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Dados sobre o Brasil e Pernambuco

3 CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO

3.1 Creches no Brasil

3.1.2 Dados sobre o Brasil e Pernambuco

A creche, primeira etapa da educação básica, está em lenta expansão desde a sua “criação”. O aumento de oferta, além de vagaroso, ocorre de forma desregrada e desigual para os diferentes segmentos sociais, o que tem resultado em oferta de vagas insuficientes e baixa qualidade de atendimento, com prejuízos especialmente para as famílias de menor renda que residem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. “O déficit da oferta é intenso e mais intenso para grupos sociais mais necessitados; a qualidade da oferta é precária” (ROSEMBERG, 2009b, p. 14).

No NEGRI, temos nos posicionado criticamente frente às desigualdades sociais reproduzidas na oferta e na qualidade de creches por meio de nossas pesquisas à medida que temos construído:

(...) um modo para interpretar as desigualdades sociais constitutivas da sociedade brasileira que, ao lado das relações de classe, de gênero (que focalizam desigualdades entre homens e mulheres), étnico-raciais, de localização do domicílio (campo ou cidade) e regionais, consideram também as relações de idade, que alguns teóricos tratam sob a denominação de geração (ROSEMBERG, 2010a, p. 2-3).

Nossas pesquisas mais recentes chamam atenção para a reduzida visibilidade e para as dificuldades que as crianças com idade entre 0 e 3 anos e suas famílias enfrentam para terem seu direito à creche de qualidade garantido.

Um desafio atualmente estabelecido para a EI brasileira é a implementação, a obrigatoriedade e a universalização da pré-escola para crianças de 4 e 5 anos até 2016 e atender 50% da população de 0 a 3 anos em creches até o ano de 2020, de acordo com o PNE 2011-2020.

Assim, apresentaremos a seguir alguns dados e pesquisas que abordam os investimentos financeiros, a oferta e a qualidade das creches no Brasil e em Pernambuco.

Os dados do Censo Escolar de 2012 revelam que a creche é a etapa escolar que mais cresce em número de alunos a cada ano. Em 2012, 2.540.791 alunos de 0 a 3 anos frequentaram as creches brasileiras. Um crescimento de 10,5% em relação a 2011, chegando a quase 2,6 milhões de crianças matriculadas. Entre 2007 e 2012, a rede privada teve um aumento de 75,6% no número de alunos matriculados, enquanto a rede pública cresceu 53,3%. Mesmo com esse aumento da oferta na rede privada, a maior quantidade de alunos está nas creches públicas. Em 2007, a rede pública atendia a 1.050.295 crianças, enquanto a rede privada, 529.286. Em 2012 as creches públicas tinham 1.611.054 estudantes de 0 a 3 anos de idade, enquanto as privadas, 929.737 crianças (INEP, 2012).

Apesar do crescimento no número de crianças de 0 a 3 anos frequentando a creche, essa quantidade atende poucos alunos diante das 10,4 milhões de crianças brasileiras nessa faixa etária (dados de 2011). O crescimento da rede pública deve aumentar, de fato, quando as creches do ProInfância estiverem em funcionamento (INEP, 2012).

Segundo o relatório Education at a Glance 2012, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os gastos por aluno na educação brasileira primária e secundária cresceram 149% entre 2005 e 2009. Entretanto, dentre os países analisados, o Brasil está entre os cinco com menor investimento anual por aluno e abaixo da média da OCDE em todos os níveis de ensino. No Brasil, o ensino “pré-primário” recebe o menor valor, US$ 1.696,00 dólares por ano, enquanto a média dos países integrantes da OCDE, para o mesmo nível, é de US$ 6.670,00 dólares (Tabela 01).

Tabela 01 - Investimentos financeiros em educação no Brasil - gasto anual por aluno (2009).

Nível Brasil Média da OCDE Posição do Brasil no ranking

Ensino pré-primário* US$ 1,696 US$ 6,670 3º pior colocado de 34 países Ensino primário US$ 2,405 US$ 7,719 4º pior colocado de 35 países Ensino secundário US$ 2,235 US$ 9,312 3º pior colocado de 37 países Fonte: Education at a Glance 2012.*Para crianças a partir de 3 anos de idade.

