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Na presente subseção, foram selecionados alguns autores que definem os procedimentos judicias que têm sido introduzidos no Brasil, nos últimos dez anos, para solucionar conflitos, sobretudos os relacionados ao não cumprimento da legislação e aos desrespeitos dos direitos humanos. Tal qual em diferentes partes do mundo, também, no Brasil, vários autores apontam para certo protagonismo de decisões que têm sido tomadas pelas cortes constitucionais. Daqui para frente, faremos referência a essas ações com o termo “judicialização”, o qual, segundo Luís Roberto Barroso (2014), define questões importantes que estão sendo decididas pelo Poder Judiciário. Nesse caso, há uma “transferência de poder para juízes e tribunais com alterações significativas na linguagem, na argumentação e no modo de participação da sociedade” (BARROSO, 2014, p. 3).

Esse movimento de transferência de poder, segundo Luiz Werneck Vianna et al. (1999), ganhou considerável impulso mediante a alteração do panorama mundial após 1970. Para os autores, o fenômeno da judicialização emerge com a crise do Walfare State e, consequentemente, com a perda daqueles direitos sociais que ganharam espaço nas mais diferentes constituições, ao redor do mundo. O Estado, de acordo com o modelo walfareano, toma para si a responsabilidade de garantir e promover os diversos direitos sociais estampados na constituição (VICTOR, 2011). Porém, a partir do momento em que ele não cumpre esse dever, corre o risco de ser judicializado.

Na sequência de seu raciocínio, Werneck Vianna et al. (1999, p. 149) mostram que o Poder Judiciário ganha força à medida que exige o cumprimento da lei ao Executivo e ao Legislativo e que esses, assim sendo, deixam de fornecer respostas efetivas à explosão “das demandas sociais”.

O Brasil começou a tomar parte desses novos contextos à medida que, conforme observa Luiz Eduardo Mota (2015), emergiam, com o fim do período da ditadura militar, os novos atores sociais e, junto deles, os princípios e conceitos dos Direitos Humanos civis, políticos e sociais que lhes eram negados. São esses novos atores sociais que lutaram, no início dos anos 80, para conquistar a promoção de inúmeros direitos sociais dos setores pobres da população, além de gerarem outras reinvindicações ao poder público:

Novas reivindicações surgiram, como no caso do movimento em favor dos povos indígenas, que ampliaram e prolongaram a pauta da reforma agrária. Iniciou-se a defesa dos direitos dos grupos chamados “minoritários”, como os negros, as mulheres, as crianças, os homossexuais os portadores de necessidades de deficiência, e a promoção do direito a moradia, educação, saúde e meio ambiente. (MOTA, 2015, p. 3).

Como se pode ver, Barroso (2014) e Mota (2015) trazem aspectos importantes e históricos da judicialização no Brasil, mostrando que uma parte das conquistas da judicialização se deve às ações dos movimentos sociais e às lutas destes para acessarem os bens públicos, aos quais muitos setores ainda não tinham acesso.

Assim, finalizamos a nossa revisão de literatura com os autores que focalizaram a judicialização dos atos infracionais no contexto escolar. Beatriz Aguinsky et al. (2018) investigaram como a judicialização dos conflitos escolares tem repercutido nos Sistemas de Justiça Juvenil e Socioeducativa. Esse estudo fez-se necessário tendo em vista que, à medida que houve um crescimento da judicialização dos conflitos escolares, houve também um aumento do número de adolescentes encaminhados ao CIA, para cumprirem medidas socioeducativas.

Segundo Aguinsky et al. (2018), alguns estudos têm demonstrado que os adolescentes que cometem atos infracionais sofrem com os processos de marginalização social, de desumanização e de estigmatização (AVILA, 2013). Poucos sabem que não precisa haver o encarceramento desses adolescentes para que eles se sintam excluídos do mundo social, pois qualquer ação que implique a inclusão deles nas chamadas ações socioeducativas cria barreiras sociais difíceis de serem transpostas mais tarde (AGUINSKY et al., 2018). Outros estudos

mostram, ainda, que alguns sujeitos que passaram por medidas socioeducativas tiveram dificuldades em acessar, mais tarde, serviços de saúde, de lazer e de cultura.

