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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)

4.2.3 Custo da Mercadoria Vendida / Custo do Serviço Prestado

Na DRE de 2016 da empresa Alfa, a conta de CMV estava composta por custo das mercadorias vendidas, como demonstra o quadro 33.

Quadro 33: DRE de 31 de dezembro de 2016 da empresa Alfa: CMV.

CMV - 70.099,52

Custo das Mercadorias Vendidas - 70.099,52

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme Basso (2011), neste item da DRE enquadram-se os custos das mercadorias, produtos e/ou serviços vendidos nos processos operacionais da entidade. Ou seja, a empresa objeto deste estudo possuía como atividades operacionais a venda de mercadorias e a prestação de serviços. Desta forma, na DRE deveria constar, além do CMV, também o CSP (Custo do Serviço Prestado).

Em entrevista com a proprietária da empresa, questionada sobre este item, ela não soube responder, afirmando que a contabilidade não realiza os devidos cálculos para mensuração do CSP devido. Quanto ao CMV, ela ressalta que o que constava na DRE baseava-se nas compras dos insumos para transformação somente, não incorporando os demais custos, como com a mão de obra direta, energia elétrica consumida para esta atividade, entre outros.

A entidade deve divulgar cada uma das seguintes informações, para os contratos em andamento, ao término do período de reporte:

(a) o montante agregado de custos incorridos e os lucros reconhecidos (menos as perdas reconhecidas) até a data;

(b) o montante de adiantamentos recebidos; e

(c) o montante de retenções (NBC TG 17 (R4), 2012, ITEM 40).

Conforme a NBC TG 17 (R4) (2012), deveriam estar divulgados os custos incorridos na execução dos trabalhos realizados no período da apuração da DRE. Ou seja, os custos para a realização dos serviços das obras encerradas (obra A e obra B) mais os custos relacionados ao executado da obra C até a data de 31 de dezembro de 2016 com base no critério da percentagem completada, esta, determinada pela empresa durante este estudo, como sendo o método a ser seguido.

Os custos do contrato devem estar relacionados diretamente ao contrato específico, ser atribuível e alocados a atividade do contrato de modo geral e estarem especificamente atribuídos ao contratante de acordo com os termos do contrato. Os custos de um contrato incluem especificamente: custos de mão de obra incluindo

supervisão no local; custos dos materiais usados na construção; depreciação de ativos tangíveis utilizados na execução do contrato; custos para levar ou retirar do local os ativos tangíveis e os materiais necessários à execução da obra; contratos de aluguel de instalações e equipamentos; custos com assistência técnica relacionados com o contrato; entre outros, e ainda custos alocados por meio de métodos sistêmicos e racionais, sendo rateados entre as atividades da empresa e atribuíveis ao contrato específico, como prêmios e apólices de seguros, assistência técnica que não esteja diretamente relacionada a um contrato específico e gastos gerais de construção (NBC TG 17 (R4), 2012).

Desta forma, constatou-se que a entidade não possuía a realidade dos custos descritos na DRE. Em conjunto com a sócia proprietária da empresa e com o auxílio do balancete de 2016 e o razão de 2016 disponibilizados pela entidade, foram abertas as contas das despesas operacionais que constavam na DRE inicialmente, onde foi possível identificar que muitos dos custos que se referem às vendas de mercadorias e que os custos que seriam da prestação de serviços estavam alocados como despesas operacionais administrativas. Desta forma, os referidos valores estavam abatidos do lucro líquido da empresa, mas não contabilizados como custos e sim como despesa somente. Ou seja, a empresa Alfa operava sem custos somente com despesas.

Em questionamento, a proprietária da empresa salienta que não são firmados contratos de construção com a grande maioria dos clientes e sim orçamentos pré determinados com a composição da obra e o valor correspondente, pois muitos dos acordos são firmados em um valor “x” onde a contratada deve entregar a obra pronta, não sendo separado o material com o serviço que é prestado. Este é o caso para as duas obras que estavam ocorrendo e por iniciar na data do BP. Desta forma, no valor a receber e a pagar do cliente Obra C e Obra D, na reestruturação do BP por este estudo, estão inclusos os materiais que são comprados e faturados diretamente no nome do cliente.

