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4.6 Caracterização dos dados do Boletim de Ocorrência

4.6.7 Posse, uso e venda de drogas nas escolas

Outra ocorrência infracional frequente nas escolas de Belo Horizonte, nos anos de 2014 e 2015, foi a posse e o uso de drogas nas escolas. De acordo com o Artigo 28 da Lei nº 11.343/2006, aquele que “adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou

regulamentar” (BRASIL, 2018b) será submetido a sanções penais92. Quarenta e nove (49) casos

foram registrados em BOs, pela Polícia Militar, envolvendo adolescentes que estavam de posse principalmente de (“buchas de”) maconha dentro da escola.

A ciência de tais eventos nas escolas era noticiada anonimamente pelos alunos, geralmente, à direção da escola.

“Em contato com a Srª [...] que é vice-diretora da Escola Municipal [...] ela nos informou que tomou conhecimento através de outros alunos que o aluno [...] estaria oferecendo maconha a eles. Ainda segundo Srª [...] ela chamou o aluno [...] e deslocou com ele a uma sala reservada onde o autor abriu a mochila e tirou todos os materiais de dentro e ao balançar a mochila a bucha da substancia semelhante a maconha caiu em cima da mesa. Segundo o autor a bucha da substancia foi entregue a ele pelo [...] enteado de seu pai que pediu para ele guardar. O menor de nome [...] não foi encontrado e o genitor do autor acompanhou a ocorrência até esta delegacia. A Srª [...] não pode acompanhar a ocorrência devido a compromissos na escola.” (BO-6).

“Acionados pelo COPOM comparecemos ao endereço do fato, Escola Estadual [...] onde a testemunha Srª [...] que é diretora da referida escola nos relatou que que na presente data recebeu uma denúncia anônima de alunos da escola, que dava conta que o aluno [...] teria passado droga para o aluno [...]. Diante da denúncia a diretora chamou os referidos alunos até a sala da diretoria para conversar e que durante a conversa, o aluno [...] entregou às funcionárias da escola a bucha de material semelhante a maconha e disse que o aluno [...] disse ter achado o referido material próximo a escola. O aluno [...] afirma ter achado a referida droga nas proximidades da escola e ter entregado o pacote a [...] para que ele jogasse fora, versão confirmada pelo aluno [...]. A diretoria da escola fez contato com os pais dos alunos e a Srª [...] representante legal do aluno [...] acompanhou toda ocorrência, já o aluno [...] foi acompanhado pela funcionária da escola, Srª [...] nobre, já que o pai do aluno disse 92 “I - Advertência sobre os efeitos das drogas; II - Prestação de serviços à comunidade; III - Medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.

§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. § 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§ 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I - Admoestação verbal; II - Multa.

§ 7º O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.” (BRASIL, 2018b).

aos funcionários da escola que deslocaria diretamente para esta DEPOL, contudo até o encerramento da ocorrência não havia comparecido. Registro para providencias cabíveis.” (BO-7).

A descoberta da posse da maconha foi produto de investigação da direção da escola e/ou do policial da Guarda Militar, os quais já suspeitavam (de algumas atitudes) do adolescente em questão.

“Em 11 de agosto de 2015, às 20h20min, em contato com o guarda municipal [...] na Escola Municipal [...] alegou que algum tempo havia suspeição de que os menores [...] e [...] levavam maconha para consumo próprio no interior da citada escola. Hoje, por volta das 16 horas, no interior da escola, o GM disse que resolveu dar busca pessoal nos menores citados e foram encontrados na posse deles duas buchas de substância esverdeada semelhante à maconha, sendo que cada um estava com a posse de uma. Diante do ocorrido, o GM [...] deteve os menores, acionou a polícia assim como o coordenador da escola [...] que de imediato acionou os pais ambos, [...] e [...], sendo que esta é a mãe do [...] e aquele o pai do [...]. Os pais foram cientificados por este relator que naquele momento os menores seriam encaminhados para a delegacia. Diante dos fatos narrados os menores foram conduzidos apreendidos e bom como seguem recolhidos as duas buchas de substância semelhante à maconha. O GM [...] também acompanhou o desfecho da ocorrência na delegacia.” (BO-32).

Além disso, funcionários e professores da escola presenciaram não só a posse da droga como seu uso pelo adolescente; em geral, quando isso acontecia, encaminhavam o aluno à sala da direção, e esta acionava a Polícia Militar para “os devidos registros”.