Dados apresentados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sobre o gasto anual com alunos na rede pública de EI brasileira, indicam diferenças entre as regiões do país. No ano de 2012, o gasto anual previsto com cada aluno matriculado em creche em tempo integral era de 4.159,65 reais, na região Sudeste, e apenas 2.725,69 reais na região Nordeste (FNDE, 2011). Comparando os estados de Pernambuco, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul, cada um localizado em uma região do país, o estado de Pernambuco, situado na região Nordeste, recebeu o menor valor aluno/ano (Tabela 02).

Tabela 02 - Valor anual estimado por aluno para os estados de Pernambuco, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul (2012).

Região UF Creche integral Pré-escola Integral Creche parcial Pré-escola Parcial Nordeste PE 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 Centro-Oeste GO 3.295,33 3.295,33 2.027,89 2.534,87 Sudeste SP 4.150,65 4.150,65 2.554,25 3.192,81 Sul RS 3.786,97 3.786,97 2.033,44 2.913,05

Fonte: adaptada de FNDE, Portaria Interministerial Nº 1.809, de 28 de dezembro de 2011.

Todos os estados do Nordeste, exceto o Rio Grande do Norte e Sergipe, receberam o mesmo valor aluno/ano para as diferentes modalidades da EI no ano de 2012 (Tabela 03). Rio Grande do Norte e Sergipe receberam um valor maior que os demais estados do Nordeste, entretanto inferior ao recebido por estados de outras regiões do Brasil.

Observa-se que o valor investido anualmente por aluno na creche e na pré- escola oferecidas em tempo integral é o mesmo, diferentemente do que acontece com a creche e pré-escola em tempo parcial. Na maior parte dos estados do

Nordeste a creche em tempo parcial recebe R$ 1.677,35, enquanto a pré-escola, R$ 2.096,68.

Tabela 03 - Valor anual estimado por aluno para estados da região Nordeste (2012).

Estados da região Nordeste

Creche integral Pré-escola

integral Creche parcial

Pré-escola Parcial AL 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 BA 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 CE 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 MA 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 PB 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 PE 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 PI 2.725,69 2.725,69 1.677,35 2.096,68 RN 2.738,25 2.738,25 1.685,08 2.106,34 SE 3.181,26 3.181,26 1.957,70 2.447,12

Fonte: adaptada de FNDE, Portaria Interministerial Nº 1.809, de 28 de dezembro de 2011.

No que diz respeito às taxas de frequência à creche ou à escola por grupos de idade levantados pelos Censos Demográficos de 2000 e 2010, ao mesmo tempo em que observamos aumento para todos os grupos, verificamos que estamos longe de alcançar a meta do PNE na faixa etária de 0 a 3 anos. Para as crianças nesse grupo de idade, a frequência à EI passou de 9,4%, em 2000, para 23,5%, em 2010. Já para aquelas com idade de 4 a 5 anos, a taxa era de 51,4%, em 2000, e chegou a 80,1% em 2010. 81,7% das crianças com 6 anos frequentaram a EI em 2000, chegando a 95% em 2010 (Figura 02). Observamos que quanto mais velha é a criança, maior o acesso à educação (ROSEMBERG; ARTES, 2012a).

Figura 02 - Taxas de frequência à creche ou escola por grupos de idade. Brasil (2000 e 2010).

Fonte: Rosemberg e Artes (2012a).

Ao dividirmos o grupo de idade de 0 a 3, observamos apenas 14,8% das crianças de 0 a 2 anos frequentando a creche ou a escola. Já para as crianças de 3 anos este percentual sobe para 49,1% (Tabela 04).

Tabela 04 - Taxas de frequência à creche ou escola, por faixas de idade e situação de domicílio. Brasil (2010).

Faixas de idade Taxas de frequência

Urbano Rural Total

0 a 2 anos 16,7 6,3 14,8

3 anos 53,7 28,5 49,1

4 e 5 anos 83,0 67,6 80,1

6 anos 95,8 91,5 95,0

Total 0 a 6 anos 52,9 41,0 50,8

Fonte: Rosemberg e Artes (2012a).

Com relação ao número de matrículas em creches, observamos um crescimento 55,6% entre os anos 2000 e 2010 (Tabela 05). Se compararmos as regiões do país, as regiões Sudeste (59,4%), Sul (56,0%) e Centro-Oeste (60,4%)

apresentaram um aumento superior à média nacional, ao contrário das regiões Norte (44,6%) e Nordeste (47,2%) (ROSEMBERG; ARTES, 2012a).