Aguinsky et al. (2018) chamam a atenção para o fato de que precisamos incorporar à pesquisa documental questões que nos ajudem a identificar como estão sendo estabelecidas as conexões entre as instâncias que ora atuam no processo como um todo. Segundo as autoras:

Os conflitos escolares adentram o Sistema de Justiça Juvenil, reclamando, cada vez mais, a articulação do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, no que se inclui Judiciário, Ministério Público, Delegacias de Polícia, Poder Executivo Municipal, Escolas e Conselhos de Direito e demais políticas públicas. Na ausência desta articulação, bem como de mecanismos educativos preventivos no contexto das escolas e das demais políticas públicas, amplifica-se o risco da judicialização operar no fortalecimento do caráter meramente punitivo – tanto dos mecanismos disciplinares utilizados pelas escolas, quanto das formas de intervenção do Sistema de Justiça Juvenil e de Atendimento Socioeducativo em relação a este fenômeno. (AGUINSKY

et al., 2018, p. 3).

Com essa posição, as autoras defendem, como saída, alguns procedimentos judiciários que vêm sendo adotados em várias partes do país, os quais implicam intervenções judicias e técnicas que priorizam métodos de autocomposição de conflitos, com a mínima intervenção, o que ocorre por meio de práticas restaurativas na porta de entrada do Sistema de Justiça Juvenil ou, preventivamente, na comunidade, na etapa anterior à judicialização dos conflitos e violências escolares.

Terminamos essas fundamentações entendendo que é com elas que pretendemos dialogar na presente tese. Estamos participando de reuniões com o Ministério Público, em Belo Horizonte, o qual está tralhando com as práticas restaurativas referentes aos atos infracionais nas escolas. Temos certeza de que precisamos aprofundar nosso conhecimento sobre esse assunto. Mas, isso será feito em consonância com os nossos estudos sobre a Colômbia, a qual, ao trabalhar com práticas reparativas, tem confrontado outras exigências de reparação as quais têm agravado o seu dilema. Por isso, esperamos, nesta tese, trazer a experiência sobre as comunidades de aprendizagem que esse país tem utilizado para evitar a violência em contexto escolar.

4 OS BOLETINS DE OCORRÊNCIA: ESSÊNCIA JURÍDICA E USO PROCESSUAL

Para decodificarmos os documentos de forma a apreender sua natureza, tal como proposto por Cellard (2008), tivemos que introduzir, na análise dos dados, outro elemento – a “prova” de que o ato infracional foi praticado pelo estudante – fundamental para que pudéssemos distinguir os diferentes usos que poderiam ser feitos dos dados constantes no arquivo do Poder Judiciário, naquele momento (2014 a 2015), pois este não se tratava de um arquivo público qualquer.

Aos poucos, fomos tendo acesso a uma literatura recente (CASTRO, 2008; LEMOS et al. 2019), na qual alguns autores haviam estudado uma parte significativa do arquivo do Poder Judiciário, caracterizando, de forma muito precisa, a natureza da maioria dos documentos que, ali, estavam armazenados. Esses documentos, segundo Flávia Cristina Silveira Lemos et al. (2019), estavam “atravessados pela finalidade estratégica da prova”, ou seja, neles estavam os dados e registros que comporiam as peças jurídicas sobre as quais os juízes teriam que analisar para formular suas decisões finais.

