• Nenhum resultado encontrado

4.6 Caracterização dos dados do Boletim de Ocorrência

4.6.5 Dano ao patrimônio e pichação

Apresentaremos nessa sessão os atos praticados por adolescentes que, de alguma forma, comprometeram negativamente e danificaram a estrutura física da escola. Em geral, foram ocorrências de arrombamentos de portões, janelas, portas de salas de aula, que puderam ser caracterizadas segundo o Artigo 163 do Código Penal Brasileiro, que reconhece como crime de dano: “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”.

“Acionados pelo COPOM, deslocamos ao local do fato onde, em contato com o Sr. fomos informados que este é funcionário da Escola Municipal [...] localizada no bairro [...], nesta capital sendo que na data de hoje deparou com os dois menores conduzidos puxando a grade que protege a janela de uma das salas de aula da referida escola, vindo a arrancar esta, momento que o Sr. [...] apreendeu os menores em flagrante acionando a Polícia Militar em seguida. Todo fato foi presenciado pela testemunha descrita neste registro.” (BO-14).

“Segundo a Srª [...], vice-diretora da Escola Municipal [...], nesta data, o menor, foi surpreendido na escola com uma bola de futebol em um dos corredores da escola, prática essa, proibida pela direção. E após uma colega pegar a bola e ser questionado pela coordenadora sobre o porquê de ele estar dentro da escola com uma bola e ter a boa retida pela direção até o final da aula, o menor começou a jogar pedras nas luminárias da escola, totalizando 11(onze) luminárias quebradas com 2(duas) lâmpadas de 20wts cada uma e mais 1 (uma) luminária com 2(duas) lâmpadas de 40 wts, totalizando 12(doze) luminárias e 24(vinte e quatro) lâmpadas quebradas

pelo menor. Diante do exposto, a Srª [...] solicitou que a mãe do menor, Srª [...], comparecesse até a sede da escola e acompanhasse a ocorrência policial. Assim sendo, apresento o autor e a representante legal da escola à autoridade policial presente.” (BO-19).

Como observamos no último registro acima, os danos não se limitaram aos arrombamentos e destruição do prédio da escola. Essas infrações também se estabeleceram mediante o arremesso, o lançamento de mesas, cadeiras, lixeiras e outros materiais da escola. Atos esses também praticados pelos adolescentes que avariaram e aniquilaram diversos materiais da escola e que foram tipificados pela Polícia Militar de acordo com a Lei de Contravenção Penal, no seu Artigo 37, que reconhece como transgressão, a saber: “Arremessar ou derramar em via pública, ou em lugar de uso comum, ou de uso alheio, coisa que possa ofender, sujar ou molestar alguém” (BRASIL, 2016a).

Dentre os materiais estragados pelos adolescentes, ações que precisaram da intervenção da Polícia Militar, destaca-se o “extintor de incêndio”. Dos 24 eventos de danos na escola provocados por adolescentes, 7 deles envolveram esse equipamento.

“Segundo a direção da Escola Municipal [...], vários extintores de incêndio (modelos PQS e H2O) estão sendo esvaziados por alunos da escola durante os intervalos das aulas gerando dano ao patrimônio municipal. Na data de hoje o aluno [...], 15 anos, confessou ter rompido o lacre e acionado um extintor de Pó Químico Seco (PQS) localizado em um dos corredores da escola, durante o intervalo. O Guarda Municipal, agente de serviço no local, acompanha esta ocorrência.” (BO- 12).

“Segundo o Sr. GM [...], ele relatou que nesta data pela manhã, foi solicitado pela vice-diretora Srª [...] no 3º piso da Escola Municipal [...], relatando que vários alunos estavam no corredor e sem nenhum motivo romperam os lacres de vários extintores e acionando as válvulas vindo a descarrega-los causando grande incomodo na escola, e logo após o fato outro aluno veio a jogar uma cadeira do 3 piso até ao térreo, os alunos foram detidos pelo Sr. GM que estava de serviço no local do fato, segundo os alunos [...], [...] e o [...] disseram que romperam os lacres dos extintores e logo após acionaram as válvulas para descarrega-los, segundo os alunos envolvidos teriam mais colegas envolvidos, segundo o aluno [...], ele relatou que jogou uma cadeira do 3 piso da escola até ao térreo que veio a danifica-la, segundo a Srª [...], ela disse que o aluno [...], o pai levou embora e o aluno [...] evadiu do local, pulando o muro da escola, não sendo possível localiza-lo, ambos estavam envolvidos no fato, segundo a Srª [...], os responsáveis pelos alunos envolvidos foram informados e que ela segue como representante legal dos alunos [...], [...] e [...] e que a genitora do [...] está acompanhando a ocorrência, foi informado pelo Sr. GM [...] que 06 extintores foram descarregados e uma cadeira danificada.” (BO-13).