“Comparecemos no local e fizemos contato com a direção da Escola Estadual [...] juntamente com senhora [...] que é professora de [...] que presenciou os fatos. Segundo esta durante a aula visualizou um grupinho de meninas que estavam dispersas a instrução ministrada. Quando esta foi verificar o que elas estavam fazendo deparou com a aluna [...] de posse de uma substancia semelhante a maconha, perguntada sobre tal fato a aluna [...] disse: que a referida droga pertencia a aluna [...] e que só pegou a referida substância para conhecer, já a aluna [...] nos relatou que levou a droga para fazer uso no intervalo e que ofereceu a substancia para a aluna [...]. Já no deslocamento para esta delegacia, tomamos conhecimento que a menor infratora [...] havia ameaçado a professora de [...], Srª [...], dizendo que x9 morre, devido a Srª [...] ter levado o fato a conhecimento da direção da escola. O Sr. [...] pai da menor infratora [...], bem como a genitora da envolvida [...] acompanharam o registro deste evento.” (BO-2).

Os Policiais da Guarda Municipal também, ao realizarem a ronda pela escola, testemunharam e interviram diante dessa infração praticada pelos alunos.

“Segundo relato do guarda municipal, que trabalha na Escola Municipal [...], hoje no turno da manhã quando realiza sua ronda diária, sentiu cheiro aparentemente de maconha vindo do banheiro. Momento em que os três menores infratores estavam saindo do banheiro, assim o [...] conseguiu abordar o [...], encontrando dentro de sua mochila uma porção de uma substancia semelhante a maconha e um isqueiro. O [...] disse que o [...] também estava fumando dentro do banheiro, ao ser interrogado pelo o [...], [...] disse que tinha em seu poder um cigarro de uma substancia semelhante a maconha, mas passou para o [...]. [...] disse que o [...] passou para ele e guardou, sabendo que o produto se tratava de uma substancia semelhante a maconha. As mães dos três menores foram avidas e vão comparecer a esta delegacia.” (BO-9).

Em algumas ocorrências, ao serem apreendidos, os adolescentes davam a conhecer os motivos pelos quais estavam de posse da maconha. A posse do material ilícito, no ato da intervenção policial, variava de: “não é minha... estou apenas guardando para alguém”, até a assunção de que o produto recolhido pertencia, sim, ao adolescente, para uso pessoal, e, dado o caso, o reconhecimento do vício.

“Durante o horário do recreio o Guarda Municipal [...], condutor desta ocorrência policial e estando de serviço na Escola Municipal, bairro [...], visualizou o autor juntamente com outros alunos em atitude suspeita próximo à quadra de vôlei. Foi determinado que todos fossem para a sala da coordenação onde durante as buscas nos objetos pessoais foi localizado na mochila de [...], 14 anos, 01 (uma) bucha de substância semelhante a maconha. Questionado sobre os fatos, o autor alegou que estava de posse da droga a pedido de um amigo. [...] se negou a identificar o verdadeiro dono/proprietário da droga por medo de represálias.” (BO-49).

Além da constatação da posse da droga pelo adolescente na escola, os registros dos Boletins de Ocorrência permitiram-nos observar outras nuanças e meandros que constituem esse ato infracional. Os adolescentes não só reafirmaram o pertencimento e uso do material ilícito dentro da escola, como também apontaram a procedência da substância que estavam consumindo – próximo de casa ou da escola, dentro da própria casa, por exemplo. Em alguns casos, o valor gasto para adquirir a maconha também foi informado ao policial militar.

“Segundo o guarda municipal, GM [...], nesta data, na Escola Municipal [...], alguns dos alunos lhe trouxeram a notícia de que o menor [...], aluno da sétima série estaria de posse de maconha dentro da escola. Comunicando o fato ao coordenador [...], este encaminhou o referido aluno até a direção. Em conversa com [...], este assumiu que estava de posse da droga ilícita e retirou do seu bolso uma bucha de substância com características de maconha e a entregou para o guarda municipal [...] que se apresenta como condutor da apreensão. Em ato contínuo, foi acionada a polícia militar para proceder ao registro deste boletim. Segundo o menor [...], ele comprou a substância pelo valor de vinte e cinco reais e um local conhecido como mina. [...] acrescenta que chegou a fumar parte da droga dentro da escola durante o recreio. A senhora [...], a mãe de Alan acompanha o registro desta ocorrência. Diante dos fatos, apreendemos o menor infrator e o conduzimos juntamente com o material ilícito até esta delegacia especializada para os demais procedimentos.” (BO-1). “Segundo o senhor [...] alega que trabalha na Escola Municipal [...] na função de coordenador, e deslocando pelo pátio/corredor da referida escola, surpreendeu o menor e aluno desta, de nome [...], enrolando, digo, fabricando um cigarro artesanal de substancia esverdeada parecendo ser maconha, ele estava com o material nas mãos e de imediato o senhor [...] fez a apreensão de tal objeto e encaminhando o menor para a sala da coordenação, onde solicitou junto ao 190 a presença da PMMG. O menor [...] confirmou que tal material e de sua propriedade, que adquiriu a substancia em um campo de futebol na região do bairro [...] e que pagou pela substancia uma quantia de R$5,00 (cinco reais), das mãos de um indivíduo desconhecido. Diante do exposto, apresento o menor [...], o senhor [...] como sendo o autor da apreensão do menor e do material, bem como o material descrito a esta especializada, sendo garantido ao menor todos os seus direitos constitucionais. A senhora [...], mãe do menor [...] acompanhou o desfecho deste registro. Registra- se.” (BO-27).