Tabela 05 - Matrículas em educação infantil por etapa, anos e grandes regiões. Brasil (2000 e 2010). Creche Pré-escola 2000 2010 diferença % da 2000 2010 diferença % da Norte 47.026 84.883 44,6 30.7947 451.188 31,7 Nordeste 239.800 454.001 47,2 1.320.845 1.562.463 15,5 Sudeste 418.304 1.030.315 59,4 1.981.774 1.871.614 -5,5 Sul 156.539 355.904 56,0 567.402 505.812 -10,9 Centro-Oeste 55.195 139.550 60,4 243.364 300.968 1,2 Total 916.864 2.064.653 55,6 4.421.332 4.692.045 5,8 Fonte: Rosemberg e Artes (2012a).

Já na pré-escola, frequentada por um número maior de crianças, o aumento total de matrículas foi muito pequeno, apenas 5,8%, uma vez que houve crescimento nas regiões Norte (31,7%), Nordeste (15,5%) e Centro-Oeste (1,2%), mas decréscimo nas regiões Sul (-10,9%) e Sudeste (-5,5%).

Estudos realizados em 2001 por Kappel, Carvalho e Kramer (2001, apud CAMPOS, FÜLLGRAF; WIGGERS, 2006) mostraram a existência de desigualdades de acesso às creches e pré-escolas “(...) por idade, faixa de renda, cor/etnia, escolaridade da mãe e do pai, condição de ocupação da mãe, quantidade de pessoas no domicílio, região e moradia urbana ou rural” (p. 94). Segundo esses estudos realizados em 2001, o número de crianças matriculadas na EI era mais alto para crianças com maior idade, de cor branca, morando em domicílios com menor número de pessoas, de famílias com maior renda, com pai e mãe de escolaridade mais alta, com mães que trabalham fora, domiciliadas nas zonas urbanas e nas regiões mais desenvolvidas.

Na mesma perspectiva, segundo relatório do INEP (2009), algumas características familiares como renda e escolaridade impactam na frequência ou não frequência de crianças pequenas à creche ou escola: quanto maior a renda familiar e a escolaridade dos pais, maior a chance das crianças frequentarem uma instituição de EI, especialmente para a faixa etária de 0 a 3 anos, pela grande oferta de creches privadas.

Dados de 2010, processados por Rosemberg e Artes (2012b), revelam algumas mudanças e outras permanências na frequência à creche e à pré-escola no Brasil (Tabela 06).

Tabela 06 - Taxas de frequência à creche ou escola de crianças de 0 a 6 anos por localização e variáveis selecionadas. Brasil (2010).

Variáveis selecionadas Urbana Rural Total Idades Idades 0 a 3 4 e 5 6 Total 0 a 3 4 e 5 6 Total Sexo Homem 26,2 82,9 95,6 53,0 11,9 66,7 91,1 40,7 50,8 Mulher 25,9 83,1 96,0 52,9 12,3 68,6 91,8 41,4 50,8 Cor/raça Branca 27,8 84,0 96,5 53,1 10,8 65,9 93,4 38,7 51,2 Negra* 24,1 82,0 95,2 52,8 13,0 69,4 91,4 42,8 50,6 Região Norte 14,5 75,9 92,5 43,8 9,3 54,2 81,3 33,2 40,5 Nordeste 24,5 89,0 96,4 53,7 15,1 80,3 94,7 46,9 51,7 Sudeste 29,6 85,8 96,7 56,0 9,5 60,7 93,6 38,3 54,7 Sul 29,6 72,3 94,7 51,8 9,9 53,0 93,0 36,5 49,6 Centro-oeste 19,9 75,0 94,7 47,0 5,9 45,3 86,2 30,3 45,0 Renda (quartil) 19,3 77,1 93,4 47,2 11,9 67,5 90,6 40,8 45,1 23,4 81,8 95,9 97,3 11,5 66,8 93,2 40,6 49,8 29,7 86,4 97,3 56,5 14,0 68,9 94,8 43,0 55,6 40,0 93,0 98,5 63,8 18,2 75,0 95,2 47,0 63,2 Total Geral 26,0 83,0 95,8 52,9 12,1 67,6 91,5 41,0 50,8

Com relação à variável sexo, o acesso de meninos e meninas de 0 a 6 anos à creche e à escola não apresenta diferenças, com 50,8% para cada sexo. Ao analisarmos a variável raça, a diferença no acesso de crianças brancas (51,2%) e negras (50,6%) é muito pequena. Observa-se que as taxas de frequência de crianças negras foram superiores às de crianças brancas residentes em área rural para dois grupos etários (0 a 3 e 4 e 5 anos).