O ato de arremessar “algum objeto em algum lugar”, dentro da escola, tornou essa ação digna da referida análise pelos guardas militares. Como veremos adiante, os adolescentes lançaram bombas no corredor, em frente às salas de aula, ou no pátio, em frente à biblioteca; eles também arremessaram cadeiras e mesas em direção ao teto da sala de aula e de andares mais altos para o pátio.

“Nesta data fui acionado na Escola Municipal [...], onde fui informado pela direção da escola que os alunos [...] e [...] arremessaram uma bomba no corredor da escola colocando em risco a integridade física dos alunos pois foi no momento em que os alunos trocavam de sala. Em conversa com os alunos eles confirmaram que um acendeu o artefato e o outro jogou. O aluno [...] entregou artefato apreendido para o sargento [...]. A direção da escola realizou contato com os familiares dos adolescentes e cientificou o fato e disseram que não iriam acompanhar a ocorrência. Em tempo as informações foram passadas pelo guarda municipal [...].” (BO-2). “Comparecemos a Escola, onde em contato com o guarda municipal, ele nos disse que o aluno [...], 13 anos, estaria arremessando bombas próximo de outros alunos menores, diante disso efetuamos a busca no [...] e localizamos 10(dez) bombas tipo garrafão e um isqueiro preto. A [...], mãe do [...] compareceu até a escola onde ela nos informou que o [...] vem apresentando comportamento ruim, como agredi-la, fazer menção de estar armado, falar que vai pedir os colegas dele que são bandidos para matá-la, além de estar sempre fazendo apologia ao uso de drogas escrevendo nos cadernos e no seu corpo a escrita ‘4:20’ (apologia ao uso de maconha). Ainda foi relatado pelo guarda municipal que o [...] teria ameaçado outro aluno de agredi- lo fisicamente, tal fato foi confirmado pelo [...] . Diante dos fatos trouxemos o [...] juntamente com sua mãe e os materiais apreendidos para futuras providencias.” (BO-5).

Como podemos notar nos registros acima, as ações realizadas pelos adolescentes, de certa forma, colocaram em risco a integridade física de outros alunos além de causar barulho e atrapalhar o ambiente escolar. A identificação dos autores da ação infracional era, algumas vezes, facilitada pelo circuito interno de monitoramento da escola.

“Segundo a senhora vice-diretora da Escola Municipal [...], hoje por volta de 17:20 horas durante o horário de saída das aulas o menor [...] sem motivo algum pegou uma mesa escolar e atirou do terceiro andar, vindo está a cair no solo quase atingindo outras crianças que estavam no pátio. Ainda de acordo com a senhora [...], esse aluno traz problemas para escola a seis anos, sempre esvaziando os extintores, fazendo quebradeiras e já agrediu fisicamente uma professora. A senhora [...] afirma que sempre os pais compareceram na escola quando são chamados, mas já informaram que não conseguem mais controlar o filho. Na data de hoje após o ocorrido a direção da escola fez contato com os pais e os mesmos disseram que não iriam na escola e que poderiam leva-lo para a delegacia que nem

lá eles iriam buscá-lo. Diante do exposto conduzimos o menor e a senhora [...] até esta delegacia para providencias cabíveis.” (BO-17).

Outras vezes, o processo de apreensão dos adolescentes autores do referido ato infracional ocorria fora da escola, já que eles, ao perceberem a presença da Polícia Militar, evadiam-se do local. E, ainda, escondiam-se na própria escola, sendo necessário, como foi o caso, utilizar de força física para efetivar a captura dos infratores.