No montante de casos apresentados, a maconha foi o tóxico mais encontrado nas escolas. Numa proporção bem menor, a cocaína também foi uma substância alucinógena encontrada em posse dos adolescentes.

“Acionados, via CICOP, comparecemos ao endereço, onde, segundo a testemunha, que é guarda municipal, ao adentrar no banheiro da referida escola, deparou com os dois menores, portanto uma nota de R$ 5,00 (cinco reais), a qual continha uma substancia, semelhante a cocaína. Ato continuo, o menor [...], o qual portava o pino, de onde foi extraída a substancia, lançou o referido objeto pela janela, a fim de se livrar da responsabilidade. Contudo, o objeto foi localizado e recolhido pelo guarda municipal, o que também nos entregou a referida nota, contendo a substância suspeita. Como o fato foi presenciado e como a viatura foi acionada pela diretora da escola, além do fato de que o menor [...] não apresentou responsável legal, esta segue na condição de representante do menor.” (BO-17).

“Sr. delegado (a). Solicitados via COPOM comparecemos na Escola Municipal, e lá chegando fizemos contato com a senhora diretora da escola, que nos relatou o seguinte fato; no horário do início das aulas entre 7:30 e 8:00 horas da manhã, surpreendeu o aluno de nome [...] com um recipiente semelhante aos usados por consumidores de droga, e dentro do recipiente havia um pó branco semelhante a cocaína. O aluno [...] estava oferecendo a um outro colega de turma chamado [...], porém não haviam feito uso da substancia. Perguntado ao aluno [...] se ele confirmava os relatos da diretora o mesmo afirmou que sim! Que apenas estava passando o material para o seu colega, que não vendia, que apenas achou o material próximo de onde mora, no bairro [...], e levou o material para a escola. A senhora [...] nos relatou ainda que o aluno [...] é um aluno problemático, e que constantemente vem trazendo transtorno para a direção da escola. Disse ainda que o envolvido, aluno [...] é um bom menino, e que ela acredita que ele esteja ‘entrando de gaiato na estória’. [...] A criança [...], foi entregue aos pais que o acompanhavam na ocorrência.” (BO-50).

Os registros também apontam para outra ação infracional vinculada à presença das drogas na escola. Os adolescentes não somente estavam de posse, mas usavam e/ou guardavam as substâncias ilícitas. Eles também as vendiam, fazendo do ambiente escolar mais um local de comercialização desses “produtos”. A irregularidade dessa ação está prevista no Artigo 33 da Lei nº 11.343/2006, segundo o qual é proibido: “Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”93 (BRASIL,

2018b).

93 “A pena prevista para aquele que pratica esse crime será, segundo o referido artigo de:

Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias- multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: I – Importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II – Semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.” (BRASIL, 2018b).

“Em contato com a senhora [...] (Envolvida 02), solicitante da ocorrência, esta nos relatou que exerce a função de Coordenadora na Escola Municipal e nesta data enquanto exercia sua atividade na instituição de ensino verificou que o aluno [...] chegou atrasado, sendo que a coordenadora deslocou para conversar com o discente e o percebeu que ele estava muito nervoso, segurando a mochila com firmeza e demonstrando muita preocupação, como se estivesse escondendo algo de errado na mochila. A coordenadora percebendo a situação, solicitou ao menor que abrisse a mochila e este negou veementemente. A Srª [...] percebendo os indícios de algo ilícito em posse do menor abriu a mochila dele e dentro de uma luva preta encontrou escondido os materiais descritos em campo próprio. Ao encontrar os materiais ilícitos, a coordenadora acionou a viatura e no local, ao questionarmos o menor, ele disse que recebeu a substância apreendida das mãos de uma outra pessoa cuja a finalidade era comercializá-las no interior da escola, contudo antes conseguisse vender as substâncias apreendida foi surpreendido pela coordenadora da escola. O menor não quis repassar a pessoa que lhe forneceu as substâncias apreendida. Diante do fato, encaminho o menor e a sua genitora, juntamente com os materiais apreendidos até esta delegacia.” (BO-1).