As diferenças são mais significativas quando analisamos as regiões do Brasil e a renda. O Sudeste (54,7%) e o Nordeste (51,7%) são, respectivamente, as regiões com maiores taxas de frequência. Destacando-se a renda familiar, observa- se que quanto maior a renda domiciliar, maior a taxa de frequência das crianças à creche ou escola. A diferença na taxa de frequência total é de 18,1 pontos percentuais entre o quartil de renda mais baixo (45,1%) e mais alto (63,2%), porém, a diferença entre o 1º e 4º quartil, na faixa etária de 0 a 3 anos, é ainda maior na área urbana: 20,7 pontos percentuais.

Ao focalizarmos as faixas etárias, a frequência de crianças de 0 a 3 anos é sempre inferior à de crianças de 4 a 6 anos, independente das variáveis. Na faixa etária de 0 a 3 anos, a frequência de meninos (26,2%) a creches e escolas urbanas é ligeiramente superior a de meninas (25,9%). Já em creches e escolas localizadas em área rural ocorre o inverso, encontramos 11,9% de meninos e 12,3% de meninas matriculados.

Dentre as regiões, o Nordeste apresenta a maior taxa de frequência de crianças de 0 a 3 que utilizam creche ou escola localizada em área rural (15,1%), e a terceira maior taxa de frequência à creche ou escola localizada em área urbana (24,5%). Como será apresentado mais adiante, a alta taxa de frequência da região Nordeste coincide com uma jornada escolar reduzida e piores indicadores de qualidade (ROSEMBERG; ARTES, 2012b).

Na presente pesquisa foram entrevistadas mulheres-avós que residem na cidade de Recife, localizada no estado de Pernambuco21. Segundo dados do Censo

Demográfico de 2010 (IBGE), o estado possui uma população de 820.278 crianças com idades entre 0 e 5 anos: 536.068 crianças na faixa de 0 a 3 anos e 284.514 na faixa de 4 e 5 anos de idade. A região metropolitana, que inclui a cidade de Recife,

21 Vale destacar que desde agosto de 2000, o estado possui um Fórum em Defesa da EI em

Pernambuco (FEIPE), integrante do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB). O FEIPE organiza encontros mensais que oferecem um espaço de interlocução e promovem a discussão e o debate de políticas de EI no Estado e nos Municípios.

possui a maior concentração de crianças com idade entre 0 e 5 anos, com 37,1% do total nessa faixa etária (Figura 02).

Figura 03 - Percentual de distribuição da população de 0 a 5 anos por regiões - Pernambuco, censo demográfico (2010).

3,6% 2,8% 1,9% 5,9% 4,4% 2,2% 37,1% 7,0% 8,6% 6,0% 8,4% 12,0% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% Sertão Pajeú Sertão Moxotó Sertão Itaparica Sertão São Francisco Sertão Araripe Sertão Central Região Metropolitana Mata Sul Mata Norte Agreste Setentrional Agreste Meridional Agreste Central

Fonte: Secretaria da Criança e da Juventude de Pernambuco (2012).

Tendo em vista as metas de atender 50% da população de 0 a 3 anos até 2020 e universalizar a pré-escola para crianças de 4 e 5 anos até 2016, o estado possui uma demanda reprimida de 203.528 vagas em creches e 41.329 vagas em pré-escolas para alcançar tais metas (Tabela 07).

Tabela 07 - População de 0-3 e 0-5, matrícula em creches e pré-escolas, taxas de atendimento, demanda reprimida - Pernambuco (2011).

População de 0 a 3 anos/2010 50% da população de 0 a 3 anos Matrículas em creches/2011 Taxa de atendimento Demanda reprimida 536.068 268.034 64.506 12,03% 203.528 População de 4 e 5 anos/2010 100% da população de 4 e 5 anos Matrículas em pré- escolas/2011 Taxa de atendimento Demanda reprimida 284.514 284.514 243.185 85,50% 41.329

De acordo com os dois últimos censos escolares, de 2011 e de 2012, ocorreu um aumento no número de matrículas em creches, especialmente em creches privadas e uma redução nas matrículas em pré-escola, exceto em pré-escolas privadas, nas quais se observa um aumento nas matrículas. A redução do número de matrículas em pré-escola pode estar associada à saída de alunos da pré-escola para entrada no ensino fundamental, crianças “fora do lugar”, como também “erros de contagem” do número de alunos para as etapas em censos anteriores (Tabela 08). Isso acontece por que nem toda creche acolhe exclusivamente crianças de até 3 anos, como também nem toda pré-escola acolhe exclusivamente as de 4 e 5 anos. Observa-se também uma diferença na contagem de crianças/matrículas entre as duas instituições responsáveis por pesquisas sobre a EI no Brasil: o IBGE e o INEP.