“Empenhado pelo CICOP comparecemos até a Escola onde segundo denúncia anônima havia vários indivíduos cometendo ato de vandalismo dentro da escola estadual [...]. No local assim que escalamos o muro da referida escola para verificar a denúncia, deparamos com os menores infratores [...], [...], [...] e [...] no interior da escola, que os menores [...] e [...] ao avistarem estes militares empreenderam fuga, sendo abordado pelo SD [...] já na Rua [...]. Ao verificar no interior da escola deparamos com os seguintes danos: arrombaram um cadeado de um portão, danificaram um telefone público que fica no interior da escola, vários vidros da porta quebrado, várias lâmpadas fluorescentes quebradas, um bebedouro, o cano de água do bebedouro, além de várias salas da escola estarem alagadas. Todos s menores assumiram que participaram do ato de vandalismo na escola. Em tempo no local havia várias pedras e cacos de vidro espalhados nas dependências da escola.” (BO-2).

“Sr.(a) delegado(a) compareceu a [...] CIA ESP do [...] BPM, o guarda municipal [...], que atua na Escola Municipal [...], está situada no endereço supracitado, alegando que, encontrava-se de serviço no referido estabelecimento de ensino quando foi acionado pela professora Srª [...] sobre dois alunos que estariam danificando objetos e as dependências da escola. Segundo o guarda ao deslocar visualizou os menores, [...] e [...] danificando as carteiras e cadeiras no interior da sala de aula, de imediato o guarda deu voz de apreensão aos mesmos e os conduziu até a sala da coordenação, durante a condução [...] tentou evadir, sendo necessário fazer uso moderado de força para conte-lo. Conforme relato do GM [...], os menores aguardaram a chegada de seus responsáveis juntamente com a vice-diretora da escola Srª [...]. Ainda segundo o guarda municipal além dos objetos mencionados acima os autores também danificaram as ‘butueiras’ de alarme de incêndio localizadas nos corredores da escola e parte dos corrimãos localizados nas rampas de acesso aos 1º e 2º pisos, sendo esse comportamento recorrente e prejudicando os demais alunos e funcionários da escola. Segundo o GM [...] frequentemente ele e os demais guardas que atuam na escola são acionados pela coordenação a respeito de danos e vandalismos causados pelos alunos. Fizeram-se presente na escola os responsáveis legais dos menores, os quais acompanharam toda a ação dos guardas, a condução dos menores até a [...]ª Cia para confecção deste REDs, bem como a condução e apresentação dos menores nesta unidade policial especializada. A vice- diretora da escola também acompanhou todo o desdobramento deste BO. A integridade física e psíquica dos menores bem como seus direitos fundamentais foram preservados, não sendo constatadas nenhuma lesão nos mesmo, sendo isto ratificado por seus responsáveis. O guarda municipal [...] traz a vossa presença os menores apreendidos, ficando a cargo da polícia militar somente a confecção deste REDs, uma vez que nenhuma das ações descritas acima foi presenciada pela guarnição policial militar. Faz-se presente os representantes legais dos menores bem como a vice-diretora da escola. Diante do exposto registro para futuros fins.” (BO-9).

Segundo os BOs analisados, foi possível identificar outra forma de os adolescentes danificarem a estrutura física da escola. Eles o faziam pichando muros e paredes da escola. Essa ação podia ser feita usando spray ou tinta.

“No local em contato com guarda municipal este nos relatou que: no horário de entrada da escola o menor Sr. [...] este estava pedindo insistentemente sua mochila para pegar algo, momento que o Sr. [...] que guarda municipal desconfiou e abordou seu colega onde foi constatado uma lata de tinta spray foi recolhida. As 19:40 o guarda municipal foi chamado pelo o porteiro onde o portão da escola foi pinchado. Ao verificar próximo ao poste foi encontrado a lata de tinta acrílica. Momento quando acionou a Polícia Militar para relatar o fato a viatura do GEPAR já estava com o menor abordado, onde o mesmo confessou que o material e de sua posse. Em tempo a responsável da escola não pode acompanhar este boletim uma vez que não tinha outra pessoa para ficar de responsabilidade da escola, trago a vossa presença o menor infrator para melhores esclarecimento.” (BO-9).

“Comparecemos à Escola Municipal [...], Bairro [...], BH, onde nos foi relatado que três alunos da escola ([...], 13 anos; [...], 12 anos; e [...] anos) haviam participado de uma pichação na parede de um dos corredores da escola durante o horário das aulas. Segundo relatos dos profissionais da escola [...] subtraiu um pincel marcador de quadro branco da sala de aula e o repassou para sua colega [...]. [...] em companhia de [...] resolveu pichar os corredores da escola. Três pincéis foram apreendidos com os autores.” (BO-12).