Por isto, a empresa já possuía procedimentos para determinação dos valores separadamente: de materiais e de mão de obra de cada obra. Tal procedimento são planilhas de Excel individuais de cada obra executada ou em execução. A planilha lista cada Nota Fiscal de compra de materiais e de prestação de serviços que a entidade emitiu a cada cliente ou comprou em nome de cada cliente específico. Desta forma, é possível creditar da conta clientes a receber e debitar da conta

clientes a pagar, o valor das receitas já citados no item anterior, e ainda o valor dos materiais faturados diretamente ao cliente e administrados pela contratada. Estes valores devem ser contabilizados mensalmente.

Como as atividades da empresa Alfa se limitam a venda de mercadorias fabricadas e prestação de serviços, as contas de despesas foram realocadas, como segue no quadro 34.

Quadro 34: Alocação de Custos e despesas da empresa Alfa de 2016.

DESCRIÇÃO VALOR DRE

2016 VENDAS/ FÁBRICA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DESPESAS CUSTO CUSTO Salários e ordenados 202.637,62 60.791,28 111.450,70 30.395,64 Pró-Labore 63.360,00 42.240,02 21.119,98 Prêmios e Gratificações 10.770,00 10.770,00 Férias 6.945,91 6.945,91 INSS 7.156,32 7.156,32 FGTS 19.061,04 5.718,31 10.483,57 2.859,16 13º salário 18.833,97 5.650,19 10.358,68 2.825,10 INSS Receita Bruta 13.878,57 4.163,57 7.633,21 2.081,79 Aluguel de imóveis 17.022,00 5.022,00 12.000,00 IPTU - Alvará 1.280,13 377,64 902,49 IPVA/ Seguro/ Licenciamento 5.652,26 423,78 5.228,48

Taxas diversas 3.065,23 3.065,23

Energia elétrica 3.331,41 1.665,71 1.665,71 Água e esgoto 673,60 336,80 336,80

Telefone 2.466,30 2.466,30

Despesas portais e telegráficas 10,50 10,50 Material de higiene e limpeza 537,15 537,15 Honorários contabilidade 4.360,00 4.360,00 Serviços prestados por terceiros 2.750,00 2.750,00 Livros, jornais e revistas 270,00 270,00

Multa de trânsito 2.128,21 2.128,21

Material de expediente 23.076,81 3.461,52 8.076,88 11.538,41 Despesas com concertos máquinas e

equipamentos 19.367,77 19.367,77

Despesas diversas 13.303,66 13.303,66

Despesas com propaganda e

publicidade 6.057,30 6.057,30

Despesas com manutenção 6.838,57 6.838,57 Despesas com Perfil Profissiográfico

Previdenciário 5.092,40 1.527,72 2.800,82 763,86 Despesas com manutenção e

conservação de prédio 12.709,50 12.709,50 Despesas com mensalidade 2.608,00 2.608,00 Despesas com veículos 39.648,44 39.648,44

Despesas com seguros de vida 1.814,65 544,40 998,06 272,20 Despesas com combustível 42.730,05 35.827,16 6.902,89 Despesas com alimentação 14.275,01 14.275,01 Profissionais autônomos 500,00 500,00 Despesas com fretes 3.651,94 3.651,94 Despesa com indenização acordo

extrajudicial 3.750,00 3.750,00

Despesas com serviços de informática 450,00 450,00 Despesas com auxílio educação 459,69 459,69 Despesas com alojamento - obras 944,50 944,50 Despesas com cesta básica 2.282,93 684,88 1.255,61 342,44 Despesas com fábrica de pré-moldados

de concreto 4.670,00 4.670,00

Multa de trânsito 5,00 5,00

Juros 4,08 4,08

Despesas bancárias (taxas e

comissões) 4.113,04 4.113,04

Juros sobre empréstimos e IOF 5.388,41 5.388,41

TOTAL 599.931,97 94.614,01 245.650,73 259.667,22

599.931,97 Fonte: Elaborado pela autora.

