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4.6 Caracterização dos dados do Boletim de Ocorrência

4.6.6 Furto

Outro ato infracional praticado pelos adolescentes nas escolas nos quais houve intervenções policiais com consequências jurídicas foi o furto. De acordo com o Código Penal Brasileiro, no seu Artigo 155, é considerado crime: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel” (BRASIL, 2016).

Da subtração de um pendrive que pertencia ao coordenador da escola, passando pelo saqueio de armários e salas onde eram guardados os materiais de audiovisual, para uso de professoras em suas aulas, até o ato de afanar aparelhos de telefone celular de colegas, o furto fez parte da lista de infrações cometidas pelos adolescentes na escola.

“No local, Escola Municipal [...], o guarda municipal [...] relatou que por volta das 15h40min, quando estava na cantina, e pela janela da referida viu os três menores no interior da sala 22 que fica fechada, e somente aberta quando professores estão ministrando aula. Quando o guarda foi deslocar para a sala 22 com a finalidade de verificar o que estava acontecendo, o coordenador [...] sem saber que o guarda municipal estava deslocando ao local, gritou e ao ouvir o grito os menores saíram correndo e pularam o muro. Quando o guarda chegou ao local, deparou com a sala toda revirada. Na data de ontem foi feito uma verificação para ver se estava faltando alguma coisa, contudo, no naquele momento não dado falta de nada. Hoje pela manhã a professora [...], ao fazer a conferencia em seus pertences deu falta de vários pertences escolares. Em conversa com menor [...] este nos relatou que realmente eles três entraram sala 22 na data de ontem e que um DVD do Popeye encontrado em sua bolsa ele havia furtado na sala 22, bem como os demais materiais citados hora reconhecido pela vítima durante inspeção na delegacia. Na bolsa do menor [...] foi encontrado os itens citados em campo próprio que foram reconhecidos pela vítima. Diante dos fatos trago autores e vítima para demais providencias.” (BO-4). “A solicitante, vice-diretora da Escola Municipal [...], relatou que na data de ontem alunos, durante uma atividade no local, haviam furtado a chave dos armários de uma professora e subtraído diversos materiais escolares e esportivos. Na data de hoje comparecemos na escola onde a vice-diretora supracitada relatou que os responsáveis dos menores [...] e [...] estavam no local devolvendo parte dos produtos furtados. Os menores então relataram o nome dos demais envolvidos cadastrados assim como o de ‘[...]’ que não foi localizado. Diante do fato encaminhamos as partes e o material devolvido para demais providencias.” (BO- 13).

Além das ações de furtos anunciadas acima, cometidas por adolescentes, outras aconteciam e tinham como objeto do intento um cartão de vale-transporte, um tablet, fones de ouvido, dentre outras coisas pertencentes aos adolescentes da escola.

“A vítima [...] relata que estava fazendo uso do aparelho eletrônico no interior da sala de aula, quando mostrou o aparelho para o menor [...] na intenção de mostrar um jogo, logo após guardou o aparelho na bolsa e foi para o fundo da sala. Após retornar e procurar pelo aparelho observou que alguém da sala havia furtado o aparelho, a diretora da escola, Srª [...], passou em todas as salas e perguntou se alguém havia pego o aparelho, já na sala do sétimo ano um aluno de nome [...], levantou o braço e disse que o [...], lhe deu um tablet para guardar. Com a chegada da guarnição no local, o menor confessou que realmente pegou o aparelho disse que furtou o aparelho para quitar uma dívida no aglomerado sovaco da cobra, pois pegou uma quantia de drogas com um traficante de alcunha ‘...’ para fazer a venda e perdeu os entorpecentes. O menor, [...], relatou que seu colega, [...], sabia do furto e se ofereceu a esconder o produto para ser vendido no final da aula. A diretora relata que tem receio de futuras atitudes do menor, pois ele vem dando bastante trabalho no dia-a-dia escolar e inclusive ameaça vários funcionários e alunos da escola. Trago as partes para providencias.” (BO-11).