Tabela 08 - Comparações Censo Escolar 2011 e 2012 - resultados preliminares.

Matrículas em creches em Pernambuco

Dependência 2011 2012 Oscilações

Estadual 284 334 Mais 50

Municipal 35.070 37.800 Mais 2.730

Privada 29.152 33.346 Mais 4.194

Total 64.506 71.480 Mais 6.974

Matrículas em pré-escolas em Pernambuco

Dependência 2011 2012 Oscilações

Estadual 2.116 1.852 Menos 264

Municipal 147.383 143.020 Menos 4.363

Privada 93.686 98.115 Mais 4.429

Total 243.185 242.987 Menos 198

Fonte: Secretaria da Criança e da Juventude de Pernambuco (2012).

Ao compararmos as taxas de atendimento ou matrícula em creches e pré- escolas de Pernambuco e do país como um todo, Pernambuco está em melhor situação do que o Brasil com relação à oferta de pré-escolas, no entanto acolhe menos crianças em creches (Tabela 09).

Tabela 09 - Taxas de atendimento por população - Pernambuco vs. Brasil. Taxa de atendimento / estado ou país Taxa de atendimento da população de 0 a 3 anos em creches/2011 Taxa de atendimento da população de 4 e 5 anos em pré-escola/2011 Pernambuco 12,00% 85,99% Brasil 18,8% 81,2%

Fonte: Secretaria da Criança e da Juventude de Pernambuco (2012).

Além dos investimentos financeiros e das características das crianças e famílias que têm acesso à creche, a qualidade é um debate importante uma vez que crianças que têm oportunidade de frequentar uma boa instituição de educação infantil contam com benefícios posteriores como maior desenvolvimento intelectual, social e comportamental e maior probabilidade de obter bons resultados no ensino fundamental (SYLVA e colaboradores, 2010 apud CAMPOS e colaboradores, 2011). Conforme exposto no documento Parâmetros Nacionais para a Qualidade da Educação Infantil (MEC, 2006), a qualidade é um conceito socialmente construído e depende do contexto. O conceito de qualidade está baseado tanto em direitos, demandas, necessidades, possibilidades e conhecimentos, como em diferentes perspectivas que tencionam constantemente a definição de critérios (CAMPOS et al., 2011).

Desde os anos 1990, pesquisas sobre a qualidade da educação vêm sendo realizadas no Brasil. Diferentemente dos outros níveis de ensino, o debate da qualidade na EI tem se voltado para os direitos das crianças, especialmente no caso da creche (CAMPOS; FULLGRAF; WIGGERS, 2006; CAMPOS e colaboradores, 2011).

Para Campos, Fullgraf e Wiggers (2006), os problemas na qualidade de creches e pré-escolas brasileiras estão relacionados a aspectos como currículo, práticas pedagógicas, formação de pessoal, infraestrutura e relação com as famílias. Na avaliação desses indicadores, a creche aparece em desvantagem quando comparada à pré-escola ou às demais etapas da educação:

Nos quatro temas abordados, as creches aparecem sempre em situação mais precária, seja quanto à formação do pessoal, seja quanto à infraestrutura material, adotando rotinas rígidas baseadas quase exclusivamente em ações voltadas para a alimentação, higiene e contenção das crianças (CAMPOS; FULLGRAF; WIGGERS, 2006, p. 117).

De acordo com a literatura, verifica-se uma variação de qualidade entre as creches em razão, dentre outras coisas, “(...) das características institucionais da

unidade (entre outros, se pública22, privada particular23, comunitária24, filantrópica ou confessional25, conveniada ou não conveniada)”. Por exemplo, as condições materiais das creches privadas particulares – que muitas vezes possuem livros, brinquedos, computadores, televisores etc. – são bem melhores do que as das creches públicas. Por sua vez, as creches públicas e comunitárias, focadas no atendimento às camadas mais pobres da população, de maneira geral, têm estrutura e funcionamento precários (PACHECO; DUPRET, 2004; CAMPOS e colaboradores, 2011).