Os salários e ordenados foram destinados da seguinte forma: dois funcionários trabalhavam no administrativo da empresa, portanto são despesas; quatro funcionários trabalhavam integralmente na fabricação; e os demais colaboradores faziam a prestação de serviços. Desta forma, os cálculos foram realizados proporcionalmente a cada mês, pois havia variação do número de funcionários de cada mês: janeiro doze colaboradores, de fevereiro a junho haviam dez colaboradores, em julho e agosto haviam onze colaboradores e de setembro a dezembro haviam dezenove colaboradores.

O pró-labore da sócia foi alocado como despesa, pois é da parte administrativa da empresa. Já o pro labore do sócio, que é o engenheiro e realiza os projetos e trabalha diretamente na execução da obra, ou seja, é parte operacional da empresa, portanto é CSP.

As férias foram alocadas como CSP, pois o pessoal da fábrica iniciou as atividades em janeiro, portanto não haviam gozado de férias. O FGTS foi apropriado na mesma proporção que os salários e ordenados e da mesma forma a despesa de 13º salário, INSS receita bruta, despesas com Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), despesa com seguros (seguros de vida) e despesa com cesta básica, que são os prêmios assiduidade que o colaborador recebe se não houver falta em

nenhum dia do mês de trabalho, por motivo algum, mas que ao realizar este estudo não se teve acesso aos cartões pontos para conferência, então foram alocados da mesma forma que os salários e ordenados, nas mesma proporções.

As despesas de aluguel e IPTU foram rateadas da seguinte forma: o escritório para administração da empresa era pago um mil reais ao mês e a fábrica estava em conjunto com o aluguel de outra empresa, sendo, portanto, rateado neste estudo conforme apontamento da sócia. As despesas com taxas diversas foram mantidas como despesas, pois a sócia não soube separá-las visto o tempo que já se passou. As despesas de energia elétrica, água e esgoto, foram divididas entre CMV da fábrica e despesa do escritório administrativo.

Junto às despesas com material de expediente, constatou-se que estavam alguns custos de fabricação como matéria prima e materiais adquiridos e custos de prestação de serviços como ferramentas adquiridas para consumo e materiais de construção utilizados para execução dos trabalhos. Estas foram separadas conforme indicação da sócia proprietária da empresa e realocadas na DRE entre custos e despesas. As contas de despesas com concertos de máquinas e equipamentos e despesas com manutenções, que segundo a sócia, são todas do ferramental operacional da empresa, não são consideradas custos, pois não são contratadas, são eventuais.

As despesas de IPVA/seguro/licenciamento, despesas com veículos e despesas com combustível foram alocadas como CSP somente o que pertencia ao que opera diretamente na prestação de serviços realizando as perfurações necessárias, e as retroescavadeiras que fazem os serviços de escavações. As despesas que havia com os operadores do caminhão com máquina perfuratriz e das retroescavadeiras, como salários e ordenados, férias e outros, foram alocados como CSP.

Resumidamente, pôde-se constatar durante a entrevista com a sócia da empresa, que os custos e despesas da empresa estão vinculados aos colaboradores, a deslocamentos, alimentações e alojamentos dos colaboradores, equipamentos de proteção individual e coletiva, ferramentas para execução dos trabalhos necessárias, e manutenção de veículos disponíveis para os trabalhos como combustíveis, impostos e outros. O material de construção utilizado nas obras não é contabilizado pela empresa, pois não faz parte das atividades fim da empresa. Desta forma, as receitas orçadas aos trabalhos contratados se reportam a cobrir os

custos e despesas da empresa Alfa somente, sem considerar os materiais de construção e algum serviço terceirizado que se fizer necessário, englobando o lucro almejado.