Porém, dentre os objetos mais furtados pelos adolescentes na escola, um merece destaque: o telefone celular. Das 14 ocorrências de furto, metade delas tiveram os aparelhos celulares como o “alvo” das ações investidas pelos autores.

“Acionados via COPOM comparecemos ao local dos fatos, onde, supostamente, ocorreu um furto de aparelho celular, de aluna, no interior da Escola Municipal [...] e autor do ato infracional seria um aluno de 15 anos que estava aprendido pelo guarda municipal, [...], de serviço na escola. Em contato com a Srª [...], aluna do oitavo ano, relatou que estava participando da aula de educação física e deixou seu aparelho celular na arquibancada e foi praticar da atividade física, quando retornou para pegar o aparelho celular, este havia sido subtraído por alguém que estava participando, também, da atividade física. Em contato com o professor de educação física, testemunha não pode acompanhar a ocorrência, que ministrava aula no local, disse que a aluna [...] informou sobre o sumiço do aparelho, tendo o professor afirmado que visualizou o aluno [...] se apropriado do objeto e após o ato, [...], saiu do local. Da situação a testemunha e a vítima acionaram o guarda municipal, [...], que efetuou a abordagem ao aluno, [...], localizando o aparelho celular da Srª [...] em posse deste. Segundo o guarda municipal, da abordagem, o [...] inicialmente falou que o aparelho era dele e posteriormente quando da condução até a sala de coordenação ele entregou o aparelho e disse que havia pegado o telefone na quadra esportiva, não dando mais informações. Os responsáveis legais da aluna [...] e do aluno [...], foram acionados e acompanham a ocorrência, bem como o guarda municipal que efetuou a abordagem de [...]. Do exposto encaminho a vossa senhoria as partes envolvidas, aparelho celular recolhido em campo próprio, representantes legais e o guarda municipal [...], para providências subsequentes. Cabe salientar que foi aguardado o encerramento do horário de aula para condução das partes a vossa senhoria.” (BO-12).

Tal qual registrado no BO acima, pudemos constatar que houve ações policiais que, no sentido de resolver a situação em pauta, utilizaram de outras intervenções mais intensivas, como, por exemplo, o de se dirigir à casa dos possíveis suspeitos de estarem de posse do objeto em lide.

“Segundo relato da Srª [...], diretora da Escola Municipal [...], o porteiro que trabalhou de ontem para hoje, o Sr. [...], lhe relatou que por volta das 01:00 hora de hoje algumas pessoas jogavam bola em uma quadra perto da referida escola e causavam muito barulho e na porta da escola havia pessoas estranhas, assim o [...] ficou atento na entrada da escola. Mas ao fazer a ronda ao amanhecer notou que a porta da brinquedoteca havia sido arrombada, ao entrar na sala também encontrou o cadeado do armário onde encontrava os materiais arrombado, sendo que existe vários armários nessa sala e só um foi arrombado. A Srª [...] deu falta dos materiais mencionados. Através de uma ligação recebida, a Srª [...] ficou sabendo que os autores do furto moravam próximo a escola e que os materiais também se encontravam no interior do apartamento dos autores. E que uma viatura da

madrugada chegou a abordar os autores com os produtos furtado, mas ao verificar com o COPOM, descobriu que não havia registro de nenhum furto ou roubo na região e a mãe dos autores Srª [...] afirmou que os materiais violão e o DVD pertenciam ao seu filho. Com a cobertura do grupo tático comandada pelo sargento [...], deslocamos até a residência dos autores, onde fomos recebidos por eles, que ao ser perguntado pelo furto a escola, assumiram a culpa e mostrou os produtos furtados. A mãe dos autores compareceu a delegacia. Os materiais mencionados pertencem aos autores [...] e [...] . Sendo que no condomínio onde que os autores moram está cheio de pichações com as letras MEMEM, 4:20 NENEM, TOGOB, com frases: só se cala com tiro da cara, quem manda aqui é nóis, dentre outras, pichações assumidas pelos autores [...] e [....]” (BO-9).