Chamou a atenção o fato de os adolescentes, pelo menos no que tange a essa prática infracional, assumirem a responsabilidade dos atos praticados.

“Nesta data fui acionado na Escola Municipal [...], onde fui informado pelo guarda municipal [...], que foi informado pela gestora da escola senhora [...] que o aluno [...] estava pichando a escola, o aluno ao ser abordado pelo guarda municipal este confirmou que realmente fez as pichações no banheiro da escola.” (BO-2).

“Nesta data fui acionado na Escola Municipal [...], onde fui informado pela coordenadora senhora, que presenciou o adolescente [...] iniciar uma pichação próximo a escada do segundo andar da referida escola. O adolescente é suspeito de várias pichações na escola. Nesta data não terminou a pichação que iniciou porque foi flagrado pela coordenadora [...], a coordenadora [...] não acompanhou a ocorrência porque não poderia se ausentar da escola nesta data, porem relatou todo o fato para o Guarda Municipal [...]. Em conversa com o adolescente [...] relatou que realmente está pichando a escola quando foi flagrado pela coordenadora.” (BO- 5).

Os Boletins de Ocorrência também registraram os fatos que evidenciaram a materialidade da referida prática de crime, tipificada segundo a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de 1998 (Seção IV – Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o patrimônio Cultural). Reza, no Artigo 65 do referido ordenamento legal, que é proibido “pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano” (BRASIL, 2018).

As ocorrências abaixo, portanto, apontaram não somente para a comprovação da realização do ato infracional pelo adolescente em lide, como também para a existência de provas concretas acerca da execução prática pelo mesmo.

“No local funciona a Escola Municipal [...] e, de acordo com relato, Sr. [...], diretor do educandário, os menores qualificados picharam uma das salas de aula e evadiram da escola. Após conversa com outros alunos que possibilitou a identificação dos autores, a escola fez contato com as famílias que deslocaram-se com os alunos de volta a escola, tendo os mesmos assumido a autoria da pichação alegando que encontraram os potes de tinta em cima de uma mesa dentro da referida sala, negando

o fato de terem arrombado o armário da professora para pegar os vidros de tinta, embora não havia dano no referido móvel antes do fato ocorrido.” (BO-6).

“Comparecemos à rua [...], número [...], bairro [...], onde funciona a Escola Municipal [...], onde em contato com a diretora da instituição de ensino, senhora [...], a qual nos relatou que a citada escola, nos últimos dias vem sendo alvo de vândalos, sendo que há diversas pichações pela escola. Nesta data, pela manhã, ela constatou que havia uma pichação no muro do parque infantil, com os seguintes dizeres em vermelho: ‘4:20’, com assinatura de ‘cj’. Já de tarde, a diretora foi chamada no banheiro masculino, onde um aluno da escola estaria pichando uma parede com um spray, de cor vermelha, sendo o autor do delito identificado por [...], o qual foi contido por um funcionário e posteriormente encaminhado à direção da escola. No banheiro, foi pichada uma parede com os dizeres: ‘as pervertidas’, também com assinatura ‘cj’. Com a chegada da guarnição no local, o menor infrator assumiu, diante da diretora, a autoria do ato infracional, dizendo que pichou o muro do parque e o banheiro, pois ele encontra-se com os dedos da mão direita suja de tinta vermelha. A senhora [...] nos relatou que há uma pichação, numa parede do pátio da escola, a qual foi feita na semana passada, que diz: ‘eu avisei’, com assinatura de ‘cj’, com a cor vermelha, porém não foi realizada de spray, a qual [...] negou a autoria. A diretora da escola fez algumas fotografias do vandalismo. Diante dos fatos [...] foi apreendido em flagrante de ato infracional, sendo ele conduzido, juntamente com a diretora e a tinta em spray utilizada no vandalismo, até esta DEPOL.” (BO-1).

Constatamos, pela leitura dos BOs, que o adolescente em questão é suspeito de ter já realizado outras pichações na escola, assim como, em certos casos, de possuir um histórico de indisciplina e maus comportamentos na escola.