do curso, houve um seminário de apresentação dos trabalhos finais.

A primeira oferta desse curso direcionou-se ao seu público-alvo (médicos e dentistas) através de processo seletivo para 40 vagas (20 para médicos e 20 para enfermeiros), lançado por edital. Essa seleção, realizada por meio de análise de currículos e entrevistas, contou com uma participação expressiva de vários candidatos: foram aprovados 109 enfermeiros e 76 médicos. Por esse motivo, foi solicitada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFMG (PRPG/UFMG) a criação de novas turmas para reaproveitamento dos excedentes. Esse pedido, entretanto, foi negado51, embora o Polo-SF/UFMG houvesse captado, junto ao Ministério da Saúde, recurso suficiente para o oferecimento de seis turmas. Embora os motivos da negação não tenham sido explicitados na documentação consultada, provavelmente se devem ao fato de essa ter sido sua primeira oferta, e por esse motivo talvez não fosse desejável uma turma grande, uma vez que o curso ainda não havia sido testado e avaliado.

O curso foi ministrado entre outubro de 1999 e dezembro de 2000. Dos quarenta alunos inicialmente matriculados, trinta e quatro (85%) concluíram o curso.

Embora outras três iniciativas posteriores fossem oficialmente reofertas desse curso, pode-se dizer que ele, tal como concebido inicialmente, foi ofertado apenas para essa turma, uma vez

que as outras iniciativas sofreram mudanças em seu formato curricular e, além disso, possuíam algumas especificidades em relação aos seus públicos-alvo, como se verá a seguir.

4.2. A demanda do Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde – PITS (2001 -