Ao tomar conhecimento do suposto delito, a direção da escola acionava a Polícia Militar para que, com a ajuda dos policiais, a ocorrência fosse resolvida. Em alguns casos, tal situação era mediante o acesso ao circuito interno de segurança da escola, que captava imagens do furto cometido. Com isso, o ator da ação era identificado e o objeto subtraído era devolvido à vítima. Em seguida, o adolescente seria encaminhado à Delegacia Especializada para dar andamento às “providências cabíveis”.

“Solicitados pela Srª [...], vice-diretora da Escola Estadual [...], comparecemos ao local onde em contato com a vítima, [...] (15), devidamente acompanhada pela mãe, esta nos relatou que na data de hoje, durante o recreio teve seu celular subtraído do interior de sua bolsa que estava na sala de aula; que após fazer contato com a coordenação da escola foram analisadas as imagens das câmeras de segurança, sendo constatado que nesse intervalo apenas duas alunas tiveram acesso ao ambiente: [...] (16) e [...] (16). Nestas imagens constam a Srtª [...] e [...] entrando na sala e saindo com uma blusa de moletom enrolada nas mãos. A direção prontamente acionou as duas jovens e o celular subtraído foi localizado na bolsa pertencente a [...]. Diante dos fatos acionaram o apoio policial, onde como providência, vítima autoras e material são apresentadas à autoridade competente desta especializada. Os pais de ambas as partes foram cientificados e informados quanto ao destino das jovens.” (BO-2).

As ações dos adolescentes não foram interpretadas como sendo somente de furtos. Conforme pudemos observar, vinculadas ao furto, também houve delitos de “recepção” nas escolas. Segundo o Código Penal Brasileiro, no Artigo 180, o crime de receptação se caracteriza por “adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte” (BRASIL, 2016).

“No local, fizemos contato com o guarda municipal [...] que se encontrava de serviço no interior da Escola Municipal [...] situada no local do fato e este nos informou o seguinte: que na data de [...], houve um furto no interior da escola, onde a vítima de nome ‘[...] que também é professora na Escola’ [...], ‘teve furtado um aparelho celular conforme’ [...]. Na data de hoje, através de informações obtidas no interior da escola por alunos que não quiseram se identificar, foi informado ao guarda municipal que o aluno de nome [...] havia praticado o delito. O aluno de nome [...] foi solicitado a comparecer à sala da coordenação da escola, onde perguntado sobre os fatos o menor confirmou perante direção que era o autor do ato infracional onde fora furtado o aparelho celular em data anterior. Foi informado ainda pelo guarda municipal [...], que o menor [...] informou ter repassado o aparelho celular furtado ao aluno de nome ‘[...]’, que repassou para o aluno ‘[...]’, que na sequência repassou o aparelho celular furtado ao aluno ‘[...]’. Chamados todos os demais alunos à sala da coordenação, foi questionado o menor [...], que confessou estar de posse do referido aparelho celular furtado na data de [...]. Perguntados aos menores sobre os fatos, estes confirmaram os dizeres do guarda municipal [...]. Também foram encontrados outros aparelhos celulares sob a posse dos menores, cuja procedência não foi informada, sendo esses apreendidos e cadastrados neste REDs. Ainda foi informado pelo menor [...], que os aparelhos furtados eram revendidos em um comércio próximo à Escola Municipal. Ainda fomos informados pela direção da referida escola que diversos furtos de aparelhos celulares tem acontecido no interior da escola nos últimos dias. Diante dos fatos encaminhamos os menores juntamente com os materiais apreendidos para esta especializada, onde ficaram à disposição.” (BO-1).

Cabe ainda uma observação acerca da redação de alguns dos BOs. Notamos que houve, na confecção do registro, o uso de expressões ou palavras que colaboraram, a nosso ver, para a construção de um entendimento mais culposo sobre o autor e, ao mesmo tempo, mais intencional do fato.