Aplicando esse raciocínio nos documentos que, ora, analisamos, podemos dizer que, nos primeiros dentre eles, ou seja, nos Boletins de Ocorrência63, continham os dados que

os policiais militares coletavam ao registrarem os atos infracionais praticados pelos estudantes, nos contextos escolares. Registros esses que eram processados pela Polícia Civil, a qual tem o papel de realizar as investigações, caso elas sejam necessárias, para comporem as “provas” do ato ocorrido e incluí-las no processo judicial. Como destacam Lemos et al. (2019), para uma das vertentes que lidam com esse tipo de documento, que é o Poder Judiciário:

63 Para efeito de esclarecimento, o que, na presente tese, está sendo caracterizado como Boletim de Ocorrência, tecnicamente, intitula-se, atualmente, como Registro de Eventos de Defesa Social (REDS). Trata-se de “um boletim de ocorrências policiais e de bombeiro padronizado e unificado para ambas as instituições [...] uma ocorrência registrada pela Polícia Militar é obrigatoriamente repassada à Polícia Civil via web que a consulta e procede ou não ao aceite da ocorrência, dando, ainda, os encaminhamentos que a sua função constitucional determina (abertura de inquérito, tomadas de providências, diligências policiais etc.)” (SAPORI et al., 2019, p. 18).

A noção de prova está ligada a uma determinada maneira de tratar os vestígios como fatos e registros fidedignos dos acontecimentos ocorridos, supostamente neutros e sem qualquer viés situado no tempo e lugar em que fora produzido. (LEMOS et al., 2019, p. 15).

Mas, outras vertentes não os veem dessa forma. Aliás, uma delas, liderada pela historiadora francesa Arlette Farge (2009), examina, em detalhes, como alguns historiadores, pautados, sobretudo, no pensamento de Michel Foucault, vêm questionado, há algum tempo, o referido enfoque dos “registros fidedignos”, o qual se vê como isento de vieses. Ao contrário, essa vertente não só muda esse enfoque como também começa a abordar, de forma mais crítica, “os documentos e os arquivos” nos quais esses documentos estão salvaguardados. Para essa vertente, tais arquivos estão armazenados por “artefatos e não por provas”. Por exemplo, para Lemos et al. (2019), os artefatos que aparecem como provas enquadram-se naqueles mecanismos de controle corporal e mental que Michel Foucault identificou, na sociedade moderna, como sendo um dispositivo cuja função é a de disciplinar os corpos:

A disciplina traz consigo uma maneira específica de punir, e que é apenas um modelo reduzido do tribunal. O que pertence à penalidade disciplinar é a observância. Tudo o que está inadequado à regra e tudo o que se afasta dela são os desvios. É passível de pena [...]. O castigo disciplinar tem, assim, a função de reduzir os desvios. Castigar é exercitar. (FOUCAULT, 1979, p. 149-150).

Com essas observações, aproximamo-nos daquilo que Cellard (2008) identifica como momento de definir a natureza do documento, que, no nosso caso, é um Boletim de Ocorrência. Nele, são registrados os desvios de comportamento, ou de conduta, de estudantes dentro do contexto escolar, os quais são caracterizados, no texto, como algo que se afasta de alguma norma institucional. Nesse sentido, para efeito de análise, foi necessário identificar, em todos os documentos analisados, qual era a fonte de referência do agente redator do Boletim de Ocorrência com a qual ele dialogava e amparava o seu olhar no momento de registrar o desvio de conduta para o qual ele fora acionado pela escola, para por um fim ao ato infracional do(s) estudante(s).

Em geral, para notificar ou esclarecer esses atos de infração, os agentes responsáveis pelos registros pautavam-se em normas institucionais que enquadram, ao mesmo tempo, os desvios, os comportamentos e as posturas corporais dos indivíduos. Mas, como mostram Lemos et al. (2019), essas normas possuem, também, fontes diferenciadas. Todos

sabem que as escolas, em si, possuem suas normas internas, tradicionalmente definidas em seu Regimento Escolar, no qual são listados, literalmente, os deveres e as obrigações a serem cumpridos, naquele ambiente. Muitas instituições educacionais tiveram, durante muitos anos, agentes disciplinares internos, com a função de vigiar, como bem caracterizou Foucault (1979), e de punir se fosse necessário. Em geral, essas normas escolares eram comunicadas às famílias ao matricularem seus filhos nas escolas, e os alunos eram relembrados, a cada início do calendário escolar, sobre as regras comportamentais a serem seguidas.

