• Nenhum resultado encontrado

O Curso de Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva (2008 2009)

4. As iniciativas de especialização em Saúde da Família da UFMG

4.7. O Curso de Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva (2008 2009)

Ao final de 2006, a Faculdade de Odontologia da UFMG foi procurada pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS/BH), que lhe solicitou um curso de especialização para os seus profissionais dentistas que trabalhavam no âmbito da Saúde da Família. Naquela unidade já funcionava um curso pago, ofertado à clientela aberta, de Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva, que havia sido aprovado na Câmara de Pós-Graduação de UFMG, em 18 de dezembro de 2002. Por esse motivo, e para agilizar o trâmite dentro da universidade, propôs-se uma readaptação desse curso e, em seguida, a solicitação de reofertas para os profissionais da rede municipal. Dessa forma, esse curso se tornou o quarto "ramo" original de especialização em Saúde da Família na UFMG78, o sétimo em termos de concepção específica para um objetivo e o único a não incluir a expressão "Saúde da Família" no nome oficial.

O curso, na realidade, não tem o nome de Saúde da Família. Apesar dele trabalhar na Saúde da Família, ele tem o nome de odontologia em saúde coletiva, que é o nome que já era oficial aqui. Por questões administrativas, a gente manteve o nome, mas ele foi organizado e estruturado como um curso de Saúde da Família pra dentista que trabalha com Saúde da Família e foi organizado junto com o Serviço... (Entrevista n.º 6)

Um canal de discussão com a SMSA/BH já havia começado a se estabelecer no início de 2006, por conta de outra iniciativa: o PRÓ-SAÚDE, uma vez que a aprovação do programa dependia de uma articulação prévia com o gestor municipal. Além disso, como um de seus

78 Em termos de grade curricular formal. As outras são: CESF (que originou a primeira oferta, o PITS, o Veredas e o BH-Vida), o Curso de Especialização em Saúde da Família: Residência Multiprofissional e o Curso de

eixos preconizava o apoio a ações de educação permanente para profissionais em serviço, o curso surgiu como uma materialização dessa vertente educacional, continuamente estimulada pelo Ministério da Saúde. Além disso, a Faculdade de Odontologia já vinha discutindo o seu projeto pedagógico desde 2003, e a proposta foi vista como potencialmente benéfica a essa discussão.

A SMSA/BH objetivava especializar 300 dentistas que trabalhavam diretamente em equipes de PSF ou no apoio a elas. Assim como no BH-Vida – outra iniciativa que nasceu por demanda dessa secretaria – o curso foi solicitado por necessidade do serviço, mas também como uma pressão advinda de uma greve então recente: a especialização em Saúde da Família era uma reivindicação dos profissionais dentistas, que ainda não haviam sido contemplados com esse benefício – ao contrário de seus colegas médicos e enfermeiros da rede de atenção básica. Embora o curso fosse destinado a uma clientela fechada, houve um processo de seleção baseado em prova teórica específica, de inglês, e análise de currículo.

A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) também foi chamada para oferecer o curso, tendo sido ambas – UFMG e PUC/MG – escolhidas pela notória experiência e também por facilidades no estabelecimento de convênio com a secretaria municipal. As vagas foram divididas entre as duas instituições: a UFMG ficou com 120 vagas; a PUC/MG, com 180 vagas.

Cerca de um ano se passou entre o momento da solicitação e o início da oferta. Durante esse tempo, os professores que se envolveram com a proposta passaram a discutir os conteúdos do curso a partir do que seria considerado mais importante para o dentista que estava no serviço, levando-se também em conta a sua disponibilidade. Várias discussões também ocorreram sobre as metodologias a ser utilizadas.

Como mudanças realizadas na adaptação do curso de Odontologia em Saúde Coletiva à nova proposta, citam-se a exclusão de cinco disciplinas da grade original, a modificação do formato do Trabalho de Conclusão de Curso para que ele pudesse permitir uma aplicação prática nos locais de trabalho dos alunos, o aumento da carga horária de 375 para 405 horas, a redução da duração do curso de quinze para doze meses e a rediscussão e atualização dos conteúdos em si.

Assim como na concepção e no planejamento do BH-Vida, a SMS/BH se fez presente de forma constante nas discussões. Várias divergências – basicamente sobre metodologias de ensino – são manifestadas entre as duas instituições nessas reuniões, embora haja uma boa avaliação sobre o processo por parte dos professores da odontologia. Há consenso quanto ao conteúdo a ser ministrado.

A gente tem muito choque (...). E é uma coisa muito complicada mesmo, uma vez na reunião lá na secretaria eu falei: (...) a gente é igual divorciado e agora quer reencontrar... (...). Porque é muito difícil a conversa, sempre existe isso, eu percebo de um lado o serviço que acha que sabe tudo e não aceita muito a crítica, e de outro lado uma Universidade que também acha que sabe... (Entrevista n.º 6)

A primeira reoferta no novo formato foi aprovada ad referendum na Câmara de Pós- Graduação da UFMG em 14 de janeiro de 2008, para 40 vagas – das quais 39 foram devidamente preenchidas –, e as aulas se iniciaram em 26 de fevereiro de 2008, encerrando-se em novembro do mesmo ano, sem evasões. Durante as reofertas para os profissionais da SMSA/BH, o curso passou a ser ministrado em módulos mensais de três dias – sempre às terças, quartas e sábados – em um arranjo discutido previamente com a prefeitura para minimizar a ausência do profissional do seu local de trabalho. A nova grade curricular previa 72 horas de atividades de dispersão, em uma média de sete horas por mês. Além disso, foi introduzida a figura do tutor, que deveria acompanhar oito dentistas durante todo o curso, orientar suas atividades, aconselhar em relação às dificuldades individuais e orientar o trabalho final e a realização dos exercícios dos módulos. As atividades presenciais eram, via de regra, realizadas nas dependências da UFMG. A grade adaptada, usada por essa iniciativa, encontra-se no anexo 08 deste trabalho.

Essa reoferta produziu um impacto positivo sobre o curso original, uma vez que houve uma satisfação do corpo docente com o novo desenho, e por esse motivo decidiu-se que as reofertas pagas, destinadas ao público aberto e que já ocorriam desde a criação do curso, ocorreriam também nesse formato. Por esse motivo, a segunda reoferta – aprovada na Câmara de Pós-Graduação da UFMG em quatro de dezembro de 2008 – solicitou 110 vagas, sendo 80 para os profissionais restantes da SMSA/BH, que inteirou, com esse número, as 120 vagas previstas originalmente no convênio com a secretaria – e trinta vagas de demanda livre, pagas por quem se candidatasse a elas. Essa segunda turma terminou o curso em novembro de 2009, com três evasões entre os alunos da rede municipal.

Tendo sido descritas as sete iniciativas de especialização em Saúde da Família, serão feitas, a seguir, algumas comparações entre os cursos, levando-se em conta algumas características das vagas ofertadas e sua inserção institucional.