A infraestrutura é um dos aspectos da qualidade do atendimento em instituições de EI. Quando nos referimos à infraestrutura englobamos desde serviços básicos (água, energia elétrica, coleta de lixo, esgoto), dependências internas e externas (salas, banheiros, parques, cozinha etc.), até aparelhos e equipamentos (retro projetor, TV, DVD, computador, impressora etc.) e serviços específicos (para crianças com necessidades especiais, atendimento médico, odontológico e alimentação). O Censo Escolar tem incluído em suas pesquisas os quesitos de infraestrutura supracitados fornecendo dados importantes sobre a qualidade de creches e pré-escolas brasileiras (ROSEMBERG; ARTES, 2012a).

Nesse sentido, de acordo com os indicadores do Censo Escolar 2010, os estabelecimentos localizados em área urbana apresentam melhores condições de oferta do que aqueles situados em área rural (ROSEMBERG; ARTES, 2012a).

Segundo Rosemberg (2006), a região Nordeste apresenta os piores indicadores de qualidade no que se refere à infraestrutura. Em estudo sobre creches comunitárias no Ceará, Sílvia Helena Cruz (2004 apud ROSEMBERG, 2006) assinala a baixa qualidade das creches na região: espaços impróprios, mal equipados, com rotinas inadequadas, ociosidade por parte das crianças, atividades voltadas mais para o cuidado do que para a educação.

Em estudo recente realizado por Campos e colaboradores (2011) em seis capitais brasileiras, observa-se que a qualidade está associada às diferenças sociais e regionais: “Os progressos na educação infantil ao longo das duas últimas décadas

22 Criada ou incorporada, mantida e administrada pelo Poder Público.

23 Instituída e mantida por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

24 Instituída por grupo de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive

cooperativas de professores e alunos que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade.

25 Instituída por grupo de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a

ocorreram, portanto, de maneira muito desigual quando se consideram as diferenças de idades e realidades sociais, culturais e políticas no país” (p. 24). A pesquisa avaliou a qualidade da oferta de creches e pré-escolas brasileiras como insatisfatória. Rio de Janeiro, Florianópolis, Fortaleza, Belém, Teresina e Campo Grande foram as capitais escolhidas. Nas creches e pré-escolas foram avaliadas sete subescalas apresentadas no quadro abaixo (Quadro 03).

Quadro 03 - Descrição das subescalas avaliadas. Espaço e

mobiliário

Espaço interior, móveis para cuidados de rotina e brincadeiras, recursos para relaxamento e conforto, organização da sala, exposição de materiais para as crianças.

Rotinas de cuidado pessoal

Chegada/saída, refeições/merenda, sono, troca de fraldas/uso do banheiro, práticas de saúde, práticas de segurança.

Falar e

compreender

Auxílio às crianças para compreensão da linguagem, auxílio para uso da linguagem pelas crianças, uso de livros.

Atividades

Motora fina, atividade física, arte, música e movimentos, blocos, brincadeira de faz de conta, brincadeira com areia e água, natureza/ciências, uso de TV, vídeo ou computadores, promoção da aceitação da diversidade.

Interação Supervisão do brincar e do processo de aprendizagem, interação de criança-criança, interação equipe-criança, disciplina. Estrutura do

programa

Programação, atividade livre, atividade em grupo, provisões para as crianças com deficiências.

Pais e

equipe

Estratégias para o envolvimento dos pais, estratégias para as necessidades pessoais da equipe, estratégias para as necessidades profissionais da equipe, interação e cooperação entre a equipe, estabilidade da equipe, supervisão e avaliação da equipe, oportunidades para crescimento profissional.

Fonte: adaptado de Campos e colaboradores (2011).

Os resultados indicam que duas subescalas, as atividades e rotinas de cuidado pessoal, obtiveram avaliação de qualidade inadequada. Já espaço e mobiliário, falar e compreender, estrutura do programa e pais e equipe foram avaliados como nível de qualidade básico. Por fim, a subescala interação foi a única que obteve a maior pontuação, atingindo um nível de qualidade adequado.

Na comparação da média de pontos obtidos por cada capital na escala utilizada, Rio de Janeiro e Florianópolis obtiveram as melhores pontuações, equivalentes ao nível de qualidade básico. Por sua vez, Teresina, Fortaleza e

Belém, localizadas no Norte e no Nordeste do Brasil, somaram as piores pontuações, com nível de qualidade insatisfatório.

Com relação ao currículo e às práticas pedagógicas, as creches e pré-escolas não apresentam um padrão de trabalho e de funcionamento, especialmente no caso das creches, o que repercute na qualidade do atendimento ofertado. O processo de