Entretanto, nos BOs analisados, a fonte que orientava os agentes da polícia militar, ao registrarem os desvios de conduta para os quais foram acionados, estava sedimentada no Código Penal, como veremos mais à frente, no momento de descrever e analisar as categorias dos atos desviantes, a partir das quais esses agentes classificaram esses atos no referido documento.

Embora não tivéssemos investigado as razões que levaram os policiais militares a incorporarem, nos seus registros de ocorrências, uma linguagem pautada no Código Penal, para relatar os atos praticados por estudantes dentro da escola, tínhamos, como suporte de análise, algumas hipóteses levantadas por especialistas sobre essas razões. Essas hipóteses davam-nos pistas para entendermos o porquê dessa linguagem jurídica estar aparecendo nas práticas dos policiais militares, sobretudo nos documentos por eles elaborados, que retratavam as abordagens executadas em suas atuações.

Analisando as transformações do Sistema de Ensino da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais entre 1935 e 2010, Hélio Hiroshi Hamada (2019) destacou uma significativa mudança na proposta curricular da Academia de Polícia, que, segundo ele, estaria associada a uma parceria feita com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, na primeira década do século XXI. Um dos pontos que passaram a ser reforçados na formação policial, segundo o referido autor, estava vinculado à ampliação de novas áreas temáticas associadas aos Direitos Humanos, as quais, naquele momento, passavam a compor a base curricular da Academia de Polícia de Minas Gerais. Outra mudança marcante, segundo Hamada (2019), foi a abertura da Academia no intuito de estabelecer parcerias com centros de estudos de formação profissional não militares, os quais passaram a formar os policiais da corporação em nível de pós-graduação.

De posse dessa informação, fomos buscar documentos que nos dessem mais detalhes concernentes à parceria da Academia de Polícia de Minas Gerais com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e que nos ajudassem a entender a introdução do olhar judicial que aparecia na nossa leitura dos BOs, como se poderá ver mais à frente.

Na realidade, a experiência a qual Hamada (2019) anunciava em seu estudo, sobre as mudanças na formação dos agentes da polícia, relacionava-se a uma iniciativa da Secretaria Nacional da Segurança Pública (SENASP), vinculada ao Ministério da Justiça, que, desde 2003, vem organizando seminários regionais com objetivo de consolidar uma Matriz Nacional de formação de seus agentes em todo país. É a referida Secretaria que estabelece o convênio com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha para realização dos seminários, nos quais Minas Gerais teve participação ativa.

Examinando o denso documento relativo à Matriz Curricular Nacional da Segurança Pública, chegamos à conclusão de que: o SENASP (2019) busca fortalecer, nas propostas curriculares, a ideia de que os formadores dos policias no país estejam preparados para garantir que os profissionais por eles formados sejam atentos e capacitados para “lidar com os conflitos marcados por intolerância e discriminação que tange à diversidade”. Essa ideia foi descrita no documento que fundamentava uma nova Matriz Curricular Nacional (SENASP, 2019, p. 35) de forma ampla, incorporando “gênero, orientação sexual, etnia, origem”.

Nas áreas temáticas, a referida Matriz Curricular integra temas, claramente, vinculados com “jovens em conflito com a lei” e “violência da escola e na escola” (SENASP, 2019, p. 21). E, no âmbito das estratégias de ensino e de aprendizagem, incentiva-se que, nos cursos de formação para policiais, por exemplo, os agentes da polícia tenham atividades de campo com “visitas a instituições de proteção e defesa das crianças” (SENASP, 2019, p. 21).

Mas, o que nos chamou mais a atenção na Matriz Curricular foi a Área Temática VIII, que trata das “funções, técnicas e procedimentos em Segurança Pública”. A primeira disciplina que compõe a referida área temática se intitula “Preservação e Valorização da Prova” (SENASP, 2019, p. 141). Foi nesse conjunto de procedimentos que identificamos a mensagem que o Ministério da Justiça, por intermédio do SENASP, buscava passar. Para seus idealizadores: “[...] a polícia tem a função primordial de impedir a prática de ilícito e de apurar a ocorrência desses ilícitos e da sua autoria [...]” (SENASP, 2019, p. 142). Pode-se ver que o Ministério da Justiça destaca, claramente, as duas funções que ele considerava como primordiais das polícias. Além disso, ele reforça, em seu documento, que a segunda função, a de “apuração”, está no topo da proposição formativa do policial, o que é justificado da seguinte forma:

Um dos princípios que regem o processo penal é o da verdade real, garantidor de que o direito de punir do Estado seja exercido somente contra aquele que praticou a infração penal e circunscrito aos exatos limites de sua culpa. Essa

formatação da verdade só é possível por meio da prova. A prova é a alma do processo. Tem ela, como foco, a reconstrução de fatos e de sua autoria, de todas as circunstâncias objetivas e subjetivas que possam ter influência na responsabilidade penal do autor, bem como na fixação da pena ou na imposição da medida de segurança. A produção da prova pelas partes é uma das formas de tutela das garantias fundamentais no Estado Democrático de Direito. Portanto, precisa ser bem cuidada desde o primeiro momento de sua construção que, via de regra, ocorre na fase policial. Qualquer descuido na produção da prova prejudica a justa aplicação da lei. Nenhuma acusação penal se presume provada. O ônus da prova dos fatos e da autoria incumbe ao Estado, portanto, no primeiro momento, à Polícia. (SENASP, 2019, p. 113, grifos nossos).

Por mais diversos que tenham sido os contextos escolares nos quais esses BOs foram produzidos, essa diversidade contextual nada alterava a produção do referido documento, pois ele seguia uma lógica previamente estabelecida. A única coisa que desconhecíamos, na primeira leitura dos BOs, era o que e quem orientava essa produção. Outro aspecto que nos preocupava, em termos de análise, era a rotatividade dos policiais que elaboravam os BOs. Temíamos que essa alternância criasse vieses incontornáveis na elaboração desses documentos, inviabilizando uma análise mais confiável deles. Todo esse temor foi afastando-se quando percebemos que o BO era uma fonte secundária. Nessa fonte, estavam incorporados conceitos retirados do direito penal, os quais estabeleciam relações de poder pautadas no saber jurídico.

Além desses conceitos, os documentos que analisamos incorporam depoimentos de adolescentes e adultos que testemunharam atos considerados desviantes, com narrativas até dos gestos corporais, incluindo medidas punitivas que poderiam ser aplicadas por decisão judicial. Entendendo que tudo o que estava ali descrito reproduzia uma experiência social vivida pelo adolescente/estudante, a partir de uma relação de poder claramente configurada, interrogávamo-nos sobre que medidas protetoras poderiam ser adotadas para reparar, no futuro, os possíveis efeitos que todo aquele maquinário jurídico estaria produzindo nas subjetividades e nas relações sociais desse adolescente.

É evidente que tudo o que escrevemos acima veio depois de termos lido e analisado os BOs, cujos resultados mostraremos a seguir. Embora tenhamos tentado tomar uma distância crítica na análise dos dados dos Boletins de Ocorrência, conhecidos como REDS, não tivemos como não concordar com Michel Foucault (1979), na sua “Microfísica do Poder”, sobre os efeitos que esses documentos podem produzir na vida futura daqueles(as) adolescentes que, a partir dos BOs, tiveram as suas experiências transformadas em dossiês, os quais podem marcá- los(as) para o resto de suas vidas.

4.1 Fluxo dos procedimentos: da apuração do delito à aplicação de medidas